Alma Welt - óleo s/ tela de Guilherme de Faria 2012, 30x40cm
Sonhos, não projetos (de Alma Welt)
Sonhos, não projetos, acalento,
Que não tenho energia para tanto,
Além do versejar que é meu talento
A vagar pela coxilha, meu encanto.
Creio que a Poesia é ociosa,
Nada tem a haver com o trabalho
E planos materiais próprios da prosa,
E sim com malmequeres ou baralho,
Pois o verso é um eterno deitar sortes,
E surpresas com o jogo dos arcanos
Ou naipes que nos caibam após os cortes.
E para ser poeta é só preciso
Nada esperar dos nossos verdes anos
Além do amor, suas dores, algum riso...
Este espaço é destinado às diversas séries de sonetos da poetisa gaúcha Alma Welt, que, mais genéricas, não se enquadrem nos outros blogs da poetisa, de séries mais específicas, como os eróticos, os metafísicos, etc. (vide lista de seus blogs)
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
Pequeno auto-retrato (de Alma Welt)
Pequeno auto-retrato (de Alma Welt)
Sou fiel a estes campos de amplidão
Que moldaram minha alma de guria,
Sou fiel a estes campos de amplidão
Que moldaram minha alma de guria,
E se hoje tenho larga a minha visão
Devo a esta especial topografia...
Mas muitos objetam: não sou prenda
E não abaixo os olhos ante os machos;
Não aceito que um antigo me repreenda
Por nunca ostentar fitas nos cachos.
Entretanto não confirmarei o boato
De que nua desço ao fundo das cisternas
Por um obscuro e espúrio pacto...
Mas se correndo arrepanho minha saia
Ofereço o pudor das minhas pernas
Da cor de uma donzela que desmaia...
Devo a esta especial topografia...
Mas muitos objetam: não sou prenda
E não abaixo os olhos ante os machos;
Não aceito que um antigo me repreenda
Por nunca ostentar fitas nos cachos.
Entretanto não confirmarei o boato
De que nua desço ao fundo das cisternas
Por um obscuro e espúrio pacto...
Mas se correndo arrepanho minha saia
Ofereço o pudor das minhas pernas
Da cor de uma donzela que desmaia...
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
Dia a dia (de Alma Welt)
Desenho de Guilherme de Faria 2011, 75x52cm
Dia a dia (de Alma Welt)
Desde aqui desta janela do nascente
Medito a vida e o mundo ao levantar,
Por um minuto vago, quase ausente
Antes da alma e o pé no chão pousar.
Desde aqui desta janela do nascente
Medito a vida e o mundo ao levantar,
Por um minuto vago, quase ausente
Antes da alma e o pé no chão pousar.
Depois de longo e talvez feio bocejo,
E mais comprido e menos feio espreguiçar,
Vou ao copo d’água e o gargarejo
Como quem daqui pra diante vai cantar...
Mas, sim, meu corpo canta o dia inteiro
Da enorme alegria de ser bela
E de haver tantas flores no canteiro.
Escrever... báh! é outro canto...
Que não sou senão pequena vela
A iluminar de noite o meu espanto...
E mais comprido e menos feio espreguiçar,
Vou ao copo d’água e o gargarejo
Como quem daqui pra diante vai cantar...
Mas, sim, meu corpo canta o dia inteiro
Da enorme alegria de ser bela
E de haver tantas flores no canteiro.
Escrever... báh! é outro canto...
Que não sou senão pequena vela
A iluminar de noite o meu espanto...
terça-feira, 4 de dezembro de 2012
O Círculo das Horas (de Alma Welt
Pampa- foto de Edelweiss Bassis
O Círculo das Horas (de Alma Welt)
Quê mal se foi o vinho pro vinagre
E que nossos leitores foram poucos,
Se um círculo de doze nos consagre
Com o obstinado amor dos loucos?
Mesmo se eles foram apenas horas
Que nos acompanharam persistentes...
Já no berço debruçam estas senhoras
Com os esgares de seus tics dementes.
E nos levam na vida estas madrinhas
Num galgar renitente, quase aflitos,
Como a hera lança suas gavinhas...
E se por fim adentramos o portal
Que não nos seja cheio de mosquitos *
E enfrentemos o funil até o final...
_______________________________
Notas:
* que não nos seja cheio de mosquito- Logo que Dante convidado pelo poeta romano Virgilio adentra o portal do Inferno, ele vê uma multidão de almas atormentada por um enxame de moscas e que se debatia eternamente naquele vestíbulo. Dante pergunta a Virgílio: "Quem são estes?" E o poeta-guia responde: "Estes são os covardes. Olha e passa."
Com os esgares de seus tics dementes.
E nos levam na vida estas madrinhas
Num galgar renitente, quase aflitos,
Como a hera lança suas gavinhas...
E se por fim adentramos o portal
Que não nos seja cheio de mosquitos *
E enfrentemos o funil até o final...
_______________________________
Notas:
* que não nos seja cheio de mosquito- Logo que Dante convidado pelo poeta romano Virgilio adentra o portal do Inferno, ele vê uma multidão de almas atormentada por um enxame de moscas e que se debatia eternamente naquele vestíbulo. Dante pergunta a Virgílio: "Quem são estes?" E o poeta-guia responde: "Estes são os covardes. Olha e passa."
A Noiva do Capitão (de Alma Welt)
A Mulher do Capitão- litografia de Guilherme de Faria
Do capitão a noiva, sempre à espera,
Saudosa e com pudor de sua sede,
Ficava a contemplar sua galera
Como desenho pendurado na parede...
Báh! Como esperavam essas mulheres!
Aos ventos e poentes de esperanças
De eternos doces mal-me-queres
E de antigas primeiras contradanças...
Foram-se os tempos, já pouco esperamos
E lançamos nós aos mares nossas velas,
Que só a ver navios não mais ficamos...
Quanto a mim, mulher-poeta vou ao mundo
Mas carregando comigo todas elas,
Inclusive as que no porto vão ao fundo...
terça-feira, 27 de novembro de 2012
Alma sem cordéis (de Alma Welt)
Fotograma modificado de uma animaçâo de Zdenko Basic
Alma sem cordéis (de Alma Welt)
Alma sem cordéis, em liberdade,
Um Pinóquio de madeira mas de saias,
Tratei de ser guria de verdade
Cortando os assovios e as vaias.
Alma sem cordéis, em liberdade,
Um Pinóquio de madeira mas de saias,
Tratei de ser guria de verdade
Cortando os assovios e as vaias.
Então me transformei no ser amável,
Sonetista com a arca sempre cheia,
Mas sobretudo bela e desejável
Pois quem quer uma poetisa feia?
Encontro que não precisou de armário
Como da branca loba da alcatéia
Com o lobo da estepe, solitário...
Esperto cordelista, e sem revolta
Ele tratou de criar sua Galatéia
Pois criada a criatura sempre volta...
Sonetista com a arca sempre cheia,
Mas sobretudo bela e desejável
Pois quem quer uma poetisa feia?
Encontro que não precisou de armário
Como da branca loba da alcatéia
Com o lobo da estepe, solitário...
Esperto cordelista, e sem revolta
Ele tratou de criar sua Galatéia
Pois criada a criatura sempre volta...
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Alma incandescente (de Alma Welt)
Alma incandescente (de Alma Welt)
Quando avisto o mundo ao meu redor,
Não somente o horizonte e o poente,
Que é o momento de esplendor
E o repouso da alma incandescente,
Quando avisto o mundo ao meu redor,
Não somente o horizonte e o poente,
Que é o momento de esplendor
E o repouso da alma incandescente,
Eu sinto que o sol é o nosso espelho
Tão grande é o potencial do nosso ser
A baixar o seu reflexo vermelho
Que quase nada a Deus fica a dever...
“O que é isso? Então somos divinos?
Será isso que propõe tua soberba,
Que confunde minuano com rei Minos?”
Não (eu respondo)! É reverência
Pela nossa Criação, a mais acerba
Devida à Divina Providência...
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
A vida que eu vivi (de Alma Welt)
“A vida tem que ser mais do que isso!”
Confessou o caixeiro em nossa sala,
Chegado da cidade e a serviço,
Apontando a sua própria mala.
Também disse o professor na escola
Desejando dar um súbito sumiço
Para longe da bagunça e tanta cola...
“A vida tem que ser mais do que isso!”
Grita o marido ao ver a esposa
No sofá frente à tevê vendo novela,
A linda filha ensaiando a mariposa...
Então, ouvindo isso, eu prometi
Que seria o que eu fizesse dela
A maravilhosa vida que eu vivi...
Desejando dar um súbito sumiço
Para longe da bagunça e tanta cola...
“A vida tem que ser mais do que isso!”
Grita o marido ao ver a esposa
No sofá frente à tevê vendo novela,
A linda filha ensaiando a mariposa...
Então, ouvindo isso, eu prometi
Que seria o que eu fizesse dela
A maravilhosa vida que eu vivi...
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
O Flautista mágico (de Alma Welt)
O flautista- desenho de Guilherme de Faria
O Flautista mágico (de Alma Welt)
Sempre poderás sonhar teu sonho,
Isso não te poderão roubar jamais.
O Flautista mágico (de Alma Welt)
Sempre poderás sonhar teu sonho,
Isso não te poderão roubar jamais.
Apostar tudo no real é que é bisonho,
Por que o queres assim banalizar?
Atribuir tanto valor à realidade
Não é coisa muito digna do artista,
E duvidar do nosso dom quem há de,
Se de Hamelin somos o flautista?
Levar os ratos todos para abismos
Ao som de uma alegre melodia
É coisa que fazemos todo dia...
Também a tua inocência conduzimos
Com a flauta forte ou doce da poesia
Numa estrada mais real... da fantasia...
Por que o queres assim banalizar?
Atribuir tanto valor à realidade
Não é coisa muito digna do artista,
E duvidar do nosso dom quem há de,
Se de Hamelin somos o flautista?
Levar os ratos todos para abismos
Ao som de uma alegre melodia
É coisa que fazemos todo dia...
Também a tua inocência conduzimos
Com a flauta forte ou doce da poesia
Numa estrada mais real... da fantasia...
Serenidade (de Alma Welt)
Serenidade- Lito de Guilherme de Faria, 1979
Serenidade (de Alma Welt)
Serenidade... Báh, quanto te busquei!
Pois que não eras minha de nascença
Nem mesmo por direito te herdarei,
Que dos Welt a inquietude é a doença...
Provei o duro exílio após flagrante
De tentação debaixo de uma árvore,
E a saga do casal jovem amante
Só não se completou no frio mármore.
Depois a longa espera do eleito
Nas minhas noites solitárias a tecer
E a destecer de dia o que foi feito.
Também a luta interna, de família,
Para o meu triste vinhedo não perder,
Rubro ocaso a sangrar nesta coxilha...
Nem mesmo por direito te herdarei,
Que dos Welt a inquietude é a doença...
Provei o duro exílio após flagrante
De tentação debaixo de uma árvore,
E a saga do casal jovem amante
Só não se completou no frio mármore.
Depois a longa espera do eleito
Nas minhas noites solitárias a tecer
E a destecer de dia o que foi feito.
Também a luta interna, de família,
Para o meu triste vinhedo não perder,
Rubro ocaso a sangrar nesta coxilha...
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
Síndrome de Deus (de Alma Welt)
O Pranto de Alma Welt, óleo s/ tela de Guilherme de Faria, 2004
Síndrome de Deus (de Alma Welt)
Poetas se criam e até se matam
Pela complexa “síndrome de Deus”
Poetas se criam e até se matam
Pela complexa “síndrome de Deus”
Que os acomete, e não se fartam
Nem na hora do epílogo ou adeus.
Há mesmo quem os queira abatidos
Com dois tiros com aquela carabina
Dos desenhos animados divertidos
Ou somente afogados numa tina...
Mas eu que fui criada por um deles
Que apaixonou-se por mim, eu percebi,
Tanto lhe implorei: não me reveles!
Pois por mim não terão mais reverência
Se acharem que por isso não sofri,
Quando a própria dor é minha essência...
Nem na hora do epílogo ou adeus.
Há mesmo quem os queira abatidos
Com dois tiros com aquela carabina
Dos desenhos animados divertidos
Ou somente afogados numa tina...
Mas eu que fui criada por um deles
Que apaixonou-se por mim, eu percebi,
Tanto lhe implorei: não me reveles!
Pois por mim não terão mais reverência
Se acharem que por isso não sofri,
Quando a própria dor é minha essência...
Eu, Heterônimo (de Alma Welt)
Foto de Yaroslav Datta
Eu, Heterônimo (de Alma Welt)
Poeta que se sabe um heterônimo,
Toda minha existência é no papel,
Eu, Heterônimo (de Alma Welt)
Poeta que se sabe um heterônimo,
Toda minha existência é no papel,
Orgulhosa de não ser um pseudônimo
O meu próprio nome é meu troféu.
Pois vivo, fui criada ou me criei
Não está claro e seguro nem pra mim
Que ao longo dos versos me forjei
Como também nos versos tive fim.
Pois por eles, onde soube minha saga,
No velório descrevi meu corpo nu
E minha própria mão meu rosto afaga...
Mas a morte que encontrei sem o alfanje,
Tenho receio de contar em tom mais cru
Pois ao próprio criador ela constrange
O meu próprio nome é meu troféu.
Pois vivo, fui criada ou me criei
Não está claro e seguro nem pra mim
Que ao longo dos versos me forjei
Como também nos versos tive fim.
Pois por eles, onde soube minha saga,
No velório descrevi meu corpo nu
E minha própria mão meu rosto afaga...
Mas a morte que encontrei sem o alfanje,
Tenho receio de contar em tom mais cru
Pois ao próprio criador ela constrange
In Verso Veritas (de Alma Welt
Capa do romance A Herança, de Alma Welt
- retrato da poetisa pintado por Guilherme de Faria
In Verso Veritas (de Alma Welt)
O meu reservatório de memórias
É rico demais porque as amo
E não as distingo das estórias
Que crio às dezenas cada ano.
O meu reservatório de memórias
É rico demais porque as amo
E não as distingo das estórias
Que crio às dezenas cada ano.
Ação e pensamento são o mesmo
E no nível da poesia faz sentido
Como feijoada com torresmo.
Viva pelos versos me descubro
Tal como o ferreiro malha firme
E molda o duro ferro, mas ao rubro.
Assim também me forjo e ruiva fico
Pela inspiração que ao verso imprime
Minha face final que reivindico...
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
De sombras e candeias (de Alma Welt)
Menina cantando -de Georges de La Tour 1593-1652
De sombras e candeias (de Alma Welt)
No casarão em noites de tormenta
De sombras e candeias (de Alma Welt)
No casarão em noites de tormenta
Cai a força, acendemos as candeias,
A sensação de aconchego nos aumenta
E nos transporta àquelas velhas ceias
Aqui na estância no tempo dos avós
E nós, guris, ainda mais felizes,
Pois que a aventura vinha a nós
Com mistérios de sombras sem matizes...
Rodo, eu e Lucia... irmãs e irmão
A correr, com a Mutti em polvorosa,
Três ou quatro a escorregar no corrimão.
E agora quando acende-se uma vela,
Ainda hoje me ponho, sim, chorosa
Pelo tanto que a vida me foi bela...
A sensação de aconchego nos aumenta
E nos transporta àquelas velhas ceias
Aqui na estância no tempo dos avós
E nós, guris, ainda mais felizes,
Pois que a aventura vinha a nós
Com mistérios de sombras sem matizes...
Rodo, eu e Lucia... irmãs e irmão
A correr, com a Mutti em polvorosa,
Três ou quatro a escorregar no corrimão.
E agora quando acende-se uma vela,
Ainda hoje me ponho, sim, chorosa
Pelo tanto que a vida me foi bela...
Georges de La Tour - A descoberta...
Advertência (de Alma Welt)
Alma Welt- pinturas de Guilherme de Faria
Advertência (de Alma Welt)
Se vieres pela estrada da coxilha
No rumo e sentido do oriente
Verás o casarão como uma ilha
E a varanda, mirante do poente.
Se vieres pela estrada da coxilha
No rumo e sentido do oriente
Verás o casarão como uma ilha
E a varanda, mirante do poente.
E talvez me avistes já de longe
Com meu longo vestido até o pé,
Não como visão que o sono esponje
Mas como uma donzela de outra fé
Às vezes confundida com uma prenda
Por quem reparar só no detalhe
Destas mangas com punhos de renda,
Que advirto ao expor o meu carisma:
Do tempo dos Farrapos e seu cisma
Sou delirante antiga, com este talhe...
O Aval (de Alma Welt)
Veronica Veronese - Dante Gabriel Rossetti
O Aval (de Alma Welt)
Noite e dia em sintonia com meu anjo
Por escrever o que na minha alma está,
Meu estro e meu tempo não esbanjo,
Que acredito que lamentar não vá...
Sentada na varanda ou a vagar
Pelo jardim em torno e na coxilha
Vivo aqui em constante maravilha
Que não deixo por menos meu passar
Por esta vida de poeta, sim, maior
Que me coube por certo em privilégio
Já que podia ser sofrido ou só pior...
E agradecer a Deus e ao anjo seu aval
Não pensem que é só meu sortilégio
Pra na “cozinha” não perder a mão do sal...
Sentada na varanda ou a vagar
Pelo jardim em torno e na coxilha
Vivo aqui em constante maravilha
Que não deixo por menos meu passar
Por esta vida de poeta, sim, maior
Que me coube por certo em privilégio
Já que podia ser sofrido ou só pior...
E agradecer a Deus e ao anjo seu aval
Não pensem que é só meu sortilégio
Pra na “cozinha” não perder a mão do sal...
Scherzo (de Alma Welt)
Scherzo for Brass Instruments by Walter Spies, Oil on Board, 1939
Scherzo (de Alma Welt)
As belas horas passadas em folguedo
Scherzo (de Alma Welt)
As belas horas passadas em folguedo
Com estas lindas crianças que me cercam,
São o que de melhor vivo, sem medo
Daquelas que perdidas, clamam, imprecam.
Pois à Natureza é grato o riso,
A dinâmica dos pulos, energia,
Exclamações ingênuas de improviso
Entre gritos e palmas de alegria...
E quisera que a vida sempre fosse
Tais momentos de jogos e scherzo
Antes que triste adágio se me aposse
Em lágrimas de beleza comovida,
Que é a outra máscara a que rezo,
Para que a morte seja bela como a vida...
São o que de melhor vivo, sem medo
Daquelas que perdidas, clamam, imprecam.
Pois à Natureza é grato o riso,
A dinâmica dos pulos, energia,
Exclamações ingênuas de improviso
Entre gritos e palmas de alegria...
E quisera que a vida sempre fosse
Tais momentos de jogos e scherzo
Antes que triste adágio se me aposse
Em lágrimas de beleza comovida,
Que é a outra máscara a que rezo,
Para que a morte seja bela como a vida...
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
Rumo à Luz (de Alma Welt)
Paradiso, canto 31, Divina Comédia, Dante Alighieri, gravura de Gustave Doré.
Rumo à Luz (de Alma Welt)
Para se viver melhor e ser feliz
É preciso aceitar a incoerência
Rumo à Luz (de Alma Welt)
Para se viver melhor e ser feliz
É preciso aceitar a incoerência
Ou a falta de sentido por um triz
Que a vida apresenta com freqüência.
Que digo? Nada faz muito sentido
Sob determinado ponto de visão
Mais lúcido e até mais divertido,
Nossa perplexidade e confusão...
Mas se adicionarmos os afetos,
Nem digo o amor, que é soberano,
As coisas revelam seus trajetos
Rumo à luz que tudo e todos chama
E que é o mais profundo arcano,
Tão claro que a luz do sol empana...
Que a vida apresenta com freqüência.
Que digo? Nada faz muito sentido
Sob determinado ponto de visão
Mais lúcido e até mais divertido,
Nossa perplexidade e confusão...
Mas se adicionarmos os afetos,
Nem digo o amor, que é soberano,
As coisas revelam seus trajetos
Rumo à luz que tudo e todos chama
E que é o mais profundo arcano,
Tão claro que a luz do sol empana...
Códice (de Alma Welt)
Página de um códice de Leonardo Da Vinci
Sinto o tempo por meus dedos escorrer,
Que nada posso fazer para detê-lo
Senão na memória me rever
E correr para trás, a contrapelo,
Até chegar ali no aconchego
Desse círculo dos dias encantados
Em que tudo era amor e não apego,
Que é o afeto dos desesperados...
Então viver, eu me sinto, e reviver
Mil vezes a saga que me coube,
Que nada do que fui pude esquecer...
Por isso num descomunal diário,
Como códice, leio-me ao contrário
Por ter o fim comum que eu sempre soube...
Até chegar ali no aconchego
Desse círculo dos dias encantados
Em que tudo era amor e não apego,
Que é o afeto dos desesperados...
Então viver, eu me sinto, e reviver
Mil vezes a saga que me coube,
Que nada do que fui pude esquecer...
Por isso num descomunal diário,
Como códice, leio-me ao contrário
Por ter o fim comum que eu sempre soube...
sábado, 10 de novembro de 2012
Perto da vida (Alma Welt)
Perfil de Alma Welt, 2001- desenho de Guilherme de Faria,
Perto da vida (Alma Welt)
O soneto me segue e me revela
Desde quando guria na coxilha
O soneto me segue e me revela
Desde quando guria na coxilha
Descobri Camões, Will, e a Florbela *
Que bate-me na anca e na virilha. *
E por certo não poderia mais viver
Sem rimar e versejar o tempo inteiro
Como amar e respirar até morrer
E não mais precisar tinta nem tinteiro.
E se me perguntam se estou louca,
Coisa que ocorre a algum pachola
Nunca aos gaudérios de voz rouca
Que cantam com o fole ou a viola,
Eu respondo que estou perto da vida
Demais para avistar outra saída...
______________________________________
Nota
*Camões, Will e a Florbela- Will é William Shakespeare, Florbela Espanca. Alma cita os três grandes sonetistas que a inspiraram, e graciosamente imbute o sobrenome da poetisa na expressão "bate-me na anca"...
Que bate-me na anca e na virilha. *
E por certo não poderia mais viver
Sem rimar e versejar o tempo inteiro
Como amar e respirar até morrer
E não mais precisar tinta nem tinteiro.
E se me perguntam se estou louca,
Coisa que ocorre a algum pachola
Nunca aos gaudérios de voz rouca
Que cantam com o fole ou a viola,
Eu respondo que estou perto da vida
Demais para avistar outra saída...
______________________________________
Nota
*Camões, Will e a Florbela- Will é William Shakespeare, Florbela Espanca. Alma cita os três grandes sonetistas que a inspiraram, e graciosamente imbute o sobrenome da poetisa na expressão "bate-me na anca"...
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
A Nave (de Alma Welt)
Flaming June - Lord Frederic Leighton- Museu Nacional de Porto Rico
A Nave (de Alma Welt)
Nunca mais presenciar nenhum poente,
Da varanda, na cadeira de balanço,
Os últimos fulgores do ocidente,
Descendo no horizonte pra descanso...
É triste demais pensar assim,
A menos que morrer seja essa vela,
Da nave dourada do meu fim,
Do meu leito avistada, da janela...
Mas algo em mim descrê e desespera,
Uma parte, talvez mais desconhecida,
Que teme, luta, rebela-se e duvida,
E que está na raiz da minha poesia
Por mais que o sonhar seja, como era,
A nave que me leva e extasia...
Descendo no horizonte pra descanso...
É triste demais pensar assim,
A menos que morrer seja essa vela,
Da nave dourada do meu fim,
Do meu leito avistada, da janela...
Mas algo em mim descrê e desespera,
Uma parte, talvez mais desconhecida,
Que teme, luta, rebela-se e duvida,
E que está na raiz da minha poesia
Por mais que o sonhar seja, como era,
A nave que me leva e extasia...
terça-feira, 6 de novembro de 2012
Os amigos voltam (de Alma Welt)
Os amigos - Peder Severyn
Os amigos voltam (de Alma Welt)
Os amigos, quase todos reunidos,
Congreguei-os depois de tantos anos
Dispersos que estavam e entretidos
Com os seus sonhos, cartadas e arcanos,
Os amigos, quase todos reunidos,
Congreguei-os depois de tantos anos
Dispersos que estavam e entretidos
Com os seus sonhos, cartadas e arcanos,
Cada um só à procura de seu rosto
Quando já me parecia conhecê-los
E nada lhes faltava pro meu gosto,
Que não lhes fazia falta novos pelos...
Então em meio aos risos e abraços
Em seguida nos brindes com os bons vinhos
Lhes noto nas feições os novos traços.
E procuro aquele toque de candura
Disfarçado nas palavras e risinhos
Onde o cinismo agora se pendura...
domingo, 4 de novembro de 2012
Valsa lenta (de Alma Welt)
Valsa lenta (de Alma Welt)
Do casarão outrora iluminado,
Me perdoe, senhor, luz tão mortiça.
Esta triste penumbra é resultado
De uma espera longa e submissa...
Meu amor que há tempos foi levado
Ao baile que há atrás do horizonte,
Deixou-me este andamento sincopado.
Esta noite, no serão, talvez lhe conte...
Por enquanto, senhor, releve um pouco
Esta hospitalidade desatenta
E o meu aparente ouvido mouco.
Tornei-me distraída, me desculpe,
E os peões me seguem a valsa lenta,
Por isso, lhe peço, não os culpe...
sábado, 3 de novembro de 2012
A Torre (de Alma Welt)
A Torre (de Alma Welt)
É tão belo me sentir entre os Poetas
Cujo estro admirei desde guria,
E entre as poetisas mais seletas
Formando um ramalhete da Poesia.
É tão belo me sentir entre os Poetas
Cujo estro admirei desde guria,
E entre as poetisas mais seletas
Formando um ramalhete da Poesia.
“Não será cedo?” alguém pode perguntar
“Para juntar-te a ti mesma sem consulta
Ao público leitor, e alardear
Participares de plêiade tão culta?”
Sim e não, pois escrevi com sangue,
E tornei-me torre auto-erigida
Embora exausta e quase exangue...
E se a mim mesma alto me coloco
É para até o fim manter-me o foco,
Morrer mirando longe a própria Vida...
“Para juntar-te a ti mesma sem consulta
Ao público leitor, e alardear
Participares de plêiade tão culta?”
Sim e não, pois escrevi com sangue,
E tornei-me torre auto-erigida
Embora exausta e quase exangue...
E se a mim mesma alto me coloco
É para até o fim manter-me o foco,
Morrer mirando longe a própria Vida...
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
Os mortos não são fúteis (de Alma Welt)
Os mortos não são fúteis (de Alma Welt)
Os mortos não são fúteis, não, jamais!
Leviandade é coisa que descartam
Malgrado alguns inquietos e sem paz
Que parece que da vida não se fartam.
Os mortos não são fúteis, não, jamais!
Leviandade é coisa que descartam
Malgrado alguns inquietos e sem paz
Que parece que da vida não se fartam.
Esses, de nítidos dois tipos, a saber:
Os que nos perseguem com suas queixas
Com as quais temos mesmo algo a haver
E os que deixam docemente doze deixas
Que são as aquelas badaladas dos relógios,
Aqueles negros com uns pêndulos dourados
Que sempre acreditei mal-assombrados...
E pra encerrar dos mortos seus relatos,
Eis porque fazemos necrológios
Falseando a feição forte dos fatos...
Os mortos murmuram (de Alma Welt)
Os mortos murmuram (de Alma Welt)
Os mortos murmuram sob os mármores...
Alguns até gritam e não ouvimos;
Outros caminham sob as árvores
E não os vemos nem sentimos...
Os mortos murmuram sob os mármores...
Alguns até gritam e não ouvimos;
Outros caminham sob as árvores
E não os vemos nem sentimos...
Mas se estás atento ao teu destino
Vês que já estás no meio deles
E até podes ouvir teu próprio sino
Que já dobra por ti e não por eles...
Não deplores, pois, os teus amados.
Eles apenas se foram pouco antes
Porque teus medrosos passos foram tardos.
Somos para a Morte, é o que dizem...
Importa é que eu ouça o que tu cantes,
Enquanto as doces brisas nos alisem...
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
Meu trem fantasma (de Alma Welt)
Meu trem fantasma (de Alma Welt)
Meu trem eterno é bastante pontual
Pois chega somente quando o espero
E os outros não o vêem como real
E me dizem que sou louca quando quero.
Sim, nisso sou forçada a concordar,
O real nunca foi meu território
E se ouço o velho trem resfolegar
Fico com este olhar quase simplório.
E na plataforma dos meus sonhos
Bato palmas como quando era guria
E os meus encantamentos mais bisonhos.
Então leva-me contigo, trem fantasma
No teu branco vapor que apita e chia,
Em que meu verdadeiro ser se plasma...
O real nunca foi meu território
E se ouço o velho trem resfolegar
Fico com este olhar quase simplório.
E na plataforma dos meus sonhos
Bato palmas como quando era guria
E os meus encantamentos mais bisonhos.
Então leva-me contigo, trem fantasma
No teu branco vapor que apita e chia,
Em que meu verdadeiro ser se plasma...
Odisséia nerd (de Alma Welt)
Odisseu e as sereias - James Draper -1863/1920)
Odisséia nerd (de Alma Welt)
Quem chega pela estrada da coxilha
Avista ao longe o nosso casarão
E na varanda como praia de uma ilha,
A mim, a perscrutar a imensidão
Quem chega pela estrada da coxilha
Avista ao longe o nosso casarão
E na varanda como praia de uma ilha,
A mim, a perscrutar a imensidão
Na minha eterna espera de Odisseu-
Rodo, jovem jogador pelos cassinos,
Que se chegar será com grito de pneu
E não com o bater lento de sinos...
Mas ao mastro no meio do arrecife
Daquelas belas Marias-pano-verde,
Vai Odisseu, chegado nas sereias,
Enquanto eu, sem mais fichas nem cacife,
No tear-computador, como uma nerd,
Eternamente a desfiar as minha teias...
Rodo, jovem jogador pelos cassinos,
Que se chegar será com grito de pneu
E não com o bater lento de sinos...
Mas ao mastro no meio do arrecife
Daquelas belas Marias-pano-verde,
Vai Odisseu, chegado nas sereias,
Enquanto eu, sem mais fichas nem cacife,
No tear-computador, como uma nerd,
Eternamente a desfiar as minha teias...
A Leste do Éden (de Alma Welt)
A Leste do Éden (de Alma Welt)
A guria que fui me é tão sagrada
Que olhando-a sempre me enterneço.
Mas deploro como fui atormentada
Por uma culpa que sei que não mereço...
A guria que fui me é tão sagrada
Que olhando-a sempre me enterneço.
Mas deploro como fui atormentada
Por uma culpa que sei que não mereço...
Por quê, meu Deus, escandalizam os guris
Sob a mais pura macieira do pomar
Como se acaso houvessem feito coisas vis
Quando estavam tão somente a brincar?
Falta aos adultos o verdadeiro humor,
É isso que lhes falta, me perdoem,
Se simplesmente não lhes faltar amor.
Quanto a mim, para abrandar a abantesma
Dos gritos que na alma ainda me doem,
Na poesia vou-me ao leste de mim mesma...
Sob o véu (de Alma Welt)
perfil de Alma Welt- desenho de Guilhermee de Faria 2001
Sob o véu (de Alma Welt)
Vou entre a tristeza e a alegria
Talvez demais num oscilar sem fim,
Mas quisera explodir-me na Poesia
Como uma mulher-bomba de mim.
Vou entre a tristeza e a alegria
Talvez demais num oscilar sem fim,
Mas quisera explodir-me na Poesia
Como uma mulher-bomba de mim.
Báh! Como recordo minhas andanças
Por aí antes do tempo das tormentas
Quando minhas jornadas eram mansas
Com seu aconchego de horas lentas...
Como eu era bela, Deus do céu!
E agora já enxergo as minhas olheiras
Quando me atrevo a erguer o véu
Da angústia que me toma de repente
Sob a capa de lendas corriqueiras,
Eu mesma antes do pomo e da serpente...
Por aí antes do tempo das tormentas
Quando minhas jornadas eram mansas
Com seu aconchego de horas lentas...
Como eu era bela, Deus do céu!
E agora já enxergo as minhas olheiras
Quando me atrevo a erguer o véu
Da angústia que me toma de repente
Sob a capa de lendas corriqueiras,
Eu mesma antes do pomo e da serpente...
terça-feira, 30 de outubro de 2012
Minha vida virtual (de Alma Welt)
René Magritte - Le Château des Pyrénées 1959
Minha vida virtual (de Alma Welt)
O soneto desde sempre me acompanha
E não poderia mais viver sem isso,
Minha vida virtual (de Alma Welt)
O soneto desde sempre me acompanha
E não poderia mais viver sem isso,
Pois resume minha sede e minha sanha
De versejar, meu supremo compromisso.
Se deixo de escrever um dia só
Esse dia foi perdido ou dispersado
Qual se ao vento apenas fosse pó,
Como na balada gringa foi cantado. *
Sei que vivo uma vida virtual,
Dupla projeção no plano astral,
Paralela à tal vida verdadeira...
Mas eu sinto que crio um edifício
E viver fora dele é que é difícil,
Todo um rico castelo na poeira...
_____________________________
Nota
*Como na balada gringa foi cantado - Alma se refere à belíssima canção americana "Dust in the Wind" (poeira no vento) da banda Kansas, sucesso dos anos 80, e interpretada até hoje por diversas bandas. No Brasil há uma bela interpretação da Paula Fernandes (cantada em inglês mesmo).
De versejar, meu supremo compromisso.
Se deixo de escrever um dia só
Esse dia foi perdido ou dispersado
Qual se ao vento apenas fosse pó,
Como na balada gringa foi cantado. *
Sei que vivo uma vida virtual,
Dupla projeção no plano astral,
Paralela à tal vida verdadeira...
Mas eu sinto que crio um edifício
E viver fora dele é que é difícil,
Todo um rico castelo na poeira...
_____________________________
Nota
*Como na balada gringa foi cantado - Alma se refere à belíssima canção americana "Dust in the Wind" (poeira no vento) da banda Kansas, sucesso dos anos 80, e interpretada até hoje por diversas bandas. No Brasil há uma bela interpretação da Paula Fernandes (cantada em inglês mesmo).
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Ode à Alegria (de Alma Welt)
Ode à Alegria (de Alma Welt)
Nada podemos, seres, contra a Morte.
Então tudo será fútil, ou brincadeira,
Entre as duas datas só um recorte
Se não for essa certeza da poeira
Mas se fazemos oferendas temerosas,
Com a Arte erguemos logo a testa
Com nosso descarado orgulho e rosas,
De um jeito ou de outro sempre em festa.
Então juntos cantemos uma ode
Antes que baixemos para o Hades
Que é tudo o que nossa alma pode...
E pois num coro de imensa rebeldia
Ousemos conclamar nossos confrades
À triunfal celebração da Alegria!
domingo, 28 de outubro de 2012
Testamento (de Alma Welt)
A levitação de Alma Welt- de Guilherme de Faria
Testamento (de Alma Welt)
Tudo entreguei de mim ao mundo
Através dos versos que sangrei
Mas se nem sempre assim me dei
O resultado do conjunto foi fecundo.
Tudo entreguei de mim ao mundo
Através dos versos que sangrei
Mas se nem sempre assim me dei
O resultado do conjunto foi fecundo.
Compuseram canções com os meus versos
Que ao ouvi-las, tão belas, mais chorei
Pois poemas até então dispersos
Formavam uma corte ou uma grei
De sons que completam a palavra
E dizem o que talvez mesmo não pude
Como se já não fossem minha lavra
Mas do nume que de mim se evola
E se vai com minha alma que decola,
Grato gênio da perdida juventude...
Que ao ouvi-las, tão belas, mais chorei
Pois poemas até então dispersos
Formavam uma corte ou uma grei
De sons que completam a palavra
E dizem o que talvez mesmo não pude
Como se já não fossem minha lavra
Mas do nume que de mim se evola
E se vai com minha alma que decola,
Grato gênio da perdida juventude...
Fim de Ano (de Alma Welt)
Detalhe do Portrait de Alma Welt - de Guilherme de Faria
Fim de Ano (de Alma Welt)
Meu orgulho, minha dor, e mais um pouco
É estar ainda aqui me construindo
Fim de Ano (de Alma Welt)
Meu orgulho, minha dor, e mais um pouco
É estar ainda aqui me construindo
Como quem impõe um sonho louco
Ao mundo a quem pareço estar sorrindo
Mas cujo tom patético inerente
À medida que caminho para o fim
Vai ficando cada vez mais evidente
E é a marca do Poeta que há em mim
E creio que há em todo ser humano
Quando cônscio de trazer o seu final,
Que sempre há de ser no fim do ano,
Pois se me vês chorar quando isto abordo
Imagina estes meus olhos no Natal
Quando mais de mim mesma me recordo...
Ao mundo a quem pareço estar sorrindo
Mas cujo tom patético inerente
À medida que caminho para o fim
Vai ficando cada vez mais evidente
E é a marca do Poeta que há em mim
E creio que há em todo ser humano
Quando cônscio de trazer o seu final,
Que sempre há de ser no fim do ano,
Pois se me vês chorar quando isto abordo
Imagina estes meus olhos no Natal
Quando mais de mim mesma me recordo...
sábado, 27 de outubro de 2012
Partituras (de Alma Welt)
Partituras (de Alma Welt)
Quê importam nossas dúvidas e medos,
Se a vida nos foi dada por igual
Entre os mais argutos e os ledos,
E a todos se furtando no final?
Quê importam nossas dúvidas e medos,
Se a vida nos foi dada por igual
Entre os mais argutos e os ledos,
E a todos se furtando no final?
E se os tormentos, dores e adeuses
Não ocorrem somente com os eleitos
Como outrora se dizia sobre os deuses
Na relação com heróis de grandes feitos?
Pois cada partitura é caprichosa.
Em momentos, calmaria e melopéia,
Em outros, sinfonia poderosa...
Somos todos um tanto aventureiros
E o percurso nosso, uma odisséia,
À espera e a varrer nossos terreiros...
Le Cauchemar (de Alma Welt)
Le Cauchemar - Eugène Thivier 1845 - 1920
Le Cauchemar (de Alma Welt)
Há o Porteiro? Serei bem recebida?
A pergunta parece uma besteira,
Le Cauchemar (de Alma Welt)
Há o Porteiro? Serei bem recebida?
A pergunta parece uma besteira,
Dirigida a mim mesma e descabida
Para quem foi rebelde a vida inteira...
A idéia de levar um novo pito
Como aquele com meu mano no pomar,
Me toma quase às raias do meu grito
No meio de um terrível “cauchemar”.
Sobre mim e minha vida insubmissa
Suspeito que me importa o tal Juízo,
A mim, que nunca fui a uma missa...
E abaixo a cabeça sob a lua
E o sol, que já viram o meu riso,
Pois percebo, agora, que estou nua...
Para quem foi rebelde a vida inteira...
A idéia de levar um novo pito
Como aquele com meu mano no pomar,
Me toma quase às raias do meu grito
No meio de um terrível “cauchemar”.
Sobre mim e minha vida insubmissa
Suspeito que me importa o tal Juízo,
A mim, que nunca fui a uma missa...
E abaixo a cabeça sob a lua
E o sol, que já viram o meu riso,
Pois percebo, agora, que estou nua...
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
Manhãs dos meus dezoito (de Alma Welt)
Adão e Eva - de Albrecht Dürer
Manhãs dos meus dezoito (de Alma Welt)
Doces manhãs dos meus dezoito,
Quando já adquirira segurança
E já não era um simples ser afoito,
Como dizia a Mutti, "na lambança",
Mas somente com quem de minha escolha,
Pois essa era a minha liberdade
Embora já topasse com a maldade
No entorno, que jamais é uma bolha.
Sim, do Éden expulsaram irmão e irmã,
Para longe da ardente macieira
E temos que plantar ou ir à feira.
Mas o momento auge, o da maçã,
Permanece em dor a vida inteira
Ou faz da nossa vida uma manhã...
Manhãs dos meus dezoito (de Alma Welt)
Doces manhãs dos meus dezoito,
Quando já adquirira segurança
E já não era um simples ser afoito,
Como dizia a Mutti, "na lambança",
Mas somente com quem de minha escolha,
Pois essa era a minha liberdade
Embora já topasse com a maldade
No entorno, que jamais é uma bolha.
Sim, do Éden expulsaram irmão e irmã,
Para longe da ardente macieira
E temos que plantar ou ir à feira.
Mas o momento auge, o da maçã,
Permanece em dor a vida inteira
Ou faz da nossa vida uma manhã...
Succès d’escandale (de Alma Welt)
Manhã de Setembro- Paul Émile Chabas (1869–1937)
Succès d’escandale (de Alma Welt)
Cavalgar por aí nua na coxilha
É o prazer maior que tenho tido
Succès d’escandale (de Alma Welt)
Cavalgar por aí nua na coxilha
É o prazer maior que tenho tido
Desde que adotada como filha
Desta terra de pudor reconhecido.
O Pampa acolheu meus anos oito,
Eu que vinha de um velho burgo novo
Não conhecia coito, e só biscoito,
Mais a carga romântica de um povo.
Então só me restava ser poeta
Como sempre acontece a quem amar
Sem ter sela e cabresto como meta...
E onde pura inocência nada vale
Tive o primeiro "succsès d’escandale"
Sob a antiga macieira do pomar...
Desta terra de pudor reconhecido.
O Pampa acolheu meus anos oito,
Eu que vinha de um velho burgo novo
Não conhecia coito, e só biscoito,
Mais a carga romântica de um povo.
Então só me restava ser poeta
Como sempre acontece a quem amar
Sem ter sela e cabresto como meta...
E onde pura inocência nada vale
Tive o primeiro "succsès d’escandale"
Sob a antiga macieira do pomar...
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
A Sibila (de Alma Welt)
A Sibila Líbica - Afresco de Michelangelo no teto da Capela Sistina
A Sibila (de Alma Welt)
As manhãs mal me devolvem ao real
Resgatada dos sonhos de outros mundos,
A Sibila (de Alma Welt)
As manhãs mal me devolvem ao real
Resgatada dos sonhos de outros mundos,
Que não dos medos o frio manancial,
A fonte de onde os meus são oriundos,
Mas de onde vaga meu espírito ao acaso
Galgando a estratosfera já sem ar
Ou então os altos montes Cáucaso
Onde todas as perguntas vão parar...
Pois quanto eu vou aí pelos espaços,
A partir do balançar em minha varanda
Ou do meu jardim em lentos passos!
E sempre de mim mesma uma sibila
Quando então meu coração desanda
Contando os versos sílaba por sílaba...
A fonte de onde os meus são oriundos,
Mas de onde vaga meu espírito ao acaso
Galgando a estratosfera já sem ar
Ou então os altos montes Cáucaso
Onde todas as perguntas vão parar...
Pois quanto eu vou aí pelos espaços,
A partir do balançar em minha varanda
Ou do meu jardim em lentos passos!
E sempre de mim mesma uma sibila
Quando então meu coração desanda
Contando os versos sílaba por sílaba...
terça-feira, 23 de outubro de 2012
Nem rouxinóis nem cotovias (de Alma Welt)
Nem rouxinóis nem cotovias (de Alma Welt)
Confesso minha pena de morrer
Assim como de perder meus sonhos;
Considero-me insuspeita pra sofrer
Pois meus versos não primam por bisonhos.
Confesso minha pena de morrer
Assim como de perder meus sonhos;
Considero-me insuspeita pra sofrer
Pois meus versos não primam por bisonhos.
Mas há manhãs que acordo com meus gritos
De fazer esvoaçar as cotovias
E rouxinóis, se os houvesse, não mosquitos
E tão pouco motivo pra poesias...
E mordo até sangrar os cotovelos
Quando olho no espelho minhas olheiras
Que refletem meu penar de pesadelos...
Mas teimo em escrever contra a maré
Mesmo que então saia estas besteiras
Das quais eu me envergonho, e rio até...
De fazer esvoaçar as cotovias
E rouxinóis, se os houvesse, não mosquitos
E tão pouco motivo pra poesias...
E mordo até sangrar os cotovelos
Quando olho no espelho minhas olheiras
Que refletem meu penar de pesadelos...
Mas teimo em escrever contra a maré
Mesmo que então saia estas besteiras
Das quais eu me envergonho, e rio até...
O Coringa (de Alma Welt)
O Coringa (de Alma Welt)
Quê charada imensa é a vida!
Desafio alguém a desvendá-la
A partir da História conhecida
Ou da decifração de uma mandala.
Quê charada imensa é a vida!
Desafio alguém a desvendá-la
A partir da História conhecida
Ou da decifração de uma mandala.
A cartas do Tarô mais nos confundem
Como enforcado pendurado pelos pés;
As melhores ciganas nos iludem
E os filósofos viraram canapés,
Nos servimos deles em torradas
Em meio aos risos falsos dos saraus
Antes do churrasco e das saladas.
Mas de buscar sentido desistimos
Como se fora um mero dois de paus
O coringa que tiramos e nem rimos...
Como enforcado pendurado pelos pés;
As melhores ciganas nos iludem
E os filósofos viraram canapés,
Nos servimos deles em torradas
Em meio aos risos falsos dos saraus
Antes do churrasco e das saladas.
Mas de buscar sentido desistimos
Como se fora um mero dois de paus
O coringa que tiramos e nem rimos...
A pergunta (de Alma Welt)
A porta do Inferno- de Auguste Rodin
A pergunta (de Alma Welt)
Quero abordar tudo nos meus versos,
Tudo que interesse nesta vida,
Conquanto alguns temas controversos
Talvez me façam perder a acolhida.
Pois se a face trágica ainda choca
Metade da platéia calorosa
Que costuma ver filme com pipoca
Sobre a nossa vida cor-de-rosa,
A vertente erótica nem se fala,
Mal defendida por uma frágil chave
Como uma pergunta que não cala:
“Queres realmente aqui entrar?”
Está na tabuleta de uma trave
De um portão de que se pode não voltar...
Talvez me façam perder a acolhida.
Pois se a face trágica ainda choca
Metade da platéia calorosa
Que costuma ver filme com pipoca
Sobre a nossa vida cor-de-rosa,
A vertente erótica nem se fala,
Mal defendida por uma frágil chave
Como uma pergunta que não cala:
“Queres realmente aqui entrar?”
Está na tabuleta de uma trave
De um portão de que se pode não voltar...
O saltimbanco (de Alma Welt)
O saltimbanco (de Alma Welt)
Seremos todos felizes no final,
Nem que seja no último momento,
No alívio derradeiro e fatal
Daquele suspiro longo e lento...
Seremos todos felizes no final,
Nem que seja no último momento,
No alívio derradeiro e fatal
Daquele suspiro longo e lento...
Queremos crer nisso, na verdade,
Pois a vida recupera seu sentido
E passa a existir a eqüidade
E o nexo de novo garantido...
Mas se por desgraça a fé nos falta
Na lógica de tudo o que existe,
Como um saltimbanco amor nos salta
E explode nos ares de repente
Como a terna gargalhada por um chiste,
E a infância se refaz dentro da gente...
Pois a vida recupera seu sentido
E passa a existir a eqüidade
E o nexo de novo garantido...
Mas se por desgraça a fé nos falta
Na lógica de tudo o que existe,
Como um saltimbanco amor nos salta
E explode nos ares de repente
Como a terna gargalhada por um chiste,
E a infância se refaz dentro da gente...
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
Encontro com o Tempo (de Alma Welt)
Encontro com o Tempo (de Alma Welt)
Na coxilha com o Tempo me encontrei,
Muito velho a andar com firme passo
E com tanto domínio de sua lei
Na coxilha com o Tempo me encontrei,
Muito velho a andar com firme passo
E com tanto domínio de sua lei
Que não me atrevi a dar-lhe o braço.
A barba branca até o tornozelo
Lhe dava um tal aspecto bizarro
(mas não de sujeira ou desmazelo,
que nessa bizarria não me amarro)...
Mas, confesso, um tanto temerosa
Saudei o velho andarilho com respeito
Sem saber se o fiz em verso ou prosa.
“Tão gulosa tua quota devoraste”-
Disse o velho com o dedo no meu peito-
“Que a ti mesma para trás deixaste...”
A barba branca até o tornozelo
Lhe dava um tal aspecto bizarro
(mas não de sujeira ou desmazelo,
que nessa bizarria não me amarro)...
Mas, confesso, um tanto temerosa
Saudei o velho andarilho com respeito
Sem saber se o fiz em verso ou prosa.
“Tão gulosa tua quota devoraste”-
Disse o velho com o dedo no meu peito-
“Que a ti mesma para trás deixaste...”
sábado, 20 de outubro de 2012
O Relógio Secreto (de Alma Welt)
O Relógio Secreto (de Alma Welt)
Sopram os ventos do destino sobre mim,
E eu os temo, não fechei as minhas contas,
Que não estou preparada para o fim,
Ainda preferia andar às tontas
Sopram os ventos do destino sobre mim,
E eu os temo, não fechei as minhas contas,
Que não estou preparada para o fim,
Ainda preferia andar às tontas
Como fazia na minha juventude
Tão ávida de amores e prazeres,
Que os tive de sobejo enquanto pude
E agora só os tenho se me leres...
Mas deixai-me, ó ventos, por aqui,
Não só espectro a estalar escadas
Mas no jardim e no pomar onde cresci
A contar as doze sílabas nos dedos
Como agora as conto em badaladas
No relógio secreto dos meus medos...
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Tristes Cantigas (de Alma Welt)
Foto de Alla Alborova
Tristes Cantigas (de Alma Welt)
Tristes cantigas eu canto pra mim mesma
Tristes cantigas eu canto pra mim mesma
O que me faz chorar e adormecer
Quando já preenchi toda uma resma
Com a minha imensa pena de morrer
E deixar este universo tão amado
Que eu mesma construí com meus poemas
Como um cenário ideal por mim armado
Em que fui eu o pretexto dos meus temas..
Tanta autonomia, eu sei, não dura.
Ninguém pode viver de seus delírios
Por mais que sejam fruto de candura.
Mas sinto que haverei de ser chorada
Toda cercada de rosas e de círios
Por esta branca nudez desamparada...
Quando já preenchi toda uma resma
Com a minha imensa pena de morrer
E deixar este universo tão amado
Que eu mesma construí com meus poemas
Como um cenário ideal por mim armado
Em que fui eu o pretexto dos meus temas..
Tanta autonomia, eu sei, não dura.
Ninguém pode viver de seus delírios
Por mais que sejam fruto de candura.
Mas sinto que haverei de ser chorada
Toda cercada de rosas e de círios
Por esta branca nudez desamparada...
Terras do Porfim (de Alma Welt)
Terras do Porfim (de Alma Welt)
As noites são longas nesta estância
Pois aqui as memórias são imensas
Entrando no jardim pleno da Infância
E chegando à Fonte das Carências.
As noites são longas nesta estância
Pois aqui as memórias são imensas
Entrando no jardim pleno da Infância
E chegando à Fonte das Carências.
Me leva, insônia, às terras do Porfim
Para além das franjas destes prados
Às vidas do poeta que há em mim,
Sete vidas, como um gato, sete fados...
Já conheço todas elas e as narrei
Em contos, novelas e poemas
Mas os seus sete sentidos ocultei
E sei que me tomam já por louca:
Escrevo torto com plumas de emas
E acho a eternidade meio pouca...
Para além das franjas destes prados
Às vidas do poeta que há em mim,
Sete vidas, como um gato, sete fados...
Já conheço todas elas e as narrei
Em contos, novelas e poemas
Mas os seus sete sentidos ocultei
E sei que me tomam já por louca:
Escrevo torto com plumas de emas
E acho a eternidade meio pouca...
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
Soneto da Morte Anunciada (de Alma Welt)
Foto de Jaroslaw Datta
Soneto da Morte Anunciada (de Alma Welt)
Menos vida tenho fora dela
Mas não me vejo a contemplar o dia
Como tímida guria na janela.
A vida é meu poema e estou nele
Como o duplo de mim em outro plano
Mesmo que assim minha sina sele
E talvez mesmo nem passe deste ano...
Pois já sou uma morte anunciada,
Que não diria um arremate inglório
Já que a Moira visitou-me na calada
E em Visão revelou-me o meu fim
E a trágica nudez do meu velório
Inusitado e tão digno de mim...
_______________________________
Eis o soneto "Visão" a que a Alma se refere no último
terceto do soneto acima e que descreve o seu inusitado velório nu:
Visão (de Alma Welt)
Ser a musa eternizada do meu pampa!
Cantar, celebrar e endoidecer
De tanto amar até saltar a tampa
Do coração e da mente, e então morrer!
Nua, estranhamente, sobre a mesa
Estendida me vejo, uma manhã:
Um desfile silencioso me corteja
De peões, peonas e algum fã.
Mas olho o meu corpo de alabastro,
Absurdo e belo ali, e não à toa
Eu noto algo nele que destoa:
Sobre a alvura do pescoço bailarino
Uma faixa vermelha como um rastro
Da corda que selou o meu destino...
03/01/2007
Nota
Dezessete dias depois deste soneto a Alma morreria, no dia 20 de Janeiro de 2007. O seu último soneto , datado de 19/03/2007, portanto na véspera de sua morte, é o famoso "A Carruagem", que o meu amigo João Roquer musicou lindamente e que constará do CD que estamos gravando...
Vejam ainda ete soneto em que a alma se refere ao seu velório nu, que ela anteviu:
Desabafo (de Alma Welt)
Eu queria não gostar tanto da vida
Pra não sofrer o fardo de morrer
E dar vexame na hora da partida
Coisa que já nem posso esconder,
Pois vivo assombrada por sinais,
Sobretudo antevisões do meu velório
Inusitadamente nu, branca e em paz
Entre as peonas e seu pranto simplório.
Tenho mesmo imensa pena de deixar
Este pampa amado e o casarão
Com tantas lembranças pra levar...
E confesso que queria a eternidade
Nem que fosse como espectro chorão
Vagando para sempre minha saudade...
Como tímida guria na janela.
A vida é meu poema e estou nele
Como o duplo de mim em outro plano
Mesmo que assim minha sina sele
E talvez mesmo nem passe deste ano...
Pois já sou uma morte anunciada,
Que não diria um arremate inglório
Já que a Moira visitou-me na calada
E em Visão revelou-me o meu fim
E a trágica nudez do meu velório
Inusitado e tão digno de mim...
_______________________________
Eis o soneto "Visão" a que a Alma se refere no último
terceto do soneto acima e que descreve o seu inusitado velório nu:
Visão (de Alma Welt)
Ser a musa eternizada do meu pampa!
Cantar, celebrar e endoidecer
De tanto amar até saltar a tampa
Do coração e da mente, e então morrer!
Nua, estranhamente, sobre a mesa
Estendida me vejo, uma manhã:
Um desfile silencioso me corteja
De peões, peonas e algum fã.
Mas olho o meu corpo de alabastro,
Absurdo e belo ali, e não à toa
Eu noto algo nele que destoa:
Sobre a alvura do pescoço bailarino
Uma faixa vermelha como um rastro
Da corda que selou o meu destino...
03/01/2007
Nota
Dezessete dias depois deste soneto a Alma morreria, no dia 20 de Janeiro de 2007. O seu último soneto , datado de 19/03/2007, portanto na véspera de sua morte, é o famoso "A Carruagem", que o meu amigo João Roquer musicou lindamente e que constará do CD que estamos gravando...
Vejam ainda ete soneto em que a alma se refere ao seu velório nu, que ela anteviu:
Desabafo (de Alma Welt)
Eu queria não gostar tanto da vida
Pra não sofrer o fardo de morrer
E dar vexame na hora da partida
Coisa que já nem posso esconder,
Pois vivo assombrada por sinais,
Sobretudo antevisões do meu velório
Inusitadamente nu, branca e em paz
Entre as peonas e seu pranto simplório.
Tenho mesmo imensa pena de deixar
Este pampa amado e o casarão
Com tantas lembranças pra levar...
E confesso que queria a eternidade
Nem que fosse como espectro chorão
Vagando para sempre minha saudade...
domingo, 14 de outubro de 2012
Canções da Lua de Alma Welt
Guilherme de Faria e João Roquer no Estúdio Jaburu de durante as gravações das Canções da Lua de Alma Welt
Para ouvir três das músicas do CD (letras de Alma Welt/ duas músicas de Guilherme de Faria e uma de João Roquer):
http://br.myspace.com/my/songs
Para ouvir três das músicas do CD (letras de Alma Welt/ duas músicas de Guilherme de Faria e uma de João Roquer):
http://br.myspace.com/my/songs
Assinar:
Postagens (Atom)