quinta-feira, 30 de julho de 2020

La dernière fois que j'ai vu Paris (par Alma Welt)

(Versão livre, com rimas, para o francês, do soneto " A última vez que vi Paris" da Alma Welt . (Vide o soneto original abaixo (as versões também são minhas)

La dernière fois que j'ai vu Paris (par Alma Welt)

La dernière fois que j'ai vu Paris, je me souviens
Le bossu a grimpé la grande cloche dans la fièvre.*
Dans la cour miraculeuse où la raison revient *
L 'amie de la gitane était une chèvre.

Soudain, j'ai vu un roi sans perruque *
Pas dans une voiture, ni dans une charrette*,
Et il n'allais pas pour traiter la tète
Mais pour une dernière caresse à la nuque.

Soulevant un corps déchiré presque nu
J'ai vu Valjean, travers les égouts du Lis
Pour sauver le jeune homme qui a été abattu

Depuis tant de siécles de visions si belles
Rimbaud écritait dans un Café les voyelles
Et c'est la dernière fois que j'ai vu Paris ...
.
30/07/2020

Notas
*Na "versão livre", chamada de "transliteração" pelos irmãos Campos, Augusto e Haroldo) o tradutor toma a liberdade de criar algumas imagens novas, mantendo o espírito do poema original, para criar rimas, já que as rimas originais se perdem numa tradição fiel ou literal.

*Le bossu a grimpé la grande cloche dans la fièvre.- depois de salvar a cigana Esmeralda, sequestrando-a o corcunda Quasimodo se exibe para ela cavalgando febrilmente o maior dos sinos da torre (ele era surdo por ser o sineiro dos poderosos sinos da catedral de Notre Dame.

*.la cour miraculeuse - O "Pátio dos Milagres", criação magistral de Victor Hugo no romance Notre Dame de Paris (abaixo da praça em frente a Catedral de Notre Dame, os subterrâneos, com um imenso salão como sala do trono que tinha seu próprio rei mendigo, e onde à noite os falsos cegos de Paris enxergavam, os aleijados dançavam sem suas muletas e o vinho e a orgia corriam soltos...

*L'amie de la gitane était une chèvre. - No romance Notre Dame de Paris, a cigana Esmeralda tinha uma cabrinha adestrada que a acompanhava nas suas danças na ruas. Por isso foi acusada de feitiçaria pelo cobiçoso padre da Catedral.

*Soudain, j'ai vu un roi sans perruque .( De súbito eu vi um reis sem peruca - o verso faz a alusão ao rei Luiz XVI, sem sua peruca real sendo levado não numa carruagem mas numa carroça tosca para o patíbulo para ser guilhotinado:

*Et il n'allais pas pour traiter la tète
Mas pour une dernière caresse à la nuque.- Ele não estava indo para tratar a cabeça, mas para uma última carícia na nuca (para ser guilhotinado).

Soulevant un corps déchiré presque nu
J'ai vu Valjean, travers les égouts du lis
Pour sauver le jeune homme qui a été abattu -
Este terceto descreve Jean Valjean, o grande personagem de Os Miseráveis, de Victor Hugo, carregando o corpo ferido na barricada, do namorado de sua filha, seu futuro genro, pelos esgotos de Paris, aqui ironicamente chamados de "esgotos do Lírio" (o Lírio é o símbolo da realeza francesa).

*Rimbaud écritait dans un Café les voyelles -
Alma alude ao poema Les Coulleurs des Voyelles, escrito no Album Zutique por Rimbaud. No Café Zutique que Rimbaud frequentava o dono mantinha um álbum para que os clientes poetas escrevessem versos para registrar sua passagem ou assídua frequência. No chamado Álbum Zutique foram encontrados inúmeros pequenos poemas inéditos de Arthur Rimbaud, como o curioso e experimental Les Couleurs des Voyelles (As Cores das Vogais).
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(O soneto original):

A última vez que vi Paris (de Alma Welt)

A última vez que vi Paris, me lembro,
O corcunda cavalgava o grande sino;
No Pátio milagroso era Dezembro
E o parceiro da cigana era um caprino.

De repente vi um rei já sem peruca
Não de carruagem, mas carroça,
E não estava indo para a roça
Mas para um cafuné na sua nuca.

Mas logo vi o Valjean, pelos esgotos
Carregando despojos meio rotos,
Salvando a juventude por um triz.

Depois desses saltos de alguns séculos,
Rimbaud já escrevia nos botecos,
Essa sim, última vez que vi Paris...
.
30/07/2020

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