sábado, 31 de março de 2018

O véu rubro (de Alma Welt)

Às vezes, me perdoem, eu quero ir-me.
Quantas vezes, ai! quero partir,
Com esta "dor de pátria" a afligir-me
E não tendo mais pra onde fugir...

Minha nação envenenada, agonizante,
Os lábios distorcidos em agonias;
Dois punhais de fogo temos diante,
Mas, há muito, povo nosso, já não rias...

Não quero mais ver isto, e ir embora
Tornou-se-me desejo imperativo
Conquanto nada exista pra mim fora.

Ó véu rubro que assomas como nuvens,
Não há nada de bom de onde tu vens,
Nem mais o doce gosto de estar vivo...

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31/03/2018

sexta-feira, 30 de março de 2018

A falsa paz (de Alma Welt)

Sempre senti que paira uma ameaça
No ar, em meio a paz deste jardim,
E diante de uma nuvem má que passa
Eu perguntava à minha avó, assim:

"Nenhum alarma nem flâmula se alça
E mal ouvimos o rangido da porteira.
Vó Frida, por quê a paz me soa falsa?
Por quê razão não a sinto verdadeira?"

E a velha zombeteira e perspicaz
Piscou o olho fazendo uma careta,
E disse: "Alma, pergunte ao capataz."

"O Galdério é que sabe dos rumores
E ouve primeiro o rufo dos tambores
E muito longe o sopro da corneta..."

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30/03/2018

quinta-feira, 29 de março de 2018

O Manjar Branco (de Alma Welt)

"Como estar em paz na vida e relevar
Tantas ofensas graves e ameaças?
Como inteira ser feliz e perdoar
As perfídias alheias e as trapaças?"

Assim falava minha mãe pondo perguntas
E questões na minha boca emudecida
E perplexa, já que essas coisas juntas
Sequer faziam parte da minha vida.

" Mãe" - eu respondi - "Não tenho queixas!
Mas do que a senhora está falando?
Fiz um branco manjar cheio de ameixas...

Vê, olha os contrastes, sou assim.
As ameixas são escuras, mas melando,
Não desejes pôr receios no pudim..."

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29/03/2018

terça-feira, 27 de março de 2018

Memórias da Alma (de Alma Welt)

"Minha filha, viver é estar na selva
E deixar o rastro onde passemos.
Nossas ações, nossos passos nessa relva
Definem quem nós somos ou seremos..."

Assim meu pai dizia, aventureiro
Que avistara coisas escabrosas
Na ascensão do Reich (o Terceiro),
Mas voltara aos vinhos e às rosas...

E eu, sentadinha em seus joelhos,
Viajando em suas palavras como um coche
Diante do Jardim da minha avó Frida,

Cercados pela vinha do avô boche
Chegado mais aos mandos, não conselhos,
Lá ia eu, no coração forte da Vida...

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27/03/2018

domingo, 25 de março de 2018

As três perguntas (de Alma Welt)

                                D'ou Venons Nous / Que Sommes Nous / Où Allons Nous (pintura de Paul Gauguin)


As três perguntas (de Alma Welt)

A meu pai, quando guria, eu prometi
Investigar a razão e o sentido
Da Vida e da Arte... e comovido
Então, mais uma vez, o grande homem, vi...


"Alma minha" - disse ele- eu acredito
Que procurarás o Bem, o Justo,
E a Beleza, que já têm um alto custo,
Pois neles, sim, é que repousa todo Mito.

Fiquei perplexa, mas só por um segundo,
E respondi que os usaria como meio
Pois queria penetrar ainda mais fundo.

Pois queria é encontrar as três respostas
Para as três perguntas, no alto postas
Da pintura de Gauguin, que sempre leio...
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25/03/2018

quinta-feira, 22 de março de 2018

Quê mistério... (Alma Welt)

Quê mistério a vida é, quão espantoso!
A rigor tudo é milagre, se pensamos...
Dormir e sonhar são um dos ramos
Da Árvore da Vida em pleno gozo.

Mas em quê pesadelo a transformamos
Em nosso recebido arbítrio livre
Que, se nos define enquanto humanos
Também cria o Inferno que em nós vive.

Sempre uma e outra coisa, sempre extremos,
Sempre dupla a visão ou o conceito,
Dupla chance ou falsa escolha temos...

Quantas vezes quando estou desesperada
Peço a Deus mais uma mão, nova cartada,
Outra rodada de blefes no meu peito...

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22/03/2018