sexta-feira, 23 de março de 2012

Um Flamenco da Alma (de Alma Welt)


​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​Espanha - Litografia de 1995 de Guilherme de Faria, 26x100cm

Um Flamenco da Alma (de Alma Welt)

Meu pai hospedou na estância, um dia,
Um “cantaor” famoso em todo globo,
Gitano da formosa Andaluzia,
Moreno azeitonado e meio lobo,

Que botou os olhos mouros nesta gringa
Quando cantava ao som de uma guitarra,
Só parando para a água de moringa
Que eu servia como se vinho de jarra.

E depois de muitas palmas de cadência
E aquela voz rouca aliciante,
Eu sentia no corpo uma dormência...

Naquela noite a filha da coxilha
Arderia em fogos de Alicante
E nos vãos divãs mouriscos de Sevilha...

O Bilhete (de Alma Welt)


O Bilhete (1974)- Litografia de Guilherme de Faria

O Bilhete (de Alma Welt)

Me recordo, e isso é surpreendente,
Na minha infância um fato corriqueiro,
Um bilhete entregue à Mutti, de repente,
Trazido pelas mãos de um mensageiro

Que montado esperou ele e o alazão
Do qual o pobre nem sequer se apeou
Para beber um copo d’água ou chimarrão
E bem depressa no seu rastro retornou...

De Matilde, que a entrega fez de perto
O olhar foi na verdade o que guardei,
Pois que era pra mim um livro aberto,

E a certeza malgrado ingênua fosse
De que ali se transgredia alguma lei
Que proíbe que um rosto se remoce...

terça-feira, 13 de março de 2012

O Rapto de Europa (de Alma Welt)


O Rapto de Europa - pintura de Alexander Sigov

O Rapto de Europa
(dos sonetos Mitológicos de Alma Welt)

Um touro famoso aqui da estância
Que eu assistira cobrir a minha vaca,
E assombrou-me desde a infância
Aquela coisa enorme como estaca

Cravada em vulva rubra dadivosa,
Me faria, pois, sonhar por muitas noites
Com minha própria e bela fenda rosa,
E logo meu traseiro sob açoites...

Então fui para a Europa pra estudar,
O que apaziguou meu pensamento
Pois logo vi que ali já fora meu lugar.

Sei agora que quando sonho com touros,
Naquele primitivo e cru momento
Está a dura raiz dos meus tesouros...

segunda-feira, 12 de março de 2012

O Circo da Poesia (de Alma Welt)


O Circo em Brodósqui - Portinari, 1934

O Circo da Poesia (de Alma Welt)

Que imensa paixão é a Poesia
Que o coração tomou-me por encanto
Com seu poder de foco e sintonia
Sobre as coisas, seres, riso e pranto!

Sem ela a nossa vida se amesquinha
Num comércio perpétuo e aviltante
Em vãs disputas e combates como rinha
De galos cegos em turra triunfante.

Há quem pense que a vida é só contenda,
Bracejar para subir e vir à tona
Ou encontrar lugar pra armar a tenda

Mas lhes garanto, a vida é também isto:
É o guri em nós erguendo a lona
Para espiar o trapézio sem ser visto...

A Árvore do Éden ( de Alma Welt)


A Árvore da Alma- óleo s/tela de Guilherme de Faria, 2011,100x100cm, coleção do artista

A Árvore do Alma (de Alma Welt)

Eis a árvore no topo da colina
Onde me encontrava com meu mano
Naquela minha fase de menina
Quando estávamos aqui no fim do ano,

Vindos de longe para a festa de Natal
E as férias que a Mutti deplorava
Pois pra ela nós dois juntos era o Mal,
Que "a fome com a sede se juntava"...

E com certo fundamento, reconheço,
Pois a nossa paixão era tamanha
Que vetada nos foi desde o começo.

Então marcas que nossa altura medem
A canivete o pobre tronco lanha
Desde que expulsos fomos deste Éden...

A Onda Rubra (de Alma Welt)


A Onda Rubra - óleo s/ tela de Guilherme de Faria 2012, 30x40cm

A Onda Rubra (de Alma Welt)

Meu pampa pelo olhar transfigurado
É o fim e o começo do meu Mundo,
Como uma onda rubra do meu fado
Que se enrola em signo fecundo.

Não há explicação para a beleza
Deste rincão da Terra, vasto plano
Ondulado pelo vento da tristeza
Que o gaúcho nomeia Minuano.

E eu, poeta de minha própria alma
No cenário surreal desta coxilha
Meus poemas são as linhas desta palma.

E sob as nuvens que voam em farrapos
Eu canto entre os cães, grilos e sapos
Nestes plainos de quem sou poeta e filha...

domingo, 11 de março de 2012

Alma Modelo (de Alma Welt)



Alma Modelo - desenho de Guilherme de Faria, 1986

Alma Modelo (de Alma Welt)

Muito posava eu pr'alguns pintores
Que apreciavam tanto meu contraste
Do vermelho e do branco como cores
Da mais sóbria das paletas que se baste.

Tal como Ticiano já afirmava
Ao bom pintor as cores bastam três:
O amarelo ocre não faltava,
Mais o vermelho, o terra ou o chinês;

O branco era a vista luxuriosa
Que eles tinham da minha própria pele
Mais os lábios e os mamilos cor de rosa.

E o vermelho voltava a figurar
Ali onde aprecio que me rele
O olhar sábio do mestre a me pintar...

O Jovem Frade (de Alma Welt)


Jovem Frade - óleo s/ tela de Guilherme de Faria, 1991

O Jovem Frade (de Alma Welt)

Havia um frade jovem na cidade
Que guria me levaram a conhecer
Pois vivia em odor de santidade
E que achavam me podia converter.

Então me recordando do Aliocha
O melhor dos quatro irmãos Karamazov
Encontrei-o com um velho a jogar bocha
Algo que por pouco me comove.

Mas pensando no stáriets Zósima
O velho e sábio santo do romance
Fomos a uma lanchonete próxima.

E logo por amor de um jovem frade
Meu coração quase abriu-se num relance
Para a minha própria santidade...

sábado, 10 de março de 2012

Chuva de Primavera (de Alma Welt)


Chuva de Primavera- óleo s/ tela de Guilherme de Faria, 1994, 90x120cm, paradeiro desconhecido

Chuva de Primavera (de Alma Welt)

Na Primavera a alma refloresce
E isto não é pura alegoria
Mas verdade que eterna permanece
E nos garante a flor e a poesia.

Mas se chove então é de se ver
Que o verde agradecido da folhagem
E as cristalinas gotas interagem
Conspirando para o coração perder...

É a vera estação de amar e dar
E não deixar para depois o que se quer
Como as flores não deixam de brotar

Então gera, que é dom, por isso gozas,
(mormente se és feliz e se és mulher)
Novos pequenos lábios como rosas...

Pampa Vermelho (de Alma Welt)


Pampa Vermelho- óleo s/ tela de Guilherme de Faria, 30x40cm

Pampa Vermelho (de Alma Welt)

Meu pampa se põe em rubro e ouro
Quando nele o sol poente agoniza
E o pampeiro percorre o varadouro
Dessa terra ondulada onde desliza

Buscando aquelas plagas castelhanas
De onde o frio Minuano voltará
A zunir nos corações e venezianas
Com memórias de Rodrigo Cambará.

E eu a escrever na minha varanda
Aqui do casarão que vai ao fundo
Na maré de sombra em que desanda

Esta saga que na Prússia se inicia
Para vir desembocar nesta Poesia
Do vinhedo Welt, que é o Mundo...

quinta-feira, 8 de março de 2012

A Modelo (de Alma Welt)


A Modelo- óleo s/ tela de Guilherme de Faria, 60x50cm, 2000, coleção do crítico norte americano Sol Biderman, São Paulo

A Modelo (de Alma Welt)

Quando estava eu nos meus dezoito,
Rodo trouxe um amigo para a estância
Que moço bom pintor e nada afoito,
Paciente, pintava com constância.

E logo pôs o olho nesta Alminha,
Modéstia à parte no auge da beleza,
Que certa candura ainda eu tinha,
Logo pensava que isso não põe mesa...

Escondidos no sótão que era o quarto
Do meu Rodo que discreto nos cedia,
Começou a aventura do retrato.

E na volúpia de sentir-me admirada
Como disse "bom retrato requeria",
Entreguei-me de pasto à pincelada...

Casinha pequenina (de Alma Welt)


Da Série "Imaginárias Brasileiras" - óle s/ tela de Guilherme de Faria, 50x50cm, anos 90, paradeiro desconhecido

Casinha pequenina (de Alma Welt)

Às vezes me imagino mais singela
Vivendo na casinha da colina
À beira de um riacho com pinguela
Num cenário de cabeça de menina.

Pois este meu pampa é grandioso
E o vento sobre as ondas das coxilhas
Traz o ranger de naves sem repouso
E os brados da maior de suas filhas.

E às vezes esse peso glorioso
Me oprime com os seus belos fantasmas
Nas noitadas deste casarão trevoso.

E um Brasil mais simples, menos plano,
Sem vetustas visões com as suas asmas
Chega a mim na voz de uma soprano...

Arco-Íris no Trigal (de Alma Welt)


Campo de trigo- óleo s/ tela de Guilherme de Faria, 70x100cm, anos 90, coleção particular, Presidente Prudente, SP

Arco-Íris no Trigal (de Alma Welt)

Quê haverá de mais lindo neste mundo
Que um Arco-Íris surgindo no trigal
Fazendo-nos sentir por um segundo
Como se de volta ao Éden afinal?

O Paraíso foi aqui, bem sabemos,
E por intolerância da gerência,
Pela gula de um momento de carência,
Abuso infantil quase sofremos!

Mas o Pai talvez quisesse só educar
Para que não fôssemos mimados
Por viver num mundo feito pra encantar,

E obrigou-nos a ceifar trigo a suar
Mas de pena de nos ver extenuados
A foice vira um sonho em pleno ar...

A Paisagem Amarela (de Alma Welt)


Paisagem amarela- óleo s/ tela de Guilherme de Faria, 1996, 120x140cm, coleção Cândida de Arruda Botelho, São Paulo

A Paisagem Amarela (de Alma Welt)

Eu me vi numa paisagem amarela
De uns montes e montanhas encantadas...
Mas de terra muito arada era ela,
Com árvores aqui e ali plantadas.

Tudo era muito... assim, domado,
E embora encantador me deu tristeza
Pois nesse tal cenário imaginado
Ninguém nunca viveria, com certeza.

E despertando do sonho sem enredo,
Saí louca a correr pela coxilha
Toda em torno do pomar e meu vinhedo,

Tão feliz nestas planuras sem tropeço
Que são de minha vida a maravilha
Pois aqui é o fim do mundo e seu começo...

Peregrinação ao Parnaso (de Alma Welt)


Parnaso (Morada das Musas) - óleo s/ tela de Guilherme de Faria, anos 90, coleção Cândida Arruda Botelho, São Paulo

Peregrinação ao Parnaso (de Alma Welt)

Ao Parnaso em peregrinação fui eu
Falar com minha musa da Poesia
Que escrava no seu mundo me prendeu,
E suplicar a ela a alforria.

O monte era belo, de altos cumes
E eu que sou uma prenda da coxilha,
Que do Cerro do Jarau sou quase filha,
Tive saudades dos meus singelos numes

Como do Pastoreio o meu Negrinho
Sob as Três Marias e o Cruzeiro
E da Teiniaguá no meu caminho...

Então eu me assumi, não mais confusa,
Que sob as mil estrelas qual braseiro,
Era eu mesma a minha própria Musa...

quarta-feira, 7 de março de 2012

Máscaras da Noite (de Alma Welt)


Máscaras da Noite - desenho de Guilherme de Faria

Máscaras da Noite (de Alma Welt)

Condensada das sombras da noite
Sai a turba que ignota nos habita
Ainda que esta Alma não se afoite
A olhá-la pois seu mundo é que me fita.

Mulheres de que sei menos que nada
Nem mesmo o que elas fazem por aqui
Pois seus rostos perpetuam mascarada
De um reino a que nem sei se pertenci.

Então porque as tenho dentro em mim?
Que fazem no meu imo as abantesmas ?
Não conheço o seu começo nem o fim...

Eis enigma que mora dentro e cala,
E sempre as perguntas são as mesmas
Enquanto o coração opresso estala...

Alma Galatéia (de Alma Welt)


Auto-retrato de Guilherme de Faria




Alma Galatéia (de Alma Welt)

Com Guilherme de Faria, sabem, faço
Meu contato enviando meu soneto;
Ele que nunca perdeu a fé no traço
De imediato inicia seu “boceto”,

Na verdade um esboço nada ralo
Que ilustra à perfeição o verso meu,
Ou expondo o que normalmente calo,
Crio versos para tão devoto ateu...

E eu fico a me lembrar dos nossos tempos
Em que só sobre o seu leito me despia
Bem longe dos futuros contratempos...

Quão apaixonada eu me encontrava!
E eu, louca Galatéia, já não via
Que era a mim que o artista então criava...

terça-feira, 6 de março de 2012

Dias do Monte Calvo (de Alma Welt)


O Banho- pintura de Zinaida Serebriakova

Dias do Monte Calvo (de Alma Welt)

Nós, mulheres, hoje já não temos
De outros tempos aquela pelaria
Sobre o sacro montículo de Vênus
Que um matagal ou selva parecia.

Nossa nudez é outra e bem mais nua
E exibimos nossas vulvas de meninas
Ainda mais vulneráveis que a lua
Nas mãos dos poetas das esquinas.

E amo desnudar-me frente ao espelho
Para olhar minha fenda sem o pelo,
Eu que o tinha ralo e bem vermelho,

E ver que é rosada, quase rubra,
Lascivo e escandaloso apelo
Para que, pura fêmea, alguém me cubra...

Meu Galo Bravo (de Alma Welt)


Galo- desenho de Guilherme de Faria

Meu Galo Bravo (de Alma Welt)

Tive um galo bravo em meu terreiro
Que tinha um olhar feroz humano
E me fazia pensar num otomano
Com um rubro barrete de guerreiro.

Aquele galo assim turco e irado
Era também uma espécie de sultão
De seu harém que vivia num cortado
Com medo de seu bico e esporão.

Mas eis que uma galinha Sherazade
Se fez notar entre todas do cercado
E agia como se cara-metade

Fazendo o seu tirano bem mais doce.
Juro que isto vi e está gravado
Como se amor mesmo aquilo fosse...

O Mandarim Mágico (de Alma Welt)

                        O Mandarim Mágico- desenho de Guilherme de Faria


O Mandarim Mágico (de AlmaWelt)


Um mágico chegou em Novo Hamburgo,
Que atuou com sucessos estrondosos
Pois era mais que um mago, taumaturgo,
Que fazia uns prodígios perigosos.

Parecendo mandarim de rubra faixa,

De pronto a uma moça pediria
Que se metesse em sua bela caixa
Que ela logo desapareceria...

Então como enxerida de costume,

Voluntária adiantou-se esta guria,
Como quem para o Hall da Fama rume.

Porém devo revelar que então me vi

Num mundo encantado de Poesia
Onde até hoje eu vivo, e não saí...
.

A Prima Rosa (de Alma Welt)


A Prima Rosa - desenho de Guilherme de Faria

A Prima Rosa (de Alma Welt)

Eu tinha uma prima primorosa
Em suas maneiras finas e antiquadas
Que usava gargantilha e saia rosa
E um chapéu, alvo certo de piadas,

Que se sentava assim muito composta
Tão dura e espigada na cadeira
Que eu faria com Rodo uma aposta:
Se ela suportaria brincadeira...

Mas eu mesma haveria de chorar
Pois meu mano declarando-lhe amor
Acabou mesmo por se apaixonar...

E o feitiço que jamais tarda a virar,
Ai! Fez com que eu sentisse a sua dor
E ela o meu prazer em meu lugar...

As Alegres Comadres de Windsor (de Alma Welt


As Alegres Comadres de Windsor -desenho de Guilherme de Faria, 2011

As Alegres Comadres de Windsor (de Alma Welt)

Em Rosário, ai de mim, eu bem me lembro,
Três comadres que chamávamos de Windsor
Pois alegres como tardes de Setembro
Queriam dar uma lição a um senhor

Que às gurias dirigia frases vãs
Malgrado sua pança sem remédio
Que lembrava a de Falstaff e suas cãs
Antes de inventarem o tal de assédio.

Me pediram então que fosse a ele
Com uma boina disfarçada de guri
Para de amor uma carta devolver-lhe.

Mas previam que outra coisa se passasse
E não que agarrando a prenda aqui
O bruto por trás mesmo me pegasse...

As intrigantes (ou A Calúnia) (de Alma Welt)


A Intriga ou A Calúnia - tela de Guilherme de Faria ("fase baconiana"), 100x150cm, coleção particular, Brasília, DF


As intrigantes (ou A Calúnia) (de Alma Welt)


Havia em nossa rua em Hamburgo Novo
Três comadres solteironas transtornadas
Que tricotavam intrigas nas calçadas
Das faltas e inocências desse povo.

Meu Vati, que as via como harpías
Disse, um dia, a mim, que era guria:
"Sei minha filha que jamais isto serias
Mesmo, creio, que ficasses pra titia..."

"Esse nobre coração, sei bem tens isso,
Da tua inteligência companheiro,
Te deixará bem longe desse vício."

"Pois sabes que a calúnia é feia brisa
Como diz aquela ária do Barbeiro
Que ouviste no meu colo como frisa..."


Nota

O pai da Alma, que ela chamava de "Vati" (papai em alemão, pr. Fáti - de Vater, pai, pr. Fáter) era um músico amador mas excelente pianista e cantor erudito, barítono, e conhecedor profundo de Ópera. A ária do Barbeiro de Sevilha, de Rossini a que ele se refere e que ele cantou para a Alma no seu colo, é a famosa Ária da Calúnia ("la calumnia è un venticello"...a calúnia é uma brisa) na verdade uma ária para "baixo", mas que ele, barítono, cantava muito bem.

O Boá de Plumas Negras (de Alma Welt)


O Boá- desenho de Guilherme de Faria

O Boá de Plumas Negras (de Alma Welt)

Sonhei que eu era doce prostituta,
Longe do meu Pampa e de seus ventos,
Degustada por clientes como fruta
Num bordel dos idos de oitocentos.

Eu usava um boá de negras plumas
E um corset de cetim muito apertado
Que por si só me fazia entrar em brumas
De lírios de um sonho despertado.

Eu vivia lentamente entre coxins,
Bem longe das coxilhas do pampeiro
Num sonho de noturnos guaxinins,

Só olhando de noite a branca lua,
Esperando chegar um cavaleiro
Que dali me levaria branca e nua...

quinta-feira, 1 de março de 2012

Alma na montanha (de Alma Welt)


Alma na montanha - óleo s/ tela de Guilherme de Faria

Alma na montanha (de Alma Welt)

Uma tarde subindo uma montanha
Me dei conta da minha pequenez
E de minha insensatez tamanha
De julgar-me a maravilha que Deus fez

Por ser bela mulher ainda jovem
Já a cantar as mais divinas criações
Que estas, sim, a todos nos comovem,
E como eu não frustram belos corações...

De repente me dei conta que, poeta,
Sou o menos poético dos seres
Pra poder entrar nas coisas como seta,

E em palavras tudo em volta revelar,
Enquanto eu, ó solidão e seu poderes,
Quisera a um simples outro me entregar...