"Perante a enormidade dos antigos:
Michelângelo, Leonardo, Rafael,
Somos pigmeus, anões, tolos nanicos
Querendo erguer uma torre de Babel."
Assim dizia um professor que tive
E que no entanto era um dos bons,
Cuja amizade e colaboração mantive
Porque não lhe agradava meios tons.
Como ele, amava eu tanto o passado
Que de me vi paralisada de repente,
Incapaz de dar um passo e ir em frente.
Então vi que o soneto era olvidado
E que eu renová-lo ainda podia
Erguendo minha torrinha de poesia...
.
30/03/2017
Este espaço é destinado às diversas séries de sonetos da poetisa gaúcha Alma Welt, que, mais genéricas, não se enquadrem nos outros blogs da poetisa, de séries mais específicas, como os eróticos, os metafísicos, etc. (vide lista de seus blogs)
quinta-feira, 30 de março de 2017
terça-feira, 28 de março de 2017
Os pintores (de Alma Welt)
Blasfemar contra vida, Deus me poupe
Embora o tenha feito contra o mundo,
Pois este se tornou um quadro imundo
E não limpo e claro como um Volpi...
Quanto a nós mulheres, bem queria,
Que fossemos sempre nuas, sensuais,
Um desenho do Guilherme de Faria
Ou do Klimt, nada menos, nada mais...
Mas o cenário, bá! um bom Van Gogh,
Monet, supremos gênios do campestre,
De um brilho de deixar a gente grogue.
Do bom Deus aprendizes empenhados,
Se esforçaram para superar o Mestre,
Que sorria ao olhar seus belos quadros...
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28/03/2017
Embora o tenha feito contra o mundo,
Pois este se tornou um quadro imundo
E não limpo e claro como um Volpi...
Quanto a nós mulheres, bem queria,
Que fossemos sempre nuas, sensuais,
Um desenho do Guilherme de Faria
Ou do Klimt, nada menos, nada mais...
Mas o cenário, bá! um bom Van Gogh,
Monet, supremos gênios do campestre,
De um brilho de deixar a gente grogue.
Do bom Deus aprendizes empenhados,
Se esforçaram para superar o Mestre,
Que sorria ao olhar seus belos quadros...
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28/03/2017
domingo, 26 de março de 2017
O mundo dentro (de Alma Welt)
Reconstruir o mundo a cada dia
Pra não deixá-lo dentro esboroar,
É minha tarefa sempre ao acordar,
Se não o faço, a vida se esvazia.
"Acaso és o mundo?"-perguntais-
"Ele gira muito bem sem teus aplausos,
Seu grande livro nem registra os teus ais,
Não és mais que um contador de "causos".
Não é só dentro de mim que ele existe
Mas dentro de cada um, claro, também:
O de fora é o espectro que persiste.
Se queres mudar o mundo e a vida,
Muda-te a ti mesmo para o bem
E verás tua humanidade agradecida...
.
26/03/2017
Pra não deixá-lo dentro esboroar,
É minha tarefa sempre ao acordar,
Se não o faço, a vida se esvazia.
"Acaso és o mundo?"-perguntais-
"Ele gira muito bem sem teus aplausos,
Seu grande livro nem registra os teus ais,
Não és mais que um contador de "causos".
Não é só dentro de mim que ele existe
Mas dentro de cada um, claro, também:
O de fora é o espectro que persiste.
Se queres mudar o mundo e a vida,
Muda-te a ti mesmo para o bem
E verás tua humanidade agradecida...
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26/03/2017
sábado, 25 de março de 2017
Revisão (de Alma Welt)
Piedade, peço eu pro pobre Judas
Que traiu porque estava combinado,
E foi, pelo seu Mestre, industriado,
Que precisava uma ou duas ajudas.
Sim, o outro foi São Pedro, o Negador,
Para quem Mestre Jesus deixou barato
Já que estava tudo tudo no contrato
Firmado entre nós e o Criador.
Porque, claro, Jesus bem nos conhecia,
E quão mal a gente escolhe e já escolhia.
Sim, estamos envolvidos nesse imbroglio...
Como posso separar o pobre honesto
Da escória, da caterva e do resto,
Se eu mesma mal distingo o que nem olho?
.
25/03/2017
Que traiu porque estava combinado,
E foi, pelo seu Mestre, industriado,
Que precisava uma ou duas ajudas.
Sim, o outro foi São Pedro, o Negador,
Para quem Mestre Jesus deixou barato
Já que estava tudo tudo no contrato
Firmado entre nós e o Criador.
Porque, claro, Jesus bem nos conhecia,
E quão mal a gente escolhe e já escolhia.
Sim, estamos envolvidos nesse imbroglio...
Como posso separar o pobre honesto
Da escória, da caterva e do resto,
Se eu mesma mal distingo o que nem olho?
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25/03/2017
sexta-feira, 24 de março de 2017
O Mistério da Vida (de Alma Welt)
O mistério se renova dia a dia,
Não há como solvê-lo num repente.
Enigma é a vida no presente
E o passado não nos serve mais de guia.
Com os meus botões meditava eu, assim,
Quando passa um guri de bicicleta
E num simples aceno para mim
Meu retrato desta vida se completa.
Tudo é simples, Alma Welt, não complica,
Mistério é (talvez) não haver mistério,
Assim disse o Caeiro muito a sério...
E segui, de repente solta e leve
Na trilha que se chama Vai e Fica,
Onde se me alonga a vida breve...
.
24/03/2017
Não há como solvê-lo num repente.
Enigma é a vida no presente
E o passado não nos serve mais de guia.
Com os meus botões meditava eu, assim,
Quando passa um guri de bicicleta
E num simples aceno para mim
Meu retrato desta vida se completa.
Tudo é simples, Alma Welt, não complica,
Mistério é (talvez) não haver mistério,
Assim disse o Caeiro muito a sério...
E segui, de repente solta e leve
Na trilha que se chama Vai e Fica,
Onde se me alonga a vida breve...
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24/03/2017
quinta-feira, 23 de março de 2017
O Poeta (de Alma Welt)
O poeta não dorme, sempre alerta,
Ou vive encantado, adormecido?
São duas as espécies de poeta?
É um ser ressaltado, esmaecido?
Primeiro, não lhe queira rotular
Que ele pode estar bem ao teu lado
E deves convidá-lo pra jantar
Pois me parece bem esfomeado.
É normal... vive de brisa o infeliz
Porque voa em voo raso de perdiz
Mas tão só no que concerne às finanças.
Tudo isso é apenas seu esboço:
Se o deixares depois de dar-lhe almoço,
O verás brincando com as crianças...
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23/03/2017
Ou vive encantado, adormecido?
São duas as espécies de poeta?
É um ser ressaltado, esmaecido?
Primeiro, não lhe queira rotular
Que ele pode estar bem ao teu lado
E deves convidá-lo pra jantar
Pois me parece bem esfomeado.
É normal... vive de brisa o infeliz
Porque voa em voo raso de perdiz
Mas tão só no que concerne às finanças.
Tudo isso é apenas seu esboço:
Se o deixares depois de dar-lhe almoço,
O verás brincando com as crianças...
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23/03/2017
quarta-feira, 22 de março de 2017
Autorretrato II (de Alma Welt)
De repente, eu no mundo me vi solta
Como uma folha a rodar na primavera
Como se um outono fosse em volta,
E eu, a doidivanas que não o espera.
Com o mundo, não um certo descompasso,
Mas maior fluência, como um rio.
No mais um bom porte e um belo passo
E beleza, de que não me vanglorio...
E por fluir, correndo um pouco à frente,
O que causa desconforto para alguns
De um certo tipo "auto-complacente".
Enfim, uma Alma feita pra Poesia
O que não significa soltar puns
Com perfume de rosa ou maresia...
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22/03/2017
Como uma folha a rodar na primavera
Como se um outono fosse em volta,
E eu, a doidivanas que não o espera.
Com o mundo, não um certo descompasso,
Mas maior fluência, como um rio.
No mais um bom porte e um belo passo
E beleza, de que não me vanglorio...
E por fluir, correndo um pouco à frente,
O que causa desconforto para alguns
De um certo tipo "auto-complacente".
Enfim, uma Alma feita pra Poesia
O que não significa soltar puns
Com perfume de rosa ou maresia...
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22/03/2017
terça-feira, 21 de março de 2017
Afinal (de Alma Welt)
Afinal, será o mundo como o vemos?
Poderemos confiar nos nossos olhos?
Conosco mesmo é que nós nos comovemos,
Barco em perigo, no meio dos escolhos...
Somos pilotos sem bússola, astrolábios,
A não ser dos nossos preconceitos
Que são por nós mesmos mal aceitos
Trancados, na verdade, em nossos lábios.
Não dizemos a verdade plenamente
E quase sempre resistimos à tortura
Sem o fundo entregar, da nossa mente.
E no final levamos para o nada
Segredos que só mesmo a morte cura
E ostentávamos há tempos na fachada...
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21/03/2017
Poderemos confiar nos nossos olhos?
Conosco mesmo é que nós nos comovemos,
Barco em perigo, no meio dos escolhos...
Somos pilotos sem bússola, astrolábios,
A não ser dos nossos preconceitos
Que são por nós mesmos mal aceitos
Trancados, na verdade, em nossos lábios.
Não dizemos a verdade plenamente
E quase sempre resistimos à tortura
Sem o fundo entregar, da nossa mente.
E no final levamos para o nada
Segredos que só mesmo a morte cura
E ostentávamos há tempos na fachada...
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21/03/2017
sábado, 18 de março de 2017
Autorretrato (de Alma Welt)
Tem um lado nesta vida que é banal
E o aceito, confesso, mas a custo.
Procuro num riacho o vão e o vau,
E estou a esculpir meu próprio busto.
Atravessar o fútil e o vazio,
Um caminho de areia, não de rocha,
Pra não molhar somente o meu pavio
No meu pobre triunfo, a minha tocha.
Haverá quem me acuse de soberba,
Ou que preguiça nublou meu desempenho
Já que alta poesia é tão acerba...
Mas falar tanto de mim é meu direito
Pois o faço com paixão e tal empenho
Como se levasse o mundo pro meu leito...
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18/03/2017
E o aceito, confesso, mas a custo.
Procuro num riacho o vão e o vau,
E estou a esculpir meu próprio busto.
Atravessar o fútil e o vazio,
Um caminho de areia, não de rocha,
Pra não molhar somente o meu pavio
No meu pobre triunfo, a minha tocha.
Haverá quem me acuse de soberba,
Ou que preguiça nublou meu desempenho
Já que alta poesia é tão acerba...
Mas falar tanto de mim é meu direito
Pois o faço com paixão e tal empenho
Como se levasse o mundo pro meu leito...
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18/03/2017
sexta-feira, 17 de março de 2017
Colido ou escapo * (de Alma Welt)
O mundo é só um caleidoscópio
Formado de mandalas e ilusões
Como que causadas pelo ópio
Com arranjos, simetrias e fusões...
Assim dizia um filósofo-poeta
Que inventei e comigo não durou
Por descobri-lo, senão um bom pateta,
Um iludido que a vida mal olhou...
É preciso olhar por baixo e de viés,
E para ver o que o mundo mesmo é
É necessário por no chão os pés
E tomar um coletivo um dia ao menos
No Capão, Vila Matilde ou Tatuapé, *
E pegar trens sem a poesia dos acenos...
.
17/03/2017
Notas
*Colido ou escapo - trocadilho da palavra "caleidoscópio" inventado pelos irmãos Campos em sua criativa transliteração experimental do Finnegan's Wake de James Joyce.
* No Capão, Vila Matilde ou Tatuapé - Alma, na sua temporada paulistana que durou apenas quatro anos, morou nos Jardins, num ateliê na rua Oscar Freire, onde a conheci. Entretanto acho possível que tenha se aventurado uma única vez em ônibus ou trens lotados para ir a outros bairros ou à periferia para conhecer realmente a cidade.
Formado de mandalas e ilusões
Como que causadas pelo ópio
Com arranjos, simetrias e fusões...
Assim dizia um filósofo-poeta
Que inventei e comigo não durou
Por descobri-lo, senão um bom pateta,
Um iludido que a vida mal olhou...
É preciso olhar por baixo e de viés,
E para ver o que o mundo mesmo é
É necessário por no chão os pés
E tomar um coletivo um dia ao menos
No Capão, Vila Matilde ou Tatuapé, *
E pegar trens sem a poesia dos acenos...
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17/03/2017
Notas
*Colido ou escapo - trocadilho da palavra "caleidoscópio" inventado pelos irmãos Campos em sua criativa transliteração experimental do Finnegan's Wake de James Joyce.
* No Capão, Vila Matilde ou Tatuapé - Alma, na sua temporada paulistana que durou apenas quatro anos, morou nos Jardins, num ateliê na rua Oscar Freire, onde a conheci. Entretanto acho possível que tenha se aventurado uma única vez em ônibus ou trens lotados para ir a outros bairros ou à periferia para conhecer realmente a cidade.
quinta-feira, 16 de março de 2017
Vida, Medusa (de Alma Welt)
A beleza tão terrível desta vida
É o que me dá vontade de chorar,
Embora a possa, a custo, encarar
Se não como à Medusa, parecida...
Tanto horror, hecatombes, holocaustos,
Que nos tiram até o gosto de viver,
Deixando-nos vazios e exaustos
De tentar assimilar ou compreender.
Então, como pode ser tão bela,
Se tem uma outra face tão horrenda
Que diariamente a nós revela?
Não é porque a olhamos nos seus olhos
Que, petrificados, não se a entenda:
Fomos feitos de lama, com escolhos...
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16/03/2017
É o que me dá vontade de chorar,
Embora a possa, a custo, encarar
Se não como à Medusa, parecida...
Tanto horror, hecatombes, holocaustos,
Que nos tiram até o gosto de viver,
Deixando-nos vazios e exaustos
De tentar assimilar ou compreender.
Então, como pode ser tão bela,
Se tem uma outra face tão horrenda
Que diariamente a nós revela?
Não é porque a olhamos nos seus olhos
Que, petrificados, não se a entenda:
Fomos feitos de lama, com escolhos...
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16/03/2017
O eterno retorno (de Alma Welt)
"Alma, podes retornar"- o Anjo disse -
"Não chegaste a terminar os teus sonetos."
E fez ligeiro esgar, como se risse,
E me jogou a chave dos tercetos.
"Ei, me espera, Anjo, isso não basta!"
Eu fui gritando, de novo revoltada...
"Estive confinada em minha casta,
Não aprendi desta vida quase nada!"
O arcanjo riu, voltando abriu as asas
E retorquiu: "Quê mais queres, queridinha,
Tens um dom, e até por isso não te casas..."
E eu: "Não quero me casar, eu quero o mundo
E saber como seria ir mais fundo
Sem precisar escrever uma só linha..."
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16/03/2017
"Não chegaste a terminar os teus sonetos."
E fez ligeiro esgar, como se risse,
E me jogou a chave dos tercetos.
"Ei, me espera, Anjo, isso não basta!"
Eu fui gritando, de novo revoltada...
"Estive confinada em minha casta,
Não aprendi desta vida quase nada!"
O arcanjo riu, voltando abriu as asas
E retorquiu: "Quê mais queres, queridinha,
Tens um dom, e até por isso não te casas..."
E eu: "Não quero me casar, eu quero o mundo
E saber como seria ir mais fundo
Sem precisar escrever uma só linha..."
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16/03/2017
terça-feira, 14 de março de 2017
O jogo das cadeiras (de Alma Welt)
A vida é um jogo, bem sabemos,
Cadeira para todos nunca houve.
Não importa o quanto bem joguemos,
O súbito silêncio é o que se ouve.
Um tem que cair fora, é uma pena
Mas a cadeira que sobrou será tirada
Para o mesmo contumaz jogo de cena:
Alguém caindo de costas na calçada.
Reparem na música, é um engôdo.
Ela cessará, assim, de súbito,
E alguém sobrará, e em decúbito.
Mas, pobre de ti se não jogares:
Serás invisível entre teus pares,
Um penetra, de pé, o tempo todo...
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14/03/2017
Cadeira para todos nunca houve.
Não importa o quanto bem joguemos,
O súbito silêncio é o que se ouve.
Um tem que cair fora, é uma pena
Mas a cadeira que sobrou será tirada
Para o mesmo contumaz jogo de cena:
Alguém caindo de costas na calçada.
Reparem na música, é um engôdo.
Ela cessará, assim, de súbito,
E alguém sobrará, e em decúbito.
Mas, pobre de ti se não jogares:
Serás invisível entre teus pares,
Um penetra, de pé, o tempo todo...
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14/03/2017
segunda-feira, 13 de março de 2017
Ser poeta (de Alma Welt)
Ser poeta é ter tanto o que fazer
Que não dará mais pra fazer nada.
É ficar com a alma exausta, esvaziada
Para enchê-la de novo ao bel prazer...
É também especular com os espelhos
E sabendo que não confiáveis são
Então neles dirigir na contramão
E tomar os verdes por vermelhos...
É procurar a infância no silêncio
Das nossas entrelinhas misteriosas
Como sobre o abismo a ponte pênsil
Ser poeta é ser formiga atarefada
E pra poder cantar sem ser calada
Travestir-se de cigarra em meio às rosas...
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13/03/2017
Que não dará mais pra fazer nada.
É ficar com a alma exausta, esvaziada
Para enchê-la de novo ao bel prazer...
É também especular com os espelhos
E sabendo que não confiáveis são
Então neles dirigir na contramão
E tomar os verdes por vermelhos...
É procurar a infância no silêncio
Das nossas entrelinhas misteriosas
Como sobre o abismo a ponte pênsil
Ser poeta é ser formiga atarefada
E pra poder cantar sem ser calada
Travestir-se de cigarra em meio às rosas...
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13/03/2017
sábado, 11 de março de 2017
Ainda a Infância (de Alma Welt)
Contei muito do meu tempo de criança
E do quanto era feliz e bem sabia...
Não que eu o rimasse com Esperança
Porque o Futuro mesmo nem havia...
A vida era um Presente em duplo senso,
E eu o desfrutava como em festa
Com inocência e um prazer imenso
Que até hoje ele em mim ainda resta.
É claro que outros tempos me vieram
E no mínimo cruéis, perturbadores,
E deixaram suas marcas, suas dores...
Mas vejo que a reserva que disponho
De tudo o que os meus minutos eram,
Vem quando me transporto àquele sonho...
.
11/03/2017
E do quanto era feliz e bem sabia...
Não que eu o rimasse com Esperança
Porque o Futuro mesmo nem havia...
A vida era um Presente em duplo senso,
E eu o desfrutava como em festa
Com inocência e um prazer imenso
Que até hoje ele em mim ainda resta.
É claro que outros tempos me vieram
E no mínimo cruéis, perturbadores,
E deixaram suas marcas, suas dores...
Mas vejo que a reserva que disponho
De tudo o que os meus minutos eram,
Vem quando me transporto àquele sonho...
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11/03/2017
sexta-feira, 10 de março de 2017
Inspiração (de Alma Welt)
"Uma inspiração é necessária
Pra cada dia e noite em nossa vida,
Sem ela, tu não passas de gregária
Peçinha no rebanho, indefinida..."
"Enche o peito e solta devagar,
Sente a vida entrando nesse alento;
As formas e as idéias vêm no ar,
Não somos senão filhos do vento..."
Assim dizia um guru que nunca tive
Mas que bem pude imaginá-lo
E que, por tempos, simbólico, mantive.
Mas, de Deus, que mediações pouco tolera
No que tange à Arte e ao trabalho,
Ouvi: "Labuta, Eu chego, só espera..."
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10/03/2017
Pra cada dia e noite em nossa vida,
Sem ela, tu não passas de gregária
Peçinha no rebanho, indefinida..."
"Enche o peito e solta devagar,
Sente a vida entrando nesse alento;
As formas e as idéias vêm no ar,
Não somos senão filhos do vento..."
Assim dizia um guru que nunca tive
Mas que bem pude imaginá-lo
E que, por tempos, simbólico, mantive.
Mas, de Deus, que mediações pouco tolera
No que tange à Arte e ao trabalho,
Ouvi: "Labuta, Eu chego, só espera..."
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10/03/2017
quinta-feira, 9 de março de 2017
Da vida... (de Alma Welt)
A verdade é que não se conformavam
Os antigos com a Morte, veja os túmulos!
Toda uma tralha consigo carregavam,
Uma vida inteira em seus acúmulos...
"Minha filha, desta vida tu não levas
Senão a saudade que deixares..."
Assim dizia minha avó catando ervas,
As daninhas e as finas pros jantares...
E eu que aprendi mais com minha avó
Do que com a biblioteca de meu pai,
Bem tentei preparar-me para o pó
Desapegando-me de tudo, ai de mim,
Por saber que do que entra nada sai,
E não carregas nem o cheiro do jasmim.
.
09/03/2017
Os antigos com a Morte, veja os túmulos!
Toda uma tralha consigo carregavam,
Uma vida inteira em seus acúmulos...
"Minha filha, desta vida tu não levas
Senão a saudade que deixares..."
Assim dizia minha avó catando ervas,
As daninhas e as finas pros jantares...
E eu que aprendi mais com minha avó
Do que com a biblioteca de meu pai,
Bem tentei preparar-me para o pó
Desapegando-me de tudo, ai de mim,
Por saber que do que entra nada sai,
E não carregas nem o cheiro do jasmim.
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09/03/2017
As perguntas (de Alma Welt)
Tenho medo da Morte e seu escuro
Como se ainda fosse bem pequena
E soubesse daquela sombra no muro
Esperando só para entrar em cena.
Os adultos não falavam, era tabu.
Por quê não respondiam minhas perguntas?
De meu avô também o rabo de tatu,
Dois enigmas e duas questões juntas...
Tudo aquilo que evitamos responder
A uma criança, boa coisa não será,
E eu prometi jamais algo esconder.
Entretanto descobri que não sabemos,
Então vivemos por isso ao Deus dará
Na mesma ignorância em que nascemos...
.
09/03/2017
Como se ainda fosse bem pequena
E soubesse daquela sombra no muro
Esperando só para entrar em cena.
Os adultos não falavam, era tabu.
Por quê não respondiam minhas perguntas?
De meu avô também o rabo de tatu,
Dois enigmas e duas questões juntas...
Tudo aquilo que evitamos responder
A uma criança, boa coisa não será,
E eu prometi jamais algo esconder.
Entretanto descobri que não sabemos,
Então vivemos por isso ao Deus dará
Na mesma ignorância em que nascemos...
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09/03/2017
quarta-feira, 8 de março de 2017
Como pipas (de Alma Welt)
Para compreender a vida lanço versos
E como quem empina ao vento pipas
Os contemplo a produzir seus universos
Com apenas um papel e duas ripas.
Se os versos são a síntese do mundo
Quem os pode julgar em consciência
Se o seu voo ora sobe ou vai ao fundo
Com a mesma clara competência?
Com meus aéreos versos permaneço
A mirar a tela onde os levanto
Com a mesma alegria e mesmo espanto
De um jogo de crianças contra o azul
E com a mesma inocência do começo
Quando pipas empinava ao vento sul...
.
08/03/2017
E como quem empina ao vento pipas
Os contemplo a produzir seus universos
Com apenas um papel e duas ripas.
Se os versos são a síntese do mundo
Quem os pode julgar em consciência
Se o seu voo ora sobe ou vai ao fundo
Com a mesma clara competência?
Com meus aéreos versos permaneço
A mirar a tela onde os levanto
Com a mesma alegria e mesmo espanto
De um jogo de crianças contra o azul
E com a mesma inocência do começo
Quando pipas empinava ao vento sul...
.
08/03/2017
terça-feira, 7 de março de 2017
A Verdade (de Alma Welt)
Grandes sonhos e ilusões não tenho mais,
Mas conservo o mesmo gosto pelo Belo
E também os ideais de amor e paz,
Hoje apenas som ao fundo, como um celo...
O mundo não é senão saco de gatos,
Ou pior, ninho de cobras, como dizem
Aqueles que acreditam só nos fatos
Que com sigo, estes mesmos não condizem...
Descobrir o sentido, até me esforço...
Saberemos nós o que é a Verdade?
Até Jesus se calou ante a pergunta...
Pois a Razão foi feita pro remorso
Mas não para explicar o que nos junta,
Que é, no erro, nossa vã cumplicidade...
.
07/03/2017
Mas conservo o mesmo gosto pelo Belo
E também os ideais de amor e paz,
Hoje apenas som ao fundo, como um celo...
O mundo não é senão saco de gatos,
Ou pior, ninho de cobras, como dizem
Aqueles que acreditam só nos fatos
Que com sigo, estes mesmos não condizem...
Descobrir o sentido, até me esforço...
Saberemos nós o que é a Verdade?
Até Jesus se calou ante a pergunta...
Pois a Razão foi feita pro remorso
Mas não para explicar o que nos junta,
Que é, no erro, nossa vã cumplicidade...
.
07/03/2017
domingo, 5 de março de 2017
O Misantropo (de Alma Welt)
Mostrar aquilo mesmo que nós somos,
Quantas vezes resisto a essa bravata
Que o mundo não perdoa e põe em ata
Para cobrar mais tarde em cinco tomos...
Não diga ao mundo o que tu pensas, por favor,
Se a alguém tua opinião for ofensiva
Ou se ousares maldizer teu Criador,
Que a poucos interessa a carne viva.
Alceste, o Misantropo da comédia
De Moliére, acabou só, em uma ilha,
Talvez reescrevendo a Enciclopédia.
Não há, pois, como viver em sociedade
Se dizes o que pensas sem maldade,
Quanto mais se teu dente cerra e rilha.
.
05/03/2017
Quantas vezes resisto a essa bravata
Que o mundo não perdoa e põe em ata
Para cobrar mais tarde em cinco tomos...
Não diga ao mundo o que tu pensas, por favor,
Se a alguém tua opinião for ofensiva
Ou se ousares maldizer teu Criador,
Que a poucos interessa a carne viva.
Alceste, o Misantropo da comédia
De Moliére, acabou só, em uma ilha,
Talvez reescrevendo a Enciclopédia.
Não há, pois, como viver em sociedade
Se dizes o que pensas sem maldade,
Quanto mais se teu dente cerra e rilha.
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05/03/2017
sábado, 4 de março de 2017
O Congresso escuro (de Alma Welt)
"Ó homem! D'um abismo vive à beira,
Ignorando dos mortos o clamor..."
Assim dizia, sentado numa esteira,
O espectro de um velho professor.
Dizia uma caveira: "Riam agora,
Pois será meu todo e qualquer riso,
Pondo à mostra até dente do siso,
E isso lhes garanto, não demora."
Lá do fundo, toc, toc, um anjo branco
Então entrou neste congresso escuro:
"Bons senhores, me desculpem meu tamanco"
"Mas não pude deixar de interferir,
Deus me mandou dizer que existe o puro,
Que o reconhece pelo seu jeito de rir..."
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04/03/2017
Ignorando dos mortos o clamor..."
Assim dizia, sentado numa esteira,
O espectro de um velho professor.
Dizia uma caveira: "Riam agora,
Pois será meu todo e qualquer riso,
Pondo à mostra até dente do siso,
E isso lhes garanto, não demora."
Lá do fundo, toc, toc, um anjo branco
Então entrou neste congresso escuro:
"Bons senhores, me desculpem meu tamanco"
"Mas não pude deixar de interferir,
Deus me mandou dizer que existe o puro,
Que o reconhece pelo seu jeito de rir..."
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04/03/2017
sexta-feira, 3 de março de 2017
À Deriva (V) (de Alma Welt)
Ai de nós, que mal sabemos onde estamos
Por só acalentar velhas certezas;
O capitão perdeu seus portulanos
E estamos ao sabor das correntezas...
Capitão, meu capitão, o barco afunda
Desde que deixamos nosso cais...
Nossos porões a água já inunda
E não ousamos nem olhar pra trás!
Um bote salva-vidas e à deriva
É o que havia de restar, eu bem sabia,
Logo mal agradecida de estar viva...
Nau frágil não é só o que apavora
Quando a navegante o ser se arvora,
Mas toda a amplidão que se anuncia...
.
03/03/2017
Por só acalentar velhas certezas;
O capitão perdeu seus portulanos
E estamos ao sabor das correntezas...
Capitão, meu capitão, o barco afunda
Desde que deixamos nosso cais...
Nossos porões a água já inunda
E não ousamos nem olhar pra trás!
Um bote salva-vidas e à deriva
É o que havia de restar, eu bem sabia,
Logo mal agradecida de estar viva...
Nau frágil não é só o que apavora
Quando a navegante o ser se arvora,
Mas toda a amplidão que se anuncia...
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03/03/2017
quinta-feira, 2 de março de 2017
A caravana (de Alma Welt)
Como não voltar à minha infância
Se lá já estava todo o meu querer,
Não aquele que redunda em jactância,
Mas da mente ansiando por saber?
Tudo era por fazer e descobrir
Mas também como se já houvesse sido
E estivesse esperando ser colhido,
Como a alma conspirando pra cair,
Repetir da humanidade cada passo...
E a jornada não seria assim tão clara
Como rota nas areias do Sahara,
Mas com cães latindo, estardalhaço
Seguido de um silêncio sem mordaça
Com que toda caravana altiva passa...
.
01/03/2017
Se lá já estava todo o meu querer,
Não aquele que redunda em jactância,
Mas da mente ansiando por saber?
Tudo era por fazer e descobrir
Mas também como se já houvesse sido
E estivesse esperando ser colhido,
Como a alma conspirando pra cair,
Repetir da humanidade cada passo...
E a jornada não seria assim tão clara
Como rota nas areias do Sahara,
Mas com cães latindo, estardalhaço
Seguido de um silêncio sem mordaça
Com que toda caravana altiva passa...
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01/03/2017
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