domingo, 11 de novembro de 2007

Dueto de Alma Welt com Anderson Julio Lobone


Fac-símile do manuscrito do soneto final da Alma para o dueto que ela mantinha com o poeta Anderson Julio, no Recanto das Letras. Encontrei há dois dias este soneto inédito, que pelo visto Alma não teve tempo de publicar em sua página lá no RL, ora apagada.

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Dueto de Alma Welt com o excelente poeta carioca Anderson Julio Lobone, que ocorreu no Recanto das Letras entre 02/01/2007 e 18/01/2007, lamentavelmente interrompido pela morte da Alma dois dias depois (em 20/01/2007).



02/01/2007 13:33 hs

Alma , simplesmente lindo.
Parabéns!

Anderson Julio

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02/01/2007 - 15:15 hs

Obrigada Anderson querido

Continua me lendo sem parar...
pois navegares em mim é preciso
para que eu, como Narciso
possa nos teus olhos me banhar

(risos)

Beijos da Alma

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02/01/2007 - 15:28 hs

Mas o que dizes alma minha?
Também necessitas do lago espelhado?
Aquele em que me afogo encantado
ao me ver em cada linha?

Em minh'alma as vaidades voam,
minhas linhas tolas se insinuam
como as tuas poesias flutuam
e em tua pele branca ressoam

Vai segue encantando por ai
pobre daquele que olha em ti
e se perde lá pelas tantas

Pois dizem os poetas do Rio
que o perigo além do frio, são
as musas que vêm dos pampas

(risos)

beijos na Alma


Anderson Julio

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02/01/2007 - 17:57 hs

Ah! Belo poeta carioca...
Não poderias fazer-me maior loa
Do que aplaudir-me como foca
E dizer que a poesia em mim ressoa.

Resisto aos galanteios e louvores,
Sei bem as intenções que eles escondem;
Outrora me perdi pelos amores,
Não vi a que armadilha correspondem.

Juro, porém, que estou tentada
Ultimamente a deixar-me apaixonar:
Li uns teus poemas, e encantada,

Ouvi aquele canto de sereia
(que há muito não ouvia assim cantar)
mas o canto vem da praia e... entra areia!

Alma Welt

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02/01/2007 - 19:27 hs

Mas será o Benedito?
Até nisso parecemos!
Foi o dito por não dito
os amores que vivemos?

Causa-me sim calafrios
pensar em me apaixonar
Até me atiro nos desvios
para dos amores escapar

sinto paz em caminhar só
sem amarras, sem buquê...
sem estar minha vida em nó

nenhum canto em meu ouvido...
mas se tu me sussurras "ô tchê"
me pergunto: estarei perdido?

Anderson Julio

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02/01/2007 – 22:03 hs


Não será por certo "o Benedito",
e já que queres o meu "ô tchê"
eu antes prefiro aquele Che
que era guerrilheiro e bonito.

Mas tenho que reconhecer teu charme
de poeta carioca e quarentão
que sabe versejar com precisão
e não teme a ironia revidar-me.

Pois começo a acreditar que este dueto
Vai dar samba, fandango ou fará rir
Pelo insólito do tom e do moteto

Que entre o praiano e a pampiana
Muito verso flertado há de vir,
Antes de vir a ser Copacabana...

Alma Welt

( - Oi Anderson. Que tal irmos publicando nosso dueto em nossas páginas do Recanto? )

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02/01/2007 - 23:11 hs

“Do dito “40tão” charmoso para a Gaúcha Invisível”

Lá se vai minha vidinha calma
que agora contigo se depara.
te disfarças a falar de Guevara
Mas só queres é ser minh'alma

Revido-te sem dó e sem pena
pois se eu te der minha paixão
levas o perfume tal qual canção
como o de uma flor de açucena

Se o dueto tem fim, não sei
como as brisas das paixões
como as tantas que eu tentei

Mas deixe minha poesia confusa
pois já temos os nossos senões.
Ou já não te basta ser a musa?

Anderson Julio

(- Pode ser sim Alma... como quiseres! Bj )

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03/01/2007 – 02:44 hs

Queres a vidinha, a moleza?
Não há paz para quem é da poesia!
Se sou tua musa, com certeza
Vou espicaçar-te à agonia.

Mas se tu revidas-me sem pena,
Que pode uma alma depenada,
Se penada já estou nesta roubada
Com quem já me fala de "açucena"?

Dizes que tua poesia anda confusa!
Confusa estou eu, musa difusa,
Oclusa, inconclusa, semifusa...

Perdi o senso e, obtusa, até o fuso
Com que tecia a trama em forma lusa
Com que dava o verso por concluso.

Alma Welt

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06/01/2007 - 03:23 hs

Não há roubada no poeta do bem
nem agonia na hora da estrela
Não construo a utopia de vê-la...
espicaçar-me? A mando de quem?

Mas hei de escapar de tuas teias
com frases de efeito... escapismo...
E de tuas telas de puro lirismo
me defendo com semicolcheias!

Se tu falas do poeta carioca
quarentão, de olhar traiçoeiro
que a tua poesia assim retoca

É por que tua alma se expande
nas luzes do meu Rio de Janeiro
e no perfume do teu Rio Grande.

Anderson Julio

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07/01/2007 – 22:30hs

Estou muito tentada a dar-te a palma,
Se não o faço é por orgulho de mulher.
Diz o lado mais passivo de minh'alma:
"Deixa o poeta dizer o que quizer..."

Mas então vem uma onda de pudor
e levanta o meu brio e o meu estro:
preciso defender-me com ardor,
pois tal poeta, é sinistro ou é destro?

Cabe a ti, Alma confusa, decidir
se aceitas galanteios meios dúbios
revelando ardores de desertos núbios
que não parecem de uma praia vir.

E então entre temor e tentação
eu prefiro terçar armas de soneto
e desejar que num último terceto

Eu o faça sentir a sensação
de ter vencido(que a derrota muito dói)
dizendo aquele doce: "Meu herói!"

Alma Welt

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07/01/2007 – 22:58 hs

Não te aflijas poetiza sem rosto
Este poeta vazio nada te pede.
Guarde as armas, que isto posto
Minha alma, só poesia te concede.

Não me dê a palma, nem o sonho
Só os versos que ainda me puderes
Nada mais que isso eu te proponho
Mas te dou a maresia se tu quiseres

Pouco sei de ti, moça da terra do frio
Somente nuances de tuas rimas belas
Tão longe no Rio, em tempo de estio

Eu faço canções que valem um vintém
que farão dançar teus contos e aquarelas
e te dizer que eu apenas te quero... bem!

Anderson Julio

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08/01/2007 - 16:08 hs

Me chamas poetisa sem rosto
E acho que não devo a ti mostrá-lo
Pois o mistério tão a gosto
Iria num instante pelo ralo.

O que é o mero palmo desta cara
Bonita ou bela, diante da poesia?
Quem a vira ou quem um dia a amara,
Antes não devera à fantasia?

Perdoa, nem o palmo nem a palma,
Se dou a face logo quererás a Alma
E em troca me darás tuas maresias

Que confesso, declino e agradeço
Pois sendo deste sul das pradarias
Mareada estou antes mesmo do começo...

Alma Welt

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08/01/2007 - 18:05 hs

Ah poetisa, mas o que tens afinal?
Achas que a aparição de tua face
será desenlace para meu carnaval
ou de um desencanto que nasce?

Não me temas, mas não te iluda
esses teus olhos, espero não têlos
até carrego o meu galho de arruda
pra que eu resista a tais pesadelos

navegues o mar que quiseres então
não te preocupes com meu olhar só
eles confessam cada noite em vão

E meu caminho de poesia tão rara
é cantada em acorde perfeito maior.
Então, nem precisas mostrar tua cara.

Anderson Julio

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09/01/2007 – 02:46 hs

Não confio no teu desencanto
Pois quem desencanta quer cantar
E minha face tem, eu te garanto
Um carnaval de encantos para dar.

Como podes chamar de pesadêlos
Os sonhos que já te fiz sonhar?
Diante do impossível que é tê-los
Galho de arruda não vai adiantar.

Se só navego em mares onde há pó
Embora me preocupe o olhar só
Que tu mesmo confessas ser em vão,

Era uma vez uma poesia muito rara
Que não podendo ter o que amara
Desiludida posava de ilusão...

Alma Welt

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11/01/2007 - 00:58hs

Tu me dizes ser tão bela
branca, loira... irresistível
retratada sempre em tela
Deusa nua e invencível

Mas já penso no contrário
que nao passa de cascata
nesses contos do vigário
tu pretendes ser exata

teu intuíto é apenas seduzir
o poeta do rio que te encanta
que te faz sonhar e presumir

olhares doces e um fino trato
da voz grossa que hoje canta
e que muito te seduz... de fato

Anderson Julio

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12/01/2007 – 01:07hs

(Lá vai Anderson... rsrsrs... )


Bela fui, sou, continuarei,
Pois somente quem não gosta
De mulher ou quem é gay
Faria essa tua aposta.

Cascata na minha vida...
Somente a da minha estância,
Que ao me leres com constância
Te ficou meio embutida.

Nunca, jamais vigarista
Mas teimando em ser exata
Estou mais para analista

De uma figura inexata
Que pretende ter voz grossa
Longe do fino e da bossa.

Alma Welt

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12/01/2007 – 10:51hs

(Seguuuuuuura gaúcha! Rsrsrsrs)


Agora eu tenho mais certeza
daquilo que eu já pensava
tu vens blefando tua beleza
a cada um que te encontrava

Se tu tens preconceitos, não sei
mas tuas nuances estão turvas
ao insinuares que eu seja gay
por não desejar as tuas curvas

Mas isso é pertinente a quem
não confessa os seus desejos:
Pisa, xinga e trata com desdém

Se contradiz, indo na contramão
pois tu já desejas meus beijos
e de mim só tens o meu... não!

Anderson Julio

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13/01/2007 – 02:32hs

Examinei com cuidado, isso sim
e cheguei à conclusão, ora veja,
que, noblesse oblige, cabe a mim
levantar o nível da peleja.

Se não podes ter cavalheirismo
de levar uns tapinhas de mulher
sem passares recibo de machismo
e queres dos meus dotes desfazer,

Proponho,pois, vamos mudar o diapasão,
Que até as leoas desconfiam
Da pata mais pesada do leão.

Pois motivo de brigarmos eu não vejo,
que leoa e leão já perseguiam
A mesma caça: o verso e seu ensejo.

Alma Welt

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(Alminha, depois da bossa nova chegamos ao Funk)

13/01/2007 - 20:05hs

Aqui fico a pensar no que me dizes
E até me proponho a uma reflexão
Estará a gaúcha banhada em crises,
Ou será apenas delírio da solidão

Tantos os adjetivos que me falas?
Pata pesada, gay, também machista
Cavalheirice e ternura assim tão ralas
Alguém a ser deixado longe da vista.

Pobre de mim tão cheio de adjetivos
De lirismo e poesia tão pouco vivos
Alvo fácil da uma vaidade que corrói

Eu que um dia só queria tua poesia admirar
Hoje lembro: Quem desdenha quer comprar
Quem foi que disse que “um tapinha não dói”?

Anderson Julio

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14/01/2007 - 00:18hs

( Iiihhh, Anderson, acho melhor a gente mudar
o tom do nosso dueto, que virou duelo,
e começa a machucar...
Mas como sou vaidosa... Aliás somos!!! rsrs
Vamos recomeçar devagarzinho, topas? )



Ah! Na verdade estou magoada!
Preferia o poeta que queria
Pelo menos uma fotografia
Desta Alma agora perturbada...

Ao defender-me, ataquei-o e me detesta
e agora não vejo mais o jeito
de recuperar o lúdico da festa,
pois o poeta traz rancor no peito,

E parece ter torcido ou esquecido
suas loas que fizeram ter início
este dueto que virou um estropício

dum duelo dúbio e amesquinhado
por vaidade de um e outro lado,
E que melhor era nunca ter nascido...

Alma Welt

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14/01/2007 - 04:46hs

( E me diga porque se contigo for, não topar?
Outra vez...aponte a direção que eu te sigo...
Alma minha... ou quase...rsrsrs
Isso não estava previsto em minha vaidade...rsrs
Entregamos as armas enfim...
Isso não cabe em mim...
Machucar vc nem pensar...
Nossa poesia só há de cuidar!
bj )



Uma Alma magoada, juro não queria.
Por mais que não assuma, confesso,
espero ancioso, a imagem que pedia.
Teus carinhos leves, espero regresso.

E do sorriso leve que ainda não vejo
ao dizer: Ah Anderson... quase muda
ante minha "fina moldura" de desejo
ao largo dessa tua poesia tão aguda

Nossas vaidades, essas armas letais
agora deixadas rumo ao nunca mais
é como a alvorada em nossa canção

Se esses poetas ferinos e amantes
não sabem compor a poesia de antes,
então de que valeu tanta inspiração?

Anderson Julio

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14/01/2007 - 12:52hs


(Ops! Anderson, perdoa, estou meio perdida nos meus textos... Não encontro na minha caixa a tua resposta anterior... sumiu. Ando louca.)


Ah! Agora me puzeste aliviada,
conquanto não possa aliviar-te,
pois me queres só fotografada
enquanto dou somente obras de arte.

Mas quanto ao sorriso que desejas,
esse já tens, eu te garanto
com a condição: que não me vejas
senão por muito tempo, por enquanto.

Não posso desvelar meu frontispício,
muito menos ao público fiel
que me faz propor-te este armistício,

Pois junto com o mel há algum fel:
"Na bela face uma máscara de giz,
a esconder uma feia cicatriz..."

Alma Welt

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14/01/2007 - 13:08hs


(Alma... De fato estamos perdidos... rsrsrsrsrsrs Bj)


Alivia-me por estares agora sob a paz
ao cerrarmos nossos olhos ao combate.
A imagem de tua poesia é que me apraz,
Com nuances de bombachas, cuia e mate.

Poeta do Rio, entre samba e rock and roll
Se treme ante o frio, do cortante minuano
Imagina tua face, escondida de onde vou,
Branca seda luminosa, salvo meu engano.

Como disse em esquecível hora...ríspida,
Me basta saber desses teus belos versos,
Para te ter aqui numa imagem límpida.

A malandragem carioca e a bravura do sul,
De mãos dadas e de verbos assim diversos,
Agora querem poesia, em tonalidade... azul.

Anderson Julio

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15/01/2007 - 10:58hs

Que bom que afinal te conformaste
e aceitaste a bandeira branca
que produziu tão logo esse contraste
entre aquela e esta forma franca

de nos comunicarmos sonetando
tu na praia e eu na pradaria,
porquanto o alvo véu me respeitando
tu chegaste bem mais perto da guria

e concentrando no meu verso a atenção
poderás ver talvez ainda este ano
a beleza final de minha canção:

meu rosto finalmente desvelado
como o pampa após passar o minuano
e ao sol do teu Rio revelado.

Alma Welt

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16/01/2007 - 17:52hs

( Nossa Alma... estamos tão amáveis que até estranho... rsrs Bj )


Não te preocupa, minha guría.
Já fiz morada nas terras do sul.
O rosto crescido nas pradarias
há de ser mais belo que o azul

do céu dessa minha guanabara
onde recordo a face da prenda
que esse poeta se apaixonara...
Mas não poetisa, não se ofenda.

Em tua face hoje ainda velada
de certo está todo o encanto
que em tua poesia é contada

Das moças dos ventos sulistas
confesso estão por enquanto
entre as mais belas já vistas.

Anderson Julio

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16/01/2007 - 18:54hs


Não sei se a morada que fizeste
é metáfora ou ali já habitaste,
mas o sul que sou não conheceste:
extrema sou como jamais pensaste.

E só temo, ao me conheceres,
Não a decepção pelo meu rosto,
mas por teu coração, por assim seres
e no pedestal me teres posto.

Sim, sou a prenda mais sulista
que o vento do pampa já banhou
e entre as mais belas dou na vista

E sei que ao me veres algum dia
no meio da massa como estou,
dirás: "Ali está a Alma que eu não via!"

Alma Welt

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18/01/2007 - 10:38hs

(Acho que isso vai virar livro... rsrsrs Bjs)


Vivi por longos anos nestas terras
Entre as araucárias e os fandangos
Nas danças mais frias dessas serras
Tão longe dos sambas e dos tangos

Vida escrita em poesia, inesquecível
Um poeta carioca ali tão encantado
por mulheres de olhar inconfundível
histórias de um tempo ora intocado

E agora tu vens em meu caminho
trazendo a pele branca em neve
e os cabelos leves, como um ninho

Onde em versos tantos fazem pouso
no aconchego dessa tua poesia leve
que em pensamento, é meu repouso

Anderson Julio

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O soneto acima foi o último do dueto dos dois poetas a ser publicado no Recanto das Letras. No dia 20/01 Alma foi encontrada morta, afogada no poço (pequeno lago) da nossa cascata aqui na estância, não muito distante da sede. Alma silenciara. Entretanto, há poucos dias atrás, encontrei na montanha de textos inéditos da Alma dentro de uma arca no sótão aqui do casarão, e que descobri uma semana após o falecimento de minha irmã, uma folha de papel solta que continha o soneto manuscrito que aqui transcrevo e que me parece ser uma nítida resposta ao último soneto do poeta Anderson Julio no dueto. Tomei a liberdade, portanto, de transcrevê-lo aqui, acreditando que a Alma aprovaria, pois acredito que ela apenas não teve tempo de publicá-lo na sua página no RL. Ei-lo:

19/01/2007


Como pudeste entre fandangos e araucárias
ter vivido sem saberes desta Alma?
Informações e pistas tão precárias
não ajudam como as linhas da minha palma

onde procuro encontrar-te em meu destino:
linha imprecisa, tênue, vaga ou morta
como no prado ao passar nosso rei Mino*
nublando por instantes nossa rota.

E ora me vês neste caminho virtual
vagando branca para ti qual Blancanieves,*
os cabelos como um ninho de pardal...

Bah! guri poeta, a mal não leves
mas estou num turbilhão em teu repouso
como Francesca abraçada mas sem pouso...

Alma Welt

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Notas da editora:


* Rei Mino- era como Alma chamava o vento Minuano que ela temia e respeitava, como um ícone de sua mitologia poética particular.

* Blancanieves- é como os "castelhanos" (uruguayos e argentinos) aqui no Pampa se referem à personagem Branca de Neve.


Este pode ser portanto o último soneto escrito por Alma (seu parceiro do dueto provavelmente não o conhece) já que não tenho como saber se foi escrito antes ou depois de A Carruagem, pois Alma infelizmente não registrava os horários nos seus textos. O que me inquieta é que mesmo com a dose de humor típica da Alma, vejo neste soneto uma nota de inquietação e tormento ao fazer alusão ao episódio de Francesca da Rimini (e Paolo) do segundo círculo do Inferno na Divina Comédia de Dante Alighieri, que ela conhecia tão bem e com cujo turbilhão eterno e sem pouso ela parece identificar sua vida naqueles instantes finais, talvez pressentidos. (Lucia Welt)

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