quinta-feira, 22 de junho de 2017

A Nova Nau Catarineta * (de Alma Welt)

Navegamos nestas águas obscuras
Das quais só enxergamos superfície
Que não pode refletir nossas figuras
Sem misturá-las com a imundície.

Capitão, ó capitão, mudai o curso,
Sou seu vigia, assim me nomeastes!
O piloto, nomeado por concurso
Não conhece destas águas os contrastes.

Certamente navegamos sobre escolhos,
Invisíveis que estão aos nossos olhos,
Disfarçados seus perigos pelas vagas.

Na vida assim como em sujas águas
Somos dados lançados à ventura,
Nesta Nau Catarineta que perdura...

.
22/06/2017

Nota
* Nau Catarineta - é um poema narrativo do tempo do Brasil colônia e que está na raiz do cordel nordestino, sendo talvez uma espécie de precursor do gênero. Conta a história de uma nau de nome catarineta, que perdida no oceano há meses, a tripulação toda em agonia de fome "lança sortes à ventura" , isto é jogam dados para ver quem seria morto para servir de alimento aos outros ( canibalismo mesmo!) . A sorte caiu sobre o próprio capitão, que para ganhar tempo , manda o gajeiro (vigia) subir no "tope real" para ver se avistava "terras de Espanha, areias de Portugal". O gajeiro sim, avista e mais: três donzelas debaixo de um laranjal, "uma na teia a tecer, outra na roca a fiar/a mais bonita das três daqui a ouço cantar" ... "vejo mais: espadas nuas que vêm para te matar ... "No final o capitão , dizendo: " Minha alma entrego a Deus, e o meu corpo eu dou ao mar", se atira às águas. Mas um anjo desce e salva o capitão, retirando-o das águas. A Nau Catarineta chega afinal "a um porto de mar".


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