segunda-feira, 31 de outubro de 2016

A nave louca (de Alma Welt)

                                           A nau dos insensatos - de Hieronimus Bosch

A nave louca (de Alma Welt)

Cada um faça da vida o que quiser...
Com o vir-a-ser do outro não me meto.
Desperdicem a vida ao bel prazer,
Quem sou eu pra lhes dizer que não aceito?

Corram, pulem, esbravejem, caiam, vivam!
Estarei só no meu canto observando
Ou ficarei semi-deitada num divã
Vendo a insensata nau passando...

Báh! Bem sei que a nau é o mundo,
E se nela não estou, onde estou eu?
E esta pergunta mesma cala fundo...

Na verdade, mesmo agora me ocorreu
Que o povo, deste cais só se avizinha,
E naquela nave louca estou sozinha...

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31/10/2016

sábado, 29 de outubro de 2016

Desesperada e só (de Alma Welt)

Desesperada e só, no fim de tudo,
Aqui estou eu neste velho casarão
A conversar com meu criado-mudo
E ouvindo estalos surdos no porão.

A solidão sua frio nas paredes
E ninguém mais responde ao meu chamado;
Sobraram-me as tais sociais redes
De uns fantasmas queridos deste lado.

Minha saga uns olhos ainda molha,
Fui o cristal em quem gente se espelha
E agora estou vazia e ninguém olha...

Onde eu errei? Estou jovem ainda
Embora como o mundo já tão velha,
E vejam como a minha vida finda!

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29/10]2016

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Com as duas orelhas (de Alma Welt)

                                                    Auto retrato mutilado de Van Gogh

Com as duas orelhas (de Alma Welt)

Quando guria, o coração ardente,
Eu tinha uma pureza de intenções
Que já não são minhas no presente
Minado por mais cínicas ações...

Hoje uma ilusão ainda perdura,
Os sonhos escondidos de grandeza
Que não confesso nem sob tortura,
Tão ridículos, agora, sobre a mesa.

Uma vã posteridade bem possível,
Último sonho do artista fracassado
Que ambiciona se elevar a outro nível.

E qual Van Gogh, mas com duas orelhas,
Chegar ainda sangrando do outro lado
Cobertinha de vitórias como telhas...

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28/10/2016

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O mais além (de Alma Welt)

Construir um sistema eu pretendi
No meu tempo de alegres veleidades.
Era bela a vida que eu escolhi
Cheia de senso, certezas e verdades.

Mas de dentro do sistema a morte sai
E começava a rondar o casarão.
Primeiro minha mãe, depois meu pai,
Quebrando minha regra e meu padrão.

Como viver, então? Onde as belezas?
Onde o meu sentido e as certezas?
Entrava então na terra de ninguém,

Não meu pampa, fim do mundo conhecido,
Mas releitura do que jamais foi lido,
A Poesia, o sem limite, o mais além...

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27/10//2016

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

As rosas dos meus sonhos (de Alma Welt)


As Rosas dos meu Sonhos (de Alma Welt)

Os sonhos que sonhei sempre acordada
Com os do meu sono não coincidem
Nesta falha ou brecha atormentada
Os versos aproveitam e logo incidem...

Eis conclusão inútil, inconclusiva,
A que cheguei depois de muitos anos
Por ver que naveguei sempre à deriva,
Sem rotas apesar de uns portulanos.

No fim de tudo existe só meu pampa
Onde o vento faz a curva no galpão
E vai de volta para além do Cabo Não.

E eu vagueio na coxilha meus delírios,
Aqui onde o cigano agora acampa
E a rosas dos meus sonhos viram lírios...

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26/10
/2016
Notas
(da Wikipedia)

O Cabo Não ou Cabo do Não, actual Cabo Chaunar, também conhecido como Cabo Nun, Cabo Noun e Cabo Nant, é umcabo situado na costa atlântica do noroeste de África, no sul de Marrocos, entre Tarfaya e Sidi Ifni. Até ao século XV era considerado intransponível por europeus e muçulmanos, o que originou o seu nome.[1]

Os navegadores genoveses do século XIII, Vandino e Ugolino Vivaldi poderão ter navegado até este cabo antes de se perderem no mar. Foi chamado de "Cabo Não", "cabo Non" ou "Nam" pelos navegadores portugueses do século XV, por ser considerado o "non plus ultra" além do qual a navegação seria impossível. "Quem o passa tornará ou não" escreveu o navegador italiano Alvise Cadamosto em "Navigazione".[2]

Desde 1417 navios de exploração foram enviados pelo Infante D. Henrique, que viajaram 180 milhas para além do Cabo Não até ao Cabo Bojador, então considerado o limite sul do mundo, que se estendia pelo "mar tenebroso"[3] (do latim Mare Tenebrarum ou Mare Tenebrosum, Bahr al-Zulumat em árabe, o nome medieval por que era conhecido o Oceano Atlântico, inacessível aos marinheiros da época.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

A espada e a vaidade (de Alma Welt)

Não sou muito amiga da vaidade
Muito embora a tenha como todas,
Essa filha da banal futilidade
Com quem jamais casei, não farei bodas.

Querem saber por quê tanto desprezo?
Só posso explicar pela Poesia
Que da morte nos coloca todo o peso
Numa crua e recorrente alegoria...

Eis o preço da beleza e da verdade
Uma terra de todos, de ninguém,
E uma lucidez sem veleidade:

Não esquecer jamais de nossa espada
O fio de cabelo que a sustém,
Damocles que somos por um nada...


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25/10/2016



Nota
* Damocles - . Consta que Dioniso, tirano de Siracusa, colocou uma espada suspensa por um fio de cabelo sobre a cabeça de um seu cortesão chamado Damocles, para que este, cumulado de favores e prazeres, jamais esquecesse da presença da morte.

Aventuras da guria do Pampa (de Alma Welt)

Quando morreu meu pai saí de casa
E fui à Pauliceia, eu desvairada, *
Que não ela simplesmente depravada,
E que minha alma pura quase atrasa.

De tentações cercada, homens fortes,
Igualmente também belas mulheres;
Jantares de bem mais trinta talheres
E eu no meio, insegura e sem suportes.

Na cama de uma bela rapariga
Que meu pai pensaria: "só uma amiga",
Um dia acordei nua entre lençóis... *

Não se iludam, de nada me arrependo,
Mas se então retornei ao lar correndo
Foi para apresentá-la a outros sóis...


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25/10/2016

Notas
*E fui à Pauliceia, eu desvairada - Alma alude à expressão de Mario de Andrade, "Pauliceia Desvairada", como ele chamava a cidade de São Paulo, mas atribuindo o desvario a si mesma, e atribuindo à cidade a simples depravação...

*Um dia acordei nua entre lençóis - *A história do ardente amor entre Alma e a bela Aline (que foi sua modelo de pintura em São Paulo), é um dos temas de base do romance autobiográfico A Herança, de Alma Welt, que pode ser adquirido e lido no Kindle Amazon...

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

O rastro (de Alma Welt)

Deixamos sempre um rastro de passagem
Por mais leve que seja o nosso passo,
Ou que, furtivo, seja como aragem
Que procura evitar deixar seu traço.

Entretanto são os passos delicados
Que os corações guardam na estante
Ou que restam nos nossos guardados
Em maços amarrados com barbante.

Não chegam a compor grandes histórias
A menos que o rastreador seja poeta
E saiba de poeira fazer glórias...

Lembro que tive uma tia predileta
Que perguntada como ia, suspirava:
"Vai-se vivendo!..." e pronto, eu me calava.

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24/10/2016

Minha aldeia (de Alma Welt)

Falar por todos? Eu falo só por mim!
Ai de quem no coletivo se coloca
Trocando seu narciso por jasmim
Sem ter o que dar de si em troca...

É abrindo o emsimesmado coração
Muitas vezes de maneira desabrida,
Que atingimos o cerne da questão
Com que a nossa coletiva alma lida.

Quanto aos mágicos desejos de criança,
Jamais diria após tanto desmantelo
Do ideal: "nosso amor, nossa esperança."
.
Que sei eu do outro que há em mim?
Justamente para vir a conhecê-lo
Espero do soneto a chave, e o fim...

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24/10/2016

domingo, 23 de outubro de 2016

O tigre e a corça (de Alma Welt)

De onde cada um tira sua força,
Eis o mistério da individualidade.
A vida em nós é antiga, sem idade
E trazemos dentro o tigre e a corça.

Nossos dois maestros nos confundem,
Presa e predador entram em ação
Se ódio ou amor nossa alma inundem
Conforme dê o tom seu diapasão.

Sou boa, generosa e tenho medo
Embora exale o perfume de jasmim
Da cruel sombra que trago desde cedo

Como uma doce vampira muito calma
Quando vago na coxilha ou no jardim
Nas noites duvidosas de minha alma...

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23/10/2016

sábado, 22 de outubro de 2016

Destino solitário (de Alma Welt)

Um destino deveras solitário
Foi o que me coube nesta vida.
Meus amigos em seu caminho vário
Foram-se, deixando-me perdida

Mas somente nos dez primeiros anos
Da vida adulta, se é que tal existe,
Já que nem tive sequer uns portulanos
Pra navegar-me em águas de mar triste.

Quantos erros, tolices, ninharia...
Quase uma vocação desperdiçada,
Uma alma em formação, inacabada!

Não faz mal... renasci de linhas tortas
Em versão mas escorreita (quem diria?),
Pois as falsas esperanças estão mortas...

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22/10/2016

Cantar a vida (de Alma Welt)

Quê tenho feito senão cantar a vida
Em todos os seus aspectos, os mais sutis,
E também sua versão enlouquecida
Desde altos vôos até o raso, de perdiz?

Um lado nobre, outro simples, galhofeiro,
Que humor não deve nunca ser deixado
Sob pena de um inverno de ano inteiro
Nunca mais o corpo ao sol, nu e deitado.

Mas também, por quê não, aquelas sombras,
De onde emergem corpos pálidos de orgia,
Num palco de luxúria sobre alfombras...

Mas, melhor, a pura e simples nostalgia,
Ou ainda que as cantemos à capela,
Saudades de uma infância sempre bela...

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21/10/2016

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Viver é um improviso (de Alma Welt)

                                             O grito -xilogravura de Edvard Munch

Viver é um improviso (de Alma Welt)

Viver é um improviso dia a dia
Malgrado os nossos pequenos rituais,
As abluções mesquinhas matinais,
O café da manhã na padaria

Com manteiga o pão na chapa, de barquinha,
A média muitas vezes requentada,
Dois dedos de prosa na calçada,
Sempre a mesma e sonsa ladainha.

Então, Alma, onde está o improviso?
Espere, amigo, ele vem sim, e sem aviso:
Uma notícia inusitada e sem horário

Que contenha a tua face e o teu grito
Ao abrires o jornal no obituário
Com teu nome em caixa alta ou só negrito...

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20/10/2016

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Chopin (de Alma Welt)

Tenho em mim uma tristeza incipiente
Que não me deixa de algum modo ser feliz.
Por favor não passe isto pra frente,
Fique aqui entre nós, como se diz...

Porque ser triste é só inquietude
Assim dizia meu pai que também era
E garanto que tentei enquanto pude
Mas ser triste como ele quem me dera...

Pois meu pai foi o último romântico
E tocava só pra si e para mim,
Beethoven, Shubert, Liszt e Chopin...

Chopin! Quanto chorei ouvindo o mestre
Cuja tristeza atravessara o Atlântico
Pra se hospedar numa mansão agreste...

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19/10/2016

domingo, 16 de outubro de 2016

Estórias ao pé do fogo (de Alma Welt)

Novamente ao pé do fogo, lhes proponho
Nos reunamos pra ouvir e pra narrar
Estórias de talvez senso bisonho
Mas que nos façam sorrir e até sonhar.

Me contem estórias velhas dos avós
Também aquelas de mesa de cozinha,
Que me davam medo logo após
Na hora de deitar, que logo vinha...

Ah! Sempre me parece interrompida
Como uma terra eternamente prometida,
Minha velha infância ainda em pauta.

Ainda hoje, pelo reino como aguardo!
Cavaleiro de mim mesma ainda tardo
Com o beijo final que ainda me falta...

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15/10/2016

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Receita de paz (de Alma Welt)

A vida é triste, precisamos de alegria,
Cabe a nós tornar o mundo belo
Às custas de arte e de poesia,
Uma gaita, um violino, um violoncelo

Ou uma simples voz cantando alto,
Um soprano, um tenor ou um contralto;
Um pintor jogando tinta numa tela,
No fundo de um porão ou numa cela...

Mas veja, a Poesia tudo aceita
Porque não julga nem recorre à moral,
Esta menos bem já fez, do que o mal...

E se queremos da paz uma receita
Não esperemos de Deus a perfeição
Mas só de cada dia o nosso pão...

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13/10/2016

O bosque da perdição (de Alma Welt)



O bosque da perdição (de Alma Welt)

Em criança do meu bosque tinha medo
Mas eu o adentrava mesmo assim,
Pois via ali, do mundo um arremedo
De suas sombras e mistérios, mas em mim.

Mas um dia perdi-me, fim de tarde,
E caiu a noite sobre o bosque;
Vi duendes e gnomos num quiosque
E as fadas cuja silhueta arde.

Então percebi que o mundo é mágico
E maior do que querem nossos pais
Que creem somente no que é trágico.

E proibida, não pude voltar mais,
Pois eram coisas do diabo... Cruzes!
Àquele mundo de sombras e de luzes...

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13/10/2016

Sonhos antigos (de Alma Welt)

                                                       O túmulo de Inês de Castro

Sonhos antigos (de Alma Welt)

É doloroso sonhar sonhos antigos
Ou ver eles voltarem, recorrentes,
Carícias requentadas nos umbigos
E votos sibilados entre dentes...

Nada mais é possível, Inês é morta,
No seu trono sagrado de defunta
E o Tempo refervido na retorta
Derretendo a maquiagem que nos unta.

Como é cruel o vento em seu retorno
Trazendo o belo espectro e o cheiro
E um calor perdido, agora morno...

Vai, sonho cruel, não voltes mais
Antes prefiro as lembranças irreais
Do que o toque tão real do desespero...

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13/10/2016

Nota
*... Inês é morta - Tradicional expressão que se refere a um episódio histórico da monarquia de Portugal, na Idade Média, quando o príncipe herdeiro do trono, Dom Pedro, apaixonou-se por uma bela dama da corte, de nobreza menor,Inês de Castro contra a vontade de seus cortesãos, que conspiraram para assassiná-la. Pouco depois do enterro da pobre Inês, Dom Pedro foi coroado rei (como Dom Pedro I)* e depois de mandar matar os assassinos de sua amada, mando exumar o corpo de Inês e colocando o cadáver no trono, obrigou toda a corte a desfilar se joelhar, um por um, e a beijar a mão da defunta. Um episódio romântico-macabro, conhecido como "aquela que depois de morta foi rainha". e que foi celebrado pelo grande Camões no momento mais lírico de seu poema épico Lusíadas, episódio que no poema começa com os seguintes versos imortais: "Estavas, bela Inês, posta em sossego/ dos teus verdes anos colhendo o doce fruto/ nos saudosos campos do Mondego/ que a Fortuna não deixa durar muito...

*(como Dom Pedro I ) - O nosso Dom Pedro era o primeiro do Brasil, mas segundo de Portugal...

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

O urso (de Alma Welt)

                                                 Cena do filme Valente, de Walt Disney

O urso (de Alma Welt)

Quando criança, eu amava quase tudo
Mas tinha um tropeço de percurso
O poeta tinha eu que manter mudo,
Percebendo, minha mãe virava um urso.

"A vida não é isso, minha filha!
Se te pões assim a escrever versos
Não casarás jamais nesta coxilha,
Poemas são estéreis e perversos!

E eu tinha um desgosto, assim, por ela
Que tão bela era igualmente ignorante,
Só me queria ver casada e procriante.

Mas, morrendo, revelou que o que ela quis
Era somente que eu não fosse infeliz,
E então pude perdoá-la nesse instante...

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12/10/2016

Nota
* ... minha mãe virava um urso - Para entender melhor este soneto, recomendo que assistam a obra- prima de animação "Valente", de Walt Disney, em que personagem da garota ruiva, é o retrato perfeito da Alma Welt adolescente, a ponto de me arrancar lágrimas quando o assisti pela primeira vez.

A infância bem guardada (de Alma Welt)

Sou movida a rimas e saudades
Mas trago minha guria bem guardada,
Não a misturo com as gratas novidades
De que vou desfrutando, deslumbrada.

Pra cantar a minha infância amada
Precisei estar assim quase madura
Para ser por mim mesma autorizada,
Que a criança em mim pouco perdura...

Quantos não conseguem mais pular os muros
De sua infância antiga e verdadeira
Por tê-la carregado na algibeira!

Pobres adultos infantis ou imaturos,
Que nada mais têm na mesa a declarar,
Pois só repleto o coração pode guardar...

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12/10/2016

Dos amigos que se foram (de Alma Welt)

Dos amigos que se foram, só saudades,
Alguns, para os pagos de além-mar
Uns poucos pelas fúteis veleidades
Outros tantos para nunca mais voltar...

Como éramos felizes sem saber!
Rebeldes inocentes e curiosos,
De muita importância achando ser,
Pobres ingênuos, belos, preciosos...

A vida nos deu grandes bordoadas,
Pelo menos nos melhores, desde então,
E ostentamos nossas almas remendadas.

Mas os únicos que se foram por juízo
Não voltaram trazendo uma canção
Ou um chiste que provoque novo riso...

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12/10/2016

terça-feira, 11 de outubro de 2016

À sombra do vulcão (de Alma Welt)

                              À sombra do vulcão - óleo s/ tela de Guilherme de Faria, 2015

À sombra do vulcão (de Alma Welt) *

"Vivemos à sombra de um vulcão,
Mesmo quando, na verdade, ele não há.
Quero dizer, na iminência de explosão
De uma interna e latente bomba H "

"São os nossos desejos reprimidos
E toda essa selvagem natureza
Que reside em nossos corpos deprimidos
Pela nossa contenção, falsa frieza."

Assim falava o meu doido analista
Que já estava pronto a me agarrar
Quando me via distante e fatalista.

E foi assim que um dia me dei alta
Para ao divã ocidental jamais voltar *
Antes que da explosão sentisse falta...

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11/10/2016

Nota
*À sombra do vulcão - titulo em português do livro de Malcolm Lowry: Under the Volcane (literalmente Sob o Vulcão), do qual foi feito também um magnífico filme inglês passado no México.

* Para ao divã ocidental jamais voltar- Diván é como se chama uma coleção de poemas árabes clássicos de teor amoroso ou erótico, ou em homenagem aos árabes da Espanha medieval, como no caso do "El Diván de Tamarit " , coleção de poemas de Garcia Lorca com essa conotação.
"Divã ocidental", no dizer da Alma, seria o divã de psicanalista.


O Errante (de Alma Welt)

Preferem alguns de nós seu próprio nicho
Do que vagar a esmo pela Terra.
Pois se estamos longe há um rabicho
Que nos liga à fonte ou nos desterra.

Judeus errantes somos de algum jeito,
Já que expulsos do Jardim do Paraíso
Alternamos a procura de um juízo
Que nos devolva à terra de direito...

O homem quer um chão, plantar raízes.
É muito duro viver escorraçado
Pelas tais ervas daninhas ou juízes...

Lamento o homem, veja o quanto bebe,
Mesmo quando não se queixa ou não percebe
Que a Terra inteira já foi dele num passado...
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11/10/2016

O Enigma (de Alma Welt)

Édipo e a Esfinge- pintura de Jean-Auguste Dominique Ingres

O Enigma (de Alma Welt)

A vida é um enigma insolúvel *
Que, irônico, termina sem resposta.
Édipo era fiel, e não volúvel,
Já que mãe é em geral primeira aposta.*

Vivemos, sem saber, duplo universo,
Um deles acessível só em sonhos,
Mesmo assim de modo controverso
Considerados perversos ou bisonhos.

Entretanto nos sonhos não há lei
E estamos ao sabor da crueldade
E um absurdo Ubu é nosso rei. *

Mas tanto o real como o sonhar
São faces do mesmo cauchemar, *
Moeda falsa em uso, sem idade...

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11/10/2016

Notas
*A vida é um enigma insolúvel - Na tragédia Édipo Rei, de Sófocles, há o famoso episódio do enigma da Esfinge, que só resolvido dava acesso à cidade de Tebas

* Já que mãe é em geral primeira aposta - Freud, que descobriu o Complexo de Édipo, afirmava que a primeira paixão de um bebê do sexo masculino é a mãe, e que isso persiste na maioria dos homens.

*E um absurdo Ubu é nosso rei- menção ao personagem Ubu, da peça surrealista humorística Ubu Roi, do poeta e dramaturgo francês Alfred Jarry. Ubu é um rei cruel e anárquico, mas muito engraçado, definido por uma sua fala na peça: "Depois de roubar todo o dinheiro, matarei todos, e irei embora..."

*cauchemar - palavra do idioma francês que significa pesadelo, que nesse idioma tem uma conotação poético-sinistra.

Numa casca de noz (de Alma Welt)

Ando pelo mundo em minha mente
Em montanhas, cidades e países
Todas as canções minha alma sente,
Em todos os rincões tenho raízes .

Mas isso é do humano desempenho,
Não é prerrogativa de poeta,
Me diz minha amiga predileta
Aquela que dentro de mim tenho.

Sim, isso é comum aos corações
Como poeta sou apenas porta-voz,
Meu universo é, sim, casca de noz.

Nada sou nem apenas pra mim quero,
É pra não dissolver-me, assim espero,
Que admiro no espelho minhas feições...

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11/10/2016

Meu pequeno relógio (de Alma Welt)

Um reloginho ganhei quando guria
De ouro, um mimo, com ponteiros
Que me fascinavam, de certeiros,
Mas o tempo, neles não corria...

Como eram lentos os ponteirinhos!
Como o tempo era longo, e a vida, enfim...
Era difícil maturar aqueles vinhos
Nas garrafas reservadas para mim.

Então eu disse ao pai: "Me deste o Tempo
Ele agora me poupa à revelia,
Preciso que me dês um contratempo".

Rindo, meu pai, então, seu mimo retirou:
"És impaciente, e eu não sabia,
Mas foi a vida que até hoje te poupou..."

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10/10/2016

O bosque dos aflitos (de Alma Welt)




O bosque dos aflitos (de Alma Welt)

Bastam-me um jardim e uma varanda
Pra que eu possa mirar o mundo inteiro
E possa ver como todo mundo anda,
E fazer as correções no meu roteiro...



O que estás dizendo, alienada?
Então pensas que podes ter ideia
Do que é este mundo, aí parada?
Confundes o teu palco com platéia?

Venha para baixo, onde fervilha,
Durma em colchão sujo esburacado
E não mais sobre vinte numa ervilha... *

Assim minha cabeça em seus conflitos,
Sempre uma coisa e o outro lado,
Não há paz no lindo bosque dos aflitos... *

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11/10/2016

Notas
* E não mais sobre vinte numa ervilha - alusão ao conto de Hans Christian Andersen, publicado pela primeira vez em 1835, em que uma princesa se perde num bosque e chegando esfarrapada num casa de camponeses, pede abrigo dizendo ser uma princesa perdida. O casal de camponeses duvida daquela moça enlameada e com o vestido em farrapos. Então resolvem fazer um teste: depois de banhá-la colocam a moça para dormir sobre vinte colchões empilhados (!!), mas sob o primeiro, no solo, colocaram uma ervilha. No dia seguinte a donzela ao despertar queixou-se de dores no corpo todo, que dormira muito mal , como se tivesse deitada sobre uma pedra. Então o casal de camponeses se ajoelhou e pediu perdão à sua princesa...

*Não há paz no lindo bosque dos aflitos -
Alusão ao bosque do famoso romance francês de Alain-Fournier "O bosque das ilusões perdidas", em que acontece uma tragédia romântica.O belo título é um achado da edição brasileira, pois o t´tulo no original francês é horrível: "Le grand Meaulnes" ( O grande Meaulnes), nome do personagem principal. Estranhamente, o Brasil ( por ser um país criativo) é o país que recria o melhores títulos para obras estrangeiras. Exemplo: "Um estranho no ninho" ( filme americano notável cujo titulo original é "One flew over the cooko's nest" ( Alusão à brincadeira infantil americana: One flew east and one flew west / one flew over tlhe cooko's next (um voou para o leste outro vou para o oeste,/ um voou sobre o ninho do cuco) . Quanto ao título do filme no Brasil, é tão criativo que criou uma expressão duradoura e que tem tudo a ver com a situação do falso louco tumultuando o hospício , "um estanho no ninho" (O cuco mata os filhotes do ninho de uma ave de outra espécie e coloca seu filhote ali para ser criado como um enorme parasita".

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

A luz e a sombra (de Alma Welt)

Entre a luz e a sombra desta vida
Balanço o meu olhar e a razão,
Sempre tive esta alma dividida,
Entre o escuro e o claro coração.

Amo a luz que ilumina o céu azul
E que bate sobre a relva cintilante;
Os crepúsculos mágicos do sul
E as noites caindo mais adiante.

De noite amo as estrelas e a lua
Como todo respeitoso ser vivente
Que não faz das trevas sua mente.

A luz do dia me veste e é meu adorno,
Já a noite me convida a ficar nua
Para assim iluminar o meu entorno.

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10/10/2016

O Livro-Caixa (de Alma Welt)

Suspeito que terei muitas saudades
Quando afinal fechar esta bodega.
Se a morte é o balanço das idades
Quanto mais se vive mais se apega.

Há quem diga que é justo o contrário
E que pouco sabemos desta vida
E estamos aqui como um notário
Anotando nossa entrada e a saída

No misterioso livro-caixa do Patrão
Que não nos diz a que vem isso,
Qual o comércio, afinal, qual a razão.

Estarei a vender gato por lebre?
Vendi queijo de Minas pra suiço?
A firma é devedora, talvez quebre...


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10/10/2016

domingo, 9 de outubro de 2016

A Alfândega ou A boba das estrelas (de Alma Welt)

A quem afinal estou enganando?
Minhas questões fatais são as de todos:
Não sei onde, como e quando
Deixarei de ser voltando aos lodos.

Que coisas tenho eu, pois, a dizer?
Nada a declarar nesta alfândega,
Depois de tanto medo do não-ser
E por isso tentar viver à pândega.

Pobres de nós, crianças do destino
Que herdamos a maldita consciência
Que antecipa toda vela e todo sino.

Eu quisera ser a boba das estrelas
Que sorri ao mundo sem ciência,
Perseguindo os vaga-lumes para vê-las...

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09/10/2016

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

O agora inexistente (de Alma Welt)

Estou viva para o próximo poema
Como um surfista espera a onda
Que será aquela bem redonda
Que produz o túnel ou o dilema.

O próximo minuto, o dia, a aurora,
Quiçá um crepúsculo rosado,
Sempre o momento anunciado,
Pelos vãos suspenses da demora.

O agora? Bem quisera que o houvesse
E o relógio sem ponteiros estivesse
Sem as batidas fatais da meia noite...

Mas resta-me a ideia do advento,
E o tempo presente é só açoite
A fustigar-me para nada, como o vento...

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07/10/2016

Tela em branco com moldura (de Alma Welt)

Viver, como pintar, é uma aventura
Porque a gente nunca sabe o que vai dar.
Temos uma tela em branco com a moldura
Que é a nossa origem, nosso lar.

Com primeiras pinceladas manchas faço
Para ver se algo ali se configura
Com a energia de um Picasso
E buscando a esmo a forma pura...

Mas logo minha imagem se embadurna *
Em desastrada e vã baconiana
E a esquadria passa a ser a urna

De minha tentativa quase insana
De escapar dos limites da moldura
Dourada, pronta, estática e segura...

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07/10/2016

Nota
*... imagem se "embadurna" - palavra técnica em espanhol, usada pelo pintor Francis Bacon numa entrevista, designa um estado de embaçamento de pintura suja, irreversível, que quando ocorria em sua pintura gestual em processo, o fazia desistir e destruir a tela imediatamente, jogando-a fora e começando logo outra.

Esse soneto da Alma tem uma nítida conotação alegórico-psicanalítica, ao se referir à nossa "moldura" familiar, rígida, dourada, que herdamos e que nos aprisiona no nosso processo de construir uma auto-imagem própria, que extrapole aquelas formas rígidas que já existem quando ainda somos uma tela em branco...

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Através do meu espelho (de Alma Welt)



Através do meu espelho (de Alma Welt)

Jamais direi a alguém o que é a vida,
Somente sobre a minha quis fazê-lo
E se nela eu puder botar meu selo
Sem ser presunçosa ou presumida.

Alguns dizem: faça isso, faça aquilo...
Por que apontas caminhos, prepotente?
A beleza não tem braços e é eloquente
A julgar pela imortal Vênus de Milo...

Se eu puder falar de mim sem intenções
Que não sejam a de tocar os corações
Sem qualquer autopiedade e sem pieguice

E sendo apenas eu, já serei tudo
Para uns, por um segundo, não me iludo,
Através de meu espelho, como Alice...

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03/10/2016

O orvalho da manhã (de Alma Welt)

                            O orvalho da manhã - óleo s/ tela de Guilherme de Faria, 2015,

O orvalho da manhã (de Alma Welt)

Que o meu último suspiro na coxilha
Seja sobre este orvalho da manhã
Que sempre me tratou como uma filha
E, pois, nenhuma caminhada era vã...

Vejam como ele cintila perolado
Tornando a superfície acetinada
Na glória da manhãs deste meu prado
Preparando a alegre revoada...

E se o mundo por aí não é assim
Já não quero mais saber, senão de mim,
Tudo é perfeito por aqui, graças ao Céu.

Deixem-me sonhar, tenho direito
Vivi também as dores, de outro jeito,
Se na terra desfrutei do vinho e mel...


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04/10/2016

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Sic transit (II) (de Alma Welt) *

                Alma na coxilha - óleo s/ tela de Guilherme de Faria, 2014 (coleção do Artista)

Sic transit (II ) (de Alma Welt) *

Construamos nossa vida dia dia
Como se constrói um mundo novo
Ou se repetirá nossa agonia
Dia a dia arguindo nosso corvo.*

Depende de mim o meu destino
Mas somente no caminho, não no fim,
Pois este é um inexorável sino
Dobrando em sua torre só por mim. *

Se perguntas ao corvo sobre os mortos
Receberás a tal resposta crocitada *
E é melhor permaneceres, pois, calada...

Os navios em princípio vão aos portos,
E Deus que traça seus caminhos tortos *
Não traçaria nossa rota rumo ao Nada...

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03/10/2016

Notas
*Sic transit gloria mundi - (lat.) Assim passa a gloria mundana.

*Dia a dia arguindo nosso corvo - alusão ao famoso poema The Raven ( O Corvo), de Edgar Allan Poe, em que o poeta pergunta sem parar sobre sua amada e seu destino, a um corvo...

*Pois este é um inexorável sino
Dobrando em sua torre só por mim - alusão ao famosos versos do poeta inglês elizabethano John Donne: ..."Nenhum homem é uma ilha"......../ "Por isso não perguntes por quem os sinos dobram/ Eles dobram por ti."

* Receberás a tal resposta crocitada - no poema de Poe, corvo, responde sempre com com a palavra composta "Nevermore" (nunca mais), que em inglês soa onomatopaicamente como um crocitar...

"Mas Deus que traça seus caminhos tortos - alusão à frase popular: " Deus escreve certo por linhas tortas"...

Pedagogia reversa (de Alma Welt)

"Nossa vida é trágica e fugaz,
Nosso fim já nasce decidido
E como é um avaro contumaz
O homem já nasce corrompido."

"Para estar vivos fazemos papelões
E cada um por si se o barco afunda.
Somente o eterno egoísmo abunda
Como ratos proliferam nos porões."

Assim citava um velho professor
Que nos fazia rir até rolando
Por sua ênfase dramática no horror.

Mas que bem me fez ele sem saber!
Pois a vida em mim fui mais amando,
E mais amando a vida hei de morrer...

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03/10/2016

domingo, 2 de outubro de 2016

A Escolha da Poesia (de Alma Welt)

Se escolhi viver a vida em verso,
Que é só uma das maneiras de viver,
Ela em mim abarca o universo
E é de certa forma não morrer...

Todavia o mundo me censura
A solidão voluntária que persigo
Que parece uma espécie de tortura
Sem pouso, sem arrimo, sem abrigo.

Alma, não casaste, não tens filhos,
A mulher em ti não está completa,
E já perdeste talvez a hora certa...

Não me peçam respostas para isso,
E aviso: não me esperem ver nos trilhos,
A Poesia nunca foi um trem suíço...

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02/10/2016

Meu corvo (de Alma Welt)

                      Alma Welt na colina dos Mortos - óleo s/ tela de Guilherme de Faria

Meu corvo (de Alma Welt)

Ariscas que são, as horas voam,
Que fluidas nos escapam pelos dedos;
E as badaladas finalmente soam
De nossa meia noite, auge dos medos.

A vida é um conto de Allan Poe,
Mestre supremo dos horrores
De quem melhor discípula não sou
Mas que é um dos meus amores...

Entretanto tenho um corvo que me segue
E que muitos amigos não duvidam
Que ele os meus sonhos também negue. *

E assim caminho viva sobre os mortos,
Auscultando a terra escura onde lidam,
Como eu talvez sonhando novos portos...

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02/10/2012

Nota
* Que ele os meus sonhos também negue - Alma alude ao corvo do famoso poema The Raven.(O Corvo) de Edgar Allan Poe ( pronuncia-se Pou) que pousado num busto de Palas Atenas, a cada pergunta do poeta sobre a sua amada, respondia somente: "Nevermore" (Nunca mais!)

Guardemos o Domingo (de Alma Welt)

Guardemos o Domingo, meus amigos
Porque Deus parou nele e descansou.
Naqueles tempos de outrora, tão antigos,
Conquanto o Diabo não parou

E foi urdindo a sua trama diabólica
Para logo cooptar o casalzinho.
Eva ainda não tinha a menor cólica
E não pedia casa, nem um ninho...

Assim falava o padre em minha infância,
Pelo menos do jeito que eu me lembro
De uma missa na capela lá da estância.

Mas não tenho certeza, há uma neblina
Que nubla aquelas tardes de Setembro
Do meu próprio paraíso de menina...

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02/10/2016

sábado, 1 de outubro de 2016

A lição (de Alma Welt)

"O ser humano é movido a arrogância,
Digo isso num plano mais geral
De sua ambição, progresso e ânsia,
Por vezes de uma estupidez fatal"...

Assim dizia um certo professor
Que tive em Rosário, no ginásio,
E que protestava um grande amor
Por nossa adolescência, triste estágio.

Mas um dia, me mandou permanecer
Depois da aula, e que fosse à sua sala
Que queria comentar o meu dever...

Mas da fábula não vou contar o fim
E interrompo aqui a minha fala,
O ser humano era mesmo muito ruim...

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01/10/2016

Mar-coxilha (de Alma Welt)

                                   Alma na colina dos mortos - óleo s/ tela de Guilherme de Faria

Mar-coxilha (de Alma Welt)

Um corvo me segue na campina
E só eu o enxergo, acostumada
Com ele que estou, e que me ensina,
Sobre coisas além de minha alçada.

Sim, sobre o que dizem os mortos
E como não sentem nossa falta,
Atracados que estão em novos portos,
Suas velas já sem a cruz de Malta. *

Mas nós aqui em plena travessia
Precisamos da esperança e do grog, *
Que a seco tanto mar não se aprecia.

Ondas imóveis na neblina como um fog *
Me espera, eu sei, no fim do mar-coxilha
Ao longe no horizonte a minha ilha ...

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01/10/2016

Notas
*Suas velas já sem a cruz de Malta - Alma se refere dessa maneira metafórica, às lápides brancas dos túmulos, como velas, sem a cruz que as das caravelas portuguesas e espanholas ostentavam.

*Precisamos da esperança e do grog - "grog" era como se chamava a dose de rum distribuída aos marinheiros no fim de cada semana nos navios, sob pena de motim se faltasse...

*Ondas imóveis na neblina como um fog - as ondas imóveis são as ondulações típicas da coxilha gaúcha, e "fog" é a palavra inglesa para neblina, tanto na terra como no mar.

O que me dizem as manhãs (de Alma Welt)

Como é triste o mundo se estou triste!
Mas se o céu é claro e o sol brilha
É como se tivessem o dedo em riste
Como leve censura à sua filha...

Levanta-te daí, sua preguiçosa!
Vai fazer a tua matinal toilette,
Penteia o cabelo, mas não posa,
Que isso é espelho e não tiete.

Depois vai à cozinha, ao santo amaro *
Pois sei que deste santo és devota,
O que por aqui não é nada raro...

Depois de breve culto à cuia e bomba
Voa ao teu jardim como uma pomba
E não aos gritos como doida gaivota...

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01/10/2016

Nota
* ... ao santo amaro - Alma se refere ao "amargo", isto é, ao mate do chimarrão, "amaro", à maneira italiana.