quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

O Natal do Menino Jesus (de Alma Welt)

Quando nosso Natal se aproximava
Eu me punha inquieta e tão falante,
Eufórica, a correr a todo instante,
Até que a bá, Matilde, então ralhava:

"Que pensas, guria, que é o Natal?
Não acordes o menino Jesusinho
Que está na manjedoura como um ninho,
Dormindo longe do barulho e todo o Mal."

Então, envergonhada eu me calava:
Imitando-lhe o gesto de silêncio,
Com o dedinho os lábios eu selava.

E eis que o Mundo todo se aquietava
Diante do menino em sono imenso
Que o presente de sua vida já nos dava...
.
23/12/2021


Literal translation to english:


THE CHRISTMAS OF THE CHILD JESUS (by Alma Welt)

When our Christmas approached
I got restless and so talkative,
Euphoric, running all the time,
Until my babysitter, Matilde, then scolded:

"What do you think, girl, that Christmas is?
Don't wake up baby Jesus
Which is in the manger like a nest,
Sleeping away from the noise and all Evil."

So, ashamed, I kept silent:
Imitating her gesture of silence,
I sealed my lips with my finger.

And behold, the whole world quieted down
In front of the boy in immense sleep
That his life gift from him already gave us ...
.
12/23/2021
Note
Alma Welt has just "sent" me this unpublished Christmas sonnet, which moved me...
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Free translation, with rimes:

THE CHRISTMAS OF THE CHILD JESUS (by Alma Welt)

When our Christmas approached
I got restless and so talkative,
Euphoric, running all the time, as if coached
Until my babysitter, Matilde, became active:

"What do you think, girl, that Christmas is?
Don't wake up baby Jesus, you little devil,
He is In the manger like a nest, waiting a kiss,
Sleeping away from the noise and all Evil."

So, ashamed, I kept a silent and stop that dance.
Imitating her gesture of silence,
I sealed my lips with my finger in deep.

And behold, the whole world in the same bus
Passed by in front of the boy in immense sleep
That his life gift from him already gave us ...
.
12/23/2021
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Que, por sua vez, traduzido fica assim:

O NATAL DO MENINO JESUS (por Alma Welt)

Quando o nosso Natal se aproximava
Eu ficava inquieta e muito faladora,
Eufórica, correndo o tempo todo, como se treinada,
Até minha babá, Matilde, se tornar ativa:

"O que você acha, menina, que é o Natal?
Não acorde o menino Jesus, sua diabinha,
Ele está na manjedoura como um ninho, esperando um beijo,
Dormindo longe do barulho e de todo o Mal. "

Então, envergonhada, eu calava e parava aquela dança
Imitando seu gesto de silêncio,
Eu selava meus lábios com meu dedo profundamente

E eis que o mundo inteiro no mesmo ônibus
Passou na frente do menino dormindo imenso,
Que o presente de vida dele já nos dera...
.
23/12/2021




terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Tempestade no mar (de Alma Welt)

                                    Tempestade no mar - o/s/t de Guilherme de Faria, 2014, 30x40cm 

Tempestade no mar (de Alma Welt)

Sonhei-me (de tudo eu sonho um pouco)
No mar em tempestade num barquinho
Buscando entre as vagas um caminho
Qual marinheiro derradeiro e louco...

O barco era rubro como ostento
Os meus cabelos naturais de cima a abaixo
E valente remando firme e lento
Em prol do remanso em que me encaixo...

Debalde, em vão, não tinha trégua:
Então tive pra mim como seguro
Fosse encontrar compasso e régua

Se acordasse pra ter rumos definidos,
Uma bússola, engano dos perdidos,
Mas pus um pé no chão e estava escuro...

´
21/12/2021

                        Alma Welt diante do Bosque Negro - o/s/t  de Guilherme de Faria, 2021, 30x40cm

O Bosque Negro (de Alma Welt)

Me aproximei então do negro bosque
Hesitando adentrar por covardia.
Da colina onde eu estava era um quiosque
De sombrias atrações, eu intuía.

Aquele Bosque Negro, assim chamado,
Para estranhas emoções me atraía
Seu limite como um pórtico fechado
Mais mistérios e segredos prometia.

Atrás de mim somente um seco arbusto
Mas branco de terror o pobre lenho
Se curvava revelando um grande susto...

Então voltei-me, por temer má acolhida
Onde o Mal habita, que o não tenho
Dentro em mim para ser bem recebida...

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21/12/2021

Os Páramos Perdidos (de Alma Welt)

                              Páramos perdidos de AlmaWelt - o/s/t de Guilherme de Faria, 2021, 40x50cm


Os Páramos Perdidos (de Alma Welt)

De manhãzinha eu saía a passear
Com meu cãozinho branco como eu mesma,
E de brancos papéis levando a resma
Pros sonetos que colhia em pleno ar.

Como eram belos meus páramos perdidos!
E a Árvore Sagrada se avistava
Sem as malícias de frutos proibidos,
Eu merecia tudo o que eu amava...

Eu podia andar a esmo, sem perigos
Que mais tarde atrairia sem querer,
Clara fonte de desejos inimigos...

Perdida, mas sem culpa, a inocência
Só me restava a recusa de sofrer
Que do poeta é a malograda essência...

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21/12/2021

A Sereia (de Alma Welt)

                                           A Sereia - o/s/t de Guilherme de Faria, 2021, 40x50cm

A Sereia (de Alma Welt)

Sonhei-me sim uma sereia de vigia
Muito atenta sentada num rochedo
E apontando não a estrela guia
Mas o navio ao longe, lento e ledo..

Avisava assim as companheiras
Que se prepararam para o assalto
Com a sanha maldosa de guerreiras
Habitantes do fundo do mar alto.

Ai! Como sempre convém à fadaria
Um belo marinheiro amar enfim,
Certamente por destino eu o faria...

Mas coberta de suor, o copo inteiro,
Só me esperava um banho de chuveiro,
Salgada como náufraga de mim...

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21/12/2021

A Árvore dos Tormentos (de Alma Welt)



        A
 Árvore da Alma - o/s/t de Guilherme de Faria, 2021, 100x70cm

A Árvore dos Tormentos (de Alma Welt)

Dos tormentos a árvore retorcida
Deparou-se-me em meio do caminho.
Vinha eu nua, sem sequer a "mãe do vinho",
A tal folha inimiga da torcida...

Mas distante estava eu do Paraíso
Sem o fruto proibido da serpente,
Já que estando perdido o meu juízo,
Só me restava agora ir em frente.

As curvas tormentosas de seu tronco
Eram, pois, de feição a amedrontar-me
Qual se delas emanasse um surdo ronco.

Eis que então eu aceitei-lhe o desafio:
Era o Mundo, eu sei, e eu devo dar-me,
A inocência já perdida ou por um fio...
.
21/12/2021

sábado, 18 de dezembro de 2021

O soneto, um vício? (de Alma Welt)

Tendo me dado conta que o soneto
Tinha em mim se tornado hemorragia,
Permiti-me uma autocirurgia
A primeira, na verdade, que cometo.

Um grande sonetista glaucomado
Sabendo quem lhe vinha aos calcanhares,
Comentou com perspicácia ou despeitado:
O soneto era um vício... como os bares.

Confesso que aquilo me atingiu,
Já que sempre o soneto, desatado,
Me foi tão fácil depois de começado.

Mas revendo a imensa catadupa
E o lago de tesouros que surgiu,
Voltarei, agora sem mais culpa...
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18/12/2021
Nota
Logo depois do tal comentário capcioso, a Alma parou mais de um ano de me enviar novos sonetos. Ela já tinha àquela altura escrito quase cinco mil, e se aproximava do recorde do tal poeta. Eu lhe disse: "Que bobagem, Alma, jorre o seu talento à vontade! Acaso Deus reprime as cachoeiras?"