quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Perambulando (de Alma Welt)

Perambulei pelo mundo, não à toa,
Seguindo o claro rastro dos poetas
Que por certo não viviam só na boa
Seguindo outros rastros, mesmas metas.

Haja fumo e absinto pros coitados
Em imensas discussões acaloradas
Sobre os grandes destinos isolados
Versus modernos seres de manadas.

No Zutique, a colorir cada vogal,
Sentei-me àquela mesa com Rimbaud
E Baudelaire a cultivar flores do Mal

E traduzindo para o franco num "Jamais",
Num agouro até lá, Rue de la Paix,
O tal mascote negro do Allan Poe...

.
23/08/2017


Notas
*No Zutique, a colorir cada vogal - O chamado " Album Zutique" era um livro de recordações e presenças mantido pelo Cafè Zutique em Paris, no século XIX em que foram encontrados vários poema de Rimbaud, que descobertos ali ficaram célebres. "A colorir cada vogal- é referência ao poema de Rimbaud "Les couleurs des voyelles", que no entanto não consta propriamente do Álbum Zutique. Um engano da Alma? Na verdade pode ser uma generalização da Alma, sugerindo que ele coloria cada vogal sempre, em qualquer de seus notáveis poemas).

*E Baudelaire a cultivar flores do Mal - alusão ao célebre livro de Poemas de Charles Baudelaire, "Les Fleurs du Mal"

"E traduzindo para o franco num "Jamais" - (pr. francesa "jamé")- alusão à tradução que Baudelaire fez do poema The Raven (O Corvo) em que a ave agourenta respondia às perguntas desesperadas do poeta: "Nevermore" (Nunca mais), em francês: "Jamais plus".

*Num agouro até lá, Rue de la Paix - aparentemente só para rimar com o francês ´Jamais", Alma na verdade quer dizer que o agouro de desesperança do corvo, chegava até à rua mais elegante de Paris.


*O tal mascote negro do Allan Poe- obviamente o corvo, aqui tratado ironicamente como um mascote do poeta Poe ( pr, Pou) em rima falsa com Rimbaud (pr. Rambô)

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