sábado, 1 de outubro de 2016

Mar-coxilha (de Alma Welt)

                                   Alma na colina dos mortos - óleo s/ tela de Guilherme de Faria

Mar-coxilha (de Alma Welt)

Um corvo me segue na campina
E só eu o enxergo, acostumada
Com ele que estou, e que me ensina,
Sobre coisas além de minha alçada.

Sim, sobre o que dizem os mortos
E como não sentem nossa falta,
Atracados que estão em novos portos,
Suas velas já sem a cruz de Malta. *

Mas nós aqui em plena travessia
Precisamos da esperança e do grog, *
Que a seco tanto mar não se aprecia.

Ondas imóveis na neblina como um fog *
Me espera, eu sei, no fim do mar-coxilha
Ao longe no horizonte a minha ilha ...

.
01/10/2016

Notas
*Suas velas já sem a cruz de Malta - Alma se refere dessa maneira metafórica, às lápides brancas dos túmulos, como velas, sem a cruz que as das caravelas portuguesas e espanholas ostentavam.

*Precisamos da esperança e do grog - "grog" era como se chamava a dose de rum distribuída aos marinheiros no fim de cada semana nos navios, sob pena de motim se faltasse...

*Ondas imóveis na neblina como um fog - as ondas imóveis são as ondulações típicas da coxilha gaúcha, e "fog" é a palavra inglesa para neblina, tanto na terra como no mar.

Nenhum comentário: