quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Ervas daninhas (de Alma Welt)

"Perceber claramente o Mal no mundo
É uma carga pesada, obrigação
De todo escritor claro e profundo
Dentro de lúcida e nobre tradição."

Assim dizia meu pai, sentencioso,
Preocupado que por causa da beleza
Eu me tornasse fútil ou só leveza
Num tempo de combate silencioso.

Silencioso? Sangue mina das paredes
Numa guerra verbal no mundo todo
Cobrindo as duas mãos de puro lodo...

E eu tranquila já não posso, como vedes,
Ervas daninhas brotando poderosas,
No meu jardim colher mais as puras rosas...
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30/08/2017

Alma Livre (de Alma Welt)

Jamais me viram pelo em ovo procurar
E também não esmurrei ponta de faca;
Pelo nariz jamais alguém vai me levar
E eu nunca enfiarei o pé na jaca.

Assim dizia eu com meus botões
Embora sejam mudos como peixes;
Jamais chorei de mágoa aos borbotões
E não implorarei que não me deixes.

E então sacudo o jugo, de repente,
Dos lugares comuns e dos chavões
Que estavam a acorrentar a minha mente...

E eis-me livre, afinal, e sem doutrinas
Nem slogans, ditos, lemas, posições,
Reenviadas ao fundo das latrinas...

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29/08/2017

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Sempre quis (de Alma Welt)

Sempre quis ir-me daqui não sei pra onde
Mas já com uma certeza de voltar;
Perder de mim mesma a hora e o bonde
E nunca ter que, obrigada, trabalhar

Mas viver num jardim meu por direito,
Negando o tal pecado original
De que não trago culpa nem defeito,
E nem remorsos, já que nada fiz de mal.

Amando a lógica, fruto da harmonia
E o absurdo tão somente por poesia
Pois nele está a causa da expulsão

Que sofreu o casal belo, antepassado,
Ingênuo sob a árvore da paixão
Com que Deus veio tentá-los disfarçado.

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29/08/2017

Conselhos de meu pai (de Alma Welt)

Meu pai já me alertava, na verdade,
Contra as almas canhotas traiçoeiras
Que conspiram no campo e na cidade
Roendo a nossa liberdade pelas beiras.

As almas torpes, afeitas à mentira,
Que torcem os fatos por pura negação,
Que fedorentos pneus são sua pira
De ódio e inveja do rico e do patrão.

Que amam a escravidão e a pobreza
Mas dos outros, que não a deles mesmos,
Esquerdopatas de caviar na mesa...

E dizia meu pai: "Sempre os combata
Enquanto estão aí somente a esmos,
Por que depois estarás sob a chibata..."

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29/08/2017

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Ponderações (de Alma Welt)

É visível que o destino é humorado
E até mesmo chegado em ironia.
Mas Deus é sério, sisudo e enfezado,
Não tolera blasfêmias sem poesia.

Entretanto Ele é bastante complacente
Com o desespero dos poetas, haja visto
Lord Byron e sua epopeia do anticristo
Que não consta ter de Deus sido descrente.

Mas que sei eu, que só tenho opinião
Sobre coisas pelos seus meros reflexos
Como o tolo da caverna de Platão?

"Cala-te boca", eu me digo amiúde;
Meus melhores momentos são perplexos
E nem meu bom espelho já me ilude...

23/08/2017

Perambulando (de Alma Welt)

Perambulei pelo mundo, não à toa,
Seguindo o claro rastro dos poetas
Que por certo não viviam só na boa
Seguindo outros rastros, mesmas metas.

Haja fumo e absinto pros coitados
Em imensas discussões acaloradas
Sobre os grandes destinos isolados
Versus modernos seres de manadas.

No Zutique, a colorir cada vogal,
Sentei-me àquela mesa com Rimbaud
E Baudelaire a cultivar flores do Mal

E traduzindo para o franco num "Jamais",
Num agouro até lá, Rue de la Paix,
O tal mascote negro do Allan Poe...

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23/08/2017


Notas
*No Zutique, a colorir cada vogal - O chamado " Album Zutique" era um livro de recordações e presenças mantido pelo Cafè Zutique em Paris, no século XIX em que foram encontrados vários poema de Rimbaud, que descobertos ali ficaram célebres. "A colorir cada vogal- é referência ao poema de Rimbaud "Les couleurs des voyelles", que no entanto não consta propriamente do Álbum Zutique. Um engano da Alma? Na verdade pode ser uma generalização da Alma, sugerindo que ele coloria cada vogal sempre, em qualquer de seus notáveis poemas).

*E Baudelaire a cultivar flores do Mal - alusão ao célebre livro de Poemas de Charles Baudelaire, "Les Fleurs du Mal"

"E traduzindo para o franco num "Jamais" - (pr. francesa "jamé")- alusão à tradução que Baudelaire fez do poema The Raven (O Corvo) em que a ave agourenta respondia às perguntas desesperadas do poeta: "Nevermore" (Nunca mais), em francês: "Jamais plus".

*Num agouro até lá, Rue de la Paix - aparentemente só para rimar com o francês ´Jamais", Alma na verdade quer dizer que o agouro de desesperança do corvo, chegava até à rua mais elegante de Paris.


*O tal mascote negro do Allan Poe- obviamente o corvo, aqui tratado ironicamente como um mascote do poeta Poe ( pr, Pou) em rima falsa com Rimbaud (pr. Rambô)

Antes só (de Alma Welt)

Prefiro ser solitária nesta vida,
Acreditem, do que mal acompanhada.
E assim pensava eu entristecida
Só de me imaginar abandonada...

Mas que louca agonia é ser sozinha
A colher flores para por num simples jarro
Para o inútil enfeitar de uma casinha
Ou um palácio de fundações de barro...

Mas então batem na porta, de repente,
E eu levanto e corro a ver quem pode ser,
Não sem antes de me passar um pente.

Mas é o vento batendo meu postigo,
Ironizando o meu estranho conviver,
Eternamente de mim para comigo...

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23/08/2017

terça-feira, 22 de agosto de 2017

A rosa flutuante (de Alma Welt)

                                                   A rosa meditativa - de Salvador Dalí

A rosa flutuante (de Alma Welt)

E de repente me encontrei no turbilhão,
Mas não havia um belo Malatesta. *
Abraçava a mim mesma sem mais chão,
E sozinha estava só com minha testa.

Era, pois, meu destino de amorosa:
Solidão, solidão e um grande abraço
No ar, como sem haste a pura rosa
Flutuando absurda em pleno espaço...

Nesse momento perguntei à Divindade,
Onde estava o amor que me cabia
Em sofrimento ou clandestinidade?

E Deus me respondeu: "Ó Alma ingrata!
Dei-te o eterno abraço da Poesia...
Do que pensas tu que Amor se trata?"

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22/08/2017

Nota
*E de repente me encontrei no turbilhão,
Mas não havia um belo Malatesta - Alma alude à punição dos amantes clandestinos Francesca da Rímini e Paolo Malatesta, que assassinados, foram condenados a voarem eternamente abraçados, num turbilhão sem pouso, no Canto V, do Inferno, da Divina Comédia, de Dante Alighieri.

A retirada (de Alma Welt)

                                                        Dança de Aldeia- Pieter Bruegel


A retirada (de Alma Welt)

Mesmo triste sendo a vida, viva,viva,
Pois a alegria é nossa, independente,
E podemos inseri-la na corrente,
Eis nossa bela e maior prerrogativa.

A alegria de Deus é um nosso dom
Para mudar o tom e fazer festa
Não só quando parece tudo bom,
Mas na véspera de "sturm", de "tempesta".

Dancem, dancem, companheiros aldeões,
Não há tempo para encher a nossa pança,
A colheita vai ficar para os ladrões...

Mas ainda estamos vivos, celebremos!
Temos tempo para uma derradeira dança,
Por estratégia depois nos retiremos...

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22/08/2017

Inocência II (de Alma Welt)

Percebi precocemente, de guria,
Que o mundo vai do erro à injustiça;
Que impotente o nosso ser nascia
E que pouco adiantava ir à missa.

Sem querer dei uma de comadre:
"Mutti, já conheço o Evangelho
Mas não gosto daquele nosso padre
E dos carinhos seus de feio velho..."

"Como? Disse minha mãe em polvorosa.
Que me dizes? Nosso padre é um apóstolo!
Nunca ouvi coisa assim, tão horrorosa!..."

"Não, Mutti! (recuei). Não é isso, não!
Não gosto é de sentar-me no seu colo,
Que ele me pede durante a confissão..."

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22/08/2017

sábado, 19 de agosto de 2017

O Nicho (de Alma Welt)

Atirados num mundo sem sistema,
Temos de encará-lo de improviso.
Escolhemos um código e um lema
E enfrentamos procelas sem aviso...

O barco está furado, e de nascença;
A vida é absurda pois precária,
Mas existe mesmo quando não se pensa
E nem temos escolha, sendo vária...

Pensando nessas coisas, cabisbaixa,
Assim buscava eu, desencantada,
O nicho em que o coração se encaixa.

Mas então bastou o sol sair das nuvens
Para tudo ficar claro e ver a estrada
Onde, lento, caminhando, Amor, tu vens...

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19/08/2017

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Um brinde (de Alma Welt)

Um brinde aos que de nós se foram cedo,
É só o que lhes proponho nesta noite...
Aos que de nós pareciam tão sem medo
Que amiúde lhes dizia: "Não se afoite!"

Brinde aos que deram a cara pra bater,
Que se meteram em encrencas previsíveis
E não quiseram nos ouvir nem se deter
(nossos conselhos soavam-lhes risíveis...)

Bebamos, pois, aos queridos imprudentes
Com seus lances temerários ou bobagens,
Mas também aos que nem tinham tais repentes

E ficavam nas poltronas lendo livros
Mas foram logo se juntar aos personagens
Que lhes eram tão amados, tão mais vivos...

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16/08/2017

sábado, 12 de agosto de 2017

Versinhos (de Alma Welt)

Nada pergunto ao vento, não me iludo...
Discreto o vento não me responderá
Conquanto saiba o vento quase tudo,
De tanto andar aí ao Deus dará...

Atentamente pois perscruto as nuvens
Mas jamais pra perguntar se vai chover
Mas tão somente pra saber quando tu vens,
Que é tudo que do amor ouso querer...

Não, não fico eu com meus versinhos
Como uma donzela de outras eras
A trilhar e retrilhar velhos caminhos...

Então do face me perdoe o novo amigo,
Pois de algum modo sei que o intrigo
Por jamais falar de sonhos e quimeras...

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12/08/2017

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Reclamos da Alma (de Alma Welt)

Como eu me sinto e vivo, o que faço?
Quem me quer e interesso nesta vida?
Minha vida tem de ser reconstruída
A cada manhã em que renasço...

É sofrido ser poetisa e musa
E escrever um soneto cada dia...
Então digo pro poeta: "Me alivia!
Deixa-me ir embora, estou confusa!"

Mas o tirano que me mantém cativa
Desde que me descobriu em sua mente,
Explora meus encantos, docemente...

No seu sonho profundo eu era diva,
Agora sou escrava a seu serviço
Enquanto perco juventude, cor e viço...

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10/08/2017

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

As duas fontes (de Alma Wel

Amo, logo existo, diz minha alma
Contra esta minha vontade de pensar,
Originária do tal primeiro trauma
Que haveria do Jardim nos expulsar.

Mas o trauma, bem sabeis, também é sonho *
Na língua ancestral de minha avó
Cujos mitos, então, também proponho,
Da árvore Yggdrasil e Askr, não o pó.

Inconsciente derivado de duas fontes, *
Já que desde minha mãe açoriana
São judaico-cristãos meus horizontes...

Ó Alma, encruzilhada de dois mitos! *
Esta pobre poetisa com seus ritos,
Eis aí porque alguns julgam insana...

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09/08/2017

Notas
*Mas o trauma, bem sabeis, também é sonho - a palavra "trauma", difundida pela psicanálise, deriva do alemão "träum" = sonhar

*Inconsciente derivado de duas fontes- Alma se refere à teoria do "inconsciente coletivo" de Carl Jung, cuja "mitanálise" é feita de acordo com os mitos pertinentes às origens raciais e culturais do analisando. Por exemplo, se o indivíduo é alemão ou descendente de alemães, sua análise deve ser feita baseada nos mitos germânicos (do Valhalla, de Odin, das Valquírias, de Thor, da Árvore Yggdrasil, e do primeiro homem, Askr (não de Adão, criado do pó), etc... Mas se o paciente for de origem latina, sua análise deve ser feita segundo os mitos greco-romanos, mas também judaico-cristãos. Entretanto, curiosamente, se o indivíduo for francês, dependendo da região, a análise pode ser feita com base nos mitos celtas (gauleses) da criação. Os irlandeses, escoceses e mesmo ingleses, idem.

*Ó Alma, encruzilhada de dois mitos! - Alma Welt é descendente de avós alemães por parte de pai, Werner Friedrich Welt e de portugueses açorianos por parte de sua mãe, Ana Morgado.






Comp

domingo, 6 de agosto de 2017

O fruto e a saga (de Alma Welt)

Na mesa éramos seis, por muito anos,
E havia tantos risos, alegria...
Nosso pai e nossa mãe, eu e os manos,
Sim, éramos felizes e eu sabia.

Adviriam logo após as desavenças...
A serpente, o pomo, o anjo, a espada,
Independente ou não de nossas crenças
Também vimos de maneira declarada.

Eis porque carrego dentro em mim
Toda a ancestral herança humana
Em pleno processo rumo ao fim...

Então, se a cada verso reconstruo
Uma saga que através de mim emana,
É porque o sabor do fruto ainda fruo...

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06/08/2017

sábado, 5 de agosto de 2017

Realidade, ficção (de Alma Welt)

Quando colho flores no jardim
A vida se arruma em minha mente
E tudo fica claro dentro em mim,
Qual se tudo fosse igual, eternamente.

Tudo ocupa seu lugar num tabuleiro
E o movimento se torna irrelevante
Num mundo de signos primeiros
Que nada por instantes leva adiante.

Mas então me situo e escolho lances
Que repetem por estranha coincidência
Os melhores ocorridos nos romances.

A vida é a ficção acontecida,
Com ou sem a nossa interferência,
Realidade é crítica não lida...

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05/08/2017

A teia e o mel (de Alma Welt)

Os minutos, pressupostos pretendentes,
Me cercam pressionando-me a cabeça:
Descobriram o meu truque e, exigentes,
Minha teia esperam que eu desteça.

Dizem: Alma, tua mania de soneto
Te afastou de toda sociedade,
Prendendo-te e jogando-te num gueto
Com muros de palavras, na verdade...

Alma, quem se foi ou quem esperas,
A cada verso urdindo a tua trama
Quando fora rolam mundos e esferas?

E eu digo: minha teia é um painel
Da vida, mas que cabe a uma dama
Como abelha destilando o próprio mel...

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05/08/2017

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Imagem e Semelhança (de Alma Welt)

Seremos tão ingratos nos queixando,
Convidados ao banquete do Ocidente
E desde o berço nos empanturrando
Enquanto o povo de fome se ressente?

"Sim, a vida não é justa, tal é o mundo",
Dizia outrora meu antigo confessor.
"Mas a Justiça de Deus está no fundo,
Não questiones Seu infinito amor."

E assim fui pela vida, atarantada,
Falando das coisas que mal sei,
Quando daquele fundo não sei nada...

Mas quando olho a mim na superfície
Do espelho, é que percebo o que ganhei,
E é como se o próprio Deus me visse...

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04;08/2017

A Máfia do Soneto (de Alma Welt)

"Desta água não bebo", diz um dia
Todo aquele que vai ter dia de cão,
E um pássaro voando, eu não sabia,
É melhor do que tê-lo em minha mão.

"Pelo nariz ninguém me leva, não a mim"...
Isto disse um velhote meio tonto
E já levado pelo estranho Stavroguin *
Com dois dedos pela sala, assim de pronto.

"Do soneto não pertencerei à Máfia"
Digo eu, que me acusam já de vício
Por escrevê-los sem dor nem sacrifício...

Mas risíveis sempre soam as bravatas:
Levados, pela língua e pela empáfia,
Pelos narizes ou até pelas gravatas...

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04/08/2017

Nota
*E já levado pelo estranho Stavroguin
Com dois dedos pela sala, assim de pronto - Alma se refere à estranha cena do romance "Os Demônios", de Dostoiévsky, em que o jovem fidalgo Nikolai Vsevolodovitch Stavroguin, personagem central, numa recepção em sua casa se aproxima de um conviva, um velho, ao ouvi-lo dizer aquela frase que era conhecido por repetir, e com os nós de dois dedos de uma mão o arrasta por todo o salão, para escândalo geral, antes dele mesmo ter uma síncope e desmaiar, o que serviria para os amigos como explicação e mesmo absolvição para o seu inusitado gesto de afronta e humilhação a um velho tolo. Na verdade esse tresloucado gesto seria um prenúncio para as coisas terríveis que aquele nobre desencadearia na aldeia.

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Insuficiência de fundos (de Alma Welt)

Amores meus, perdidos, sinto tanto
Que as coisas tenham ido pelo ralo.
Nem passaram de volta no gargalo,
Só esmolas demais para o meu santo.

Um espelho trincado, sem conserto,
Fragmenta-se em detalhes o amor,
Perdida a sua integridade e o acerto
Que dois corações pensam compor...

Ser sozinhos é afinal nosso mister
Do qual mal temos plena consciência,
Bocas ávidas a sugar o que vier...

Meus cheques afetivos eram nimbos,
Mas de fundos tinham certa insuficiência
Bateram e já voltaram com carimbos...

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03/08/2017

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Ponderações sobre o tédio (de Alma Welt)

Arauto do diabo é o nosso tédio,
Outrora também chamado spleen, *
E as flores do Mal, falso remédio,
Receitadas foram até pra mim...

Mas de Bach música venha, não florais, *
E o velho Baudelaire que me perdoe, *
Com o Cujo já não se brinca mais,
Disputando-se a alma antes que voe.

Fausto foi longe demais com seu Mefisto:
Nem o tédio justifica tal desmando
Embora o Bem e o Mal formem um misto.

Deus, livrai-me deste tédio insidioso
E mantendo sobre mim Vosso comando,
Não me tente fora dele nenhum gozo...

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02/08/2017

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Na fila (de Alma Welt)

Não serei aquela que se queixa,
Nem tampouco a que espera homenagens,
Aguardarei paciente a minha deixa
Mas também sei que não mais direi bobagens.

Por quê afirmas isso? Me perguntas.
E eu direi que espero ser chamada
Uma vez que estou na fila na calçada
Onde estão as esperanças todas juntas.

Fui honesta, reta, doce, compassiva...
Minha fraqueza era apenas a poesia,
Que é tudo que garante que estou viva.

Existir, privilégio ou contingência,
Não depende tão só da inteligência
Mas de um coração que chore e ria...

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01/08/2017

Sombras (de Alma Welt)

Sombras se acumulam no horizonte
E um clima de ameaça vem da Pérsia;
Se arme cada um, com a guerra conte
O mundo mergulhado em controvérsia...

Os bravos de Esparta eram trezentos,
E o mundo de novo está no fim.
Se miram leste e oeste, odientos,
Nem Semíramis passeia em seu jardim...

As hordas vem em ondas do Oriente,
Tudo reincide, é uma desgraça,
Mas agora a gente em Cristo se ressente.

E eu, no fim do mundo do Poente,
Colho flores enquanto o Tempo passa
Como se nada houvesse, simplesmente...

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01/08/2017