sexta-feira, 30 de agosto de 2013

O Regato (de Alma Welt)


 
O Regato (de Alma Welt)

Adeus, amor meu, que imensa dor
É deixá-la a chorar a minha morte!
Assim dizia o regato para a flor
Enquanto deslizava para o norte.


E eu guria lia esta bobagem
A pensar que a poesia não tem dono,
Que eu também estava de passagem
Mas podia preencher meu abandono

E grafar como morro a cada dia
Numa forte saudade que é o meu tom
Ou que era como sempre me sentia...

Quanto os meus sofrerem tenho feito,
Que me querem, por certo, o bem e o bom,
E pensam que meu leito é tão estreito!
 

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Grande Árvore (de Alma Welt)



A Árvore Sagradada Alma - de Guilherme de Faria


Grande Árvore (de Alma Welt) 

Árvore, ó grande árvore sagrada!
Diante de ti abro os braços e saúdo
Como se voltasse à minha morada
Na terra em que quase aprendi tudo.


Precisei ver mais da vida e do mundo,
É certo, porém só pra me reafirmar
Neste meu enraizar doce e profundo
E minha fronde assumir e ostentar.

Para sempre ficarei diante de todos
A cantar meus versos como quero,
Eqüidistante das sendas e dos lodos.

Mas, vê, ciente estou desde guria
Que sacralizei a vida e nada espero
Senão a graça do amor e da poesia...

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Confissão de Abismo (de Alma Welt)



 
 
Confissão de Abismo (de Alma Welt)

Eu carrego uma dor impertinente
Da qual nem acho adequado me queixar
Já que é tão secreta em nossa mente
E comum, talvez, a todos, se calhar...


Mas ela tira-me o gosto no final
Deixando esse travo de amargura
Que disfarço e quase esqueço no Natal
Conquanto essa dor não tenha cura.

É essa consciência de que morro
E que vejo em vão placas e signos,
Que para o abismo ando ou corro...

Ó vocês todos, meus amigos e irmãos,
Como fazem para serem tão mais dignos
A ponto do sorriso ao dar-se as mãos?

domingo, 18 de agosto de 2013

O Simples Coração (de Alma Welt)



Noite estrelada - Van  Gogh
 
 
O Simples Coração (de Alma Welt)

Que imenso mistério impenetrável
É do ser comum a simples vida,
Já que a daqueles mais notáveis
Pode ser ao dom da arte atribuída!
 
Vê como um virtuose violino
Nos carrega para além desse mistério
Pois fica claro o propósito divino
E relevamos nosso pó no cemitério...

É muito fácil ver na arte o próprio Deus,
No pintor que captou o som do trigo
E estrelas mil rodopiando pelos céus...

Mas ver o coração em estado puro
Naqueles que assim o têm consigo
É como já enxergar além do muro...

Meu retrato (de Alma Welt)


Perfil de Alma Welt - Litografia de Guilherme de Faria
 
Meu retrato (de Alma Welt)

Estarei sempre aqui, mas só pro bem.
Se tiveres más idéias, um mau plano,
Ou me vieres como certos homens vêm,
Passe antes por meu pai e pelo mano.

Poetisa não sou nada desfrutável
E evito até pôr o meu retrato.
Um pintor amigo é responsável
Pela minha imagem, nosso trato.

Ele diz que obra de arte requer arte,
E reitera, lisonjeiro, que sou uma,
Que não posso estar aí em qualquer parte.

Quando por ele me vejo retratada
Meu ego mais levanta e mais apruma:
Serei mesmo bela ou muito amada...

A Mariposa (de Alma Welt)


 
 
 
A Mariposa (de Alma Welt)

A gente só consegue ser a gente,
Não tem jeito, a vida é uma só.
Ou então será tudo diferente
Só depois da gente virar pó....


Tenho muita pena de morrer,
Coisa que parece bem macabra.
Daquelas que eu não podia ver
Sem murmurar "abracadabra".

Tudo o que eu sei de pouco serve.
E olhem que eu sei de muita coisa,
Inútil cada vez que o sangue ferve.

Só espero que no último segundo
Minha alma se torne mariposa,
Saia do casulo e ganhe o mundo...

sábado, 17 de agosto de 2013

Improviso (de Alma Welt)



desenho de Guilherme de Faria
 
 
Improviso (de Alma Welt)

Que grande improviso é nossa vida!
Não há ensaio, sequer “passar o som”;
A boa performance é exigida
Mas geralmente está fora do tom.

A marcação é falha, a luz destoa,
Não temos diretor no nosso show,
E o silêncio é o único que ecoa,
Quando o último acorde enfim soou.

Aplausos? É possível para alguns,
Nascidos para a glória e o sucesso
Ainda que só saibam soltar puns...

Por quê o digo? Meu falar é insuspeito
Porque amada fui até o excesso
E afirmo que a vida não tem jeito...

domingo, 11 de agosto de 2013

A Princesa (de Alma Welt)


Para mim passou o tempo das desculpas...

E nem pretendo mais justificar-me.
Então está tudo certo, não há culpas
E posso prosseguir em dar-me e dar-me...

Já morreram os primeiros cobradores,
Que, afinal, felizmente eram só dois.
Embora me causassem tantas dores
Tive minha recompensa bem depois.

Desde então vivo só para a Poesia
Que ainda é o melhor modo de viver
Quando não mais se quer monotonia.

Porém outros, que falta eles me fazem
(poeta, a princesa ainda quer pajem)
Pelos cuidados que eles me queriam ter...

sábado, 10 de agosto de 2013

Compromisso (de Alma Welt)

 
 
Compromisso (de Alma Welt)

De manhã meu único compromisso
É o pensar lúcido, certo e claro...

“Mas o que o mundo tem com isso?
Acaso serás gênio ou bicho raro?”

“Quem se importa com o que tens a dizer!”
Mas eu não perco a fé no meu talento
Já que é tudo o que nós podemos ter
Pois o resto é levado pelo vento...

Desperdiçarmos um dom que recebemos,
Isto é que é pecado ou apostasia
Já que é o próprio Deus que então vemos.

Ele mora em nossos dedos e na voz
Também no olhar para a Poesia
Como Universo na tal casca de noz...

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Filosofia simples (Alma Welt)

 

Filosofia simples (Alma Welt)

Viver sempre sob a égide do amor,
A mesma da beleza e da concórdia
Que afasta todo o ódio e o rancor
Que fazem do mundo esta mixórdia...


Então vocês me exijam só beleza,
Que o Amor está nela contido
E é toda a luz da Natureza
Que mantém o Cosmo ainda unido.

Não venham pois dizer que o mundo é mau
Pois só aos tristes tal coisa diz respeito,
Que Amor vive no plano do Ideal...

Ele é da gravidade a atração
Que tende a juntar peito com peito
E é deste Universo a só razão...