quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Cartesiana (de Alma Welt)

Alguém me disse, e não me rio,
Que uma lógica frugal de mim emana,
Não sei se por censura ou elogio,
Que anti-poeta sou, cartesiana...

Talvez devesse desvairar com as palavras,
Ser surrealista como Lorca
Sair duma camisa de onze varas
E torcer o rabo da minha porca.

Mas na verdade sou filha de outra veia
Amo e venero o velho Whitman
Que explodiu suas sementes de romã, *

E penso que a poesia subsiste
Por ser a nossa eterna Última Ceia,
O pão e vinho a que ninguém resiste...

.
08/12/2016


Nota
* Que explodiu suas sementes de romã - em inglês, idioma do grande poeta Walt Whitman, a fruta romã se diz "pomegranate", isto é, "fruta granada", porque quando madura "explode" lançando suas sementes, sendo assim um símbolo de generosidade e fecundidade, (representado frequentemente na iconografia cristã da Virgem e do menino Jesus, na Renascença). Aqui, a romã, associada ao poeta Whitman alude à sua conhecida generosidade, tanto pessoal quanto poética. Vide, por exemplo este famoso poema do bardo americano:


A uma prostituta

Tranquiliza-te, fica à vontade comigo
- eu sou Walt Whitman,
Generoso e pletórico como a Natureza!
Antes que o sol te rejeite,
Antes que as águas se neguem
A rebrilhar para ti
Ou as folhagens a sussurrar por ti
Minhas palavras não se negarão
A rebrilhar e a sussurrar por ti
Garota minha, eu marco contigo
Um encontro bem marcado,
E te encarrego
De fazer todos os preparativos
Para estar bem em forma
Ao encontrares-te comigo;
E te encarrego
De ser paciente e perfeita .
Até lá
Para que não te esqueças de mim
Eu te saúdo com este expressivo olhar.

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