terça-feira, 26 de maio de 2009

Plantei um poema em meu jardim (Alma Welt)

Plantei um poema em meu jardim,
Mais secreto e apto a dar flores
E que oculto permanece quieto assim
No tempo em que se agitam os amores.

Enquanto a juventude canta e geme
Lançando sua semente aos quatro ventos,
As minúsculas embarcações sem leme
Que vão dar às praias e tormentos,

Esta semente do poema da velhice
Lança suas raízes bem mais fundo
Antes de alcançar a superfície.

Pois meu poema sábio e despojado
Ainda não nasceu e é tão calado
Que talvez nem seja deste mundo.


05/10/2006


Nota
Acabo de encontrar este soneto na Arca da Alma, e que me parece uma obra-prima.
Este soneto parece ter nacido já como um "clássico" e contém as características fundamentais da poesia da grande Musa: o lirismo e nostalgia inconfundíveis da Alma, sempre mesclados de uma fina ironia, sugerida por sutis paradoxos. ( Lucia Welt)

sábado, 2 de maio de 2009

De eras, heras e medos (de Alma Welt)

"...Où sont les neiges d'antan?"
(Balada das Damas dos Tempos Idos -(François Villon)


As vetustas paredes desta casa
Guardam sonhos da farroupilha era,
Também medo tardio que extravasa
E se alastra agora como a hera

A recobrir daninha esta fachada
Tornando-a mais sombria que vital
E nada hospitaleira à convidada
Que eu trouxe da longínqua capital

E que de noite acorda e se me agarra
A debater-se qual barca em sua amarra
Na torrente dos soluços e das mágoas

Das prendas que qual "neves d’antanho"
Ora permitem degelar as suas águas
Pois que então o heroísmo era tamanho...

2004


Nota

Acabei de encontrar este soneto inédito que percebi corresponder aos primeiros tempos da estada de Aline na estância. A namorada paulistana da Alma teve um filho de nosso irmão Rodo e acabou voltando com a criança (Marco) para São Paulo, contra a nossa vontade (que a amávamos), depois de dois anos (vide o romance O Sangue da Terra, de Alma Welt, no blog com este nome). (Lucia Welt)