sábado, 28 de julho de 2012

Esboço para um Retrato do Amado (de Alma Welt)

Foto - o olho direito da Alma (do retrato de Alma Welt em pintura de Guilherme de Faria)


Esboço para um Retrato do Amado (de Alma Welt)

Hoje espero receber o amor meu...
Não que venha ele em carne e osso,
Que isso nem sequer me prometeu.
Refiro-me ao que tenho num esboço.

Sua imagem, a de que fiz um layout,
É bela mas está muito em aberto
E espero que a destreza não me falte
Para a arte final, com tudo certo.

“Bah! És mesmo fantasista!”- me dirão.
“Põe aí cavalo branco e a pluma,
Não aceites só visconde e nem barão.”

Mas eu, empertigada, lhes respondo:
“Se o cavaleiro não bebe e nem fuma,
Prometo que na tela já vou pondo...”

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A Vida é Sonho? (de Alma Welt)


Foto: Pintura de Libby Barbee  

 A Vida é Sonho? (de Alma Welt)

Sinto que viver é só sonhar.
Bem, o Pedro Calderón já o dizia
Bem melhor, é bom notar,
Que eu só sonhava e não sabia...

O real não é mais que convenção,
Apenas mero código aceitável,
Comum a um povo ou nação,
Mesmo assim muito pouco negociável.

Mas se a vida é sonho, ó ironia,
Morrer é acordar e dói demais
Embora o façamos todo dia

E por isso acordados somos mortos
Esperando a ressurreição e a paz
Do sonho que conduza a outros portos...

quinta-feira, 26 de julho de 2012

A Verdade (de Alma Welt)


A Verdade (de Alma Welt)

Perdoai-me, Senhores da verdade,
Nunca soube o que ela venha a ser.
Meu pai só ensinou-me a lealdade
Como uma das virtudes, não dever,

E o começo, o ponto de partida,
Pois me dizia que isso bastaria,
Que a verdade já nasce dividida
Entre Jacó, Labão, Raquel e Lia...

E que o próprio Cristo se calara
A cerca dela questionado por Pilatos,
Aquele pragmático avis rara.

Então me dei conta que a verdade
É uma emanação pura dos fatos
E de todo coração em saciedade...

Entre os Livros (de Alma Welt)


 La belle dame sans merci - desenho de Guilherme de Faria

Entre os Livros (de Alma Welt)

Na calada da noite entre os livros
Desta biblioteca do meu Vati
Sinto os séculos todos vivos
As intrigas, as paixões, o "amor fati" *

Dos amantes que habitam as estórias
Gravadas para sempre no papel
Com momentos seus de glórias
Outros tantos só de amargo fel.

Mas entre apaixonados sou igual
E me tratem como lady, como dama
Que nem sempre me vejo como tal.

Sou eu então "la belle dame sans merci", *
Urdindo no palácio alguma trama
Para fazer reinar o amor por ti...
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Notas
*Amor fati (do latim amor, nominativo singular de amor,óris: 'amor a algo' e fati genitivo singular de fatum,i, 'destino') é uma expressão latina que significa 'amor ao destino', 'amor ao fado'. [1] No estoicismo e em Nietzsche, significa aceitação integral da vida e do destino humano mesmo em seus aspectos mais cruéis e dolorosos - aceitação que só um espírito superior é capaz. (Wikipedia)

"La Belle Dame sans Merci" (francês para: "A Bela Dama Impiedosa") é uma balada escrita pelo poeta inglês John Keats.
Ela existe em várias versões com pequenas diferenças entre si.
O original foi escrito por Keats em 1819, embora o título seja o de um poema do século XV por Alain Chartier

Vidência (de Alma Welt)


Vidência (de Alma Welt)

Aos desígnios obscuros do destino
Dos meus olhos procurei tirar a venda.
E assim, ao meio-dia, o sol a pino,
Fui ter com a Rafisa em sua tenda.

E entre cortinas de contas e moedas
E uma parafernália kitsch e brava,
A bola de cristal de antigos medas
Sobre a mesa seu brilho já assustava.

“Alma, eu vejo no teu rastro um cavaleiro
Que há muito te segue e observa
Acompanhado por um negro cão rafeiro.”

“Deves saber que te porá a todo custo,
Da métrica ao saber que és fiel serva,
Vida e verso num leito de Procusto...”

A Tentação no Pampa (de Alma Welt)

Foto- Umbu solitário no Pampa gaúcho. 

A Tentação no Pampa (de Alma Welt)

Nesta vastidão desértica do Pampa,
Quantas vezes me vi acompanhada
Do que sai da minha caixa sem a tampa,
Aqueles seres dos quais não direi nada.

Mas devo confessar que encontrei
Sozinha em meu cavalo na coxilha
O Mefistófeles de tudo que eu errei
Dizendo que por isso era sua filha.

Arrenego! exclamei. E vade retro!
Meu pai é o Vati, meu Maestro,
Sua batuta herdei e é o meu cetro.

De princesa que fui, rainha agora,
Devo a ele meu reino e o meu estro,
Nada quero, senão que vás embora!

Amigos (de Alma Welt)

Amigos à borda do Sena - de Renoir

Amigos (de Alma Welt) 

Saudar os amigos é preciso
Pois a amizade é mesmo amor,
E o afastamento dá um aviso
Embora em mim talvez seja um pendor.

Mas quanto me divirto com os amigos
Que são um presente de alegria
Quando não voltados pros umbigos
Como eu mesma era e não sabia...

E quando vejo chegarem esses rostos
Sorridentes, levemente picarescos,
Alguns bons talvez pra outros gostos,

Eu me encho de ternura e paciência
E percebo nossos breves parentescos
No coração sábio da inocência...

terça-feira, 24 de julho de 2012

Mina escura a céu aberto (de Alma Welt)


Mina escura a céu aberto (de Alma Welt)

Sigamos, meus amigos, noite a dentro,
Que este é o caminho que nos coube.
A vida é obscura e bem no centro,
E os dias, distração, eu sempre soube.

 Temos que seguir, mas tateando
As aberturas pra saída do funil;
O túnel escuro vai se bifurcando
E as bifurcações chegam a mil.

Estamos numa mina a céu aberto
Mas negra como a noite que nos cobre
E o filão de ouro está por perto...

Apenas não sabemos, este é o jogo,
Quando é ouro-de-tolo que nos sobre
E se a sorte grande foi um logro

Brinde final à juventude (de Alma Welt)


Brinde final à juventude (de Alma Welt) 

Meus amigos, erguei juntos as taças
Para o brinde final da juventude!
Daqui pra frente o mofo e as traças
E quanta porcaria que nos grude...

Dizem que ora chega a plenitude
Da maturidade, sim, é o que dizem.
Báh! Fui feliz e jovem enquanto pude
Mas não impeço as horas que deslizem

Ribanceira abaixo, como as pedras,
E vede com vão rolando às tontas
Enquanto em ti mesmo o limo medras.

Mas afastemos o cálice da amargura.
Proponho novo brinde sem afrontas,
E a nova idade chegue com fartura!
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Final toast to youth (Alma Welt) 

(Google translator)


 My friends, raise their glasses together
For the final toast of youth!
From now on the mildew and moths
And how much crap on us...

They say that now comes fullness
Maturity, yes, that's what they say.
Bah! I was happy and young as I could
But I can't prevent hours goes slipping

Down the ravine, as rolling stones,
And see how going dizzy
While slime grows on ourselves.

But move ourselves away from the cup of bitterness.
I propose new toast without reproach,
And that the new age will come in abundance!

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Noites rebeldes (de Alma Welt)

Pintura de Luis Ricardo Falero 1851 – 1896

Noites rebeldes (de Alma Welt)


Como cantamos, rimos e dançamos
Naquela inesquecível temporada!
Amor corria solto, e nos soltamos
Beijando e abraçando por um nada...

Não faltava nem o toque de perigo
Na pessoa da dura Açoriana
A quem devo somente o meu umbigo
Pois meu élan vital é de outra rama.

E então, noite alta, levantávamos
De nossos leitos aquecidos na calada
Só para provar que nos amávamos

Pois temia que se ela nos flagrasse,
Nosso Éden de pureza retomada
Como a Terra de novo se estragasse...

Fim do reino (de Alma Welt)


Fim do reino (de Alma Welt) 

Meus amigos se foram mundo afora
E eu tenho a impressão de ter ficado,
Permanecido a reinar num principado
Onde princesa fui, rainha agora...


Mas de um reino sem mais cortesões
Que a corte esvaziou-se-me aos poucos
Restando minha aia e os meus peões
A guardar-me a solidão e sonhos loucos.

E pelas noites a vagar no casarão
Meu castelo hasteado de farrapos,
Contra mim mesma a tramar revolução

Eu conclamo à Anita que me venha,
De quem fui nua agora sou em trapos,
E no salão já estou a juntar lenha...


.
23/07/2012

Notas
*Meu castelo hasteado de farrapos - alusão à Guerra dos Farrapos, também chamada Revolução Farroupilha, dos gaúchos do pampa do século XIX .

*Eu conclamo à Anita que me venha - Atenção: Alma se refere à heroína Anita Garibaldi, da revolução Farroupilha, e não à cantora Anitta do funk rebolante da atualidade.

Depoimento (de Alma Welt)

Pampa - óleo s/ tela de Guilherme de Faria, 30x40cm,

Depoimento (de Alma Welt)

Vivo sob a égide da Beleza
E não pensem que isso é leviano.
Incorporo elementos de leveza
Mas não excluo o frio minuano

Como contraponto do prazer
Pois que desde sempre o temo
Quando as cordas do piano vem tanger
Como se fora ele o próprio demo.

Mas não me venham dizer que o mundo é mal
Que meu soneto vem fora de hora
E que a esta Alma falta ler jornal...

Pois que todo este Pampa, esta amplidão,
Constitui meu cenário dentro e fora
De uma saga universal do coração...

domingo, 22 de julho de 2012

Soneto à Alegria (de Alma Welt)


Soneto à Alegria (de Alma Welt) 

Alegria, meus amados, alegria!
Eis da vida o topo, senão meta,
Prêmio final de uma conduta certa,
Pois o mal só tristeza propicia.

Alegria cria e acende mil faróis
Ou uma grande tocha no oceano
Já gravada num antigo portulano
Muito antes de lusos e espanhóis.

Alegria conduz à eternidade
Que é o tempo do amor universal,
Sem mágoas, sofrimento nem saudade.

E no alto da torre da Alegria
Exausto o homem chega como tal
Mas no mundo dos deuses se inicia...
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Vida em rimas (de Alma Welt)


Alma e o Soneto- óleo s/ tela de guilherme de Faria, 30x60cm

Vida em rimas (de Alma Welt)

E no entanto não fui triste guria,
E uma flor, borboleta ou andorinha
Já me faziam correr em alegria
Pela coxilha que via como minha


Terra original de minha alma
Onde o meu coração reconhecia
As trilhas como linhas da minha palma
Ou um primeiro esboço de poesia

Que seria a minha vida inteira
Jamais dissociada do soneto
Que em mim é liberdade, não coleira,

Malgrado esta obsessão de rima,
Como idiossincrasia do perfeito
De quem, bem lá no fundo, a vida mima...
 

sábado, 21 de julho de 2012

Sagrada (de Alma Welt)

O Berço (Acalanto de Psiqué) - óleo s/tela de Guilherme de Faria , 60cm diam. 

 Sagrada (de Alma Welt)

Criança fui e sagrada permaneço
Como todos aqueles que mantêm
Vivo e embalado como um berço
Seu eterno acalanto de neném.

E me inspiro ainda hoje na guria
Feliz e assim por todos venerada
Por ser a própria essência da Poesia
E de beleza viva imaculada.

Entretanto iria ter malbaratado
Como o casal primordial expulso,
Meu amor maior e desejado...

E a garra que tomou-nos de surpresa
Ainda sinto nos cabelos e no pulso
Como dor que impregnou a Natureza...

sexta-feira, 20 de julho de 2012

O Último Suspiro (de Alma Welt)

No leito- óleo s/ tela de Guilherme de Faria 

O Último Suspiro (de Alma Welt)

Não podemos conhecer nosso final,
Como será, doloroso ou em paz,
Conciliados com o bem, longe do mal
Mesmo quando a alma olha pra trás,

O panorama inteiro desenrola
E sorri com ternura e com saudades
Desde do tempo da boneca ou da bola,
Depois o das primeiras ansiedades

Como o primeiro beijo que marcou
Talvez a nossa vida inteira desde então
Pois o destino ou trajetória nos selou.

E então, que o suspiro que soltar
Seja o de um repleto coração
A transbordar de vida, e derramar...
 

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Amantes (de Alma Welt)

Foto de Jarosław Datta
Amantes (de Alma Welt)

Que mansos olhos tinha o amor nosso
Quando juntos deitávamos silentes
Sem nunca perguntar: “Amor, eu posso?
E sem a ânsia triste dos carentes...

Que perfeição de gestos, que balé
Emanava do nosso corpo jovem
E em que se poderia ouvir até
O deslizar dos dedos que se movem.

E o respiro, como aragem, como brisa
Percorrendo o quarto na penumbra
De uma tarde morna e indecisa

Que avançava lenta para a noite
Mas com a vaga promessa que deslumbra
Das delícias proibidas de um açoite...

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Le Dejeune sur L'herbe - de Édouard Manet (1832- 1883)

O Pic-Nic dos Poetas (de Alma Welt) 

Que deliciosa via é a Poesia
Que nos leva direto ao horizonte

Que é ali mesmo atrás do monte
Onde o mundo acaba e principia.

E onde tem também ouro no pote
Ao pé do arco-íris de uma lenda
Onde ocorre derradeiro convescote
De uma era ideal e de encomenda.

Lá ainda poderás cruzar as linhas
Com poetas exilados do seu Éden
Que contigo vêm trocar as figurinhas.

Mas a Musa terás mesmo que levar
Pois as suas eles cantam mas não cedem,
Que é tudo o que têm para guardar...
 

Meu Pampa Proibido (de Alma Welt)

Adão e Eva - de Albrecht Dürer (1471 — 1528)

Meu Pampa Proibido (de Alma Welt)

 Do Pampa, transplantada sou a filha,
Embora nascida em plena estrada
De um grande burgo aproximada,
E só aos oito levada pra a coxilha.

Mas lembro que ao avistar o casarão
Dos boches meus avós Joachim e Frida,
Não direi que ali começa minha vida
Mas vi o sonho da poesia num clarão.

Eu que era aventureira de quintal
Que até ia dar no de um bordel
Que eu e Rodo descobrimos no Natal,

A dor ainda não havia conhecido
No meio de um horto sob o céu,
A suprema, pois do fruto proibido...
 

Belas tardes (de Alma Welt)

O despertar de Adonis (detalhe)- John William Waterhouse (circa 1900)

Belas tardes (de Alma Welt) 

Belas tardes da minha juventude,
Que ainda desfruto agradecida
Conquanto ignorar jamais eu pude
A dor tão inerente à própria vida...

Pois sinto que ao fim dos dias meus
Ainda lembrarei daquela tarde
Em que fui flagrada, não por Deus,
E meu pobre traseiro ainda arde.

Fustigados pela fúria indignada
Da cruel Açoriana, pela trilha,
Em direção à casa avarandada

Eu via rirem gaudérias carantonhas
Na nossa via-crucis na coxilha,
Obrigados a cobrir nossas “vergonhas”... 

domingo, 15 de julho de 2012

Mais um dia (de Alma Welt)

Pintura de Arkhip Kuindzhi

Mais um dia (de Alma Welt)

Mais um dia e noite transcorridos
E estou agradecida à própria Vida
Pensando nos projetos já cumpridos
Me ponho satisfeita e comovida.

Quantos testemunhos tenho dado!
Meu pampa, o casarão e meu jardim,
O pomar onde o incesto foi flagrado
E cujo doce aroma trago em mim...

Meu Pampa exala dos meus versos
Com a sua vastidão mal ondulada
Onde alma e coração estão imersos
Como num oceano em calmaria
Antes que sopre o vento na ramada
Como vero portulano que me guia...

As Honras da Casa (de Alma Welt)




As Honras da Casa (de Alma Welt)

Olhai, senhores, as flores que colhi.
São as minhas prediletas, que vos dôo,
Que são do meu jardim, que as escolhi
Cercada dos meus colibris em vôo.


Pela janela podeis ver esse jardim
Que foi obra primeira da avó Frida,
Aprimorada pela Mutti e por mim
Como quis que fosse a minha vida.

E agora me retiro, meus senhores,
Que sei quereis voltar às coisas sérias,
Vossos negócios de vendas e penhores.

Mas tomai primeiramente o chimarrão
Que vos fará ouvir charlas gaudérias,
Pois costumamos aquecer o coração...

Prometheus (de Alma Welt)

Prometheus acorrentado- Thomas Cole* ( 1801 — 1848) 

O pensamento liberta ou escraviza
Dependendo de sua índole ou teor.
A vocação libertária se divisa
No olhar, na postura e até na dor.

A dor tão opressiva e tirânica
Que produz a cruel paralisia
A toda ação vital da alegria
Que é herança nossa pois titânica.

E vamos por planícies e montanhas
Onde o homem em nós ainda hiberna
E para acordar chora e faz manhas...

E como novos rebeldes Prometheus,
Proibida aos homens por um deus
Tomemos para nós a chama eterna!

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Nota
* Thomas Cole foi o fundador da chamada Escola do rio Hudson, movimento paisagístico americano do século XIX , celebrado, que produziu magníficos pintores.

Confissão (de Alma Welt)

A Morte- óleo s/ tela de Guilherme de Faria, 50x60cm, 1965

A morte me estragou parte da vida
Pela minha consciência tão presente
Desse fantasma que me bota prevenida
Contra uma ameaça assim latente.

Quisera ser mais inocente, pueril,
Como quando para mim era distante
E morava bem no fundo do funil
Essa abantesma escura e delirante

Que jamais me ocorreria, só aos outros,
Como as guerras e demais catástrofes
Que nunca ocorriam com "nosotros"...

E eu viveria para sempre na coxilha
A burilar feliz as minhas estrofes,
Pois o Pampa era meu mar, e eu a Ilha...
 

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Palavras à Lucia (à cerca da Arca da Alma)

Foto - A famosa Arca da Alma como foi encontrada no sótão do casarão pampiano da estância Sta Gertrudes, da família Welt
.
Palavras à Lucia (à cerca da Arca da Alma)
(de Alma Welt)
 


 Tu, que és a minha mais zelosa irmã,
Serás a guardiã do meu tesouro,
Que consiste na herança temporã,
Meu espólio, que acredito duradouro.

Tu o encontrarás no nosso sótão,
A Arca que contém as minhas obras,
Desconhecidas muitas delas, outras não,
Mas lotando a cair as suas sobras...

Aí estão os frutos de minh’alma
Recolhidos na última estação,
Mas este levarei na minha palma

Talvez escrito no último momento,
Gravando em mim mesma esta impressão
De ser levada qual folha pelo vento...
_____________________________

Nota
Como podem perceber, a Lucia encontrou este soneto-testamento escrito na palma de sua irmã morta.
Alma, às vezes quando vagava pela coxilha, se esquecia sua caderneta escrevia o soneto que lhe ocorria na palma de sua mão esquerda...

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Os amigos da Poeta (de Alma Welt)

Os amigos da Poeta (de Alma Welt)

Onde estarão os amigos mais queridos
Que alegravam a casa nos bons tempos
E reliam meus poemas preferidos
Não apenas como simples passatempos


Mas por certo pra ganhar lugar mais perto
Do puro coração de sua amiga,
Ingênuo sim, ainda que esperto,
Avesso à maldade e à intriga?

Onde estarão? Que foram rareando
Ou, melhor dizendo, se esparzindo
Ou como um tecido, se esgarçando...

Tão esperta... a Poeta acaba só,
Aos novos bons amigos induzindo
A espalhar seus poemas como pó...
 

domingo, 8 de julho de 2012

Penélope cercada (de Alma Welt)

Penelope - painting by David Ligare 1984 

Penélope cercada (de Alma Welt)

Nunca mais perderei nenhum poente
À varanda, na cadeira de balanço,
Até os últimos rubores do ocidente
Deixando o horizonte, assim, de manso...

E ficarei no escuro mais um pouco
Revendo minha vida consagrada
À Poesia nascida do amor louco
Que torna esta Penélope cercada,

Assaltada por espúrios pretendentes
Que são os pensamentos que conspiram
Contra o amor, demasiado coerentes,

Que me dizem: “Renega em ti o amor
Mesmo que os seus raios ainda firam
Quando os do sol acabaram de se pôr...”
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Summertime (de Alma Welt)



Summertime (de Alma Welt)

Das benesses da Vida consciente
Eis-me, pois, uma fiel da Natureza,
Celebrando-a a cada sol nascente
E a cada despedida de tristeza

Daqueles que partem já silentes
Atravessando os batentes e as soleiras
Como o sol nos seus mágicos poentes
Nesta varanda cercada de videiras...

Os que se foram não mais lamentarei,
Ainda que umas lágrimas derrame
Pelas doces lembranças do meu rei...

E abrindo as asas, quem me dera
Produzir o meu próprio desmame
Numa destas manhãs de primavera...

Eminência Parda (de Alma Welt)

A Eminência Parda- Desenho de Guilherme de Faria, 2012, 75x100cm


Eminência Parda (de Alma Welt)

Há um nobre personagem que me cerca
E me vigia bem perto do meu leito,
E eu sei que com a Matilde ele alterca
Disputando seus conselhos no meu peito.

Ele vem de um século mui distante
Com seu chapéu de plumas inclinado,
Seu castão de dente de elefante
Na bengala como um cetro de reinado.

E o cidadão ilustre mas sinistro
Que sussurra em italiano ao meu ouvido
Minha bá me afirma que é Mefisto

Mas eu quero crer ser o Leonardo
Com seu estro que de trás pra frente lido,
Minha eminência ou conselheiro pardo...
 

segunda-feira, 2 de julho de 2012

O Anti-brinde (de Alma Welt)



Acovardar-me no último momento,
Temo, Senhor, malgrado as preces minhas
Pois o que me assusta o pensamento
É um parreiral medonho e suas gavinhas

Que produz o vinho amargo avinagrado
Com que brindamos o fim desta jornada
Que nos leva ao mesmo humano fado
Que é nossa passagem para o Nada.

E se nosso destino é mesmo esse,
Senhor, deixai que eu brinde ao meu soneto:
Foi com ele como se me abastecesse...

Deixai também que eu faça um anti-brinde
Rogando a Vós, Senhor, neste terceto:
Afastai de mim o cálice e então vinde

A Herança Maldita (de Alma Welt)


 Adão e Eva- Afresco  de Michelangelo do teto da Capela Sistina, Vaticano

A Herança Maldita (de Alma Welt)

Quê dizer das irrupções constantes
Que nos assaltam, intermitentes,
Surtos de angústia tão freqüentes
Que nos paralisam por instantes?


A consciência súbita que elas são
Do destino final de toda gente,
Nossa herança maldita da expulsão
Carregaremos, assim, eternamente?

O trauma de injustiça tal (divina)
Que nos horroriza ainda e abala
Do flagrante que a inocência mina

Transforma em culpa e até vergonha
Como a das crianças numa sala
Repreendidas por não crerem na cegonha
!...

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Auto-Imagem (de Alma Welt)

A Metamorfose de Narciso - de Salvador Dalí 

Auto-Imagem (de Alma Welt)

Entre Eco e Narciso eu balanço,
Pelo amor de mim mesma e do amado.
Mas da antiga Eva tenho o ranço
E de Lilith a sedução e o fado...

Pois o meu destino é solitário
E tenho um pouco das malditas
Se vista pelo ângulo contrário
Com que sendo amado tu me fitas.

Porém é o soneto o meu espelho
E aqui me encontras refletida
Embora só pra cima do joelho

Pois plantada estou em mim e à margem,
Como a branca flor de dupla vida:
Paixão por ti em minha própria imagem...
 

Coro (de Alma Welt)

Eco - pintura de Alexandre Cabanel 

 Coro (de Alma Welt)

Viver o bom e o justo todo dia
Seria atitude aconselhável
Se conselhos para nós fossem Poesia,
Coisa que sabemos mais instável...

Mas versos não são Filosofia,
Muito menos servem de auto-ajuda,
Que pra isso existe a livraria,
Inteiras prateleiras, Deus me acuda!

E se queres respostas não me leias,
Que estou mais para Eco das perguntas
Ou Penélope a desfazer as teias...

Mas se assim, perplexa e pasmada,
Ao coro dos aflitos tu me ajuntas,
Logo serei regente entusiasmada...
 

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Amor Luso (de Alma Welt)

Desenho de Guilherme de Faria 2012, 100x75cm

 Amor Luso (de Alma Welt)

(para ser lido com sotaque português)

Tudo já dissemos sobre o amor

Mas se amamos ainda temos a dizer
Quando este nosso coração é falador
E se a alma o talento merecer

Pois a todos é facultado amar
Mas a poucos ser seu porta-voz
Das ânsias, delicias e o pensar,
Que representa inferno e céu em nós,

Que é a nossa mente enlouquecida
Pelas falas do amor que nos tomou
Como o novo senhor de nossa vida.

E ai de todas nós... amantes e amadas!
Ou ambas como a Alma eu mesma sou,
Que então sofrermos são favas contadas...

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Minha Saga (de Alma Welt)

Foto de Mark Adamus

 Minha Saga (de Alma Welt)

Os milhares de sonetos que escrevi
Compõem uma saga inusitada
Que novamente ao reler me comovi
Qual se fora dos Farrapos a jornada

Mas com sonhos e batalhas interiores,
E só com direito a um Garibaldi
De minha espera e devoção, debalde,
Do pano verde das cartas e penhores...

Quantas noites a esperar o aventureiro!
Quantas tardes mirando na varanda
A coxilha sob o açoite do pampeiro...

Mas se de mim sinto pena e não orgulho,
Eu me alço, se o coração desanda,
Quando a alma nos poentes eu mergulho...

terça-feira, 26 de junho de 2012

Eu, Cavalo de Tróia (de Alma Welt)

Cavalo de Tróia- desenho de Guilherme de Faria

Eu, Cavalo de Tróia (de Alma Welt) 

E entrarei no coração do amado
Com sutis truques, jogos e armadilhas.
Não seria eu um tiro de petardo
Ao seu muro de profundas maravilhas

Com essa antiga ânsia de amorosa
Que vem do velho Tempo do Jardim
Quando eu me aliaria não à rosa
Mas àquela que veio antes de mim.

E como belo cavalo de madeira
Eu, imóvel e nua em sua frente
Irei fazer cair a sua fronteira.

Serei sempre um presente perigoso
Pela nossa lembrança tão carente
Do ninho no Jardim de tanto gozo...
 

Confissões de uma Alma (Alma Welt)

A Rosa da Alma-Litografia de Guilherme de Faria- 1984 

Confissões de uma Alma (Alma Welt)

Amo ser esta mulher em plenitude
De amor, sensualidade, talentosa,
Cheia de apetites e inquietude,
E legítimas defesas, como a rosa.

Bem... espinhos não, que sou de paz.
Mas eu devo confessar minha fraqueza,
Que é uma fantasia que me apraz
De sujeitar-me em nome da beleza,

E deixar-me usar, levar um malho
Como uma odalisca de mim mesma
A servir cruel sultão no seu serralho.

Mesmo sendo Alma, penetrada!
Para deixar de ser pura abantesma,
Pela falta de um corpo, inacabada...

Sonhos da Alma (de Alma Welt)

O sonho de Alma Welt com o Pavão Misterioso, óleo s/ tela de Guilherme de Faria, 2005-2012, 100x100cm, coleção do artista, São Paulo 

Sonhos da Alma (de Alma Welt)

Sonhar sonhos sozinha, não do Mundo,
Não foi o sonho a que sonhando me votei,
Pois que o sonho verdadeiro é oriundo
Da matriz universal que plena herdei.

Se não puder voar sobre a cidade
E ser a bela mulher divinizada
A quem os homens atribuem deidade,
Sendo diva, poetisa ou bem-amada,

Estou disposta a sofrer penas terríveis
E até como a Joana ser queimada
Pela fé nas minhas vozes inaudíveis.

Pois a Alma precisa de acolhida
Por seus pares ao longo da jornada
Para poder voltar em nova vida...
 

domingo, 24 de junho de 2012

Eu, Heterônimo (de Alma Welt)


EX LIBRIS ALMA WELT- por Guilherme de Faria

Eu, Heterônimo (de Alma Welt)

Se o Fernando se dizia nada ser,
Quem sou eu para que diga ser-me alguém?
É verdade que era Álvaro a dizer
Mas no Mundo estou em mim não em ninguém.

Criada pelo artista que é poeta
Deu-me ele uma vida poderosa,
E dotou-me de veia nada asceta,
Que exponho aqui em verso e prosa.

E quem duvidar de minha existência
Basta ler-me, estou toda nos meus versos,
Mais viva do que as gentes de aparência.

Pois poucos podem provar puros poderes
Tão amplos como os meus versos dispersos
Por corações e mentes de outros seres...

Sonhos da Alma (de Alma Welt)

Sonhos da Alma (de Alma Welt)

Sonhar sonhos sozinha, não do Mundo,
Não foi o sonho a que sonhando me votei,
Pois que o sonho verdadeiro é oriundo
Da matriz universal que plena herdei.

Se não puder voar sobre a cidade
E ser a bela mulher divinizada
A quem os homens atribuem deidade,
Sendo diva, poetisa ou bem-amada,

Estou disposta a sofrer penas terríveis
E até como a Joana ser queimada
Pela fé nas minhas vozes inaudíveis.

Pois a Alma precisa de acolhida
Por seus pares ao longo da jornada
Para poder voltar em nova vida...
 

sábado, 23 de junho de 2012

La belle-au-bois dormant (de Alma Welt)

A Bela Adormecida - Litografia de Guilherme de Faria
La belle-au-bois dormant (de Alma Welt) 

Pressentimentos temos todas, vós sabeis...
Não por isso vamos nos vangloriar,
Que alardeados sentidos temos seis,
Mais pra fardo do que pra se orgulhar.

Quando guria os mortos já eu via
Antes mesmo deles se passarem desta,
Coisa que se ao morto não alivia
Também à vidente pouco presta.

Mas se da morte não podemos nos livrar,
A cataléptica espera de um amado,
Aquele mesmo que virá nos despertar

Do acordado sonho em que vivemos
Como eternas donzelas do passado...
Quando livres deste sono nos veremos?
 

sexta-feira, 22 de junho de 2012

O cervo ferido (de Alma Welt)

O cervo ferido - de Nikolai Roerich

 O cervo ferido (de Alma Welt) 


Às altas montanhas eu irei
Nem que seja como o cervo ferido
Que busca o platô de sua grei
Pra sozinho não morrer quando perdido.

Mas se me for dado na subida
Encontrar um ser benevolente
Não lhe negarei minha ferida:
A cada um o que é de toda gente...

Pois aquele que se furta aos carinhos
É tão triste quanto o que se mostra
Buscando a atenção de seus vizinhos.

E morrer nos braços de outro ser
Se a escalada vã enfim lhe prostra
É como ao Éden tornar a pertencer...
 

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Eu, flores e penas (de Alma Welt)

Pintura de John William Waterhouse 1849 – 1917 

 Eu, flores e penas (de Alma Welt) 


Quisera ser mais simples entre as flores
Não ouro rubro como minhas melenas
No jardim que me acolhe as tristes penas
E me aliviam o coração de suas dores,

Também as brancas, as roxas e as azuis,
Que todas sempre me consolam de ser eu
Com esta carga de missão a que me impus
De projetar o que a Poesia me cedeu,

Que é o viver na face dos espelhos
Refletindo-me assim tempo integral
Bem mais que pele alva e estes vermelhos.

Pois como alma aberta em carne viva
Sou eu mesma meu jardim mais visceral
A confiar que a primavera me reviva...
.
21/06/2012

A sacerdotisa de Orfeu (de Alma Welt)



A sacerdotisa de Orfeu (de Alma Welt)

Acredito que não há pecado em mim
Se não tenho a intenção do mal.
Me perdoem afirmá-lo, é assim:
Para um puro coração tudo é normal


Desde que a bondade reja tudo
E a alma generosa se compraza
Até com a sorte do sortudo
E o jardim mais verde da outra casa.

Pois mesmo a santidade é acessível
Para uma prenda letrada como eu
Criada por um sábio inexcedível

Que experimentou forjar-me uma pagã
Votada ao culto arcaico de Orfeu,
Que lhes garanto não ser doutrina vã...

O Balanço (II) (de Alma Welt)

O Balanço - pintura de William Stephen Coleman

O Balanço (II) (de Alma Welt)


Há ainda a guria do balanço
Dentro desta alma minha tão vivida.
E não é passadismo ou mesmo ranço
Voltar sempre ao jardim da velha Frida,

Minha avó alsaciana e feiticeira
Que plantava flores e ervas mágicas,
Enquanto o meu avô, sua videira
Ouro a nos render invejas trágicas...

E sempre me reporto a este canto
Cercado de uma cena projetada
Como esta alva pele por um manto.

E eis de mim a imagem que restou,
No trapézio pueril dependurada
Onde minha fantasia começou...
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segunda-feira, 18 de junho de 2012

O Labirinto (de Alma Welt)


O Labirinto (de Alma Welt) 

Que a vida tem surpresas todos sabem,
Não podemos só com a lógica contar...
A seqüência dos fatos que nos cabem
Nunca nos leva para idêntico lugar...


A cada um destino próprio e inusitado,
Eis o mistério de estar vivo: não saber
Se o gato em nossa noite é todo pardo
Ou se brilhará no escuro o nosso ser.

A que viemos? Alguns temos certeza,
Quando somos poetas ou artistas,
Que isso basta para produzir clareza...

Pois se na grande noite afundaremos,
Que luminosas sejam as nossas vistas
Se o fio do labirinto não herdemos...
 

domingo, 17 de junho de 2012

O Rapto (de Alma Welt)

Desenho de Erl King Sterner

O Rapto (de Alma Welt) 


Galopa meu pingo em noite escura,
Não pára e me leva como o vento!
Sei que a velha Morte me procura,
Não ouso pousar meu pensamento!

Ela me abraça! Socorre-me Galdério!
Vem em meu auxilio, gaucho macho,
Que já não tenho pai, nem refrigério
Sem ter perto teu chapéu de barbicacho...

Da Moira a mão magra me ameaça,
Com seu manto me envolve em disparada
Embora juras e promessas vãs me faça.

Na voragem desta noite de perigos,
Como em fuga de paixão eis-me levada.
Peão, corre e avisa os meus amigos!
 

Amarelinha (de Alma Welt)

Amarelinha (de Alma Welt) 

Minha alma tem saudades da criança
Que ela foi há muito no passado,
E lhe sente ainda a ressonância
No seu labirinto ensimesmado.

E ela me vê pular a amarelinha
E a brincar de pique e “acusado”
Quando já me encontro ali sozinha,
Sílabas a contar pelo meu prado.

Perdoa, minha alma, ter crescido
Como se fora velha de um milênio,
O coração não tendo envelhecido...

Pois, pelo contrário, me tens jovem,
Enquanto descansando de teu gênio
Contemplas esses jogos que comovem...
 

Poentes e Memórias (de Alma Welt)

Foto de Marc Adamus 

Poentes e Memórias (de Alma Welt)


As memórias generosas que guardei
Suportam-me na escura solidão
Deste isolamento a que cheguei
Com a partida de pais, irmãs, irmão...

É verdade que me restam a Matilde
E Galdério, fiéis a toda prova,
Que me dão a medida do humilde
Senão, no orgulho meu, diária sova...

Todavia já me ponho na varanda
A fazer tão cedo este balanço
Da vida como foi e como anda.

Mas mirando os poentes deslumbrantes
Eu vejo que aqui não cabe ranço
Pois me levam tão distante como antes...

sexta-feira, 15 de junho de 2012

A cortesã- desenho de Guilherme de Faria, 75x100cm

A cortesã (de Alma Welt)

Há uma cortesã que mora em mim
Embora não seja ela a única,
O que me impede oferecer-me assim
E a nudez cobrir-me com a túnica.

Cercada estou eu de alcoviteiras...
Me desculpem Matilde e a Solange,
Não esperem que me venda pelas feiras,
Mas todo casamento me constrange.

É mais fácil pensar-me mais rampeira
Oferecendo-me de graça ou por tostões
Do que aprisionar esta pampeira...

E anel jamais porão, ou uma coleira,
Nesta Alma de poesia aos borbotões,
Eu, que de mim já sou a estancieira...

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Oração ao Tempo (de Alma Welt)


Oração ao Tempo (de Alma Welt) 

Que meu tempo não seja só a espera
De conclusões ainda que felizes,
Nem o da caçada de uma fera,
Sem a fera, ou só levante de perdizes...


Que não seja mero jogo, desfastios,
Muito menos o de mil cartas marcadas,
Ou daqueles que ficaram a ver navios
E do ônibus a espera nas calçadas.

Que meu tempo não tenha sido em vão
Ou somente aperitivo pra Saturno
Enquanto o deus aguarda o seu filão.

Mas que seja eu mesma a iguaria
Enquanto avança Cronos por seu turno,
Pra devorar a mim e à minha Poesia...