Adejando num sonho inusitado
Com Ágata e Poirot, num ton mesclado *
Se fundindo para o mesmo incerto fim...
Quê, diabos era isto? eu clamava:
Verde vento, que verde não te quero *
Numa mesa de calçada onde sentava
Num crepúsculo vago e etéreo.
Mas se nem meus próprios vinhos já não bebo... *
Por quê meus sonhos traem minha sobriedade
Me cercando destas fadas da cidade?
Verde que verde te rejeito e te renego,
Que há muito desisti de um pau de sebo*
Ou tentar nele subir prego por prego... *
,
01/01/2024
_____________________
Notas
* Fada Verde - (fée verte) como era chamado o ABSINTO (a bebida) que matou tantos artistas na Paris boêmia do século XIX e começo do XX.
*Com Agatha e Poirot num ton mesclado - Alma faz um jogo de palavras com a escritora Agatha Christie e "ágata", uma pedra que quando verde tem o ton da bebida, e o detetivo famoso criado por ela, o inspetor Poirot (cujo nome parece derivar de pêra, uma pequena pêra), cujo nome evoca a fruta que se punha dentro das taças de absinto.
*Verde vento, que verde não te quero - paráfrase do famoso refrão do "Poema Sonâmbulo", do Romancero Gitano, de Federico Garcia Lorca: "Verde que te quero verde/ Verde viento, verdes ramas/ El barco sobre la mar /Y el caballo en la montaña...
*Mas se nem meus próprios vinhos já não bebo - Alma é de uma família de vinhateiros do Pampa, mas declara que já não bebe nem os vinhos fabricados por ela, que herdou e toca o vinhedo herdado do pai e avós.
"Que há muito desisti de um pau de sebo-Alma com este enigmático verso, parece sugerir ter tido problemas com o álcool (pau de sebo?), a que ela concientemente parece renunciar com este soneto em forma de descrição de um vago sonho feérico...
" tentar nele subir pregando prego - (pregar pregos no pau de sebo do alcolismo? ) : insistir em beber tentando ludibriar (em vão) o álcool...
Nenhum comentário:
Postar um comentário