sábado, 13 de agosto de 2016

O voo da perdiz (de Alma Welt)

                                                            (Foto: o vôo baixo da perdiz)

O voo da perdiz (de Alma Welt)

Um desconforto estranho me desola
E me impede afinal de ser feliz.
Sinto que o meu voo sempre estola
Ou é só um voo baixo de perdiz...

Camões se comparou ao perdigão *
Que perdeu a pena e despencou...
Assim também voou meu coração,
Quis levar-me à alta torre e desabou.

Cacos são o material a que recorro,
E aparentemente laboriosos,
Meus sonetos são um mato sem cachorro.

Vivo então no limbo dos fracassos
Recompondo os voos grandiosos,
Coletando dos meus sonhos os pedaços...
.
02/08/2016

Nota
Consta que o grande poeta Luis Vaz de Camões, que perdera um olho na batalha de Ceuta, tendo escrito Os Lusíadas e já famoso foi chamado a viver na corte do rei de Portugal, onde era mal aceito por alguns nobres que por ser caolho e plebeu, puseram lhe o apelido de "Perdigão", porque sabiam que ele jamais ascenderia à nobreza. O poeta se apaixonou por uma nobre dama da corte, e rejeitado por ela, ficou deprimido e melancólico e incapaz de escrever por um tempo. Então aqueles nobres para zombar dele, numa festa na corte o desafiaram em voz alta com um mote para testar seu talento no improviso. O mote era: "Perdigão perdeu a pena" . Camões assimilou a zombaria e no mesmo tom auto-irrisório, imediatamente continuou:

"Perdigão perdeu a pena
Não há mal que lhe não venha
Quis voar à alta torre
mas achou-se desasado
e vendo-se depenado
de puro penado morre..."

"Perdigão perdeu a pena
Não há mal que lhe não venha..."

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