quarta-feira, 9 de maio de 2018

"Por quem os sinos dobram" (de Alma Welt)

Eu gostaria de ter sido só amor,
Sem dor, ressentimentos e ironia
Que se estes marcaram minha poesia,
Revistos quase ferem meu pudor.

O espelho da poesia não é qualquer,
Muito menos como um espelho de cristal
Lisonjeiro que devolve o que se quer,
Mas terrível, zombeteiro e quase mau.

A poesia é esse dom de solidão
E por nós os amigos vestem luto
Ou nos dão essa precoce sensação...

Pois os versos seu pacto nos cobram
Como ao Fausto a beleza do minuto
E somos vivos "por quem os sinos dobram"...

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09/05/2018

Notas
* "Por quem os sinos dobram"- Este verso célebre ( ...for whom the bells tolls...) são do poeta inglês elisabethano, John Donne (contemporâneo de Shakespeare) O poema a que ele pertence, começa assim: "No man is an island.."" Nenhum homem é uma ilha, somos todos parte do continente)...e termina : "Por isso não pergunte por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti."

*...seu pacto nos cobram/como ao Fausto a beleza do minuto - alusão ao pacto que o insatisfeito e entediado Fausto ( no grande poema dramático de Goethe) faz com Mefistófeles (encarnação do Diabo), segundo o qual se através das dádivas e poderes que o demônio lhe proporcionasse, num momento de satisfação e deslumbramento dissesse afinal "ao minuto que passa" : "Pára! És tão belo! ", o pacto cessaria, e pelo contrato ele morreria e a sua alma seria levada por Mefistófeles. Mas no final, inusitadamente Deus caloteia o Diabo (tratava-se de uma aposta de Deus com o Diabo pela alma do sábio recluso) e manda um anjo serafim sedutor em evoluções e meneios despertar a luxúria do diabo na hora da saída da Alma do corpo de Fausto, distraindo-o com sua beleza adolescente e tentadora, O serafim se aproveita da distração e escamoteia a Alma de Fausto levando-a para o céu. Deus, que perdera a aposta... ludibria o Demônio.

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