segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Ao Senhor dos Realejos (de Alma Welt)

Que o meu medo do mundo não me tolha
De bondade um impulso eventual,
A Bondade que atua contra o Mal
E é de sua botelha única rolha...

Que a caixinha de Pandora não me caiba
Pois sem ela já saí do Reino Escuro
E não quero pra ninguém mesmo (qu' eu saiba)
Os tormentos que provei atrás do Muro. 

Que da alma ou coração as duras penas
Não corroam minha face de candura
Nem branqueiem cedo as minhas melenas.

Eis, Senhor, a minha prece de desejos
Que vos dirijo assim, na caradura
Mas tão grata, meu Senhor dos Realejos...
.
07/12/2020
Nota
*Senhor dos Realejos -
Quero esclarecer ao leitor que a poetisa não está sendo blasfema, ao invocar Deus com esse original epiteto. Com essa "licença poética" Alma está ironizando os desejos como os com os quais ingenuamente consultamos os realejos de periquito. Alma, simbolista como sempre, critica veladamente e com humor, as "preces de desejo", que estão no fundo de todas as orações, ao contrário das de pura louvação e agradecimento preconizadas pela verdadeira Fé...

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