Pintura de Georges de La Tour
Estamos todos em tela a nos pintar,
Sim, nosso autorretrato convincente,
Querendo ou não nosso rosto fixar
De modo afinal mais consistente...
Não há, pois, meios de falsificarmo-nos,
Que, se inepta, a pintura nos revela
Tão bem ou mal quanto as daqueles monos
A quem damos pincel, tintas e uma tela.
Mas vede como a carne se derrete
Como vela de cera num serão
Que é a vida que tanto só promete
E faz crer que amanhã é novo dia
Na vã vigília do insone coração
Que pintava enquanto a cera derretia...