quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Perséfone (de Alma Welt)

Mirante do Tempo, a minha varanda
Com sua velha cadeira de balanço
Sobre os campos com cheiro de lavanda
Em que observo das sombras o avanço,

Imagino-a vazia, muito em breve
Com todo este casarão espectral
Quando a terra me for pesada ou leve,
Num sepulcro a pedir sua mão de cal...

Pára com isso, Alma, estás lúgubre!
Esse gótico sinistro nos revolta...
Esse teu gosto estranho pelo fúnebre...

Vê os pastos florindo sob as reses:
Core pois de ti mesma, estás de volta
Aos braços de tua mãe por mais seis meses...*

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21/09/2017

Nota
*Core pois de ti mesma, estás de volta /
Aos braços de tua mãe por mais seis meses - Duplo sentido peculiar à Alma: Ao mesmo tempo que significa "envergonha-te de ti mesma", significa "Perséfone de ti mesma", remetendo ao "mito de Core" nome latino da Perséfone grega, jovem princesa filha de Deméter (a deusa das colheitas), que foi raptada no campo quando colhia flores, por Hades, deus dos Infernos, que a fez sua esposa. Desesperada, Demeter implora a intercessão de Zeus, que arbitra que Perséfone deve passar meio ano no mundo subterrâneo com seu marido, e meio ano na superfície dos campos com sua devotada mãe.

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