Caiu-me já há tempo o véu dos olhos
E já não posso neste mundo ser feliz;
Derramaram sobre a água feios óleos
Malgrado a transparência em que me quis...
Foi toda a inocência conspurcada
E a feiura reina agora sobre tudo,
A sociedade, outrora una, foi rachada
(alguém me adverte que me iludo):
"Nunca houve unidade"- alguém disse-
"Em que mundo viveste, ó doce Alma?"
E eu, a contragosto, dou-lhe a palma...
É que eu vivi no verdadeiro Paraíso,
Feliz e nua sem que ninguém me visse,
Sem precisar nem pôr no gato um guiso... *
.
27/05/2017
Nota
*Sem precisar nem pôr no gato um guiso - alusão à fábula de Esopo, "A Assembléia dos Ratos". Alma quer dizer que ela podia viver inadvertidamente, sem precisar se precaver...
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