Penélope - cópia romana de um original grego- coleção vaticana
Meus dias (de Alma Welt)
Meus dias foram pródigos, reconheço,
Pois em poesia os cantei como cigarra.
Mas a teia que a minha vida narra
De noite muitas vezes a desteço
Na minha espera por algo, puro amor,
A que não pude me furtar, tola que sou,
Não obstante da leitura o meu furor,
E a escrita, que tão cedo me tomou...
Mas vejo que o legado verdadeiro
Que me coube deixar como um tesouro
É esse amor, que descobri primeiro,
Que folheia os meus versos duvidosos,
E que os torna, assim, mais valiosos,
Pois que os ilumina como o ouro...
Este espaço é destinado às diversas séries de sonetos da poetisa gaúcha Alma Welt, que, mais genéricas, não se enquadrem nos outros blogs da poetisa, de séries mais específicas, como os eróticos, os metafísicos, etc. (vide lista de seus blogs)
quinta-feira, 31 de maio de 2012
Para uma modelo mutilada (de Alma Welt)
A modelo Uta Melle pelo fotógrafo Jackie Hardt
Para uma modelo mutilada (de Alma Welt)
Gradiva vai, diva grata gradativa
Ativa e graciosa grava a vida
Sua condição de musa ativa
Que a si mesma agrava a lida
E vai de peito aberto sem mais seios
Que ela os tem agora interiores
E se na minha retina ainda sei-os
Admirando-a não lhe farei favores.
A beleza sempre nos requer coragem
Ou se encolherá com os mil receios
Que a vida nos enseja de passagem.
Vai, pois, mulher bela e temerária
Expor tua nudez por novos meios
Que a beleza, como a vida, é vasta e vária.
Ativa e graciosa grava a vida
Sua condição de musa ativa
Que a si mesma agrava a lida
E vai de peito aberto sem mais seios
Que ela os tem agora interiores
E se na minha retina ainda sei-os
Admirando-a não lhe farei favores.
A beleza sempre nos requer coragem
Ou se encolherá com os mil receios
Que a vida nos enseja de passagem.
Vai, pois, mulher bela e temerária
Expor tua nudez por novos meios
Que a beleza, como a vida, é vasta e vária.
segunda-feira, 28 de maio de 2012
A Morte de Alma Welt- óleo s/ tela de Guilherme de Faria, 90x120cm
Última Oração (de Alma Welt)
Que o Fado me poupe da desgraça
De entrar em triste decadência,
Morrer velha, em feiúra e doença,
Lamentando a vida e o mais que passa.
Queria morrer jovem e no pináculo,
Mesmo que seja tamanha a minha dor
Que minha morte se erija em espetáculo
Ou confundam com antigo mal de amor.
Tudo é vaidade, percebes se te afastes...
Mas, Deus, Vós me fizestes tão bonita,
Por que assim tão mal me acostumastes?
E se na hora estranha da partida
Puder sentir que o Vosso olhar me fita,
Lembrai, Senhor, o quanto amei a Vida!
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Última Oração (de Alma Welt)
Que o Fado me poupe da desgraça
De entrar em triste decadência,
Morrer velha, em feiúra e doença,
Lamentando a vida e o mais que passa.
Queria morrer jovem e no pináculo,
Mesmo que seja tamanha a minha dor
Que minha morte se erija em espetáculo
Ou confundam com antigo mal de amor.
Tudo é vaidade, percebes se te afastes...
Mas, Deus, Vós me fizestes tão bonita,
Por que assim tão mal me acostumastes?
E se na hora estranha da partida
Puder sentir que o Vosso olhar me fita,
Lembrai, Senhor, o quanto amei a Vida!
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sábado, 26 de maio de 2012
Sonhos (de Alma Welt)
Que perdurem intocados os meus sonhos,
Se porventura não os puder realizar,
Pois que à realização lhes anteponho
O mero e simples ato de os sonhar...
Realizados vão eles se esvaindo
Em comezinha ou vã realidade.
E o sonho, que na alma era tão lindo,
Como pôde chegar à saciedade?
O tal plano do real é corriqueiro,
E se a todos serve, não a mim
Que prefiro o branco nevoeiro...
Amo as formas que se dissolvem brandas,
E anoitecendo, o perfume do jasmim
Como a denunciar por onde andas...
Trigal de Primavera (de Alma Welt)
Alma no Trigal - óleo s/ tela de Guilherme de Faria, 2000, 30x40cm
Trigal de Primavera (de Alma Welt)
Como branca nave em mar dourado,
Adentro o trigal, embevecida,
Num momento tênue e encantado
Na coxilha a pouco amanhecida.
Colhendo flores na fímbria dourada
Coberta de orvalho como prata,
Do belo participo, emocionada,
Pois Deus me fez assim e muito grata.
E ao me rever no quadro do pintor
Que fixou este momento caro,
Sinto uma alegria e uma dor...
Pois se com o vento tudo passa,
Um flagrante da beleza é tão raro...
Que primavera assim não se desfaça!...
Trigal de Primavera (de Alma Welt)
Como branca nave em mar dourado,
Adentro o trigal, embevecida,
Num momento tênue e encantado
Na coxilha a pouco amanhecida.
Colhendo flores na fímbria dourada
Coberta de orvalho como prata,
Do belo participo, emocionada,
Pois Deus me fez assim e muito grata.
E ao me rever no quadro do pintor
Que fixou este momento caro,
Sinto uma alegria e uma dor...
Pois se com o vento tudo passa,
Um flagrante da beleza é tão raro...
Que primavera assim não se desfaça!...