Tão belo quão difícil é estar vivo,
Por certo não é tarefa pra amador,
Passar pelo funil e pelo crivo,
Atravessar a dor e o Não, do Bojador. *
Como os nossos antigos navegantes
(também tenho sangue açoriano), *
Por mares navegados nunca dantes *
Vir parar numa terra só de Engano...
Como é dúbia a Terra dos Prazeres
E do ouro de tolo, tão mesquinho *
Dos que refundam terra que não é deles! *
E o saque continua à revelia
De um povo herói cobrado, pobrezinho, *
Com altos juros ao sol do meio-dia...
.
07/11/2016
Notas
* Atravessar a dor e o Não, do Bojador. - Alusão ao verso do poema Mar Português do livro Mensagem de Fernando Pessoa: "Quem quere passar além do Bojador/ Tem que passar além da dor ". A dor e o Não* - alusão ao Cabo Não, no noroeste da Africa, no Marrocos, limite conhecido dos primeiros navegadores portugueses antes de chegar ao cabo Bojador, para além do qual começava o desconhecido, o Mare Tenebrum, Mar Tenebroso...
*também tenho sangue açoriano - A mãe da Alma Welt, Ana Morgado, era neta de açorianos, emigrados para Santa Catarina.
*Por mares navegados nunca dantes - simples inversão do verso de Camões no Lusíadas: "Por mares nunca dantes navegados.
*... ouro de tolo, tão mesquinho - o minério dourado chamado "pirita", também conhecido como "ouro de tolo", que muitas vezes engana mineradores inexperientes.
*Dos que refundam terra que não é deles - alusão à atitude dos "descobridores", que vinham e "fundavam" terras já povoadas a milênios.
"De um povo herói cobrado, pobrezinho - trocadilho com o verso do Hino Nacional Brasileiro: "de um povo heroico o brado retumbante... "
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