domingo, 31 de maio de 2015

Vida (de Alma Welt)

A vida é uma comédia, disse alguém,
Esquecendo Calderón que disse "é sonho".
Mas ao pensá-la, essa terra de ninguém,
Uma solução melhor talvez, proponho:

Vamos vivê-la primeiro bem quietinhos
Qual se fôramos, digamos, camponeses
Que realizam em silêncio seus caminhos
Somente atentos aos dias e aos meses,

Das estações no embalo, rotineiros,
Ouvindo a chuva bater forte no chão,
Peregrinos sobre a terra ou pioneiros...

Talvez cheguemos de novo ao sentimento
Do mundo, experimentado por Adão
Que abriu mão d'um Paraíso sem lamento...

sábado, 30 de maio de 2015

Meu perfil para os novatos (de Alma Welt)

Quero morrer se o dia é frio e cinzento;
Voar quando faz sol, cantar, dançar!
Se não volúvel "como pluma ao vento",
Um pouco instável, moderna bipolar.


Melancolia... o termo até cansou,
Mas se acaso a gag é genial
Me pega fácil, e romântica que sou,
Gargalho como hiena em meu quintal.

Preciso é paz. O coração inquieto
Desmentindo a minha vã sabedoria
Me desmoraliza por completo.

E se tens de um bom fracasso mal conceito
Não te acerques de mim e minha poesia,
Que pro sucesso meu gênio não foi feito...

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Meu sonho (de Alma Welt)

Eu construí meu barco muito belo,
Verso a verso sem esquecer a rima
Com cunhas, cavilhas e martelo
E pus pra navegar minha obra-prima.


Desfraldei as velas contra o vento
Para singrar o mundo à contramão
Por pura teimosia, embora lento,
Pela rota onde os solitários vão.

Tornei-me de mim mesma uma pirata,
Com minha cabeça posta a prêmio
Sem lei, sem laços e sem pátria...

Então acordei e mesma eu era,
Ainda acreditando no meu gênio
Como quem feliz se desespera...

Isto e aquilo (de Alma Welt)



Tenho sérios problemas com a vida,
Sempre vendo nela algum defeito.
Por ter esta minha alma dividida
Sou dupla ou ambígua, não tem jeito.

Quero isto e aquilo, seu oposto.
Adoro o belo mas não rejeito o feio;
Na cozinha ponho sempre sal a gosto,
Não peçam que cozinhe enquanto leio.

Amo a luz, me conhecem, sabem disso
Mas tenho pela noite este fascínio,
Seu mistério, a fuga e o sumiço,

Mas sobretudo as estrelas tão modestas,
Tão maiores que o sol em seu domínio,
E a entrar no meu barraco pelas frestas...