sexta-feira, 4 de agosto de 2017

A Máfia do Soneto (de Alma Welt)

"Desta água não bebo", diz um dia
Todo aquele que vai ter dia de cão,
E um pássaro voando, eu não sabia,
É melhor do que tê-lo em minha mão.

"Pelo nariz ninguém me leva, não a mim"...
Isto disse um velhote meio tonto
E já levado pelo estranho Stavroguin *
Com dois dedos pela sala, assim de pronto.

"Do soneto não pertencerei à Máfia"
Digo eu, que me acusam já de vício
Por escrevê-los sem dor nem sacrifício...

Mas risíveis sempre soam as bravatas:
Levados, pela língua e pela empáfia,
Pelos narizes ou até pelas gravatas...

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04/08/2017

Nota
*E já levado pelo estranho Stavroguin
Com dois dedos pela sala, assim de pronto - Alma se refere à estranha cena do romance "Os Demônios", de Dostoiévsky, em que o jovem fidalgo Nikolai Vsevolodovitch Stavroguin, personagem central, numa recepção em sua casa se aproxima de um conviva, um velho, ao ouvi-lo dizer aquela frase que era conhecido por repetir, e com os nós de dois dedos de uma mão o arrasta por todo o salão, para escândalo geral, antes dele mesmo ter uma síncope e desmaiar, o que serviria para os amigos como explicação e mesmo absolvição para o seu inusitado gesto de afronta e humilhação a um velho tolo. Na verdade esse tresloucado gesto seria um prenúncio para as coisas terríveis que aquele nobre desencadearia na aldeia.

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