segunda-feira, 26 de maio de 2014

Ícaro (de Alma Welt)


                                      A queda de Ícaro - Pieter Bruegel 1558

Ícaro (de Alma Welt)

Grandes ratos roem a vida se o deixamos:
O medo, ciúme, ódio... tão mesquinhos.
São pestes por princípio e acalentamos
No seio qual serpentes nos seus ninhos...

Descartemos a baixeza que nos puxa
Para baixo qual pseudo gravidade
Atua sobre a forma mais gorducha.
Não basta o peso físico da idade?

Mas saltar, voar, abrindo nossas asas,
Prerrogativa final do nosso instinto
Que um dia construiu mais do que casas

Com penas de corujas, cera ou breu,
E falhando despencasse ao mar Egeu,
Quis chegar ao sol, de um labirinto…

terça-feira, 13 de maio de 2014

Nau de mim (de Alma Welt)


                                          Nau - litografia de Guilherme de Faria

 Nau de mim (de Alma Welt)

Vivi como princesa e nem quis sê-lo,
Venerada por ser bela, quê vergonha!...

Num mundo desigual e em desmantelo
Eu tinha meu diário e minha fronha...

Dos meus tempos, cá não foram nada feios,
Não terei jamais direito de queixar-me...
Ri, cantei, dancei, amei, dei os meus seios
Para os lábios daquele a quem quis dar-me.

Quê importa ser tão branca, rubros lábios!
Como vermelhos são estes meus cabelos
Não desmentidos sequer pelos meus pelos!

Aplicada meditei, li e escrevi;
Meus versos me guiaram, astrolábios
De uma nau de mim em que me vi...

sexta-feira, 2 de maio de 2014

O Eterno Jogo (de Alma Welt)


                                       O castiçal e o jogo de cartas - Georges Braque, 1910


O Eterno Jogo (de Alma Welt)

Hei de saber o sentido disso tudo,
Por quê tantos poemas e delírios,
Por quê tudo é cambiante e eu não mudo
Mas fico em mim fluindo como os rios?

Hei de saber o porquê de ser poeta
Quando em volta nada corrobora
E todos têm em mente outra meta,
A jogar como se nada fosse embora.

Vão-se as horas, minutos e os segundos
E eu só penso em torná-los tão floridos
Como aqueles terrenos mais fecundos...

Mas finalmente cercada de beleza
Que transformei dos lances mais doídos,
Porei as minhas cartas sobre a mesa...