Penélope - cópia romana de um original grego- coleção vaticana
Meus dias (de Alma Welt)
Meus dias foram pródigos, reconheço,
Pois em poesia os cantei como cigarra.
Mas a teia que a minha vida narra
De noite muitas vezes a desteço
Na minha espera por algo, puro amor,
A que não pude me furtar, tola que sou,
Não obstante da leitura o meu furor,
E a escrita, que tão cedo me tomou...
Mas vejo que o legado verdadeiro
Que me coube deixar como um tesouro
É esse amor, que descobri primeiro,
Que folheia os meus versos duvidosos,
E que os torna, assim, mais valiosos,
Pois que os ilumina como o ouro...
Este espaço é destinado às diversas séries de sonetos da poetisa gaúcha Alma Welt, que, mais genéricas, não se enquadrem nos outros blogs da poetisa, de séries mais específicas, como os eróticos, os metafísicos, etc. (vide lista de seus blogs)
quinta-feira, 31 de maio de 2012
Para uma modelo mutilada (de Alma Welt)
A modelo Uta Melle pelo fotógrafo Jackie Hardt
Para uma modelo mutilada (de Alma Welt)
Gradiva vai, diva grata gradativa
Ativa e graciosa grava a vida
Sua condição de musa ativa
Que a si mesma agrava a lida
E vai de peito aberto sem mais seios
Que ela os tem agora interiores
E se na minha retina ainda sei-os
Admirando-a não lhe farei favores.
A beleza sempre nos requer coragem
Ou se encolherá com os mil receios
Que a vida nos enseja de passagem.
Vai, pois, mulher bela e temerária
Expor tua nudez por novos meios
Que a beleza, como a vida, é vasta e vária.
Ativa e graciosa grava a vida
Sua condição de musa ativa
Que a si mesma agrava a lida
E vai de peito aberto sem mais seios
Que ela os tem agora interiores
E se na minha retina ainda sei-os
Admirando-a não lhe farei favores.
A beleza sempre nos requer coragem
Ou se encolherá com os mil receios
Que a vida nos enseja de passagem.
Vai, pois, mulher bela e temerária
Expor tua nudez por novos meios
Que a beleza, como a vida, é vasta e vária.
segunda-feira, 28 de maio de 2012
A Morte de Alma Welt- óleo s/ tela de Guilherme de Faria, 90x120cm
Última Oração (de Alma Welt)
Que o Fado me poupe da desgraça
De entrar em triste decadência,
Morrer velha, em feiúra e doença,
Lamentando a vida e o mais que passa.
Queria morrer jovem e no pináculo,
Mesmo que seja tamanha a minha dor
Que minha morte se erija em espetáculo
Ou confundam com antigo mal de amor.
Tudo é vaidade, percebes se te afastes...
Mas, Deus, Vós me fizestes tão bonita,
Por que assim tão mal me acostumastes?
E se na hora estranha da partida
Puder sentir que o Vosso olhar me fita,
Lembrai, Senhor, o quanto amei a Vida!
__________________________________
Última Oração (de Alma Welt)
Que o Fado me poupe da desgraça
De entrar em triste decadência,
Morrer velha, em feiúra e doença,
Lamentando a vida e o mais que passa.
Queria morrer jovem e no pináculo,
Mesmo que seja tamanha a minha dor
Que minha morte se erija em espetáculo
Ou confundam com antigo mal de amor.
Tudo é vaidade, percebes se te afastes...
Mas, Deus, Vós me fizestes tão bonita,
Por que assim tão mal me acostumastes?
E se na hora estranha da partida
Puder sentir que o Vosso olhar me fita,
Lembrai, Senhor, o quanto amei a Vida!
__________________________________
sábado, 26 de maio de 2012
Sonhos (de Alma Welt)
Que perdurem intocados os meus sonhos,
Se porventura não os puder realizar,
Pois que à realização lhes anteponho
O mero e simples ato de os sonhar...
Realizados vão eles se esvaindo
Em comezinha ou vã realidade.
E o sonho, que na alma era tão lindo,
Como pôde chegar à saciedade?
O tal plano do real é corriqueiro,
E se a todos serve, não a mim
Que prefiro o branco nevoeiro...
Amo as formas que se dissolvem brandas,
E anoitecendo, o perfume do jasmim
Como a denunciar por onde andas...
Trigal de Primavera (de Alma Welt)
Alma no Trigal - óleo s/ tela de Guilherme de Faria, 2000, 30x40cm
Trigal de Primavera (de Alma Welt)
Como branca nave em mar dourado,
Adentro o trigal, embevecida,
Num momento tênue e encantado
Na coxilha a pouco amanhecida.
Colhendo flores na fímbria dourada
Coberta de orvalho como prata,
Do belo participo, emocionada,
Pois Deus me fez assim e muito grata.
E ao me rever no quadro do pintor
Que fixou este momento caro,
Sinto uma alegria e uma dor...
Pois se com o vento tudo passa,
Um flagrante da beleza é tão raro...
Que primavera assim não se desfaça!...
Trigal de Primavera (de Alma Welt)
Como branca nave em mar dourado,
Adentro o trigal, embevecida,
Num momento tênue e encantado
Na coxilha a pouco amanhecida.
Colhendo flores na fímbria dourada
Coberta de orvalho como prata,
Do belo participo, emocionada,
Pois Deus me fez assim e muito grata.
E ao me rever no quadro do pintor
Que fixou este momento caro,
Sinto uma alegria e uma dor...
Pois se com o vento tudo passa,
Um flagrante da beleza é tão raro...
Que primavera assim não se desfaça!...
quarta-feira, 23 de maio de 2012
A Travessia (de Alma Welt)
The Sin - Henry Fuseli 1741 - 1825
A Travessia (de Alma Welt)
A grande noite escura atravessei
E bem próxima do último portal,
Confesso, tive medo e estaquei
Por ter um coração frágil e mortal.
Eu via ali a sombra de mim mesma
Que me acenava assim, meio sinistra.
Era eu a minha própria abantesma
Que o meu lado escuro administra.
Então lembrei-me de outro Bardo
Que se defrontou com o Pior
Quando já destilava a flor do cardo.
E gritei pra mim: “Irei em frente,
Não poderá haver horror maior!”
E escapei de mim relando rente...
A Travessia (de Alma Welt)
A grande noite escura atravessei
E bem próxima do último portal,
Confesso, tive medo e estaquei
Por ter um coração frágil e mortal.
Eu via ali a sombra de mim mesma
Que me acenava assim, meio sinistra.
Era eu a minha própria abantesma
Que o meu lado escuro administra.
Então lembrei-me de outro Bardo
Que se defrontou com o Pior
Quando já destilava a flor do cardo.
E gritei pra mim: “Irei em frente,
Não poderá haver horror maior!”
E escapei de mim relando rente...
Gradiva (de Alma Welt)
Gradiva (de Alma Welt)
Gradiva sou, de mim vou e caminho
Para onde não importa, apenas vou
E nem mesmo vou sequer de vagarinho
Meu andar já me define como sou.
Gradiva sou, de mim vou e caminho
Para onde não importa, apenas vou
E nem mesmo vou sequer de vagarinho
Meu andar já me define como sou.
Não por elegância especialmente,
Embora a beleza viva em mim,
Mas por firmeza e decisão da mente
Coisas que são em si mesmas meta ou fim,
Não hás de ver no meu andar a sedução,
Que quando consciente é duvidosa
E cai sempre na vulgar dissipação.
Meu passo metafísica me quer
Como o intrincado signo da rosa
Labirinto da alma rubra da mulher...
_____________________________
Nota (da Wikipédia)
A Gradiva (detalhe do relevo das Aglaurides). Cidade do Vaticano, Museu Chiaramonti.
A Gradiva de Jensen (do latim, "aquela que avança", feminização de Gradivus, um dos epítetos do deus romano Marte, Mars Gradivus, isto é, "Marte que avança") é um romance publicado em 1903 pelo escritor alemão Wilhelm Jensen, que teve grande influência na cultura européia, sobretudo entre os surrealistas.
A Gradiva é de fato um baixo-relevo neoático romano, da primeira metade século II, feito à maneira das obras gregas do século IV a.C., e representa uma jovem que dança e levanta a barra de seu traje. É parte do relevo das Aglaurides - as filhas de Cécrope, cuja mulher se chamava Aglauros ou Agraulos - e está no Museu Chiaromonti, no Vaticano.[1]
O romance de Jensen foi tema do famoso estudo de Sigmund Freud O delírio e os sonhos na 'Gradiva' de W. Jensen (Der Wahn und die Träume in W. Jensens ″Gradiva″), de 1907 e inspirou vários surrealistas
terça-feira, 22 de maio de 2012
The Death of Chatterton - painting by Henry Wallis 1856
A Mansarda (de Alma Welt)
O que fazer com os sonhos descartados
Que se acumulam inúteis pelos cantos
Mesmo com os juros descontados
Daquelas mágoas, pesares e espantos
Quando vemos o que a mente guarda
Naqueles afinal momentos gratos
Em que revisitamos a mansarda
Cheia de tralhas e álbuns de retratos
E saímos atritando logo os dedos
Com a poeira que a mente não acolhe
De nossos belos e antigos sonhos ledos
Que nos jogam novamente no passado
Se esbarramos de uma gaita o fole
Que geme um triste acorde relembrado...
A Mansarda (de Alma Welt)
O que fazer com os sonhos descartados
Que se acumulam inúteis pelos cantos
Mesmo com os juros descontados
Daquelas mágoas, pesares e espantos
Quando vemos o que a mente guarda
Naqueles afinal momentos gratos
Em que revisitamos a mansarda
Cheia de tralhas e álbuns de retratos
E saímos atritando logo os dedos
Com a poeira que a mente não acolhe
De nossos belos e antigos sonhos ledos
Que nos jogam novamente no passado
Se esbarramos de uma gaita o fole
Que geme um triste acorde relembrado...
segunda-feira, 21 de maio de 2012
A Fonte da Eterna Juventude
Existe e está dentro de nós.
Ela brota do corpo em plenitude
E nos leva com ela logo após
Por uma torrente de aventuras,
De desejos e loucas ambições
Que no ápice das juvenis loucuras
Seduzem outros tolos corações.
Mas se buscas a Fonte da Alegria
Que nos acolhe o Envelhecimento,
O irmão mais esperto da Poesia,
Verás que a nossa tarde decadente
Nos oferece o seu melhor momento
Nesses fulgores dourados do Poente...
domingo, 20 de maio de 2012
O Grão-Mestre florescendo - desenho de Guilherme de Faria, de 1965, no acervo do Banco Central do Brasil, Brasília DF
O grão mestre florescendo (de Alma Welt)
Eis que estava o Grão-Mestre florescendo
Diante de toda a Ordem misteriosa
E a flor que nascia ia crescendo
Da calva lisa, árida e lustrosa.
Então a confraria incorporou
O sinal da rosa mística febril
Que este primeiro grão-mestre consagrou
Embora a rosa nunca mais se repetiu.
De onde tiras isso, ó Guilherme?
Tenho medo que a tua rosa brote
Pois da loucura há muito tens o germe.
Pois a mente do artista é ociosa:
Faz brotar flores onde quer que a bote,
E já vejo em nossa testa a mesma rosa...
O grão mestre florescendo (de Alma Welt)
Eis que estava o Grão-Mestre florescendo
Diante de toda a Ordem misteriosa
E a flor que nascia ia crescendo
Da calva lisa, árida e lustrosa.
Então a confraria incorporou
O sinal da rosa mística febril
Que este primeiro grão-mestre consagrou
Embora a rosa nunca mais se repetiu.
De onde tiras isso, ó Guilherme?
Tenho medo que a tua rosa brote
Pois da loucura há muito tens o germe.
Pois a mente do artista é ociosa:
Faz brotar flores onde quer que a bote,
E já vejo em nossa testa a mesma rosa...
Ariadne (II) (de Alma Welt)
Sacerdotisa de Creta- estatueta de faiança
Ariadne (II) (de Alma Welt)
Sacerdotisa fui na antiga Creta
De vestido armado como um plinto
E guardiã da porta mais secreta
Que levava ao próprio labirinto.
Na bronzina rês fui encerrada
Resistindo aos tormentos nas arenas
E pelo touro branco empalada,
De seu sêmen cheia até as melenas.
Então chegou enfim o estrangeiro
E traí meu genitor o cruel Minos
Por um amor afinal tão passageiro
Que depois de o ventre rechear-me,
Iria n’outra ilha abandonar-me.
Sempre a eterna teia de fios finos!
Ariadne (II) (de Alma Welt)
Sacerdotisa fui na antiga Creta
De vestido armado como um plinto
E guardiã da porta mais secreta
Que levava ao próprio labirinto.
Na bronzina rês fui encerrada
Resistindo aos tormentos nas arenas
E pelo touro branco empalada,
De seu sêmen cheia até as melenas.
Então chegou enfim o estrangeiro
E traí meu genitor o cruel Minos
Por um amor afinal tão passageiro
Que depois de o ventre rechear-me,
Iria n’outra ilha abandonar-me.
Sempre a eterna teia de fios finos!
sábado, 19 de maio de 2012
O que é o homem? (de Alma Welt)
"O que é o homem?” O príncipe indagou, *
E ele mesmo respondeu com ironia,
Talvez com amargura, se notou,
Na tal cena de horrores que vivia.
Há sempre em nós um príncipe lutando
Por nosso direito a uma verdade
Que teima em esconder-se, se esquivando,
Por medo... e mais vezes por vaidade.
“Mais sublime criação da Natureza”,
Estes seriam nossos termos ideais,
Que na fuga ficaram para trás,
Brandia pois o anjo espada tesa...
-Pra que tanta violência, ó Capataz,
Se a inocência não volta nunca mais?
___________________________________
Nota
*“O que é o homem?” (O príncipe indagou) - Alma alude à pergunta contida num famoso monólogo de Hamlet, de Shakespeare (What a piece of work is a man! /... And yet, to me, what is this quintessence of dust? ( Que obra-prima é o homem!.... /E no entanto , para mim, o que é essa quintessência do pó?)
-----------
Ilustração: Adão e Eva expulsos pelo anjo- detalhe do afresco de Michelangelo, no teto da Capela Sistina, no Vaticano, Roma
O Retornado (de Alma Welt)
A Árvore da Vida - óleo s/ tela de Guilherme de Faria, 100x100cm
O Retornado (de Alma Welt)
Amorosos, herdaremos nós a Terra,
De retorno ao perdido Paraíso,
Renunciando ao que em nós aberra
E muito antes do dia do Juízo.
Dançaremos assim juntos de mãos dadas,
Todos à roda da Árvore da Vida.
E não mais haverão favas contadas
E a tribo não será mais dividida.
Nada de tupis e aimorés,
Apenas amores sem mais guerra,
Que o Sol bem sabe quem tu és...
E acenderemos o Fogo Sagrado
Não só pra pedir bênçãos para a terra
Mas pra saudar o homem retornado...
O Retornado (de Alma Welt)
Amorosos, herdaremos nós a Terra,
De retorno ao perdido Paraíso,
Renunciando ao que em nós aberra
E muito antes do dia do Juízo.
Dançaremos assim juntos de mãos dadas,
Todos à roda da Árvore da Vida.
E não mais haverão favas contadas
E a tribo não será mais dividida.
Nada de tupis e aimorés,
Apenas amores sem mais guerra,
Que o Sol bem sabe quem tu és...
E acenderemos o Fogo Sagrado
Não só pra pedir bênçãos para a terra
Mas pra saudar o homem retornado...
sexta-feira, 18 de maio de 2012
A Cavalgada (de Alma Welt
A Cavalgada - desenho de Guilherme de Faria, 1962
A Cavalgada (de Alma Welt)
Aqui, de noite começa a cavalgada,
A vejo, silhuetas contra a lua,
Grotesco cavaleiro, bruxa nua,
Feiticeiras e demônios da calada...
“Como podes, Alma, com isso conviver,
Tu, que o lado escuro abominas,
Se a tua alma arriscas só de ver
Essas sombras que emergem das ravinas?”
Minha alma é pura, nada temo
E a luz, Senhor, eu a amo, bem sabeis,
Negócios jamais tenho com o Demo.
Mas curiosa e temerária me fizestes
E posso me orgulhar perante os reis,
Que a força dos humildes já me destes...
A Cavalgada (de Alma Welt)
Aqui, de noite começa a cavalgada,
A vejo, silhuetas contra a lua,
Grotesco cavaleiro, bruxa nua,
Feiticeiras e demônios da calada...
“Como podes, Alma, com isso conviver,
Tu, que o lado escuro abominas,
Se a tua alma arriscas só de ver
Essas sombras que emergem das ravinas?”
Minha alma é pura, nada temo
E a luz, Senhor, eu a amo, bem sabeis,
Negócios jamais tenho com o Demo.
Mas curiosa e temerária me fizestes
E posso me orgulhar perante os reis,
Que a força dos humildes já me destes...
Saideira (de Alma Welt)
Psiqué (Alma ) - detalhe do desenho Eros e Psiqué, de Guilherme de Faria
Saideira (de Alma Welt)
Que o meu fim seja como uma noitada
Num bar boêmio em saideira de poesia,
Com uma última canção apaixonada
De um longo dia vivido em nostalgia
Da beleza de algum tempo ideal
Onde o amor fora moeda de valor
E a mulher instalada em pedestal,
A Psiqué, deusa de asa furta-cor...
Alienada, eu? Acho que não! Não creio...
Insano é o tempo que vivemos
E já provou sua falência ou a que veio.
A acreditar só que a vida é Hermes, *
Prefiro o que há além das epidermes,
Não comércio, vãs mensagens e venenos...
.
Nota
*A acreditar só que a vida é Hermes - Hermes além de simples mensageiro, era o deus grego dos comerciantes, dos médicos e alquimistas, e dos ladrões...
Saideira (de Alma Welt)
Que o meu fim seja como uma noitada
Num bar boêmio em saideira de poesia,
Com uma última canção apaixonada
De um longo dia vivido em nostalgia
Da beleza de algum tempo ideal
Onde o amor fora moeda de valor
E a mulher instalada em pedestal,
A Psiqué, deusa de asa furta-cor...
Alienada, eu? Acho que não! Não creio...
Insano é o tempo que vivemos
E já provou sua falência ou a que veio.
A acreditar só que a vida é Hermes, *
Prefiro o que há além das epidermes,
Não comércio, vãs mensagens e venenos...
.
Nota
*A acreditar só que a vida é Hermes - Hermes além de simples mensageiro, era o deus grego dos comerciantes, dos médicos e alquimistas, e dos ladrões...
Tristão e Isolda (de Alma Welt)
Tristão e Isolda (de Alma Welt)
Tristão já era triste, e a Isolda
Era isolada, mas dupla, na verdade.
Se o nosso coração o vento tolda
Embarcação assim, deter quem há-de?
Tanto mistério no canto exacerbado,
Na melopéia obsessiva e renitente,
Embora da paixão o louco fado
Ainda me cative... e a tanta gente.
Mas se por artes, Senhor, ou sortilégio,
Projetas meu amor em duplicata
Não mais respeitarei teu poder régio.
Senhor, meu rei, livrai-me desse fardo
Que não quero levar a quem me ata,
Que a tornar-me tão triste já não tardo...
quinta-feira, 17 de maio de 2012
Eu e Ulisses (de Alma Welt)
Eu e Ulisses (de Alma Welt)
Amarrei-me no mastro do meu barco
Para ouvir do coração a vã sereia
Em seu amplo espectro que abarco,
De Ulisses a Penélope da Teia.
Tudo sou: meu barco e sua chegada,
A mulher que espera o aventureiro,
E aquele que partiu de madrugada
Pra voltar mendigo em seu terreiro
Depois de conquistar a rica Tróia
Com sua eqüina dádiva de grego,
Que é um eufemismo de tramóia...
E no final, sou meus pretendentes
Massacrados pelo arqueiro sem emprego
Que não me trouxe ouro nem presentes...
Mãe (de Alma Welt)
Maternidade - óleo s/ tela de Guilherme de Faria, anos 80, 50x60cm,
Um milagre comum e universal
Acontece na vida todo dia
Em cada momento terno maternal
Provando o que o homem já sabia:
Que Deus existe sim e é mulher,
Embora alguns tentem negá-lo
Por motivos espúrios, se quiser,
Ou por renitente culto ao falo.
Que força poderosa a mulher tem!
Que por sua cria ainda que leve
Arrasta uma boiada e mais o trem!
Por isso é que no meio da loucura,
Pai é um momento longo ou breve,
Mas nossa mãe a vida inteira dura...
terça-feira, 15 de maio de 2012
Álbum de Família (de Alma Welt)
A Família - óleo s/ tela de Guilherme de Faria, anos 90, 70x90cm, paradeiro desconhecido
Álbum de família (de Alma Welt)
No álbum descorado, no começo,
Eu me revejo em uma outra era
Entre irmãos e irmãs que não conheço
E uma mãe mais doce (quem me dera...)
Quem fui eu, no velho tempo das anáguas?
Quem é esta, na verdade, ainda hoje,
Que neste olhar assim passadas águas,
No fluir da correnteza chama e foge?
Tudo se esmaece, a foto desmaiando,
Dia a dia menos nítida, percebo,
Que como uma aquarela vai borrando...
Então lembro que o Tempo ama o fim,
E o seu passo impaciente é tão acerbo
Que vai me apagando mesmo em mim...
Álbum de família (de Alma Welt)
No álbum descorado, no começo,
Eu me revejo em uma outra era
Entre irmãos e irmãs que não conheço
E uma mãe mais doce (quem me dera...)
Quem fui eu, no velho tempo das anáguas?
Quem é esta, na verdade, ainda hoje,
Que neste olhar assim passadas águas,
No fluir da correnteza chama e foge?
Tudo se esmaece, a foto desmaiando,
Dia a dia menos nítida, percebo,
Que como uma aquarela vai borrando...
Então lembro que o Tempo ama o fim,
E o seu passo impaciente é tão acerbo
Que vai me apagando mesmo em mim...
segunda-feira, 14 de maio de 2012
O Mágico (de Alma Welt)
O Mágico - óleo s/ duratex, de Guilherme de Faria (fase baconiana), 1972, 50x60cm (paradeiro desconhecido)
O Mágico (de Alma Welt)
Meu pai convidara um velho mágico
E o hospedou aqui na estância
Para evitar-lhe um final trágico
Na miséria mesma de sua infância.
E eu, curiosa ou deslumbrada
Fui ao seu quarto num impulso
De descobrir a coisa inusitada
Que estaria oculta no seu pulso.
Mas ele fez a pombinha aparecer
Ali, sem disfarces, na minha frente,
Poucos dias antes de morrer...
E fiquei convencida desde então
Que existe um mundo diferente
Deste nosso, este sim pura ilusão...
O Mágico (de Alma Welt)
Meu pai convidara um velho mágico
E o hospedou aqui na estância
Para evitar-lhe um final trágico
Na miséria mesma de sua infância.
E eu, curiosa ou deslumbrada
Fui ao seu quarto num impulso
De descobrir a coisa inusitada
Que estaria oculta no seu pulso.
Mas ele fez a pombinha aparecer
Ali, sem disfarces, na minha frente,
Poucos dias antes de morrer...
E fiquei convencida desde então
Que existe um mundo diferente
Deste nosso, este sim pura ilusão...
Ariadne (de Alma Welt)
Das Visões (Ariadne) - litografia de Guilherme de Faria, 1976
Ariadne (de Alma Welt)
No labirinto eu sempre me encontrei,
De mim mesma à procura toda a vida,
E o tal fio a que, da sorte, me amarrei
Me punha corajosa e atrevida.
E Teseu? Onde entra essa abantesma
Que me fez tão perdida e não achada
No labirinto interno de mim mesma
Pela paixão que perde a coisa amada?
Nesses dédalos confusos dos cassinos
Buscava um Minotauro quase nulo
Entre valetes e damas do rei Minos.
Enquanto a Alma, Ariadne de mim,
Como crisálida presa em seu casulo,
Se enredava nesse seu sonhar sem fim...
Ariadne (de Alma Welt)
No labirinto eu sempre me encontrei,
De mim mesma à procura toda a vida,
E o tal fio a que, da sorte, me amarrei
Me punha corajosa e atrevida.
E Teseu? Onde entra essa abantesma
Que me fez tão perdida e não achada
No labirinto interno de mim mesma
Pela paixão que perde a coisa amada?
Nesses dédalos confusos dos cassinos
Buscava um Minotauro quase nulo
Entre valetes e damas do rei Minos.
Enquanto a Alma, Ariadne de mim,
Como crisálida presa em seu casulo,
Se enredava nesse seu sonhar sem fim...
A Adormecida do Espelho (de Alma Welt)
A Adormecida do Espelho- litografia de Guilherme de Faria, 1976
A Adormecida do Espelho (de Alma Welt)
A mim mesma me vejo adormecida
Se duplico no desejo meus espelhos
E desdobro-me na coisa oferecida
Que começa pelo rubro dos pentelhos
E ondula na beleza tão largada
Da mulher adormecida em sua vida
Como se dormir assim não fosse nada
E o cristal não a pusesse dividida...
Não sabe finalmente a criatura
Que a imagem não liberta mas cativa
Aquela que se doa por doçura?
Aurora que se põe, pelo contrário,
Traz a morte consigo embora viva,
Lua que da noite deixa o ovário...
A Adormecida do Espelho (de Alma Welt)
A mim mesma me vejo adormecida
Se duplico no desejo meus espelhos
E desdobro-me na coisa oferecida
Que começa pelo rubro dos pentelhos
E ondula na beleza tão largada
Da mulher adormecida em sua vida
Como se dormir assim não fosse nada
E o cristal não a pusesse dividida...
Não sabe finalmente a criatura
Que a imagem não liberta mas cativa
Aquela que se doa por doçura?
Aurora que se põe, pelo contrário,
Traz a morte consigo embora viva,
Lua que da noite deixa o ovário...
sexta-feira, 11 de maio de 2012
A parábola dos sete cegos (de Alma Welt)
Construí meu destino verso a verso
Como quem bota
tijolos na parede
Ou mergulha num fundo submerso
A colher o pão da vida numa rede.
Foi sonho? Presunção? Seja o que for,
Tudo, tudo foi matéria de Poesia,
Que não pude viver sem a transpor
Para o plano real do dia-a-dia...
Ou mergulha num fundo submerso
A colher o pão da vida numa rede.
Foi sonho? Presunção? Seja o que for,
Tudo, tudo foi matéria de Poesia,
Que não pude viver sem a transpor
Para o plano real do dia-a-dia...
Mas o que é o real? Não distinguia
Seus vagos contornos nessa bruma
Onde cega tateando me movia...
E como tal apalpei o elefante
Na varanda, como outros
seis em Burma,
E não cheguei
jamais a uma constante...
Seus vagos contornos nessa bruma
Onde cega tateando me movia...
E como tal apalpei o elefante
O Tigre - Litografia de Guilherme de Faria, 1976
Semíramis e o Tigre (de Alma Welt)
Há um tigre sempre perto do meu leito...
Invisível, eu sei. E inusitado.
A Matilde lhe atribui feitiço feito,
Mas eu sei que não é encomendado
Pois a sua força é a mesma minha,
Feroz e doce ao mesmo tempo em mim,
E como aquela mítica rainha
De Babilônia passeamos no Jardim
Suspenso no espaço entre as heras
E as pastagens de Nabucodonosor
Que abandonei de mim em outras eras...
Eis meu tigre que nasce dessa fonte,
Semíramis de mim e minha dor,
Minha vida suspensa no horizonte...
Semíramis e o Tigre (de Alma Welt)
Há um tigre sempre perto do meu leito...
Invisível, eu sei. E inusitado.
A Matilde lhe atribui feitiço feito,
Mas eu sei que não é encomendado
Pois a sua força é a mesma minha,
Feroz e doce ao mesmo tempo em mim,
E como aquela mítica rainha
De Babilônia passeamos no Jardim
Suspenso no espaço entre as heras
E as pastagens de Nabucodonosor
Que abandonei de mim em outras eras...
Eis meu tigre que nasce dessa fonte,
Semíramis de mim e minha dor,
Minha vida suspensa no horizonte...
terça-feira, 8 de maio de 2012
O Eterno Cavaleiro (de Alma Welt)
O Eterno Cavaleiro - litografia de Guilherme de Faria 1977, 75x100cm
O Eterno Cavaleiro (de Alma Welt)
Sobre milhões de carcaças semeadas
Em plena pradaria, ao horizonte,
Cavalga o cavaleiro das ossadas
Com a foice que seca toda fonte
Da vida, da alegria e dos planos
Do humano em sua ingenuidade,
Que vive, luta e sofre desenganos
Sem perder do sonho a veleidade...
Que imensa hecatombe desde então
Quando o homem pisou fora do Jardim
Pela sua inconformada compulsão!
Quando afinal irá a terra se fartar
Do banho morno sobre os leitos de marfim,
Deixando o próprio Cavaleiro se deitar?
O Eterno Cavaleiro (de Alma Welt)
Sobre milhões de carcaças semeadas
Em plena pradaria, ao horizonte,
Cavalga o cavaleiro das ossadas
Com a foice que seca toda fonte
Da vida, da alegria e dos planos
Do humano em sua ingenuidade,
Que vive, luta e sofre desenganos
Sem perder do sonho a veleidade...
Que imensa hecatombe desde então
Quando o homem pisou fora do Jardim
Pela sua inconformada compulsão!
Quando afinal irá a terra se fartar
Do banho morno sobre os leitos de marfim,
Deixando o próprio Cavaleiro se deitar?
Meu Parnaso (de Alma Welt)
O Parnaso- - óleo s/ tela de Guilherme de Faria, 2001,40x40cm. coleção particular, Piracicaba, SP
Meu Parnaso (de Alma Welt)
No monte do Parnaso estou em casa,
Perdoem a presunção que eu aparente...
Onde pastam as cabras grama rasa,
Ali entre o abismo e sua vertente,
Entre o rosa e o azul, pastos de ouro,
Está o fio real do meu soneto
Ainda que de Creta aquele touro
Me devore no penúltimo terceto.
Eis meu cenário onírico montado,
Desmentindo a planura do meu pampa
Num plano ideal reinventado...
Mas se desço à terra vou mais fundo
E perco de Pandora a minha tampa,
E o Hades é mesmo aqui no Mundo...
Meu Parnaso (de Alma Welt)
No monte do Parnaso estou em casa,
Perdoem a presunção que eu aparente...
Onde pastam as cabras grama rasa,
Ali entre o abismo e sua vertente,
Entre o rosa e o azul, pastos de ouro,
Está o fio real do meu soneto
Ainda que de Creta aquele touro
Me devore no penúltimo terceto.
Eis meu cenário onírico montado,
Desmentindo a planura do meu pampa
Num plano ideal reinventado...
Mas se desço à terra vou mais fundo
E perco de Pandora a minha tampa,
E o Hades é mesmo aqui no Mundo...
À Capela (de Alma Welt)
A Capela - óleo s/
tela de Guilherme de Faria, 1999, 175x200cm, coleção Movimento Focolare, São
Paulo
À Capela (de Alma
Welt)
Bem no meio de uma
vila no agreste
Onde quase tudo seca e pouco chove
E milagre é que alguma coisa reste.
E atraída pela construção singela
Eu entro no silêncio que ela erige
Com o seu peculiar cheiro de vela
Para onde minha alma se dirige.
Onde quase tudo seca e pouco chove
E milagre é que alguma coisa reste.
E atraída pela construção singela
Eu entro no silêncio que ela erige
Com o seu peculiar cheiro de vela
Para onde minha alma se dirige.
Então vejo montanhas de objetos:
Pernas, braços e cabeças de madeira,
Ou da matéria os seus quase dejetos.
Sofre o homem simples suas mazelas,
Trazendo sua cruz a vida inteira
Para vir depositá-la nas capelas...
Pernas, braços e cabeças de madeira,
Ou da matéria os seus quase dejetos.
Sofre o homem simples suas mazelas,
Trazendo sua cruz a vida inteira
Para vir depositá-la nas capelas...
segunda-feira, 7 de maio de 2012
A Inveja (de Alma Welt)
A Inveja - óleo s/ tela de Guilherme de Faria, 1980,
100x80cm, coleção Flávio Pacheco, São Paulo
A Inveja (de Alma
Welt)
A inveja rondava a grande Casa
No nosso
anoitecer, também de dia,
E no ideal que o coração abrasa
Não lhe via o sentido nem valia...
E no ideal que o coração abrasa
Não lhe via o sentido nem valia...
O sonho no vazio se esvaía,
Mas eu era muito jovem e naïve
E punha a minha alma aonde ia
Com a tal sofreguidão que sempre tive...
Bá! Como as grandes casas se esboroam
Minadas por dentro como ninhos
Dessas víboras que entre si destoam!
Restava-me a pureza de intenções
Das quais só a Poesia faz caminhos
Como n' alma um rastro de orações...
Mas eu era muito jovem e naïve
E punha a minha alma aonde ia
Com a tal sofreguidão que sempre tive...
Bá! Como as grandes casas se esboroam
Minadas por dentro como ninhos
Dessas víboras que entre si destoam!
Restava-me a pureza de intenções
Das quais só a Poesia faz caminhos
Como n' alma um rastro de orações...
O Trem da Chapada (de Alma Welt)
O Trenzinho da Chapada- óleo s/ tela de Guilherme de Faria, 1999, 60x60cm
O Trem da Chapada (de Alma Welt)
Lá vai o último
trem desta chapada
Vermelha ao sol poente dos adeuses,
Com a sua trilha branca enfumaçada
Que talvez se eleve para os deuses...
Vermelha ao sol poente dos adeuses,
Com a sua trilha branca enfumaçada
Que talvez se eleve para os deuses...
E eu no alto do
morro de mim mesma
Permaneço a olhar o meu passado
Quase como a trilha de uma lesma
A deixar seu rastro esbranquiçado...
Quanta nostalgia! E o tempo voa
Com sua muito longa capa ao vento
Que da própria ventania não destoa...
E me ponho a soluçar pelos ausentes
Que partiram como parte o pensamento
Na vã voragem vermelha dos poentes...
Permaneço a olhar o meu passado
Quase como a trilha de uma lesma
A deixar seu rastro esbranquiçado...
Quanta nostalgia! E o tempo voa
Com sua muito longa capa ao vento
Que da própria ventania não destoa...
E me ponho a soluçar pelos ausentes
Que partiram como parte o pensamento
Na vã voragem vermelha dos poentes...
A Leonardo (de Alma Welt)
Leonardo da Vinci - desenho de Guilherme de Faria, 1980, 100x75cm
A Leonardo (de Alma Welt)
Como te
tornaste esse mistério
Tu que tanto mais buscaste clarear
Até corpos furtando ao cemitério
P’ra da Vida o segredo elucidar? *
Tu que tanto mais buscaste clarear
Até corpos furtando ao cemitério
P’ra da Vida o segredo elucidar? *
Tu que
abominavas o obscuro
E que dos alquimistas te afastavas *
Pois tu bem sabias que o ouro puro
Era com o teu pincel que conquistavas...
E que dos alquimistas te afastavas *
Pois tu bem sabias que o ouro puro
Era com o teu pincel que conquistavas...
O que te
envolve, talvez, como sudário, *
É a tua própria tímida atitude
Que te levava a não sair do armário, *
É a tua própria tímida atitude
Que te levava a não sair do armário, *
Pois por gato
que pediam davas lebre *
E eu própria me pergunto como pude
Não ver que a Gioconda é tão alegre... *
E eu própria me pergunto como pude
Não ver que a Gioconda é tão alegre... *
________________________________
Notas
*P’ra da Vida o segredo elucidar? - Leonardo
Da vinci pagava um ladrão de túmulo para trazer-lhe secretamente na calada das
noites, cadáveres para ele dissecar para os seus estudos de anatomia, a fim de
descobrir o mistério da Vida
*E que dos
alquimistas te afastavas - -Leonardo não acreditava nos alquimistas e sua
tentativa de transformar chumbo em ouro, e era um precursor da ciência moderna,
baseada em cáculos matemáticos e na observação acurada e não mística da
Natureza.
"O que te
envolve, talvez, como sudário - Alusão à mistificação de uns especuladores
recentes de atribuir o sudário de Turim a uma suposta fraude genial de
Leonardo, que teria conhecimento de processos precursores da química de
revelação fotográfica através de fotos feita com a "câmara escura",
que já era usada para o apuro da perpectiva nos quadros paisagísticos de alguns
pintores já naquela época.
"Que te
levava a não sair do armário- há muitos indícios de que Leonardo era
homosexual, dado ao seu conhecido dandismo( gostava de se vestir com luxo até
para pintar, e e fato de na corte de Ludovico Sforza, O Mouro, duque de Milão,
fazia o papel de festeiro, cenógrafo, figurinista das festas e organizador do
cardápio e dos enfeites de mesa e ornamentação e apresentação dos alimentos
9Pês um pavão assado , com as penas recolocadas batendo asas e abrindo e
fechando a cauda, recheado com um mecanismo de engrenagens de relojoaria.
Leonardo disfarçava seu homosexualismo, pois isso era crime na época, e
mantinha no seu ateliê aprendizes jovens escolhidos nas ruas. Giovanni
Boltraffio foi o mais belo e talentoso deles, mas suicidou-se muito jovem
enforcando-se na trave do telhado do sótão do ateliê do seu mestre, por razões
de conflito íntimo.
*Pois por gato
que pediam davas lebre - Os burgueses que lhe encomendavam quadros pensavam
estar comprando coisas menos preciosas e não esperavam tal apuro de execução.
Certamente não esperavam que o retrato do próprio mestre estava camuflado nas
feições do retratos que fazia, como agora já se prova.
*Não ver que a
Gioconda é tão alegre... - este curioso verso alude ao fato de que há indícios
de a Mona Lisa ser um retrato disfarçado e travestido do próprio Leonado. O
nome da Mona Lisa era "Lisa del Giocondo," e também chamada
"Gioconda", que em italiano quer dizer "Alegre" (hoje em
dia = Gay)...
To Leonardo (Alma Welt)
(Google
Translate)
How did you
become this mystery
You who lights the more sought after
By stealing bodies to the cemetery
To elucidate the secret of life?
Thou that abominates the darknessYou who lights the more sought after
By stealing bodies to the cemetery
To elucidate the secret of life?
And from the
alchemists you moved away
Cause you well knew that the gold
It was with your brush that you conquered...
What surrounds
you, perhaps, as the shroud Cause you well knew that the gold
It was with your brush that you conquered...
It is your own attitude shy
What took you not to come out off the drawer.
For a cat they asked you gave hare What took you not to come out off the drawer.
And I wonder how I could
Do not see that your Mona Lisa is so gay
Do not see that your Mona Lisa is so gay
domingo, 6 de maio de 2012
A Mulher do Baloneiro (de Alma Welt)
A Mulher do Baloneiro (de Alma Welt)
Sonhei que fui mulher de um baloneiro
Que desceu de nuvens áureas sobre mim
E convidou-me a ir ao nevoeiro
Num vôo cego surdo mudo e sem fim.
Eu então me perguntei qual o motivo
Que leva o frágil coração a perseguir
Outro sonho, engendrado por um divo,
Quando tem destino próprio pra cumprir.
E voltei à varanda sobre o prado
Onde passo quase o tempo inteiro
A procurar de mim meu outro lado...
E vi então que nós, seres de esperas,
Somos presas de um sonho estrangeiro,
Navegantes de balões e de quimeras...
Prostitutas (de Alma Welt)
A Prostituta - óleo s/ tela de Guilherme de Faria 1970 , 110x 90cm, coleção particular, Rio Grande do Sul
Prostitutas (de Alma Welt)
Quanto imenso desvelo dissipado!
Carícias deletérias e truncadas,
Essas pobres hetaeras do enfado
Das antigas estirpes das espadas,
Agora decaídas nos muquifos,
Quartos de damas da polônia,
Onde nunca os unicórnios e os grifos
As visitarão na sua insônia...
Quanta humanidade... tão patéticas!
Respiram estas peles castigadas
Um hálito de sensações morféticas...
E se fortes repulsas nos atingem,
Também umas gotas desgarradas
A alvura suposta elas nos tingem...
A Árvore da Colina (de Alma Welt)
A Árvore da Colina - óleo / tela de Guilherme de Faria 2012, 30x40cm
A Árvore da Colina
(de Alma Welt)
Há uma bela árvore na colina
Onde ficam as tumbas da família
E daqueles de estirpe bem mais fina
Que tiveram sua glória farroupilha.
Onde ficam as tumbas da família
E daqueles de estirpe bem mais fina
Que tiveram sua glória farroupilha.
E vou n’algumas tardes melancólicas
Caminhando até a sua cercania
Como se ouvisse harpas eólicas
Nessa aragem que vem da pradaria...
Caminhando até a sua cercania
Como se ouvisse harpas eólicas
Nessa aragem que vem da pradaria...
Então devo ter cuidado e distinguir
As que lenha na fogueira estão pondo
Nessa minha inclinação de desistir.
As que lenha na fogueira estão pondo
Nessa minha inclinação de desistir.
O que dizem esses ventos? Me perguntas...
E eu que devo calar-me, te respondo:
Vozes dos mortos nos chamam todas juntas...
E eu que devo calar-me, te respondo:
Vozes dos mortos nos chamam todas juntas...
Assinar:
Postagens (Atom)