segunda-feira, 29 de julho de 2013

Meu Pampa (de Alma Welt)







                         O Pampa de Alma Welt - pintura de Guilherme de Faria 
 

Meu Pampa (de Alma Welt) 

Meu pampa se estende ao infinito
E fica azulado no horizonte
Como um mar ondulado a cuja fonte
Nossa coxilha deve um certo mito...

Mas uma grande árvore rosada
É meu farol e referência neste mar,
E aqui queria ter minha morada
Se não puder ter minhas cinzas pelo ar.

Mas quanta solidão, quanta tristeza
Dormita nesta terra ensolarada
Que é o fim do mundo, com certeza...

Aqui vivi e fiz do vento minha voz
E cantei como ele canta na ramada,
Como um rio que encontrou a sua foz...

O Corvo (de Alma Welt

A Colina dos Mortos - óleo s/ tela de Guilherme de Faria
 
 
O Corvo (de Alma Welt)

Profundamente dormem os nossos mortos
Na colina sob lápides singelas,

E naves carentes de melhores portos
Pombas brancas esvoaçam sobre elas.

Ai! Sempre venho aqui qual peregrina,
Primeiro me postando ante a fronde
Que é a maior das sombras da colina
E que sei a que finado corresponde...

Mas uma sombra negra por sua vez,
Pequena mas talvez a mais sinistra
Por traz me olha, assim como me vês.

Eu sei que ao voltar-me para ela
Verei quem aqui zela e administra,
E a resposta das sombras não revela...

terça-feira, 23 de julho de 2013

Teseu (III) (de Alma Welt)

Ariadne em Naxos -  pintura de Evelyn de Morgan (1877).
 
 
Teseu (III) (de Alma Welt)

Se nada podemos contra o fado,
Seremos nós meros títeres dos deuses?
C
oisa impensável pelo enfado
Malgrado as perdas e os adeuses...

Navegadores a favor do vento
Ou remando contra ondas e correntes
Nada é só tarefa de um momento
Mas de toda a vida e suas sementes...

Entretanto o destino é como as velas
Que não foram trocadas no retorno
E horrorizam o velho rei ao vê-las...

E o fracasso é o saldo da aventura
De buscar do labirinto o seu contorno
Uma vez que pra má sorte não há cura...

terça-feira, 16 de julho de 2013

Quadro a Quadro (de Alma Welt)



Litografia de Guilherme de Faria


Quadro a Quadro (de Alma Welt)

Por certo tenho feito algum esforço
Pra da vida não ter medo ou horror,
Mas o que ela apresenta nunca torço
Para transformar frio em calor.


Aceitando o que vem a cada hora
Ou mesmo a minuto ou a segundo,
As surpresas que a vida elabora
E que são a maravilha deste mundo.

Só assim posso viver em plenitude
Deixando a vida mesma dirigir
Pois que dirigi-la eu nunca pude.

A partir de “story board” sem esquadro,
Somos, ainda que pensemos decidir,
Bonecos animados quadro a quadro...

O Salgueiro Florido da Alma (de Alma Welt)

O Salgueiro Florido da Alma - óleo s/ tela de Guilherme de Faria
 
 
O Salgueiro Florido da Alma (de Alma Welt)

Ó meu salgueiro de ramas azuladas!
Quanto tenho eu chorado junto a ti,

Sob essas tuas ramagens derramadas
A me induzir um pranto que escondi.

Agora deitas flores, mais doídas
Pois que mal amenizam tua tristeza
Já que deixam tuas dores só floridas
Como as minhas próprias, com certeza...

E então me comovo à tua sombra
Pela beleza amarga destes prados
Sobre a relva macia como alfombra

E medito a solidão do meu destino
De flores espinhosas como os cardos
Neste sonoro silêncio, como um sino...

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Quem me procura (de Alma Welt

 



                                Alma na coxilha - tela de Guilherme de Faria 

Quem me procura (de Alma Welt)

Quem me procura aqui na estância
Me encontra na varanda ou no jardim,

Longe de toda pompa e circunstância,
Por meu lado procurando, eu por mim...

Não se espante ao me ver o visitante
Com olhar demais atento ou meio vago,
Buscando no horizonte qual na estante
O compêndio do inescrutável Mago

Que me faça entender a terra e o céu,
Já que se desvelou-me tão de pronto
Como de um mau roteiro o meu papel...

Báh, morrer assim tão cedo, louca sina
Nesta minha grande sede de confronto
Com a aventura de viver, que me fascina
!...