quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Retorno ao Ninho ( de Alma Welt)

Sempre quis voltar para o meu ninho
Que não é somente a estância, o casarão,
Mas o interior da alma e o coração
Do poeta que nem deixarei sozinho...

Eu disse: olha, eu sei quanto me gostas.
Me arrancaste do interior, não das alturas,
Sou tua anima, me vias só de costas *
Nesses teus belos desenhos e gravuras...

Me devolva e continuo dentro em ti.
Inventa-me um acidente pros leitores,
Mas, te peço, não capriches nos horrores...

E afogaste-me naquele poço, a sério, *
Acrescentando a mim mais um mistério,
De meu desejo o desfecho não previ...
.
23/02/2002
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Notas

* Sou tua anima, me vias só de costas
Nesses teus belos desenhos e gravuras -
Na sua obra completa , volume 18, página 412, CARL JUNG escreveu:
"No topo da gravura está a personificação do inconsciente, uma figura de anima nua que se vira de costas. Esta é uma posição típica: no princípio da objetificação destas imagens, a figura de anima frequentemente vira-se de costas. " CW 18, §412

*E afogaste-me naquele poço, a sério
- em 210 de Janeiro de 2007, depois de uma série de sonetos em que angústia da Alma parecia estar crescendo dia a dia, eu recebi dela o soneto intitulado "A Carruagem", uma nítida despedida da vida, uma perceptível vontade de ir embora. Fiquei deprimido, senti que a Alma ia morrer e , veio-me a seguir a visão dramática de seu afogamento no "poço da cascata" de sua estância. Postei como sua irmã Lucia Welt a notícia trágica pormenorizada em detalhes romanescos na página da Alma no Recanto das Letras, o que motivou um grande choque (a Alma já era uma da estrelas daquele portal) e em seguida, com o desmentido indignado do Editor, um escândalo, culminando com a expulsão póstuma (!!!) da Alma, e minha, daquele portal (episódio incrível que já narrei aqui no face há tempos atrás).
 
*Acrescentando a mim mais um mistério- Na narrativa da Lucia Welt, fica uma ambiguidade, uma dúvida até hoje não solucionada, se se trata de suicídio ou assassinato, pois a Alma estava nua, com uma corda no pescoço amarrada a uma grande pedra ancorada no fundo do laguinho cristalino ( o "poço"), Como ela tinha a parte inferior dos braços, esfolados, poderia tanto ser ferimentos de defesa ou da pedra áspera amparada ali, escorregando para as águas.

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