sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Juízo, ou Um certo soneto (de Alma Welt)

"Tertuliano, frívolo, peralta"... *
Assim um certo soneto começava
Recitado por meu pai que o citava
Como exemplo do que nos fazia falta.

E o soneto habilidoso mas naïf
Nos ficou como um "verme de ouvido",
Como no piano aquele "bife"
E outras coisas da saudade com que lido.

Minha infância querida, tão presente
Porém transfigurada em ironia
Para não perdê-la em brumas, de repente...

E eu, que a carrego em minha bagagem
A traduzo em meus versos de poesia
Com o "Juízo" de meu pai como miragem...

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17/02/2017

Nota
Eis o soneto citado, do poeta parnasiano Artur Azevedo, citado pela Alma , que o Pai dela, jocosamente declamava para recomendar a ela e a Rodo: Juizo!

TERTULIANO, O PASPALHÃO ( Artur Azevedo)

Tertuliano, frívolo peralta,
Que foi um paspalhão desde fedelho,
Tipo incapaz de ouvir um bom conselho,
Tipo que, morto, não faria falta;

Lá um dia deixou de andar à malta
E, indo à casa do pai, honrado velho,
A sós na sala, diante de um espelho,
À própria imagem disse em voz bem alta:

— Tertuliano, és um rapaz formoso!
És simpático, és rico, és talentoso!
Que mais no mundo se te faz preciso?

Penetrando na sala, o pai sisudo,
Que por trás da cortina ouvira tudo,
Severamente respondeu: — Juízo!

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