As botinas de Van Gogh
Manhã fria
ou As botinas de Van Gogh (de Alma Welt)
Que da desesperança és o inverno, *
Mas acordo feia e estremunhada
Pensando na madeira de um tal terno *
Em vez de meu vestido branco e longo
Em que costumo andar por esse campo
Colhendo ervas, flores e um ditongo
Que usarei num verso oblíquo e manco.
Como parece inútil essa rotina
Em que tudo, cedo ou tarde, se transforma
Não como de Van Gogh a sua botina
Cheia da dignidade da pobreza
Que de palha um acento humilde forma *
Do pobre artista o trono em realeza...
.
27/06/2017
Notas
*Que da desesperança és o inverno - alusão ao famoso primeiro verso do monólogo do rei que abre a peça Ricardo III, de Shakespeare; "Este é o inverno da nossa desesperança... "
*Pensando na madeira de um tal terno- Alma alude a um caixão de defunto, isto é, morrer (na imagem popular: "vestir um terno de madeira")
*Que de um velho acento humilde forma
do pobre artista o trono em realeza - alusão a um outro quadro famoso de Van Gogh, o de sua cadeira de acento de palha...
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