segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Soneto da Morte Anunciada (de Alma Welt)

Foto de Jaroslaw Datta
 
 
Soneto da Morte Anunciada (de Alma Welt)
 
Quanto mais viva me sinto na poesia
Menos vida tenho fora dela

Mas não me vejo a contemplar o dia
Como tímida guria na janela.

A vida é meu poema e estou nele
Como o duplo de mim em outro plano
Mesmo que assim minha sina sele
E talvez mesmo nem passe deste ano...

Pois já sou uma morte anunciada,
Que não diria um arremate inglório
Já que a Moira visitou-me na calada

E em Visão revelou-me o meu fim
E a trágica nudez do meu velório
Inusitado e tão digno de mim...


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Eis o soneto "Visão" a que a Alma se refere no último
terceto do soneto acima e que descreve o seu inusitado velório nu:

Visão (de Alma Welt)

Ser a musa eternizada do meu pampa!
Cantar, celebrar e endoidecer
De tanto amar até saltar a tampa
Do coração e da mente, e então morrer!

Nua, estranhamente, sobre a mesa
Estendida me vejo, uma manhã:
Um desfile silencioso me corteja
De peões, peonas e algum fã.

Mas olho o meu corpo de alabastro,
Absurdo e belo ali, e não à toa
Eu noto algo nele que destoa:

Sobre a alvura do pescoço bailarino
Uma faixa vermelha como um rastro
Da corda que selou o meu destino...

03/01/2007

Nota
Dezessete dias depois deste soneto a Alma morreria, no dia 20 de Janeiro de 2007. O seu último soneto , datado de 19/03/2007, portanto na véspera de sua morte, é o famoso "A Carruagem", que o meu amigo João Roquer musicou lindamente e que constará do CD que estamos gravando...


Vejam ainda ete soneto em que a alma se refere ao seu velório nu, que ela anteviu:

Desabafo (de Alma Welt)

Eu queria não gostar tanto da vida
Pra não sofrer o fardo de morrer
E dar vexame na hora da partida
Coisa que já nem posso esconder,

Pois vivo assombrada por sinais,
Sobretudo antevisões do meu velório
Inusitadamente nu, branca e em paz
Entre as peonas e seu pranto simplório.

Tenho mesmo imensa pena de deixar
Este pampa amado e o casarão
Com tantas lembranças pra levar...

E confesso que queria a eternidade
Nem que fosse como espectro chorão
Vagando para sempre minha saudade...
 
 

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