Anjo no Balanço - óleo s/ tela de Guilherme de Faria, 2014, 100x100cm
Anjo no Balanço (de Alma Welt)
Naquela árvore rubra do meu horto
De que eu nunca ousei comer o fruto
Mas deixo meu balanço em ponto morto
Para os puros devaneios que desfruto,
Vislumbrei numa tarde o anjo branco,
Jovem ruiva ocupada em balançar
Enquanto entoava um acalanto
Como quem a si mesma quer ninar.
“O sonhado só remete ao sonhador”,
Diz do “código dos sonhos” o axioma
Que desmente em nós o expectador...
Então soube: era eu mesma que eu via,
Que dos meus caminhos todos era Roma
Mas que balançava e não escolhia...
Este espaço é destinado às diversas séries de sonetos da poetisa gaúcha Alma Welt, que, mais genéricas, não se enquadrem nos outros blogs da poetisa, de séries mais específicas, como os eróticos, os metafísicos, etc. (vide lista de seus blogs)
sexta-feira, 27 de junho de 2014
sexta-feira, 20 de junho de 2014
A Calafate (de Alma Welt)
Barco na Tempestade - óleo s/ tela de Guilherme de Faria, 2001, 20x20cm
A Calafate (de Alma Welt)
Guria eu tinha tudo pra dar certo:
Beleza, inteligência e coração;
Tinha caráter e um olhar esperto,
“Tenía angel” e poesia por condão.
Quem diria eu dar com os burros n’água!
Embora ouvisse minha avó Frida dizer
Que “poesia boa é a que tem mágoa”,
Eu não tinha bons motivos pra sofrer...
Báh! A vida sempre dói, é nossa sina,
E o fracasso vigia os nossos passos
Como agourenta ave de rapina...
Mas agora que a maré sobe e inunda,
Sou a calafate que enche espaços,
Enquanto o meu pobre barco afunda...
Guria eu tinha tudo pra dar certo:
Beleza, inteligência e coração;
Tinha caráter e um olhar esperto,
“Tenía angel” e poesia por condão.
Quem diria eu dar com os burros n’água!
Embora ouvisse minha avó Frida dizer
Que “poesia boa é a que tem mágoa”,
Eu não tinha bons motivos pra sofrer...
Báh! A vida sempre dói, é nossa sina,
E o fracasso vigia os nossos passos
Como agourenta ave de rapina...
Mas agora que a maré sobe e inunda,
Sou a calafate que enche espaços,
Enquanto o meu pobre barco afunda...
terça-feira, 3 de junho de 2014
Alma (de Alma Welt)
La Liseuse- Jean-Jaques Henner - (1829 – 1905)
Alma (de Alma Welt)
Houve tempo em que eu prezava ir à missa
Com um lenço na cabeça e um breviário.
Na verdade era guria, em Rosário,
E devia ser ingênua, por premissa.
Eis então que o padre interpelou-me
Para, curioso, investigar a minha fé
Por um gritinho fino que escapou-me
Durante um sermão em que fui ré.
Mas logo o bom padre percebeu,
Pousando minha mão em sua palma,
Que o centro era sempre e mesmo eu.
E disse: “Filha, não és nada devota,
Ou estás a venerar tua própria alma,
E isso, por princípio, me derrota”...
Alma (de Alma Welt)
Houve tempo em que eu prezava ir à missa
Com um lenço na cabeça e um breviário.
Na verdade era guria, em Rosário,
E devia ser ingênua, por premissa.
Eis então que o padre interpelou-me
Para, curioso, investigar a minha fé
Por um gritinho fino que escapou-me
Durante um sermão em que fui ré.
Mas logo o bom padre percebeu,
Pousando minha mão em sua palma,
Que o centro era sempre e mesmo eu.
E disse: “Filha, não és nada devota,
Ou estás a venerar tua própria alma,
E isso, por princípio, me derrota”...
segunda-feira, 2 de junho de 2014
A Vida e a Morte (de Alma Welt)
Morte e Vida - pintura de Gustav Klint
A Vida e a Morte (de Alma Welt)
Temos tudo que a Vida necessita
Para que a desfrutemos plenamente,
A Vida e a Morte (de Alma Welt)
Temos tudo que a Vida necessita
Para que a desfrutemos plenamente,
Com cinco ou seis sentidos (como a fita)
E um mistério imensurável pela frente.
As perdas e fracassos fazem parte
Para que as vitórias celebremos;
Nossa morte, da vida a contraparte,
É pra mais valorizar o que vivemos...
Mas quê estou dizendo? Uma maçada!
(para usar um termo antigo e brando)
A Morte é horrenda e desgraçada!
E pior: não faz sentido, ninguém quer
Nem se cogita o como e o quando,
E vivemos qual se Morte não houver...
E um mistério imensurável pela frente.
As perdas e fracassos fazem parte
Para que as vitórias celebremos;
Nossa morte, da vida a contraparte,
É pra mais valorizar o que vivemos...
Mas quê estou dizendo? Uma maçada!
(para usar um termo antigo e brando)
A Morte é horrenda e desgraçada!
E pior: não faz sentido, ninguém quer
Nem se cogita o como e o quando,
E vivemos qual se Morte não houver...
Assinar:
Postagens (Atom)