sexta-feira, 29 de junho de 2012

Auto-Imagem (de Alma Welt)

A Metamorfose de Narciso - de Salvador Dalí 

Auto-Imagem (de Alma Welt)

Entre Eco e Narciso eu balanço,
Pelo amor de mim mesma e do amado.
Mas da antiga Eva tenho o ranço
E de Lilith a sedução e o fado...

Pois o meu destino é solitário
E tenho um pouco das malditas
Se vista pelo ângulo contrário
Com que sendo amado tu me fitas.

Porém é o soneto o meu espelho
E aqui me encontras refletida
Embora só pra cima do joelho

Pois plantada estou em mim e à margem,
Como a branca flor de dupla vida:
Paixão por ti em minha própria imagem...
 

Coro (de Alma Welt)

Eco - pintura de Alexandre Cabanel 

 Coro (de Alma Welt)

Viver o bom e o justo todo dia
Seria atitude aconselhável
Se conselhos para nós fossem Poesia,
Coisa que sabemos mais instável...

Mas versos não são Filosofia,
Muito menos servem de auto-ajuda,
Que pra isso existe a livraria,
Inteiras prateleiras, Deus me acuda!

E se queres respostas não me leias,
Que estou mais para Eco das perguntas
Ou Penélope a desfazer as teias...

Mas se assim, perplexa e pasmada,
Ao coro dos aflitos tu me ajuntas,
Logo serei regente entusiasmada...
 

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Amor Luso (de Alma Welt)

Desenho de Guilherme de Faria 2012, 100x75cm

 Amor Luso (de Alma Welt)

(para ser lido com sotaque português)

Tudo já dissemos sobre o amor

Mas se amamos ainda temos a dizer
Quando este nosso coração é falador
E se a alma o talento merecer

Pois a todos é facultado amar
Mas a poucos ser seu porta-voz
Das ânsias, delicias e o pensar,
Que representa inferno e céu em nós,

Que é a nossa mente enlouquecida
Pelas falas do amor que nos tomou
Como o novo senhor de nossa vida.

E ai de todas nós... amantes e amadas!
Ou ambas como a Alma eu mesma sou,
Que então sofrermos são favas contadas...

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Minha Saga (de Alma Welt)

Foto de Mark Adamus

 Minha Saga (de Alma Welt)

Os milhares de sonetos que escrevi
Compõem uma saga inusitada
Que novamente ao reler me comovi
Qual se fora dos Farrapos a jornada

Mas com sonhos e batalhas interiores,
E só com direito a um Garibaldi
De minha espera e devoção, debalde,
Do pano verde das cartas e penhores...

Quantas noites a esperar o aventureiro!
Quantas tardes mirando na varanda
A coxilha sob o açoite do pampeiro...

Mas se de mim sinto pena e não orgulho,
Eu me alço, se o coração desanda,
Quando a alma nos poentes eu mergulho...

terça-feira, 26 de junho de 2012

Eu, Cavalo de Tróia (de Alma Welt)

Cavalo de Tróia- desenho de Guilherme de Faria

Eu, Cavalo de Tróia (de Alma Welt) 

E entrarei no coração do amado
Com sutis truques, jogos e armadilhas.
Não seria eu um tiro de petardo
Ao seu muro de profundas maravilhas

Com essa antiga ânsia de amorosa
Que vem do velho Tempo do Jardim
Quando eu me aliaria não à rosa
Mas àquela que veio antes de mim.

E como belo cavalo de madeira
Eu, imóvel e nua em sua frente
Irei fazer cair a sua fronteira.

Serei sempre um presente perigoso
Pela nossa lembrança tão carente
Do ninho no Jardim de tanto gozo...
 

Confissões de uma Alma (Alma Welt)

A Rosa da Alma-Litografia de Guilherme de Faria- 1984 

Confissões de uma Alma (Alma Welt)

Amo ser esta mulher em plenitude
De amor, sensualidade, talentosa,
Cheia de apetites e inquietude,
E legítimas defesas, como a rosa.

Bem... espinhos não, que sou de paz.
Mas eu devo confessar minha fraqueza,
Que é uma fantasia que me apraz
De sujeitar-me em nome da beleza,

E deixar-me usar, levar um malho
Como uma odalisca de mim mesma
A servir cruel sultão no seu serralho.

Mesmo sendo Alma, penetrada!
Para deixar de ser pura abantesma,
Pela falta de um corpo, inacabada...

Sonhos da Alma (de Alma Welt)

O sonho de Alma Welt com o Pavão Misterioso, óleo s/ tela de Guilherme de Faria, 2005-2012, 100x100cm, coleção do artista, São Paulo 

Sonhos da Alma (de Alma Welt)

Sonhar sonhos sozinha, não do Mundo,
Não foi o sonho a que sonhando me votei,
Pois que o sonho verdadeiro é oriundo
Da matriz universal que plena herdei.

Se não puder voar sobre a cidade
E ser a bela mulher divinizada
A quem os homens atribuem deidade,
Sendo diva, poetisa ou bem-amada,

Estou disposta a sofrer penas terríveis
E até como a Joana ser queimada
Pela fé nas minhas vozes inaudíveis.

Pois a Alma precisa de acolhida
Por seus pares ao longo da jornada
Para poder voltar em nova vida...
 

domingo, 24 de junho de 2012

Eu, Heterônimo (de Alma Welt)


EX LIBRIS ALMA WELT- por Guilherme de Faria

Eu, Heterônimo (de Alma Welt)

Se o Fernando se dizia nada ser,
Quem sou eu para que diga ser-me alguém?
É verdade que era Álvaro a dizer
Mas no Mundo estou em mim não em ninguém.

Criada pelo artista que é poeta
Deu-me ele uma vida poderosa,
E dotou-me de veia nada asceta,
Que exponho aqui em verso e prosa.

E quem duvidar de minha existência
Basta ler-me, estou toda nos meus versos,
Mais viva do que as gentes de aparência.

Pois poucos podem provar puros poderes
Tão amplos como os meus versos dispersos
Por corações e mentes de outros seres...

Sonhos da Alma (de Alma Welt)

Sonhos da Alma (de Alma Welt)

Sonhar sonhos sozinha, não do Mundo,
Não foi o sonho a que sonhando me votei,
Pois que o sonho verdadeiro é oriundo
Da matriz universal que plena herdei.

Se não puder voar sobre a cidade
E ser a bela mulher divinizada
A quem os homens atribuem deidade,
Sendo diva, poetisa ou bem-amada,

Estou disposta a sofrer penas terríveis
E até como a Joana ser queimada
Pela fé nas minhas vozes inaudíveis.

Pois a Alma precisa de acolhida
Por seus pares ao longo da jornada
Para poder voltar em nova vida...
 

sábado, 23 de junho de 2012

La belle-au-bois dormant (de Alma Welt)

A Bela Adormecida - Litografia de Guilherme de Faria
La belle-au-bois dormant (de Alma Welt) 

Pressentimentos temos todas, vós sabeis...
Não por isso vamos nos vangloriar,
Que alardeados sentidos temos seis,
Mais pra fardo do que pra se orgulhar.

Quando guria os mortos já eu via
Antes mesmo deles se passarem desta,
Coisa que se ao morto não alivia
Também à vidente pouco presta.

Mas se da morte não podemos nos livrar,
A cataléptica espera de um amado,
Aquele mesmo que virá nos despertar

Do acordado sonho em que vivemos
Como eternas donzelas do passado...
Quando livres deste sono nos veremos?
 

sexta-feira, 22 de junho de 2012

O cervo ferido (de Alma Welt)

O cervo ferido - de Nikolai Roerich

 O cervo ferido (de Alma Welt) 


Às altas montanhas eu irei
Nem que seja como o cervo ferido
Que busca o platô de sua grei
Pra sozinho não morrer quando perdido.

Mas se me for dado na subida
Encontrar um ser benevolente
Não lhe negarei minha ferida:
A cada um o que é de toda gente...

Pois aquele que se furta aos carinhos
É tão triste quanto o que se mostra
Buscando a atenção de seus vizinhos.

E morrer nos braços de outro ser
Se a escalada vã enfim lhe prostra
É como ao Éden tornar a pertencer...
 

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Eu, flores e penas (de Alma Welt)

Pintura de John William Waterhouse 1849 – 1917 

 Eu, flores e penas (de Alma Welt) 


Quisera ser mais simples entre as flores
Não ouro rubro como minhas melenas
No jardim que me acolhe as tristes penas
E me aliviam o coração de suas dores,

Também as brancas, as roxas e as azuis,
Que todas sempre me consolam de ser eu
Com esta carga de missão a que me impus
De projetar o que a Poesia me cedeu,

Que é o viver na face dos espelhos
Refletindo-me assim tempo integral
Bem mais que pele alva e estes vermelhos.

Pois como alma aberta em carne viva
Sou eu mesma meu jardim mais visceral
A confiar que a primavera me reviva...
.
21/06/2012

A sacerdotisa de Orfeu (de Alma Welt)



A sacerdotisa de Orfeu (de Alma Welt)

Acredito que não há pecado em mim
Se não tenho a intenção do mal.
Me perdoem afirmá-lo, é assim:
Para um puro coração tudo é normal


Desde que a bondade reja tudo
E a alma generosa se compraza
Até com a sorte do sortudo
E o jardim mais verde da outra casa.

Pois mesmo a santidade é acessível
Para uma prenda letrada como eu
Criada por um sábio inexcedível

Que experimentou forjar-me uma pagã
Votada ao culto arcaico de Orfeu,
Que lhes garanto não ser doutrina vã...

O Balanço (II) (de Alma Welt)

O Balanço - pintura de William Stephen Coleman

O Balanço (II) (de Alma Welt)


Há ainda a guria do balanço
Dentro desta alma minha tão vivida.
E não é passadismo ou mesmo ranço
Voltar sempre ao jardim da velha Frida,

Minha avó alsaciana e feiticeira
Que plantava flores e ervas mágicas,
Enquanto o meu avô, sua videira
Ouro a nos render invejas trágicas...

E sempre me reporto a este canto
Cercado de uma cena projetada
Como esta alva pele por um manto.

E eis de mim a imagem que restou,
No trapézio pueril dependurada
Onde minha fantasia começou...
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segunda-feira, 18 de junho de 2012

O Labirinto (de Alma Welt)


O Labirinto (de Alma Welt) 

Que a vida tem surpresas todos sabem,
Não podemos só com a lógica contar...
A seqüência dos fatos que nos cabem
Nunca nos leva para idêntico lugar...


A cada um destino próprio e inusitado,
Eis o mistério de estar vivo: não saber
Se o gato em nossa noite é todo pardo
Ou se brilhará no escuro o nosso ser.

A que viemos? Alguns temos certeza,
Quando somos poetas ou artistas,
Que isso basta para produzir clareza...

Pois se na grande noite afundaremos,
Que luminosas sejam as nossas vistas
Se o fio do labirinto não herdemos...
 

domingo, 17 de junho de 2012

O Rapto (de Alma Welt)

Desenho de Erl King Sterner

O Rapto (de Alma Welt) 


Galopa meu pingo em noite escura,
Não pára e me leva como o vento!
Sei que a velha Morte me procura,
Não ouso pousar meu pensamento!

Ela me abraça! Socorre-me Galdério!
Vem em meu auxilio, gaucho macho,
Que já não tenho pai, nem refrigério
Sem ter perto teu chapéu de barbicacho...

Da Moira a mão magra me ameaça,
Com seu manto me envolve em disparada
Embora juras e promessas vãs me faça.

Na voragem desta noite de perigos,
Como em fuga de paixão eis-me levada.
Peão, corre e avisa os meus amigos!
 

Amarelinha (de Alma Welt)

Amarelinha (de Alma Welt) 

Minha alma tem saudades da criança
Que ela foi há muito no passado,
E lhe sente ainda a ressonância
No seu labirinto ensimesmado.

E ela me vê pular a amarelinha
E a brincar de pique e “acusado”
Quando já me encontro ali sozinha,
Sílabas a contar pelo meu prado.

Perdoa, minha alma, ter crescido
Como se fora velha de um milênio,
O coração não tendo envelhecido...

Pois, pelo contrário, me tens jovem,
Enquanto descansando de teu gênio
Contemplas esses jogos que comovem...
 

Poentes e Memórias (de Alma Welt)

Foto de Marc Adamus 

Poentes e Memórias (de Alma Welt)


As memórias generosas que guardei
Suportam-me na escura solidão
Deste isolamento a que cheguei
Com a partida de pais, irmãs, irmão...

É verdade que me restam a Matilde
E Galdério, fiéis a toda prova,
Que me dão a medida do humilde
Senão, no orgulho meu, diária sova...

Todavia já me ponho na varanda
A fazer tão cedo este balanço
Da vida como foi e como anda.

Mas mirando os poentes deslumbrantes
Eu vejo que aqui não cabe ranço
Pois me levam tão distante como antes...

sexta-feira, 15 de junho de 2012

A cortesã- desenho de Guilherme de Faria, 75x100cm

A cortesã (de Alma Welt)

Há uma cortesã que mora em mim
Embora não seja ela a única,
O que me impede oferecer-me assim
E a nudez cobrir-me com a túnica.

Cercada estou eu de alcoviteiras...
Me desculpem Matilde e a Solange,
Não esperem que me venda pelas feiras,
Mas todo casamento me constrange.

É mais fácil pensar-me mais rampeira
Oferecendo-me de graça ou por tostões
Do que aprisionar esta pampeira...

E anel jamais porão, ou uma coleira,
Nesta Alma de poesia aos borbotões,
Eu, que de mim já sou a estancieira...

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Oração ao Tempo (de Alma Welt)


Oração ao Tempo (de Alma Welt) 

Que meu tempo não seja só a espera
De conclusões ainda que felizes,
Nem o da caçada de uma fera,
Sem a fera, ou só levante de perdizes...


Que não seja mero jogo, desfastios,
Muito menos o de mil cartas marcadas,
Ou daqueles que ficaram a ver navios
E do ônibus a espera nas calçadas.

Que meu tempo não tenha sido em vão
Ou somente aperitivo pra Saturno
Enquanto o deus aguarda o seu filão.

Mas que seja eu mesma a iguaria
Enquanto avança Cronos por seu turno,
Pra devorar a mim e à minha Poesia...

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Eu, Bacante (de Alma Welt)

Bacante - desenho de Guilherme de Faria, 1968, (a pincel nanquim e ecoline s/ papel Ingres rosado, 48 x 62,5 cm), coleção Banco Central do Brasil, Brasília DF 

 Eu, Bacante (de Alma Welt)

Esta noite me sonhei como bacante
Largada após orgia, desfrutada
Pelos sátiros e faunos, triunfante
Da exuberante e lúdica noitada.

Magnífico pecado, a tal luxúria!
Entre os outros o nosso preferido,
De nós, que derivamos toda a fúria
Para o sexo total e pervertido.

Mas de súbito esvai-se essa pulsão
E tímida me vejo, e até covarde
Diante da espantosa compulsão...

Eis-me então somente uma guria
Perdida em sonhos, mesmo tarde,

Do príncipe encantado que viria...

terça-feira, 12 de junho de 2012

No Alto da Montanha Rubra (de Alma Welt)

Alma na Montanha Vermelha -
oleo s/ tela de Guilherme de Faria, 1997, 30x40cm


No Alto da Montanha Rubra (de Alma Welt)

Ao alto fomos da montanha rubra
Lá de onde se avista o mundo inteiro,
E antes que aquele véu nos cubra
Vimos Empíreo, o vale verdadeiro.

Com um gesto revelei-o ao infante
Que comigo contemplava deslumbrado.
Duo emocionado e ofegante
Por saber estar vendo o outro lado...

Estávamos avistando o nunca visto
Aquele vale das almas e do vate
Que abrindo asas eis que escapa disto:

O corpo titânico que ainda encerra
Dioniso devorado após combate,
Lançado em corpo-cárcere na Terra...
 

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Prece ao Coração (de Alma Welt)

 Alma Santa, detalhe de um dos retratos de Alma Welt, de Guilherme de Faria

Prece ao Coração (de Alma Welt)

Coração, palpita enquanto é tempo
Pelo que é mesmo belo nesta vida;
Evita a disparada e o contratempo
E me põe amiúde comovida!...

Afasta o sobressalto e o aperto
Trazidos pela angústia e pelo susto;
Faz com tua cadência um bom conserto
Mesmo que me tenha um alto custo...

E se acaso tenha eu que pagar juros,
Me concede, coração, algum desconto
Pelo tanto que já paguei de apuros.

Pois amar o proibido desde infanta,
E fazer disso o meu mais belo conto
É coisa que mesmo a ti, te encanta...

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sábado, 9 de junho de 2012

Melancolia (de Alma Welt)

MELENCOLIA - gravura em metal de Albrecht Dürer 1471- 1528 

Melancolia (de Alma Welt)


A Morte tem mil formas e a presteza
De insinuarse-nos nas dobras da vida,
Mas a mais insidiosa é a Tristeza,
Com o “mal de amor” tão parecida...

Melancolia, assim se conhecia
Entre os amigos do crepúsculo
Essa inclinação para a Poesia
A nos constringir o inquieto músculo.

E tantos tombaram nas fileiras,
Ou entre os já feridos na batalha,
Que em dores definhavam nas esteiras...

Guardai-me, Senhor, de ficar triste
Pois se de conservar o instinto falha,
Na Morte essa fronteira já consiste...
 

sexta-feira, 8 de junho de 2012

De Cantos e Lamentos (de Alma Welt)

 Litografia de Guilherme de Faria, anos 90

De Cantos e Lamentos (de Alma Welt)

Não, não repartimos nossas dores,
Que cantadas viram sonho ou festa,
E eis a nossa sina de cantores,
Que a beleza é só o que nos resta.

Como amam o nosso sofrimento!
Como amamos os seus também cantar!
A dor alheia nos sacia em detrimento
Do que ao outro puder vir a custar.

Assim nada se perde ou desperdiça,
Que a vida sabe sempre aproveitar
Nem que seja em forma de carniça.

Pois pra isso serve o sofrimento,
Não pra junto com o sofrido lamentar:
Mas fruir o que é vida em seu lamento...
 

Festas (de Alma Welt)

As Bacantes - de Alma-Tadema

Festas (de Alma Welt) 

O melhor do humano são as festas.

Não adianta... abaixo a sisudez!
Não importa se depois não prestas,
E se amanhã preferires a surdez.

Regadas a bebidas e canções,
As mulheres tornadas dadivosas
E os homens tolos crianções,
Tudo são vinhos e são rosas!...

Baco reina, haja trégua nos combates
E na louca corrida para o alto
Com a mesquinharia e seus enfartes!

Hoje reine a alegria que é de todos...
E se alguns ficarem pelo asfalto,
Depois, sim, passem os rodos!

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Brindemos (de Alma Welt)

Hip Hip Hurra! - de Peder Severin Kroyer, 1888 

Brindemos (de Alma Welt)

Brindemos, amigos, de amor plenos
Nesta hora propícia à alegria
Quando tudo o mais é de somenos
E o momento puro é da Poesia...

Vede esses sorrisos das crianças!
Como brilham! Como as taças de cristal!
E fazem renascer as esperanças...
Será melhor, nada mais será igual!

Olhai estes rostos vigorosos,
Barbas e bigodes, também calvas,
E nós com nossos colos generosos...

E o champanhe que é só o nosso ouro,
Louros cabelos sobre nossas peles alvas,
No brinde ficarão... Tempo vindouro!
 

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Os Amigos II (de Alma Welt)


 Picasso, Apollinaire e amigas- por Marie Laurencin

Os Amigos II (de Alma Welt)

Como nós cantávamos e ríamos
Naquelas jovens tardes e noitadas

Sem saber que em breve iríamos
Nos dispersar assim pelas quebradas!

Amigos, cada um foi ao Destino
Que não se pode mais compartilhar,
Que o nosso espelho cristalino
Iria bem depressa estilhaçar.

E eu pergunto se nos reuniremos
Ainda que precoces decadentes
Para restaurar o que rompemos,

Pois a contar fiquei nesta varanda
As sílabas, estrelas e poentes
Por onde o coração ainda anda...

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Os amigos (de Alma Welt)

Os Amigos - Desenho de Guilherme de Faria, 2012, 75x100cm


 Os amigos (de Alma Welt)

Os amigos se reúnem nas clareiras
Entre os sonhos perdidos e o vigente;
Faunos uns, outras ninfas e faceiras,
Assim nos reunimos, somos gente.

No rosto, às vezes, máscara nos pomos,
Não somos de se por no fogo a mão,
Nem por certo que se cheire flores somos,
Mesmo sem rabo amassamos nosso pão.

Amizade é filha do imprevisto
E se do acaso levamos a bandeira
A gratuidade é passe ou visto...

Mas no fundo todos temos um só medo
Que em nós do mesmo modo cheira:
Que a vida seja só engano ledo...

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Friends (Alma Welt) 

(Google translator)

Friends gather in the gaps
Among the lost dreams and current;
Fauns some of them, other sexy nymphs,
So we met, we are people.

In the face, sometimes we put a mask
You must not to put the hand on fire for us,
For sure we do not smell like flowers,
Even without a tail we knead our bread.

Friendship is the daughter of the unexpected
And if by chance we carry the flag
Gratuity is a pass or visa ...

But deep down we all have one fear
That make us smelling the same way:
That life is just a silly mistake...

domingo, 3 de junho de 2012

A Russa (de Alma Welt)


A Russa- desenho de Guilherme de Faria

A Russa (de Alma Welt)

Saída de romance, a russa veio
Com aquele seu mistério de "otchitchórnia" *
Vestida de espantar, pro nosso meio,
Com toucado assim, quase tricórnia...

E eu, guria nova e deslumbrada,
Via meu pai conversando em alemão,
Língua dele, não dela, a convidada,
O que logo me causava confusão

Com os tísicos da Mágica Montanha *
Antes que chegasse a guerra torpe
Com nova insanidade, e tamanha...

Era ela, sim, Clawdia Chauchat, *
Aquela amada pelo Hans Castorp *
Nas neves de um Berghof Shangrilá...

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Notas
* otchitchórnia- fonético da expressão russa que significa "olhos negros", famosa canção folclórica russa romântica.

* Alma alude ao célebre romance "A Montanha Mágica", de Thomas Mann, e a fascinante personagem da russa de "olhos kirguises", Clawdia Chauchat (pr. Chochá), por quem o personagem principal, o jovem tísico Hans Castorp, se apaixonou naquela Clínica para tuberculosos nos Alpes suiços, o Berghof, onde se passa o monumental romance. Alma guria associa a convidada russa de seu pai à personagem daquele saga literária, que termina com a "guerra torpe", que põe fim à Belle-Époque, a Primeira Guerra Mundial de 1914-1918.

* Berghof Shangrilá - Alma associa a Clínica Berghof com a cidade perfeita de Shangrilá, perdida em outros alpes, os do Himalaia, onde se viveria num mundo de sonho, ou fora do mundo...

Wikipedia: Shangri-la, da criação literária de 1925 do inglês James Hilton, Lost Horizon (Horizonte Perdido), é descrito como um lugar paradisíaco situado nas montanhas do Himalaia, sede de panoramas maravilhosos e onde o tempo parece deter-se em ambiente de felicidade e saúde, com a convivência harmoniosa entre pessoas das mais diversas procedências. Shangri-la será sentido pelos visitantes ou como a promessa de um mundo novo possível, no qual alguns escolhem morar, ou como um lugar assustador e opressivo, do qual outros resolvem fugir. O romance inspira duas versões cinematográficas nas décadas seguintes.

No mundo ocidental, Shangri-la é entendido como um paraíso terrestre oculto

sábado, 2 de junho de 2012

Alma na geada- óleo s/ tela de Guilherme de Faria, 30x40cm

Geada (de Alma Welt)

No campo saio pela matinal geada,
Como vermelha e branca nave vou
Tendo na pele a sensação gelada
 Da noite que a pouco se afastou.

E sinto que sou parte deste mundo
Meio dúbio de orvalho congelado
Que tudo une e mistura neste prado
E o meu amanhecer torna fecundo.

Saber que a beleza aqui me ronda
Porque ela igualmente me aprecia
Põe em mim este sorriso Gioconda...

Quantos mais versos hei de escrever então!
Se pertenço a este mundo, em si poesia,
Quão fácil é germinar como um botão...