4
Me lembro do meu Vati me contar
Que as estrelas viviam e morriam
Depois de envelhecer e definhar
Mas que no final, pasme! explodiam!
Para de novo tudo tudo começar
Mas em "super-nova", em brilho incrível.
E eu então comecei a matutar
Se não ocorre o mesmo em nosso nível
Pois como estrelas que um dia pereceram
E já não estarão na Branca Via
No exato lugar onde nasceram
Tenho certeza que eu por certo voltaria
Mesmo que outro fosse o meu pomar,
Querendo (que vergonha!) mais brilhar...
20/12/2006
Este espaço é destinado às diversas séries de sonetos da poetisa gaúcha Alma Welt, que, mais genéricas, não se enquadrem nos outros blogs da poetisa, de séries mais específicas, como os eróticos, os metafísicos, etc. (vide lista de seus blogs)
sábado, 16 de fevereiro de 2008
O lago das estrelas (de Alma Welt)
3
Quando a noite cai em meu jardim
Eu fico na varanda após a janta
Para a sobremesa de jasmim,
Sentada, nos joelhos uma manta,
Mormente quando o inverno já chegou.
Mas logo me levanto e vou andar
Entre as sebes para a lua me espiar
E às estrelas dizer "aqui estou"!
Este pampa é lago delas refletido
De coruscantes vontades de retê-las,
Não sou mais que um cintilar aqui perdido.
Levai-me convosco, ó minhas estrelas,
No carroção da Lua, pela Via
Branca como eu... e que nos guia!
05/07/2006
Quando a noite cai em meu jardim
Eu fico na varanda após a janta
Para a sobremesa de jasmim,
Sentada, nos joelhos uma manta,
Mormente quando o inverno já chegou.
Mas logo me levanto e vou andar
Entre as sebes para a lua me espiar
E às estrelas dizer "aqui estou"!
Este pampa é lago delas refletido
De coruscantes vontades de retê-las,
Não sou mais que um cintilar aqui perdido.
Levai-me convosco, ó minhas estrelas,
No carroção da Lua, pela Via
Branca como eu... e que nos guia!
05/07/2006
O sopro das estrelas (de Alma Welt)
2
Quando à noite venho à minha varanda
Para olhar minhas estrelas sentinelas
Eu sinto que uma brisa muito branda
Vem do alto e certamente delas.
O sopro das estrelas, quem diria!
É preciso ter a pele muito fina
Da alma, eu digo, e a sintonia
Co'esse alento que move a minha sina...
Estrelas, sou ainda a guria
Que meu pai ergueu para me verdes,
Consagrando-me à vós naquele dia,
E que nunca jamais me encontraria
A esmo, a descoberto, por me terdes
Encaminhada pois que sois estrada e guia!
16/12/2006
Quando à noite venho à minha varanda
Para olhar minhas estrelas sentinelas
Eu sinto que uma brisa muito branda
Vem do alto e certamente delas.
O sopro das estrelas, quem diria!
É preciso ter a pele muito fina
Da alma, eu digo, e a sintonia
Co'esse alento que move a minha sina...
Estrelas, sou ainda a guria
Que meu pai ergueu para me verdes,
Consagrando-me à vós naquele dia,
E que nunca jamais me encontraria
A esmo, a descoberto, por me terdes
Encaminhada pois que sois estrada e guia!
16/12/2006
Estrelas fiandeiras (de Alma Welt)
(1)
Estrelas que me guiam, minhas estrelas
Que no imenso firmamento de minh'alma
Me olham com ternura e com calma
Sabendo que eu nunca irei perdê-las
Do meu belo horizonte de destino,
Fiel ao juramento em meu jardim
Na noite de um ajuste muito fino
Que fiz de mim mesma para mim!
Ó estrelas, fiandeiras esmeradas
Que cardais, depois fiando numa roca
O fio que liga amantes e amadas,
Não deixareis de enredar o meu amor
Até ele emergir de sua toca
Para termos nosso encontro de esplendor!
(sem data, provavelmente 2006)
_______________________________________
Nota da editora
Acabo de encontrar alguns belíssimos sonetos da Alma, ultra-românticos, que caracteristicamente poderiam ser separados numa série que eu chamarei de "Sonetos às estrelas". Por isso deixarei de incluí-los nos Pampianos, embora sejam da mesma época e inspirados pelas suas noites no jardim do nosso casarão aqui da estância, e que agora denominamos Jardim da Alma. (Lucia Welt)
Estrelas que me guiam, minhas estrelas
Que no imenso firmamento de minh'alma
Me olham com ternura e com calma
Sabendo que eu nunca irei perdê-las
Do meu belo horizonte de destino,
Fiel ao juramento em meu jardim
Na noite de um ajuste muito fino
Que fiz de mim mesma para mim!
Ó estrelas, fiandeiras esmeradas
Que cardais, depois fiando numa roca
O fio que liga amantes e amadas,
Não deixareis de enredar o meu amor
Até ele emergir de sua toca
Para termos nosso encontro de esplendor!
(sem data, provavelmente 2006)
_______________________________________
Nota da editora
Acabo de encontrar alguns belíssimos sonetos da Alma, ultra-românticos, que caracteristicamente poderiam ser separados numa série que eu chamarei de "Sonetos às estrelas". Por isso deixarei de incluí-los nos Pampianos, embora sejam da mesma época e inspirados pelas suas noites no jardim do nosso casarão aqui da estância, e que agora denominamos Jardim da Alma. (Lucia Welt)
domingo, 10 de fevereiro de 2008
Prece ao Minuano (de Alma Welt)
*
Ó Vento Minuano do meu Pampa,
Grande rio que desce a cordilheira
Do mundo castelhano como rampa,
Para fluir no chão em corredeira
E logo liso e frio sob as portas
Para gelar o meu peito desregrado
Que teme ter aberto suas comportas
E agora estar sendo castigado!
Rei Mino, me prosterno amedrontada
E oro ao deus dos ventos que em vigia
Abriu as tuas eclusas de enfiada
E deixou teu forte rio desatar
Do imenso coração da pradaria
Para com direito me humilhar...
(sem data)
Nota da editora
Acabo de encontrar mais este magnífico soneto perdido entre seus papéis e que não compreendo como a Alma não publicou na ocasião no site RL, onde estava colocando diariamente a série Pampiana até a sua morte tão chocante e repentina no dia 20/01/2007.
*Este soneto me faz recordar a temerosa veneração da Alma pelo vento Minuano, que quando soprava a deixava fora de si, em pânico ou delirante, de tal maneira que Matilde e eu tínhamos que amarrá-la para não sair correndo na pradaria ou debatendo-se no chão de maneira impressionante e dolorosa. Alma era demasiado sensível aos elementos e parecia ter um estranha integração com a paisagem, para a alegria ou para dor. (Lucia Welt)
Ó Vento Minuano do meu Pampa,
Grande rio que desce a cordilheira
Do mundo castelhano como rampa,
Para fluir no chão em corredeira
E logo liso e frio sob as portas
Para gelar o meu peito desregrado
Que teme ter aberto suas comportas
E agora estar sendo castigado!
Rei Mino, me prosterno amedrontada
E oro ao deus dos ventos que em vigia
Abriu as tuas eclusas de enfiada
E deixou teu forte rio desatar
Do imenso coração da pradaria
Para com direito me humilhar...
(sem data)
Nota da editora
Acabo de encontrar mais este magnífico soneto perdido entre seus papéis e que não compreendo como a Alma não publicou na ocasião no site RL, onde estava colocando diariamente a série Pampiana até a sua morte tão chocante e repentina no dia 20/01/2007.
*Este soneto me faz recordar a temerosa veneração da Alma pelo vento Minuano, que quando soprava a deixava fora de si, em pânico ou delirante, de tal maneira que Matilde e eu tínhamos que amarrá-la para não sair correndo na pradaria ou debatendo-se no chão de maneira impressionante e dolorosa. Alma era demasiado sensível aos elementos e parecia ter um estranha integração com a paisagem, para a alegria ou para dor. (Lucia Welt)
sábado, 9 de fevereiro de 2008
Meu mundo (de Alma Welt)
*
Quando quero viajar o mundo inteiro
Me dirijo ao escritório do meu Vati
Com seus três mil livros e o tinteiro
Com sua pluma de ema de cor mate.
Ah! A bomba e a cuia ali estão
Sobre a mesa como signos do pampa
De onde partirei para o Japão
Inspirada por aquela bela estampa
Da famosa onda do Hokusai
Com o monte Fuji bem no fundo
Incluída em testamento por meu pai
E doada só a mim, com intenção
(que nem mesmo precisava tal menção)
Pois co'a pena e os livros... é meu mundo.
(sem data)
*(recém-encontrado, certamente também dos Sonetos Pampianos da Alma).
Quando quero viajar o mundo inteiro
Me dirijo ao escritório do meu Vati
Com seus três mil livros e o tinteiro
Com sua pluma de ema de cor mate.
Ah! A bomba e a cuia ali estão
Sobre a mesa como signos do pampa
De onde partirei para o Japão
Inspirada por aquela bela estampa
Da famosa onda do Hokusai
Com o monte Fuji bem no fundo
Incluída em testamento por meu pai
E doada só a mim, com intenção
(que nem mesmo precisava tal menção)
Pois co'a pena e os livros... é meu mundo.
(sem data)
*(recém-encontrado, certamente também dos Sonetos Pampianos da Alma).
A Viúva-Negra * (de Alma Welt)
(dos Sonetos Pampianos da Alma)
Um peão aqui da estância foi picado
Por viúva negra, o pobrezinho!
Então fui visitá-lo (é meu vizinho)
E estava mal-ferido e acamado.
Mas depois de meia hora compreendi
Que ele estava era mesmo apaixonado
Pela viúva de um peão muito afamado
Que persiste morando por aqui.
Apezar de muito bela e cobiçada
Ela parece inacessível e já fatal
Pois o marido morreu de uma facada
De um outro, Antonio, o qual
Depois também tirou a própria vida,
Por conta da péssima acolhida.
Notas da editora
*Este soneto-crônica a rigor deve pertencer à série dos Pampianos da Alma, que já somam 421, mas como já estão publicados numa ordem e numerados, prefiro não mais tentar encaixar as novas descobertas para não afetar os respectivos comentários dos leitores.
Esta estória, verdadeira, da qual eu soube detalhes pela Matilde, mostra a mentalidade rígida de nossas mulheres, peonas aqui da vinha, que freqüentemente morrem para o mundo após a morte de seus maridos. O mito da viúva-negra, aqui, vai por conta do despeito dos peões pretendentes rejeitados. (Lucia Welt)
Um peão aqui da estância foi picado
Por viúva negra, o pobrezinho!
Então fui visitá-lo (é meu vizinho)
E estava mal-ferido e acamado.
Mas depois de meia hora compreendi
Que ele estava era mesmo apaixonado
Pela viúva de um peão muito afamado
Que persiste morando por aqui.
Apezar de muito bela e cobiçada
Ela parece inacessível e já fatal
Pois o marido morreu de uma facada
De um outro, Antonio, o qual
Depois também tirou a própria vida,
Por conta da péssima acolhida.
Notas da editora
*Este soneto-crônica a rigor deve pertencer à série dos Pampianos da Alma, que já somam 421, mas como já estão publicados numa ordem e numerados, prefiro não mais tentar encaixar as novas descobertas para não afetar os respectivos comentários dos leitores.
Esta estória, verdadeira, da qual eu soube detalhes pela Matilde, mostra a mentalidade rígida de nossas mulheres, peonas aqui da vinha, que freqüentemente morrem para o mundo após a morte de seus maridos. O mito da viúva-negra, aqui, vai por conta do despeito dos peões pretendentes rejeitados. (Lucia Welt)
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