quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

O Sono da Alma (de Alma Welt)

                                                             O Sono Inocente da Alma -o/s/t de Guilherme de Faria, 2021, 30x40cm coleção do artista

O Sono da Alma (de Alma Welt)

Sonhei-me um sono em berço conturbado
Em um bote pequeno e à deriva,
Pelas vagas tão ferozes embalado
Sobre rochas, em dormência permissiva.

Que sono calmo, que sonhos de delícias,
Em meio ao fragor dos elementos
Que me eram assim como carícias
Nesse mais puro, talvez, dos meus momentos.

Mas desperta, não me contem de procelas,
Das tais vagas espumantes de maldade,
Que esqueci de içar as minhas velas...

Assim é a inocência neste mundo:
Nada pode abalá-la na verdade,
Já que é sono náufrago e profundo...
.
01/11/2021

 Nota
 Este belíssimo soneto da Alma Welt  por alguma razão foi escolhido por declamadores portugueses com canal no youtube . Não obstante as belas vozes maculinas de tais declamadores  ( entre elas, nitidamente uma por A.I, pessimamente declamada), não concordei com a interpretação de nenhuma e protesto, visto que juridicamente tenho os direitos sobre a obra da Alma Welt (Guilherme de Faria). 

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Fortuna Imperatrix Mundi ( de Alma Welt)

Atirados neste mundo de perigos
Todos temos nossa nau em tempestade
E enfrentamos os deuses da Vontade
E até os nossos Eus quando inimigos.

De quê, ó Alma, assim, falas sem peias?
Teremos o destino que escolhermos
E procelas são os nossos próprios termos,
Como também a calmaria das sereias.

Mas estamos a falar da mesma cousa
E as escolhas não mudam portulanos
Somente a rota do nosso giz na lousa...

"A Sorte é a Imperatriz do Mundo"
Era como formulavam os romanos,
E jamais disseram algo mais profundo...
.
02/01/2024

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

O Sonho da Fada Verde (de Alma Welt)

A fada verde, tentadora, veio a mim
Adejando num sonho inusitado
Com Ágata e Poirot, num ton mesclado *
Se fundindo para o mesmo incerto fim...

Quê, diabos era isto? eu clamava:
Verde vento, que verde não te quero *
Numa mesa de calçada onde sentava
Num crepúsculo vago e etéreo.

Mas se nem meus próprios vinhos já não bebo... *
Por quê meus sonhos traem minha sobriedade
Me cercando destas fadas da cidade?

Verde que verde te rejeito e te renego,
Que há muito desisti de um pau de sebo*
Ou tentar nele subir prego por prego... *
,
01/01/2024
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Notas
* Fada Verde - (fée verte) como era chamado o ABSINTO (a bebida) que matou tantos artistas na Paris boêmia do século XIX e começo do XX.

*Com Agatha e Poirot num ton mesclado - Alma faz um jogo de palavras com a escritora Agatha Christie e "ágata", uma pedra que quando verde tem o ton da bebida, e o detetivo famoso criado por ela, o inspetor Poirot (cujo nome parece derivar de pêra, uma pequena pêra), cujo nome evoca a fruta que se punha dentro das taças de absinto.

*Verde vento, que verde não te quero - paráfrase do famoso refrão do "Poema Sonâmbulo", do Romancero Gitano, de Federico Garcia Lorca: "Verde que te quero verde/ Verde viento, verdes ramas/ El barco sobre la mar /Y el caballo en la montaña...

*Mas se nem meus próprios vinhos já não bebo - Alma é de uma família de vinhateiros do Pampa, mas declara que já não bebe nem os vinhos fabricados por ela, que herdou e toca o vinhedo herdado do pai e avós.

"Que há muito desisti de um pau de sebo-Alma com este enigmático verso, parece sugerir ter tido problemas com o álcool (pau de sebo?), a que ela concientemente parece renunciar com este soneto em forma de descrição de um vago sonho feérico...

" tentar nele subir pregando prego - (pregar pregos no pau de sebo do alcolismo? ) : insistir em beber tentando ludibriar (em vão) o álcool...