quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Paolo e Francesca (de Alma Welt)

Se não olhas teu amor como sagrado,
Não estás diante do amor, isso é certo,
Se por dentro não estás prostrado
Quando o miras, tremendo, mais de perto...

Ora, Alma, estás sempre no limite;
És radical demais no amor, isso é paixão!
Não recomendes aos outros e até evite
Pra ti mesma esse horrível turbilhão.

Mas me lembro do Paolo e da Francesca
Que lançados no eterno minuano
Não ficaram enganchados numa cerca...

Eternamente abraçados, como viste,
A voar sobre este pampa, todo o ano,
O seu destino não me parece triste...
.
01/10/2020
Nota
Paolo e Francesca - De maneira muito original e graciosa, a gaúcha Alma Welt incorpora ao seu pampa gaúcho com seu famoso vento minuano, neste soneto, a história real de Paolo e Francesca da Rimini, da Idade Média italiana, na cidade de Rimini, que revelada ao mundo de maneira magistral no segundo círculo do Inferno na Divina Comédia de Dante Alighieri, quando este na sua jornada subterrânea guiado pelo poeta romano Virgílio, avista o casal famoso enlaçado num abraço sem pouso no "turbilhão eterno". De algum modo Dante consegue uma pausa naquele voo do casal, para ela, Francesca, narrar a sua trágica morte atravessada com seu amante secreto Paolo Malatesta, pelo mesmo golpe de espada de outro rival Malatesta, Giovanni (Gianciotto, mais velho deformado e feio), quando flagrados em conluio amoroso. Dante os colocou no Inferno no "bolge" dos amantes clandestinos, condenados ao turbilhão. O curioso no poema dantesco é que Dante fica tão emocionado com a narrativa da tragédia feita pela própria protagonista, que desmaia e o episódio termina como o verso: "E cade como corpo morto cade." (E caí como corpo morto cai.)
Um curiosidade: a cidade de Rimini ainda veria o nascimento do grande cineasta Federico Fellini. Ele e Francesca são os mais ilustres nativos daquela cidade.


Nenhum comentário: