terça-feira, 15 de maio de 2018

A Banalidade do Mal (de Alma Welt)

"O grande problema da existência
É sabermos separar o Bem do Mal,
Pois estão misturados, com frequência,
E mesmo os tens bem aí no teu quintal..."

Meu pai dizia, fumando o seu cachimbo,
Ou num gesto banal para limpá-lo,
E o fazia somente no domingo
Com toda a semana de intervalo.

"Mas o perigo é uma fatal banalidade
Na qual o Mal entre nós se transfigura
Pra com ele nos sentirmos à vontade..."

Assim, meu pai me pôs bem alertada
Pois o Mal já se propôs imagem pura,
Que afirmava existir, não misturada...

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15/05/2018



Nota

Sobre "a banalidade do mal"
Por Felipe Tessarolo em 19/01/2016

Hannah Arendt (1906-1975) foi uma teórica política alemã, de origem judaica, que atuou também como jornalista e professora universitária. Escreveu livros como As origens do totalitarismo (1951), A condição humana (1958), Homens em tempos sombrios (1968) e Eichmann em Jerusalém – um relato sobre a banalidade do mal (1963) e é considerada uma das pessoas mais influentes do século 20.

Este artigo pretende fazer uma analogia entre as ideias expressas por Hannah Arendt em Eichmann em Jerusalém, o conceito sobre a banalidade do mal e o comportamento dos indivíduos nas redes sociais, que de certa forma replicam as análises desenvolvidas pela autora.

Adolf Eichmann foi um oficial da Gestapo nazista responsabilizado pela logística de extermínio de milhões de pessoas. Foi capturado na Argentina e julgado em Jerusalém no ano de 1961. Hannah Arendt foi enviada como correspondente pela revista The New Yorker para cobrir as sessões do julgamento tornadas públicas pelo governo israelense. Em 1963, com base nos artigos publicados pela The New Yorker, a autora publicou um livro sobre o julgamento e nele desenvolveu uma análise sobre Eichmann.

Um dos pontos polêmicos do livro é a maneira como a autora interpreta o comportamento de Eichmann, pois além de cobrir todo o processo do julgamento, ela ainda entrevistou pessoalmente o acusado. Segundo Hannah Arendt, Adolf Eichmann não era um monstro, alguém com um espírito demoníaco e antissemita. Ela o identificou como um burocrata, um sujeito medíocre, que de certa forma renunciou a pensar nas consequências que os seus atos poderiam ter. “Embora as atrocidades por ele conduzidas tivessem sido de uma crueldade inimaginável, ‘o executante era ordinário, comum, nem demoníaco, nem monstruoso’. Eichmann revelou-se, durante todo o processo, até os dias que antecederam sua morte por enforcamento, como uma pessoa incapaz de exercer a atividade de pensar e elaborar um juízo critico e reflexivo” (SIQUEIRA, 2011).

Mas é preciso dizer que os judeus no mundo todo ficaram indignados com a tese de Hannah Arendt, que consideraram uma judia renegada, e que ela, sim, é que estava banalizando o Mal. O Mal para os judeus é torpe e demoníaco ao extremo, e os nazistas estão associados a Satã sobre a Terra. Eu também assim acredito. A aparente banalidade do Mal no nosso cotidiano, é justamente uma das maiores perfídias do demônio.
(Guilherme de Faria)

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