quarta-feira, 22 de abril de 2020

Cheiro de Mãe (de Alma Welt)

Cheiro de Mãe (de Alma Welt)

Viemos desarmados para a vida,
Sem garras, sem um dente e sem chifrinho
(alguns os desenvolvem de saída),
Dependentes... fora tetas, leite Ninho.

Mas como alto berramos, exigentes,
Mini-déspotas que somos ao nascer,
Sugando as energias e as mentes
Daquelas nossas pobres mães até morrer.

Mas como, de repente, com um cheiro
O senso se refaz, tudo é perfeito,
E o milagre se apresenta corriqueiro...

São essas madelaines da memória *
Em que o cheiro de mãe, o de seu peito,
Transforma o mal do mundo em pura glória.

.
21/04/2020
Nota
*São essas madelaines da memória - Alusão ao célebre episódio das "madelaines" (um tipo francês de pãozinho doce) do primeiro volume de "A la Recherche du Temps Perdu" (obra-prima de Marcel Proust) em que o personagem narrador, adulto, refaz de súbito uma memória de infância, por um cheiro familiar.

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