sábado, 18 de dezembro de 2021

O soneto, um vício? (de Alma Welt)

Tendo me dado conta que o soneto
Tinha em mim se tornado hemorragia,
Permiti-me uma autocirurgia
A primeira, na verdade, que cometo.

Um grande sonetista glaucomado
Sabendo quem lhe vinha aos calcanhares,
Comentou com perspicácia ou despeitado:
O soneto era um vício... como os bares.

Confesso que aquilo me atingiu,
Já que sempre o soneto, desatado,
Me foi tão fácil depois de começado.

Mas revendo a imensa catadupa
E o lago de tesouros que surgiu,
Voltarei, agora sem mais culpa...
.
18/12/2021
Nota
Logo depois do tal comentário capcioso, a Alma parou mais de um ano de me enviar novos sonetos. Ela já tinha àquela altura escrito quase cinco mil, e se aproximava do recorde do tal poeta. Eu lhe disse: "Que bobagem, Alma, jorre o seu talento à vontade! Acaso Deus reprime as cachoeiras?"

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