terça-feira, 7 de abril de 2009

Perdidas ilusões (de Alma Welt)

Sonhos meus, perdidas ilusões!
Como diziam as que me precederam,
Tolas donzelas, as que excederam
As regras, como eu, com os varões.

Quebrei contratos, talvez, e mesmo a cara,
Como dizem agora, e com razão.
Recolho-me ao meu sexo, mais avara,
Que não provoco mais nenhum machão.

Traumatizada? Sim. Eu me confesso.
Fui invadida mesmo, sem mercê,
Mas à mercê de fato de um possesso.

Trago ventre e traseiro doloridos,
A retaguarda mais, como se vê
Pelo mau passo e sorriso, tão sofridos...

14/10/2004

Nota
Acabo de encontrar na arca este singular soneto, que pela data corresponde ao período logo após a chegada de volta ao nosso casarão, depois de sofrer o estupro (inclusive anal!) por parte do namorado de Aline, que invadiu o ateliê-apartamento de São Paulo quando Alma se encontrava sozinha encaixotando os livros para retornar com Aline à estância. Alma tinha se tornado amante de sua modelo que abandonara o namorado de mais de um ano, por ela, a pintora e poetisa que a contratara e por quem se apaixonara ( episódio que consta no romance autobiográfico inédito A Herança, de Alma Welt).
Resolvi publicar aqui, e não nos “Eróticos” simplesmente, este patético e estranho soneto revelador, de humor auto-crítico e ligeiramente amargo, pois pretendo me manter fiel ao voto de respeitar o seu desejo de revelar tudo, de tudo narrar, sem nenhuma auto-censura, a extraordinária e por vezes sofrida trajetória anímica e existencial que fez dela uma das mais extraordinárias autoras confessionais da literatura universal, ao meu ver e já no de muitos leitores. (Lucia Welt )

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