sábado, 7 de outubro de 2017

Contos de minha boemia (I) (de Alma Welt)

Eu costumava entrar em certo bar
Na cidade no meu tempo de boemia,
Procurando, disfarçada, com o olhar
Aquela por quem meu coração gemia.

E tomava uns tragos feito homem
No balcão como se no Velho Oeste
E não onde os proletários comem
O prato feito de que fujo como peste.

Mas um dia, o barman que era o dono
Sussurrou-me ao ouvido no balcão
Uma espécie preventiva de abandono...

Disse:"Alma, tua gata não vem mais,
Não somente por amor da profissão,
Mas de medo desse olhar verde demais..."

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07/10/2017

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Contos de minha boemia (II) (de Alma Welt)

Eu caminhava nas ruas noite e dia
Procurando o amor que me faltava
E a me prostituir mesmo pensava,
Que àquela altura eu pouco me valia.

Alma perdida de mim mesma, ainda bela,
Quanto perigo corri sem me dar conta,
Chegando a dormir numa viela
E acordando cercada e meio tonta.

Foi quando umas freiras caridosas
Me levaram com elas pro convento
E me puseram pra cuidar das rosas.

Mas um dia a Superiora disse assim:
"Tua poesia é para o mundo e para o vento,
E Deus me disse pra te liberar enfim..."

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07/10/2017


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Contos de minha boemia (III) (de Alma Welt)

Não eram verdes tempos, mas cinzentos,
Minha casa estava longe e a inocência
Dos meus dias nos campos e nos ventos
A colher flores em torno da querência.

Agora estava solitária e à deriva
Como o barco embriagado de Rimbaud
Em que de certo modo ainda estou,
Mas queria experimentar a vida viva...

Corria ruas de Montmartre e Montparnasse
Como o faziam Lautrec e Modigliani
Que bebiam o absinto que calhasse...

Mas então disse: Chega! O que preciso
É alguém que me queira, e que se dane:
Vou voltar para o meu pampa e meu juízo.

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07/10/2017

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