segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Anima Mundi ( Alma Welt)

Confesso, não há nada mais extremo
Que viver a vida em liberdade;
Um passo aquém dela, na verdade,
E uma falsa paz será teu prêmio.

Ora, Alma, lá vens tu com mais dilema!
Não consegues deixar de questionar?
Não consegues só levar a vida amena,
Escrever teus belos versos e os mostrar?

Talvez tenha perdido minha inocência
E nem mais consigo simples colher flores
Sem lembrar Ofélia em sua demência...

Já que eu carrego o mundo no meu nome, *
Não dou um passo que não contenha dores:
Guerra e paz, abundância e também fome.
.
28/02/2022

Nota
"... carrego o mundo no meu nome - pra quem não sabe, a palavra Welt (pronuncia-se Velt) é alemã significa Mundo. Alma Welt quer dizer Alma do Mundo, "Anima Mundi" em latim, é arquetípica, representa a alma feminina que perpassa o mundo, o regenera e redime.

sábado, 26 de fevereiro de 2022

Orgulho e sinceridade (de Alma Welt)

Nunca tive pena de mim mesma,
Tive é que me livrar do meu orgulho,
Coisa fácil de seguir até no entulho
Luminoso como rastro de uma lesma.

Entulho? Ora, sim... de pecadilhos
E alguns outros defeitos desprezados,
Mas que quando assim acumulados
Parecem os coelhos tendo filhos.

Alma, vê: não desças tanto lá de cima
Não estás sendo sincera em demasia?
Não confundas humildade e baixa estima.

Deus sabe o tanto que a ti mesma burilas,
Não o rosto no cristal da tua pia
Mas sincera em cada verso que desfilas...
.
26/02/2022

Olhai as flores (de Alma Welt)


                                      Fantasia floral (ou As flores da avó Frida) -o/s/t 2022,70x50cm 


Olhai as flores (de Alma Welt)

Vivo, sim, em eterna vigilância,
No que for concernente à minha alma,
Que me foi dada, eu sei, em confiança,
Para levá-la de volta sem um trauma.

Mas "trauma" é sonho, dizia minha avó *
Se referindo da palavra a própria origem
Na sua aldeia, de onde saiu só
Pra encontrar com meu avô, ainda virgem.

E zelaria por mim muito mais tarde,
Preservando não a minha inocência
Mas a própria chama que em mim arde.

"Minha Alma"- ela dizia- "olhai as flores
E mantenha como elas vossas cores
Até o fim, tudo mais é excrecência"...
.
23/02/2018




A bronquinha de Deus (de Alma Welt)

Se demais penso na vida fico triste...
Proibido foi o Fruto e não à toa;
Ainda vejo Deus de dedo em riste
E rezo pra que a culpa não me roa.

Digo assim: "Senhor Deus, releve aquilo,
Não nos guarde rancor, deixa pra lá!
Não filo mais maçãs, mudei de estilo,
Plantei mesmo um lindo pé de manacá."

"Mesmo assim Deus um dia me deu bronca,
Ou só ralhou, mas como quem acalma:
"Alma,"- (rima falsa... ai!)- "és mesmo tonta,"

"Tu me cobras todo dia esse teu trauma...
De meus Mistérios, não paro pra dar conta,
Mas não vês como acalento a tua alma?"
.
26;02/2022

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Traduttore-traditori (de Alma Welt)

Para viver só preciso de beleza.
(não falarei pois de água nem comida),
Mas só daquilo que, dizem, não põe mesa
E que é a só razão da minha vida.

A Beleza é a Verdade e vice-versa, *
Melhor dito o grande Keats decretou
E não contente no final acrescentou
Que é tudo pra saber, sem mais conversa. *

Sei que estou trocando a libra por reais
Nem sequer da realeza da rainha
Ou monarca de outros tempos ideais..
.
"Bah! Alma, estás trocando é em miúdos!
Sabemos bem que preservas conteúdos,
Mas a beleza só o original continha..."
.
25/02/2022

Nota
*A Beleza é a Verdade e vice-versa, *
*Que é tudo pra saber, sem mais conversa - Alma propositalmente popularizou em português os famosos versos finais da célebre "Ode A Uma Urna Grega" do poeta romântico John Keats, de maneira um pouco gaiata, para fins de demonstração da diminuição da beleza com a perda de forma original na tradução.
No original os versos são assim: "Beuty is truth, truth beauty"- that is all/
Ye know on earth, and all ye need to know."
Mas, na verdade, a Alma reconhece a beleza da tradução primorosa de Péricles Eugênio da Silva Ramos:
" A beleza é a verdade, a verdade a beleza"- é tudo
O que sabeis na terra, e tudo o que deveis saber.

Puro amor (de Alma Welt)

Quando guria eu era puro amor,
Assim, a esmo, amava todo mundo,
E me magoava também, com igual candor
Que perdurava menos de um segundo.

Sintonizada então no "modo" amor
(como se diz das coisas hoje em dia),
Alegre e inocente persistia
Deixando para trás mágoa e rancor...

Ah! Estais esperando uma catarse,
Uma revelação ou uma vingança?
Pensais que meu amor era um disfarce?

"Não sei vocês" (como, aliás, o povo diz)
Mas não pus o meu amor numa balança,
E nem teve um voo curto de perdiz...
.
25/02/2022

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Retorno ao Ninho ( de Alma Welt)

Sempre quis voltar para o meu ninho
Que não é somente a estância, o casarão,
Mas o interior da alma e o coração
Do poeta que nem deixarei sozinho...

Eu disse: olha, eu sei quanto me gostas.
Me arrancaste do interior, não das alturas,
Sou tua anima, me vias só de costas *
Nesses teus belos desenhos e gravuras...

Me devolva e continuo dentro em ti.
Inventa-me um acidente pros leitores,
Mas, te peço, não capriches nos horrores...

E afogaste-me naquele poço, a sério, *
Acrescentando a mim mais um mistério,
De meu desejo o desfecho não previ...
.
23/02/2002
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Notas

* Sou tua anima, me vias só de costas
Nesses teus belos desenhos e gravuras -
Na sua obra completa , volume 18, página 412, CARL JUNG escreveu:
"No topo da gravura está a personificação do inconsciente, uma figura de anima nua que se vira de costas. Esta é uma posição típica: no princípio da objetificação destas imagens, a figura de anima frequentemente vira-se de costas. " CW 18, §412

*E afogaste-me naquele poço, a sério
- em 210 de Janeiro de 2007, depois de uma série de sonetos em que angústia da Alma parecia estar crescendo dia a dia, eu recebi dela o soneto intitulado "A Carruagem", uma nítida despedida da vida, uma perceptível vontade de ir embora. Fiquei deprimido, senti que a Alma ia morrer e , veio-me a seguir a visão dramática de seu afogamento no "poço da cascata" de sua estância. Postei como sua irmã Lucia Welt a notícia trágica pormenorizada em detalhes romanescos na página da Alma no Recanto das Letras, o que motivou um grande choque (a Alma já era uma da estrelas daquele portal) e em seguida, com o desmentido indignado do Editor, um escândalo, culminando com a expulsão póstuma (!!!) da Alma, e minha, daquele portal (episódio incrível que já narrei aqui no face há tempos atrás).
 
*Acrescentando a mim mais um mistério- Na narrativa da Lucia Welt, fica uma ambiguidade, uma dúvida até hoje não solucionada, se se trata de suicídio ou assassinato, pois a Alma estava nua, com uma corda no pescoço amarrada a uma grande pedra ancorada no fundo do laguinho cristalino ( o "poço"), Como ela tinha a parte inferior dos braços, esfolados, poderia tanto ser ferimentos de defesa ou da pedra áspera amparada ali, escorregando para as águas.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

"Les Feuilles Mortes" * ou O Último Outono (de Alma Welt)

Chego a pensar que construo minha vida
Soneto por soneto, não o oposto...
Mas, pensando bem, quem não duvida
Das Memórias que tão bem caem no gosto?

Eu realmente não sei onde começa
Ou acaba minha vida verdadeira.
Acaso, existe mesmo essa fronteira,
Estarei para mim mentindo à beça?

Não, não creio... é sempre a alma
Que dita o rumo até por linhas tortas
E não há como falsear linhas da palma...

Tudo aquilo que o coração aborda
Como outono que mais ninguém recorda,
Permanece, até mesmo as folhas mortas...
.
21/02/2022

Nota
*Les Feuilles Mortes - titulo da célebre canção francesa composta em 1945 por Jacques Prévert e Joseph Kosma, e que foi interpretada por Edith Piaf nos anos 50 e revivida nos anos 60 pelo cantor-ator Yves Montand. Na verdade, a canção é tão célebre que foi interpretada em francês e na sua versão inglesa, por todos os grandes cantores desde então.
Entretanto a Alma a homenageia com o título mas se refere às "folhas mortas" em outra acepção bem diferente.



Nem raposa, nem as uvas (de Alma Welt)

Sei bem que para pouca gente escrevo,
Não me iludo pois tenho os pés na terra;
Sou "da" pampa onde tanto gado berra,
Mas até pra um só leitor sinto que devo.

Que me importa se a plateia é reduzida!
Mas não sou como a raposa sob as uvas
E não pauto por despeito minha vida,
Nem saudosa, demais, como as viúvas.

Do sucesso que eu tinha com os meus,
Guardo dos bons momentos mesmo o cheiro,
Estão comigo e não preciso dar adeus.

Um passarinho canta porque existe
Não é preciso seduzi-lo com alpiste...
Vou cantando nem que seja no chuveiro.
.
21/02/2022

Autoajuda (de Alma Welt)

Ando muito só e triste, Deus me cuide...
Foram-se todos os que me eram caros,
E daqueles bons amigos, muito raros,
Vi pequenas traições, mas amiúde.

Ora, Alma- digo então para mim mesma-
Estás aí a te queixares, que vergonha!
Agora és para ti tua abantesma,
Em vez de só molhares a tua fronha.

Mas Rodo, meu irmão que é meu esteio,
Meu coração perdido de si mesmo,
Caiu no mundo a jogar dados a esmo...

Mas Alma! - a resposta a mim me veio...
Não há dados novos, te dás conta?
Tua vida é tão rica... e nasceu pronta.
.
21/02/2022

domingo, 20 de fevereiro de 2022

A Estrada Sem Fim (de Alma Welt)

Se é difícil viver em sociedade,
Viver sozinha a vida é mais ainda.
É como andar numa estrada que não finda
Se no fim não chega a uma cidade...

"Não, Alma"- disse o Mestre- "é ilusão.
A vida é muito mais o caminhar,
Chegar a uma cidade é que é parar.
Até morrer pra quem andar na contramão..."

Então olhei o mestre assim de esguelha
E notei que sua lábia consistia
Em dizer o que lhe vinha assim na telha.

E convencer meu solitário coração
Foi fácil para o mestre que me ouvia:
O seu aval pra eu voltar à solidão...
.
20/02/2022

Expressionismo alemão (de Alma Welt)

Meu pai cobria as paredes de pinturas,
Belos quadros de pintores excelentes
Que nos davam, na abordagem das figuras,
O real visto bem sob outras lentes.

"Expressionistas"- didático dizia,
Apontado as expressivas distorções
Conquanto a diferença eu já não via
Entre aquilo e meu mundo de emoções.

Então ao escrever os meus versinhos
Eu olhava para dentro com um olho,
O outro olho voltado pros vizinhos...

E meu pai aprovava admirado,
Confirmando que o sabor vinha do molho
Naquele meu versejar de pé quebrado...
.
20/02/2022

sábado, 19 de fevereiro de 2022

O Flagrante (de Alma Welt)

Sempre tive muito medo de morrer...
"Tanatofóbica", diria, mas nem tanto.
Observo, com alegria e não espanto,
Um velho tronco desgalhado florescer.

Tenho uma pontinha de esperança
De merecer de novo um Paraíso
Desde que seja igual à minha infância
Sem mais sofrer de novo um mau juízo.

Confesso sofri muito o tal flagrante
De sermos pegos peladinhos no Jardim
E aquela dor me volta a todo instante...

Pela orelha arrastada ao casarão,
Chorando e me cobrindo com a mão,
Ai Me! (diria o grego)... Ai de mim !
.
19/02/2022


De volta ao Jardim (de Alma Welt)

Retornar ao meu Jardim como inocente,
E garanto estar ainda pura e igual,
Pois ao contrário de tanta boa gente,
Nem aceito o tal "pecado original"...

Tão previsível... Quê raio de pecado?
Eu em minha candura virginal,
Junto a mim meu belo irmão pelado,
Em simples brincadeiras de quintal...

"Ora, Alma, estás pegando no concreto,
É tudo alegoria, não percebes?
Não deves tanto assim olhar de perto.

Ao violar o Fruto da Ciência,
Iguais parcelas de Bem e Mal recebes;
Agora é tarde, Inês é morta... Paciência..."
.
19/02/2022

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

A Fugitiva de Babel (de Alma Welt)


                                       A torre no prado - o/s/t de Guilherme de Faria, 2017, 30x40cm

A Fugitiva de Babel (de Alma Welt)

Eu jamais fui trabalhar em Babilônia,
E acho a tal torre um grande porre.
Minha língua é portuguesa, de colônia,
E só com a da matriz, talvez, concorre.

Meus horizontes são vastos, infinitos
E permito meu olhar ir com o vento;
Sou tão afeita às lendas e aos mitos
Que, por isso, o meu passo é meio lento.

E porque a minha memória é o dia a dia,
Eu carrego este peso redobrado
De um presente eivado de passado...

No entanto, sou jovem... quem diria?
Não somente para efeito de poesia
Esta minha brancura ao sol do prado...
.
18/02/2022

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Crônica (de Alma Welt)

Meu soneto é minha crônica diária
E espero se surpreendam como eu:
Serei Callas em reconhecida ária
Ou o fogo roubarei, qual Prometeu?

Mas que nada! Em geral sou simplesinha
E falando só das coisas que conheço...
Só não sou fútil, banal e comezinha
Pois ao gosto da massa não obedeço.

Só não falo do Amor, seu nome em vão,
Pois que ao jovem poeta ou escrivão,
As Cartas de Rilke ainda me movem. *

Não sabemos o que aconteceu ao jovem:
Se foi escrever sonetos que comovem
Ou carimbar numa fatal repartição...
.
15/02/2022

Nota
* Nas famosas "Cartas a um Jovem Poeta", o grande Rainer Maria Rilke o aconselhava a não escrever poemas de amor, sem explicar porquê. Suponho porque o Amor, como tema, se deve deixar para os poetas que atingiram o ápice de sua arte, do contrário se cai inevitavelmente na pieguice e na banalidade dos lugares-comuns...

Divagações sobre o Tempo (II) (de Alma Welt)

A trilogia do Tempo me domina
(já que eu devo falar por mim somente)
Pois vivo em dois mundos minha sina
E acredito ficar para semente...

O passado (dizem) sempre nos condena...
Eu que nada sou sem minha memória,
Se não posso contar a minha história,
Que história vou contar que valha a pena?

Presente e passado, duplo jogo
Pois o futuro é mistura surpreendente
Como a cara do rebento do Diogo

(Diogo é o meu vizinho e sofre um logro
pois não consegue ver que a mulher mente)...
Mas eu não estava a falar de mim somente?
.
15/02/2022

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Devaneios (de Alma Welt)

                                    Devaneios da Alma - o/s/t de Guilherme de Faria, 2021, 40x50cm

Devaneios (de Alma Welt)

Sabeis que sou chegada a devaneios,
Assim crio panoramas e poentes
Refazendo o real por outros meios
E tentando oferecer às outras mentes.

Para isso me amparo em meu pintor
Que me dá suporte me ilustrando;
Às vezes o contrário, e é quando
Eu é que ilustro suas pinturas sem a cor.

Mas de um jeito ou outro, dadivosos
Oferecemos beleza, assim, de graça,
Como quem apenas brinda e ergue a taça.

E se ao formar assim campos e flores
Nada tenho além de versos ociosos,
Distribuo em versos mesmo minhas cores...
.
14/02/2022

O pó e o pólen (de Alma Welt)

Não há nada que me cause mais prazer
Que um soneto novo a cada hora.
"Quê exagero! Assim vais até morrer!
Cada verso te leva um pouco embora!"

Mas faço versos assim como respiro
E não tentem me conter ou distrair
Se estou a contar sílabas, que piro
Ou poderei em pleno ar até sumir.

O soneto me compõe, me configura
E assim como tu mesmo sou real,
Já que a vida material bem pouco dura...

E iremos todos no fim sumir no ar
Ou mais densos, grãos num areal,
Mas, poetisa, pólen sou, pra fecundar...
.
14/02/2022




                          Guirlanda (A Infância da Alma) - o/s/t de Guilherme de Faria, 2022, 50x70cm
 
De coroas e guirlandas (de Alma Welt)

"De tua infância lá vens com a cantilena!"
Disse alguém já cortando-me o discurso.
E quase achei que estava em selva plena,
Sozinha e acuada por um urso...

Isso era sonho mau, não acontece,
Geralmente não sou mal recebida.
Quem com tais flores coroas tristes tece
Conhece o medo de as receber em vida.

Solidão, herança bela de meu pai,
E de seus conselhos lembro muito,
Que diziam como o homem sobe e cai.

Tenho flores de entretecer guirlandas
E não aprecio cravos de defunto:
Cordões quero, cantos, festas e cirandas...
.
14/02/2022

domingo, 13 de fevereiro de 2022

Espelho, espelho meu (de Alma Welt) *

                                        Alma ao espelho - o/s/t de Guilherme de Faria, 70x70cm

Espelho, espelho meu (de Alma Welt)

"Bela Alma, como tens tanto a dizer
E o fazes em milhares de sonetos
Que sem nunca os repetir ou aborrecer
Em ouro fechas nos últimos tercetos?"

Era eu que ao espelho perguntava
Mirando minha beleza duvidosa
Enquanto o espelho franco retrucava:
"És bela... mas há quem lhe dê sova."

"Tens aqui mesmo a Cecília inconfidente; *
Além-mar tens a Florbela, que te espanca, *
Ambas mortas porém ainda na rinha. "

Baixei minha cabeça humildemente,
Mas fui cantar "My Way" como o Paul Anka, *
Pra não perder majestade de rainha...
.
13/02/2022

Notas
* Espelho, espelho meu... - Não preciso, talvez, esclarecer que se trata de uma paródia da Alma da cena do espelho mágico da rainha má, na história da Branca de Neve.

*...a Cecília inconfidente - a grande poetisa brasileira Cecília Meirelles, autora do genial "Romanceiro da Inconfidência", mas que era também sonetista (na verdade, nem de longe comparável à Alma Welt, que neste gênero específico é muito superior).

*...a Florbela, que te espanca - Florbela Espanca, maravilhosa poetisa portuguesa, que a Alma muito admira como sonetista intensa e sublime.
 
"...cantar "My Way" como o Paul Anka - embora esta notável música e letra tenha sido celebrada na voz do Frank Sinatra, a autoria se deve ao Paul Anka, roqueiro que se destacou somente no final dos anos 50 e começo dos anos 60, mas será imortal pela autoria tardia da canção My Way, cuja letra afirma a maneira própria e individual de uma pessoa criar, agir e vencer na vida.

sábado, 12 de fevereiro de 2022

Alma Caravaggio (de Alma Welt)

Alguém me disse: "Alma, não és feliz.
Na poesia tua angústia é bem visível,
Se não nas entrelinhas, por um triz,
Mas por tua produção vasta e incrível."

"Ninguém lança mão de tanto verso
Se estiver bem a gosto em sua pele,
Sem sentir o mundo mau e adverso,
Sem juntar tanta beleza que o sele..."

Diante disso comparei asas e cruzes,
E para reavaliar sombras e luzes
Me tornei de mim meu Caravaggio:

A luz que me ilumina, minha amiga,
Certamente não é de graça, tem um ágio,
Que a sombra a ressalte é que me intriga...
.
12/02/2022

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

As doze sílabas fatais (de Alma Welt)

De mim mesma permaneço vigilante
Ou estarei então aqui ao Deus-dará?
Mero arbusto sou, pouco instigante
Ou um carvalho que enorme sombra dá?

Penso dar frutos, não bolotas de Natal,
Que, acho eu, serve apenas para esquilo
Ou tudo mais que quer que seja aquilo
Se não fosse outro carvalho como tal...

Está bem... então acolho à minha sombra
Se não puderem digerir estranhos versos
Num formato que o rigor ainda assombra.

Doze silabas contadas como favas
De algum dos Alexandres controversos,
Alma, semeias ou tua cova cavas?
.
11/02/2022


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Sereias (de Alma Welt)

 

Sereias - o/s/t de Guilherme de Faria, 2022, 40x50cm


Sereias (de Alma Welt)

De guria, acreditava nas sereias,
Sonhando ver o mar para avistá-las
Malgrado aqueles truques, cantos, teias
Colhendo marinheiros para amá-las.

Mas pensando bem sobre as histórias
Percebi de repente e com espanto
Que quase tudo emite aquele canto,
Que sem perigo as coisas são inglórias

E que a vida mais comum é Odisseia,
Pois sempre o risco corremos da paixão,
Só aos outros evidente má ideia...

Vida correu, então, pros meus amores
Eu vi trocar-se a ordem dos fatores,
Que sereia fui eu mesma e ilusão...
.
10/02/2022





terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

A voz do carvalho (de Alma Welt)

                                     Alma e o Carvalho - o/s/t de Guilherme de Faria, 2022, 40x40cm

A voz do carvalho (de Alma Welt)


Houve tempo em que tateei nas trevas
Porque não acreditava nos meus olhos.
Como eu, maré de gente, havia levas,
Por si mesmas, só barreiras e escolhos.

Onde é que estou? Em vão eu perguntava,
Pois as repostas eram tantas a dispor
Como de vagas o uníssono fragor,
Que, perdida ia eu, e tateava...

Então cheguei à sombra de um carvalho
Que no meio das trevas era luz
E num mar de secura, era o orvalho.

E então do imenso tronco ouvi a voz:
"Teu olhar, somente ele, te conduz,
Já que na multidão estás a sós..."
.
(sem data)

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Nota
Alma Welt, como sempre simbolista, me fez lembrar da anedota relembrada pelo Olavo de Carvalho sobre Groucho Marx (dos Irmãos Marx, comediantes da Era de Ouro de Hollywood) que disse a um interlocutor num filme: "Então, você vai acreditar em mim ou nos seus próprios olhos?"