sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Sem pacto (de Alma Welt)

                             Foto: Interpretação livre da cena da morte de Fausto, em encenação do Ballet Negro de Praga.



Sem pacto (de Alma Welt)

Quanto mais desperdiçamos nossa vida,
Mais persistente ela se torna
Como a dizer: "Não vale, estorna!
Jogaste fora teu salário, tua comida."

"Vou te dar por certo nova chance,
Não que a mereças, infeliz!
Não fizeste o que estava ao teu alcance
E quase me perdeste, por um triz!"

Creio, assim diria a vida se falasse
A todo acomodado em passatempos
Como se seu tempo não acabasse...

Cada minuto é sagrado, é uma ara.
Como aquele Fausto em outros tempos,
Mas sem pacto direi: "És belo! Pára!" *

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10/02/2017
Nota
*Mas sem pacto direi: "És belo! Pára!" - na monumental tragicomédia de Goethe, Fausto, um erudito entediado, faz um pacto com o Diabo na figura de Mefistófeles, em que este lhe daria todos os prazeres e grandes poderes enquanto ele, um cético, não se rendesse ao deslumbramento, dizendo afinal a um minuto sublime que passa: "Pára! És tão belo! " Neste instante acabava o pacto, e o Diabo poderia se apossar da alma de Fausto. Curiosamente, o final tem um desenlace picaresco: Fausto, tendo se rendido a um minuto sublime e dito a frase, cai morto. Mas Deus envia uns anjos serafins, adolescentes, muito melífluos que volteiam em torno do defunto, sensuais aos olhos de Mefistófeles que começa a cobiçar seus trazeirinhos (!!! Acreditem se quiser, confiram) e o distraem no momento da saída da alma do corpo pela boca do cadáver, e escamoteiam rapidamente a aquela luzinha que levam para o Céu, enquanto Mefistófeles sapateia grotescamente e vocifera, frustrado. Deus falseia (!!) o resultado de sua própria aposta com Lúcifer, que ocorre no "Prólogo no Céu", no começo da peça. Deus rouba do Diabo em favor do Homem! Goethe era um louco maravilhoso...

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