quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Ao encontro de Holofernes (de Alma Welt)


Judith e Holofernes- de Artemísia Gentileschi 1593-1653

Eu e Holofernes (de Alma Welt)

Duplamente perderá sua cabeça,
Que perdida já estava na luxúria;
Do sono que adveio, fundo à beça,
A Assur não voltará, desta Betúlia...

Pobre comandante, frágil ser
Diante dos encantos de mulher;
Volúpia que o leva a assim morrer,
Dissipação e perda que se quer...

Sua fronte, na cidade sitiada,
Para sempre ficará depois do cerco,
Que afinal transpôs a paliçada...

Minha mão a sustém pelos cabelos
Com orgulho, que por minha vez me perco,
Sem mais minhas carícias e desvelos...




"Ao encontro de Holofernes"- litografia de Guilherme de Faria, dos anos 70, à qual a Alma dedicou o seu soneto.


Ao encontro de Holofernes (de Alma Welt)
Ao Guilherme de Faria e sua lito "Ao encontro de Holofernes"


Atravessando o campo semeado
Da cruel safra futura que se avista
Na forma de barracas de soldado
Dispostos à matança e à conquista,

Com a ama entrou na tenda principal,
Aquela mais sombria, mais sinistra
Que ela então sabia ser do General,
A Besta da Betúlia, ali, à vista.

Só estrelas ouviram seus suspiros,
Na entrevista fatal com esta Lillith,
Que só se tem com ela... e os vampiros.

Pois ainda na calada dessa noite
Viu-se a sombra furtiva de Judith
De volta com seu prêmio de pernoite...

(sem data)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A Última Mascarada (de Alma Welt)

Rodo, ainda sermos belos é o sinal
De que não estamos em pecado.
Perdida, a alma traz cenho fechado,
Ricto de agonia em signo do mal.

Vê, somos leves, rimos tanto,
A primavera não nos abandonou;
A relva que pisamos como um manto
Jogado sobre o lodo, nos honrou.

Somos nobres, ergamos a cabeça,
Mal uma voz ou outra se elevou.
Pisemos e subamos na caleça.

Um baile de alegrias nos espera,
Se não no mundo, na corte que restou
Na derradeira Mascarada desta era...

(sem data)