terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Adeus Pampa (de Alma Welt)

Pampa amado de minha juventude,
Da guria que fui e ainda sou!
Dói-me demais saber que não mais pude
Prorrogar os prazos que me dou.

Devo partir, eu sei, chegou o fim,
O Grande Gáltcho recusou a apelação,
A última que fiz, não só por mim
Mas por meu amor e meu irmão.

Por Lucia, Matilde e o bom Galdério,
Pelos guris no jardim do casarão,
E o bosque que me foi um refrigério.

Ah! A biblioteca imensa e amada
Também sala do piano do patrão,
E, ai! Rodo, nossa alcova na mansarda...

18/01/2007

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

A Arca (de Alma Welt)

Tendo sido aventureira em minha vida
Estive no limite, nos extremos.
Quantas vezes me julguei até perdida,
Vagando por lugares muito ermos

Da alma, onde poucos se arriscaram,
E a sentir o quanto é perigoso
Chegar onde os maiores habitaram,
Seus longínquos páramos de gozo!

É hora de fazer meu testamento
Implícito nos versos derradeiros
E legar o cabedal do pensamento:

Deixar meu tesouro nessa arca
Que veio dar a mim desde Petrarca,
Ouro d’alma em sonetos verdadeiros...

17/01/2007


Notas
Acabo de encontrar na arca da Alma este "testamento" que constatei ser inédito, nunca publicado pela Poetisa em nenhum portal. Por ele percebemos que ela considerava a sua arca como o resultado de uma vida de aventuras anímicas (a alma como uma espécie de transcendente pirata?) ou a herança do manacial de inspiração dos grandes sonetistas desde Petrarca, cuja Musa celebrada foi Laura. (Lucia Welt)

* "Ouro d'alma em sonetos verdadeiros"- Encontrei na arca uma variante deste soneto em que o terceto o final aparece assim:

Deixar meu tesouro nesta arca
Que veio dar a mim desde Petrarca,
Laureada em sonetos verdadeiros*

em que, curiosamente, a palavra "laureada" ao mesmo tempo que evoca a coroa de louros que cingem as têmporas dos grandes poetas na iconografia antiga, faz evocação de Laura, a musa celebrada de Petrarca.
Não sabemos por qual verso final Alma realmente optou no seu soneto.